Futebol

09 fevereiro 2018, 18h42

José Luís

José Luís em jogo com a camisola do Benfica

José Luís, antigo médio do Benfica, de 59 anos, esteve no primeiro jogo das águias em Portimão para o Campeonato. Em entrevista exclusiva ao Site Oficial, recordou um triunfo “extremamente difícil” num campo pelado, entre outras peripécias.

O José Luís foi titular no primeiro jogo do Benfica com o Portimonense para o Campeonato. Recorda-se?

Na Luz?

Em Portimão, na sua primeira época de sénior...

Exatamente! O campo era pelado na altura. Estamos a falar de 1976/77...

E já era o atual Municipal de Portimão?

Era! É o que é hoje. Lembro-me bem.

José Luís

Conte-nos a história desse jogo…

Não sei se o Benfica ganhou por 0-2 ou por 1-2...

Foi 1-2.

É isso! E o Vítor Baptista marca.

Marca os dois golos.

Pois! Tinha a impressão de que o Vítor Baptista tinha marcado os dois golos. Foi um dos jogos na minha primeira época como profissional do Benfica, o campo era pelado e extremamente difícil. O Benfica jogava nos campos pelados, mas os jogadores não se amedrontavam. Mantinham sempre um grande espírito de vitória e de conquista. Fazíamos boas exibições, fosse num relvado ou num pelado. Essa era uma das grandes características dessa equipa.

O Benfica esteve a perder 1-0, golo do Sapinho, avançado brasileiro…

O Sapinho! Lembro-me perfeitamente.

… E o Barros e o Toni foram expulsos.

Sim, pois foi. O Barros e o Toni…

“Fazíamos boas exibições em relva ou em pelado”

O Benfica dá a volta ao resultado a jogar com nove, bis de Vítor Baptista. Foi esse espírito de vitória e conquista que levou aos três pontos?

Completamente! 11 contra 11 já era difícil, até porque o Benfica jogava grande parte dos jogos em relva. A própria determinação dos jogadores e, sobretudo, a atitude e o foco no jogo… Recordo-me que foi uma vitória dificílima. O Benfica é campeão nesse ano porque faz uma segunda volta excecional. O Águeda também era pelado e outros. Essa vitória foi fulcral para conseguirmos ser Campeões.

José Luís

Esse é o último Tricampeonato antes deste mais recente.

Exatamente! O Benfica é Campeão, faz o Tri. Os jogadores tinham uma atitude enorme e um orgulho imenso por jogar no Benfica.

E nesse jogo o Vítor Baptista resolveu...

Joguei com o Vítor Baptista dois anos. Como jogador era dos melhores pontas de lança que vi jogar. Foi meu companheiro, um grande jogador, um grande homem, com muito profissionalismo. Tinha momentos no jogo em que era um génio. Fez a diferença num jogo de 11 contra 9.

Na época seguinte (1977/78) já foi bem mais fácil. Recorda-se do resultado?

Foi 1-4 ou 1-3?

“Jogadores tinham orgulho imenso por jogar no Benfica”

Foi 0-3...

Aí já era relvado.

E a equipa estava mais adaptada?

Havia equipas com campos pelados e o Benfica tinha de jogar no campo que eles tinham à disposição. É extremamente difícil uma equipa estar habituada a jogar em relvado – neste caso, o Benfica – e, de um momento para o outro, ter de jogar em pelados. Mas há uma coisa interessante. Na semana anterior ao jogo, com o Mortimore, e também na primeira passagem de Eriksson no Benfica, treinávamos toda a semana no campo n.º 3 do Estádio da Luz, que era pelado. Era uma preparação predefinida.

O José Luís volta a ser titular com Lajos Baroti, em 1981/82. Primeira vez que o Benfica perde pontos em Portimão…

Nesse jogo empatámos. O Benfica sempre teve grandes dificuldades em Portimão. Houve um jogo ou outro – e um deles até ganhámos 0-3 – em que há a sensação de que foi fácil, mas não foi. Jogar em Portimão é difícil. Joguei lá várias vezes. Se for um Benfica determinado e com ambição, ganha de forma mais fácil.

José Luís

Nesse empate, o Portimonense tinha nomes fortes do futebol português: Alhinho, Norton de Matos, Murça, Delgado. Isso ajuda a explicar melhor o 0-0?

É verdade! O Portimonense sempre teve boas equipas, bons jogadores, alguns deles até emprestados pelo Benfica. Jogar em Portimão não é fácil.

Já falou de Eriksson… Com ele jogou em Portimão, em 1982/83 e 1983/84. Na primeira época, saltou do banco pela primeira vez. Como era Eriksson nessa altura, com 34 anos?

Para mim, o Eriksson, sem desprimor para os outros técnicos que apanhei – Mortimore, Pal Csernai, Baroti –, foi o que mudou a mentalidade, na altura, dos jogadores do Benfica. Quando chega, não sabia que o plantel tinha tanta qualidade, e um génio, um dos melhores jogadores com quem joguei, que era o Fernando Chalana. A partir do momento em que o Eriksson começa a conhecer os jogadores individualmente, começou a fazer um trabalho psicológico. Isso mudou a mentalidade, não só do jogador do Benfica, mas do jogador português. O Eriksson foi um treinador que revolucionou o futebol do Benfica nos anos 80.

“Acredito no Penta do Benfica”

O Benfica nunca perdeu em Portimão para o Campeonato (12 vitórias em 14 jogos). O que espera para sábado?

Há grande diferença entre uma e outra equipa. Claro que, no plano teórico, o Benfica é sempre favorito e tem possibilidade de ganhar de quase 99%. Mas tem de ser um Benfica muito determinado. Se for o Benfica dos segundos 45 minutos com o Rio Ave, sai com os três pontos de Portimão. O Benfica tem vindo a melhorar muito, tem um plantel de grande qualidade. O foco é só o Campeonato. Mas vai encontrar um Portimonense muito melhor do que há dois meses, com contra-ataque muito venenoso e o Benfica tem de ter algumas preocupações em relação à parte ofensiva do Portimonense, porque tem três jogadores na frente muito rápidos e em boa forma.

Por que dificuldades poderá passar o Benfica?

O Portimonense tem uma equipa mais equilibrada. Mesmo jogando em casa, não acredito que jogue sempre ao ataque. Vai aproveitar o erro do Benfica. O Portimonense é muito coeso, está moralizado e joga em casa, o que é sempre perigoso.

Diferenças entre o Portimonense dos anos 70 e 80 e o atual?

O futebol é que mudou. Joguei contra grandes equipas do Portimonense e esta não foge muito às grandes equipas que tiveram nos anos 80.

E o Penta? É possível?

O Benfica é o primeiro candidato. Respeitando o FC Porto e o Sporting, pois vai ser uma luta até ao final, mas acredito num Benfica Pentacampeão, porque a qualidade continua, tem um grande treinador, o Rui Vitória, e o Benfica está focado, e apresenta-se muito melhor do que os rivais.

Entrevista e texto: Marco Rebelo

Fotos: Arquivo / SL Benfica

Última atualização: 21 de março de 2024

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