Futebol

24 setembro 2017, 20h45

Fotos: Isabel Cutileiro / SL Benfica

Quem diz que a história do brasileiro João Carlos Granda da Silva Martins era digna de um filme tem razões de sobra para argumentar. Idolatrado por Jonas, goleador do Benfica, trata-se de um pianista de renome, nascido em São Paulo a 25 de maio de 1940, que os críticos e conhecedores descrevem como figura de resistência e paixões: pela vida, pela música e também pelo futebol. Quando tinha 25 anos e já era músico afamado, aceitou um convite para treinar com a “sua” Portuguesa, em Nova Iorque. Era um sonho, um grande sonho que depressa virou pesadelo. Aconteceu em 1965: uma disputa de bola, um tombo, o braço direito perfurado por uma pedra e os nervos da articulação afetados, impossibilitando-o de tocar música normalmente nos anos seguintes ao acidente.

Considerado o maior intérprete de Bach do seu tempo, agarrou-se à fisioterapia para se restabelecer, mas as dificuldades sentidas ao longo de cinco anos no exercício da atividade musical levaram-no a mudar radicalmente o rumo da sua vida.

Filho de um português de Braga – de quem herdou o gosto particular pelo piano, cujas aulas começou a frequentar com oito anos em São Paulo –, resolveu retornar ao Brasil e ali operar como empresário musical e também de boxe. Mas o apelo dos palcos foi mais forte e voltou aos concertos. Nesse momento, nova contrariedade: distúrbios ósseos e musculares, consequência de um esforço constante, forçaram João Carlos Martins a retirar-se de novo da cena musical.

Retomou a faceta de empresário, mas a adversidade continuava sentada a cada esquina da vida do maestro. A 20 de maio de 1995, em Sófia, na Bulgária, foi vítima de um assalto violento: levou com uma barra de ferro na cabeça e sofreu um traumatismo craniano que lhe afetou o movimento do braço direito e a fala.

Novo episódio terrível na vida, mas João Carlos Martins não se rendeu, nunca desistiu de lutar, renovando-se e reinventando-se. Apesar de fortemente condicionado, continuou a tocar, exibindo a valia e os dotes da sua mão esquerda – e até gravou um disco.

O desgaste consumiu-o e manifestou-se adiante. Uma contratura na mão esquerda “ordenou-lhe” que trocasse o piano pela batuta. Em 2003, o ex-pianista João Carlos Martins ascendeu a João, o Maestro. Todavia, as lesões contraídas e agravadas nas duas mãos impediram-no de segurar uma batuta ou até de virar páginas de partituras. Ponto final? Não, apenas mais uma vírgula numa história memorável. As partituras passaram então a ser decoradas.

Segundo se conta, armazenava milhares de páginas por ano no seu “disco rígido” biológico. Em 2012 foi sujeito a uma cirurgia ao cérebro e ainda aplicou um estimulador eletrónico para tentar reanimar movimentos da mão esquerda.

Mais recentemente, em 2016 foi-lhe concedida a hora de carregar a tocha olímpica e tocou o hino brasileiro no decorrer da sessão de abertura dos Jogos Paralímpicos.

Tem 77 anos e uma história incrível...

 

Texto: João Sanches e Sónia Antunes

Última atualização: 21 de março de 2024

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