Memória vívida de um trajeto glorioso

REPORTAGEM

Entre o Estádio da Luz e o Museu Benfica – Cosme Damião, o legado do mítico Jimmy Hagan segue bem vivo, e a sua filha, Jacqueline Stewart, teve a ocasião de o constatar numa visita às instalações do Clube realizada nesta quinta-feira, 21 de novembro. Uma tarde de emoções à flor da pele acompanhada a par e passo pelos meios do Clube.

Os falantes de língua inglesa chamam-lhe "walk down memory lane", que, em português, poderá ser traduzido como uma "viagem pela estrada da memória". E foi esse o mote da visita de Jacqueline Stewart, filha de Jimmy Hagan, ao Estádio da Luz. Falando de coração cheio de um pai "extremoso, divertido e cavalheiro", a ilustre visitante teve a oportunidade de revisitar o legado do progenitor na gloriosa história do SLB.

A primeira paragem ocorreu no Departamento de Reserva, Conservação e Restauro, onde Jacqueline Stewart pôde acompanhar o meticuloso trabalho de preservação da memória do Clube, impressionando-se com uma maqueta do antigo Estádio da Luz construída por um adepto, objeto que lhe trouxe à memória o palco de diversas tardes e noites de glória, mas também o frio do cimento das bancadas do recinto inaugurado há praticamente 70 anos (1 de dezembro de 1954).

À sua espera tinha, ainda, dois troféus relevantes na trajetória de Jimmy Hagan no Glorioso. De um lado, a Taça Câmara Municipal de Luanda assinalava o primeiro jogo do treinador inglês no Benfica: triunfo por 2-1 sobre o Vitória FC, no Estádio dos Coqueiros, em Luanda (Angola). Do outro, a Taça Ultramar, conquistada no final dessa mesma digressão por África realizada em 1970. Um excelente cartão de visita para três anos de águia ao peito (quatro épocas incompletas) marcados por conquistas: 3 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal e 2 Taças de Honra.

No Centro de Documentação e Informação, Jacqueline Stewart folheou a edição n.º 1435 do jornal O Benfica, datada de 21 de abril de 1970, na qual, na capa, se dava conta da chegada de Jimmy Hagan a Lisboa para treinar o Glorioso. Nas páginas centrais, a notícia surgia ilustrada por fotografias do treinador inglês na companhia do Presidente Borges Coutinho, de Eusébio e de outros jogadores do plantel, devidamente identificados pela filha do antigo técnico.

Em exposição estava, também, um álbum fotográfico de uma digressão aos Açores de uma equipa de reservas comandada pelo seu pai. Apontando para as imagens de dezenas de crianças a pedirem a atenção de José Torres, escolhido como capitão daquele grupo, Jackie, como é carinhosamente tratada no seio familiar, destacou as multidões que se habituou a ver em todo o lado onde os atletas que envergam o Manto Sagrado se apresentam para jogar.

Já após uma paragem nas bancadas do novo Estádio da Luz, seguiu-se a visita ao Museu Benfica – Cosme Damião. Por lá, o tempo foi dividido a admirar o Troféu Ramon Carranza, conquistado em 1971, as três taças relativas ao tricampeonato conquistado por Jimmy Hagan (1970/71, 1971/72 e 1972/73) e a uma fotografia dos Invencíveis, equipa campeã nacional em 1972/73 sem derrotas, que suscitou um curioso comentário de Jacqueline Stewart. "Nesta fotografia com os jogadores todos, o meu pai está a sorrir, o que não era muito normal. É uma das melhores fotografias que já vi dele", contou, posteriormente, em declarações aos meios do Clube.

Recorrendo ao português aprimorado durante os anos em que residiu no nosso país, a filha do mítico treinador encarnado recordou episódios da vida em Lisboa no auge da popularidade do pai. "Quando ele estava no Benfica, passávamos na rua e toda a gente dizia 'míster Hagan, míster Hagan'. Muitas vezes, quando íamos a restaurantes, diziam que a conta não era para pagar, mas ele dizia que não voltava se não pagasse. Para os fãs do Benfica, ele é uma lenda, e, ainda hoje, o nome de Jimmy Hagan vale uma bebida grátis", brincou, por entre sorrisos.

Recordando as amizades para a vida do seu progenitor, designadamente com Eusébio e José Torres, Jacqueline Stewart também reconheceu Fernando Santos no quadro de treinadores do Benfica, falando do pupilo do seu pai no Estoril que atalhou caminho até à conquista do Campeonato da Europa de 2016, ao comando da Seleção Nacional, tendo Jimmy Hagan como a sua "grande inspiração".

Antes do regresso à Austrália, onde reside, a filha do tricampeão nacional elogiou o trabalho feito por todos os departamentos na preservação da memória do "enorme Clube" que viverá, eternamente, no seu coração. Na bagagem, leva duas camisolas do Glorioso para os netos de 5 e 2 anos, que já vivem o SLB e mantêm vivo o grande legado deixado pelo bisavô Jimmy Hagan.