Futebol

09 novembro 2017, 18h37

Andrea Pirlo e Rui Costa

São palavras do Maestro para Il Maestro. Rui Costa, ex-camisola 10 do Benfica e atual administrador da SAD, reage ao ponto final na carreira anunciado por Andrea Pirlo, grande figura do futebol italiano e seu antigo companheiro de equipa no Milan (2001-2006).

Devido a problemas físicos - "Já não tenho cartilagem", revelou o médio numa recente entrevista ao jornal "La Gazetta dello Sport" -, Pirlo decidiu, aos 38 anos, que o ciclo como jogador se fecha oficialmente já em dezembro, quando expirar o seu contrato com o New York City (MLS), clube que representa desde 2015.

É um "adeus" que Rui Costa lamenta, aproveitando para reviver, em entrevista aos meios do SL Benfica, o tempo de convivência com Pirlo, que também foi seu adversário no Estádio da Luz, no Benfica-Milan de 28 de novembro de 2007 (Liga dos Campeões), tendo o italiano pisado pela última vez o relvado da Catedral em 2013/14, na primeira mão das meias-finais da Liga Europa.

Que memórias guarda do tempo em que foram colegas no Milan?

As melhores. Estamos a falar de um jogador que na sua geração discutiu sempre o título de melhor do mundo na sua posição. Para além da qualidade que durante anos e anos mostrou ao mundo, guardo no coração toda a nossa amizade, todas as batalhas que travámos juntos e, acima de tudo, o rapaz extraordinário que ele é.

Não podemos fazer mais do que lamentar que o futebol vá perder mais um enorme campeão, um jogador de futebol com uma categoria ímpar.

Chegou a hora de ele terminar, está com 38 anos. Alongou a carreira o mais que pôde e nós agradecemos por isso, porque foi sempre uma beleza vê-lo jogar. Por mais distantes que nos possa colocar, o futebol dá-nos isto: a amizade, o respeito e o carinho, que ficam sempre.

Consultando as notícias de 2001/02, quando ambos ingressaram no Milan, escrevia-se e dizia-se que iam ser rivais…

Entre nós nunca se colocou tal coisa. Quando foi para o Milan, ele era capitão dos Sub-21 de Itália e jogava na mesma posição que eu. Também era um jogador extraordinário nessa posição. A sua capacidade técnica permitia-lhe jogar em qualquer zona.

Por entender o jogo como entendia, estou seguro de que se tivesse de jogar a central também jogaria. Foi dos colegas que tive que mais entendiam o jogo. Tinha essa facilidade e por isso também conseguiu mudar de posição. No primeiro ano era eu o 10 titular, mas ele acabou essa época a jogar. No ano seguinte é que passou para trinco, para nos podermos conciliar no meio-campo – e virou o jogador que virou.

Passou de uma futura promessa na posição 10 para um dos melhores trincos do mundo, sendo um trinco mais de leitura do que de choque. Mas foi essa a finalidade de quando passou para a posição mais defensiva: termos ali um jogador mais criativo, que desenvolvesse a primeira ação de jogo, e ele encaixou na perfeição.

Quais foram os melhores momentos desportivos que partilharam?

Tivemos a felicidade de estar inseridos num ciclo vitorioso do Milan. Fomos campeões europeus e nacionais juntos. Era bonito ver-nos jogar, porque nos entendíamos na perfeição. Sabíamos os movimentos e conhecíamos os olhares um do outro de cor e salteado.

Foi muito fácil jogar com ele. Este divertimento em campo marcou-nos ao longo do tempo, pela simplicidade com que fazíamos as coisas quase sem chamar um pelo outro.

Ensinaram coisas um ao outro?

Ensinámos sempre. Colaborámos um com o outro, digamos assim: pelas posições, por ele ter alterado de posição, por não ser tão usual jogar com um tamanho criativo atrás, visto que normalmente o jogador que atua como trinco não é tão técnico como era o Andrea.

Isso também ajudou a que com o Seedorf a interior esquerdo, e o Gattuso como interior direito, tivéssemos três criativos muito perto. As coisas funcionavam às mil maravilhas.

Falavam sobre o Benfica?

Sim, muitas vezes falámos do Benfica e do futebol português, das nossas gerações. Eram conversas de futebol naturais, pois nunca deixei de defender o meu país enquanto estive fora. Naquele período era o FC Porto que estava na ribalta e por vezes, quando o Benfica não ganhava, eles pegavam comigo.

O Pirlo é pouco falador no relvado, mas fora do campo é extremamente divertido e engraçado. Não desperdiçava nenhum momento para nos divertirmos juntos.

Pirlo aprendeu a falar português?

Naquela geração tínhamos vários brasileiros no plantel do Milan: Dida, Serginho, Cafu, mais tarde o Kaká, Rivaldo... Havia muita língua portuguesa no balneário.

Era natural o Pirlo tentar dizer “bom dia”, “boa tarde” e o “vai para aqui” ou “vai para ali” que usávamos dentro do campo.

O que é que os adeptos perdem com este adeus?

Pirlo criou uma imagem que vai para além dos clubes que representou. Virou claramente um jogador de Itália, por aquilo que fez no Milan, na Juventus, no Inter e no Brescia, e também pelo que fez na seleção nacional.

Nunca foi conflituoso; nunca foi um jogador de quem se falasse fora do campo. Falou sempre com os pés e com a cabeça dele nos relvados e é uma figura unânime em Itália, onde é considerado um dos melhores jogadores da história. A Itália futebolística só pode lamentar a ausência deste jogador nos relvados.

Texto: João Sanches

Fotos: Arquivo SL Benfica

Última atualização: 21 de março de 2024

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