29 de outubro de 2021
Em 2016, a escultura Águia de Metal foi alvo de uma ação de conservação e restauro, regressando
com ar renovado à fachada do Estádio da Luz em setembro, após dois meses de intervenção. Volvidos cinco
anos, recordamos o projeto multidisciplinar desta intervenção e o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido
para garantir a preservação da escultura monumental.
Para além do simbolismo associado ao Clube, esta obra é legado de um dos maiores artistas portugueses do
séc. XX, Domingos Soares Branco, sendo uma das suas mais notáveis criações escultóricas.
Hoje, imponente, continua a inspirar atletas e adeptos, guiando-os no presente e para um futuro que se
espera promissor!
Da conceção à construção
A 21 de setembro de 1985, e após um ano de obras, o 3.º anel do Estádio da Luz era finalmente
inaugurado e sobre a nova fachada fora colocada uma enorme águia de cobre e ferro.
Da autoria do escultor Domingos Soares Branco e construção da responsabilidade da Edimetal, a obra demorou
cerca de três meses a ser executada, um tempo recorde tendo em conta as suas dimensões e características
técnicas. Foram mais de 6500 horas de trabalho com 33 técnicos dedicados à sua construção, sempre sob o
olhar atento do escultor. Constituída por uma estrutura de vigas em ferro às quais foram rebitadas 325
chapas de cobre, formava um volume oco com 16 metros de envergadura e 7 metros de altura. Os elementos do
corpo foram construídos separadamente e, em partes, a escultura rumou até ao Estádio da Luz na madrugada de
um dos primeiros dias de setembro. Ao raiar do dia, os vários componentes foram içados e montados sobre a
estrutura previamente fixa à fachada, a 20 metros do solo.
Em 36 anos de existência, a escultura só foi retirada da fachada em três ocasiões: a primeira, em março de
1991, durante a modernização das instalações; em 2001, para demolição do antigo Estádio da Luz; e
finalmente, em 2016, quando foi alvo de uma intervenção de conservação e restauro.
O desafio da conservação
Na conservação de esculturas de exterior, categoria na qual a Águia de Metal se insere, existem
parâmetros extremamente difíceis de controlar, que podem desencadear alguns processos de degradação,
comprometendo a sua preservação. Os fatores que mais contribuem para esta deterioração são os fatores
climatéricos, como as variações de temperatura e humidade, aliados à proximidade marítima e às poeiras e
sujidades produzidas pela poluição atmosférica, fator crítico para esta escultura localizada junto da 2.ª
Circular e da Avenida Lusíada. Estes agentes podem alterar as propriedades do metal, potenciando processos
de alteração química e efeitos indesejados como a corrosão, alteração da cor e depósitos superficiais.
Pela sua considerável dimensão, características técnicas e dificuldade de acesso, a mais de 20 metros do
solo, a conservação da Águia de Metal é um desafio permanente. Para além das questões estruturais, a
estabilidade superficial e a integridade estética assumem, nesta peça em particular, um significado maior
face à carga simbólica que lhe está associada.
A intervenção de conservação e restauro
Tendo em consideração estes pressupostos, em 2016, foi realizada uma intervenção de conservação
e restauro, a de maior envergadura alguma vez desenvolvida nas instalações do Estádio da Luz. Através do
estabelecimento de parcerias estratégicas, foi possível reunir uma equipa multidisciplinar com mais de 60
elementos, assegurando os conhecimentos técnicos e científicos necessários à intervenção, das seguintes
instituições: Departamento de Reserva, Conservação e Restauro do Sport Lisboa e Benfica, Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Soldadura e Qualidade, Duartesfer e
Laborspirit. A obra exigiu uma intrincada logística, que implicou descer um volume de 3 toneladas de uma
altura de 20 metros e fixá-lo a uma estrutura metálica provisória que permitisse atuar ao nível do solo,
enquanto se asseguravam as condições de acesso e segurança para concretizar a intervenção.
O processo demorou 8 semanas a ser realizado e teve como objetivo garantir a estabilidade física e química
da superfície e da estrutura da escultura. Foram intervencionadas as 325 chapas que compõem a Águia de Metal
e revistas todas as ligações estruturais, por forma a garantir a boa conservação desta grandiosa obra de
arte.
Monitorizar para preservar
Desde então, decorrem bianualmente ações de monitorização, cujo objetivo é fazer uma avaliação
do estado de conservação atual da escultura. A mais recente monitorização aconteceu em agosto de 2021 e
todas as alterações foram registadas, comparando-as com os registos anteriores. Foi verificada a eficácia,
durabilidade e comportamento dos materiais utilizados na intervenção anterior e realizado um levantamento
fotográfico pormenorizado e um mapeamento de todas as patologias presentes. Adicionalmente, foi efetuada uma
sondagem ao interior da escultura, para garantir que a estrutura continua apta para desempenhar
adequadamente a sua função.
Este trabalho contínuo e complexo de acompanhamento, monitorização e registo é imprescindível para garantir
a boa conservação da obra e antecipar efeitos indesejados ou alterações irreversíveis face a os agentes de
degradação a que está exposta.
O significado cultural e o simbolismo desta obra de arte ultrapassam a sua materialidade, pois é pela sua forma, grandeza e imponência que esta escultura galvaniza o Clube e os seus adeptos. Mas é através da conservação desta materialidade que é possível continuar a contemplá-la e manter a sua grandiosidade. É nesse sentido que o Sport Lisboa e Benfica investe diariamente na preservação, valorização e difusão do seu património histórico, porque só assim é possível garantir a memória e a compreensão do que é ser e sentir o Benfica!