Andebol
12 maio 2020, 13h00
Ricardo Pesqueira
No momento da despedida, o internacional português recordou alguns dos momentos nos três anos de águia ao peito, em entrevista ao Site Oficial...
"Recordo com saudades. Apesar de ter chegado com 25 anos, foi a minha primeira experiência como atleta totalmente profissional após seis épocas no ABC de Braga, onde conciliei a prática desportiva com o curso de medicina. Por isso, para além do orgulho por representar o Benfica, chegava também com a felicidade e a motivação de me poder dedicar ao máximo às condições que o clube dá aos atletas para que possam potenciar ao máximo o seu trabalho. Já conhecia uma boa parte dos meus colegas das seleções nacionais jovens e senti-me desde logo integrado e pronto para lutar ao lado deles."
"Ainda antes de chegar ao clube, já tinha a imagem de que o Benfica oferecia condições de trabalho de topo aos seus atletas. Naturalmente, é bem diferente viver e contactar diariamente com essa realidade. Mais até do que as infraestruturas como o pavilhão ou ginásio, tenho de referir a qualidade dos profissionais de outras áreas como os fisioterapeutas, preparadores físicos, psicólogos e nutricionistas que me ajudaram nestes 3 anos. O trabalho deles é menos visível, mas tão ou mais importante do que o nosso para atingir o sucesso desportivo. Para além da ótima relação pessoal que guardo com todos eles, são de um profissionalismo e competência incrível. Após três anos no clube e pela realidade exterior que vamos conhecendo enquanto atletas, posso afirmar que as condições de trabalho aqui estão ao nível das melhores equipas do mundo!"
"Adeptos ainda têm pela frente o excelente desafio de tornar ainda maior e mais eclético este clube"
"Para além das emoções, amizades e tudo o que o desporto nos traz, as conquistas são sempre dos momentos que um atleta mais recorda na sua vida desportiva. Por ter sido a primeira ao serviço do Benfica, a conquista da Taça de Portugal na época 2017/2018 teve um sabor muito especial. Tínhamos um grupo muito jovem, extremamente homogéneo e após a desilusão de não termos conseguido conquistar o Campeonato, vencer a Taça realizando uma excelente exibição contra o Sporting foi um momento muito especial."
"Até ao momento representei quatro clubes ao longo da minha carreira e sempre com igual dedicação e profissionalismo, pois só admito essa forma de estar no desporto. Ao mesmo tempo, tive a felicidade de conquistar várias competições nacionais e também europeias. Obviamente, servir com o meu trabalho a equipa que deixou esses dois troféus no Museu Benfica – Cosme Damião é um motivo de ainda maior orgulho!"
"Servir com o meu trabalho a equipa que deixou dois troféus no Museu é motivo de orgulho!"
"O desporto é algo único porque tudo muda muito rápido e a componente psicológica tem uma importância tremenda. Em 2017/2018, terminámos o Campeonato com a sensação de que o Sporting tinha sido superior, apesar de estarmos na luta praticamente até ao final. Uma ou duas semanas depois, vencemos também contra o Sporting, e de forma clara, a Taça de Portugal e acreditamos que esse seria o primeiro passo para nos afirmarmos como candidatos na época seguinte. Reforçámos essa crença ao vencer, logo no início da época seguinte, a Supertaça e lembro-me, poucas semanas depois, de um jogo fora contra o Sporting, à sexta jornada, que poderia ter marcado de vez a nossa superioridade, onde estivemos a ganhar o jogo todo perdendo no final e de forma injusta por um golo. Mais ou menos por esta altura, o Porto consegue uma excelente vitória na taça EHF contra uma das melhores equipas da competição, o Magdeburg, que os fez acreditar no seu valor e consegue fazer um resto de temporada a um nível superior ao nosso."
"Esta época ficou marcada por emoções muito diferentes a nível desportivo. Fizemos uma primeira metade da época bem abaixo do que eram as nossas expectativas, o que foi abalando a nossa confiança enquanto equipa. Em Janeiro regressamos todos com muita vontade de mudar o curso das coisas e, pouco a pouco, voltámos a ser uma equipa com autoestima e confiante. Revelámos carácter ao deixar para trás um mau momento e focámo-nos no que podíamos conquistar no futuro, acabando por conseguir revelar até mais na Taça EHF o valor que acredito que esta equipa tinha. Estávamos a um pequeno passo e não tenho dúvidas que chegaríamos aos quartos de final e, mantendo o nível desportivo, à final four desta competição!"
"O melhor contributo que podemos dar à ciência e a quem luta na linha da frente é tempo e sermos responsáveis"
"É um tempo de muita incerteza a todos os níveis. Nesta altura, todos desejamos uma solução definitiva: uma vacina ou um fármaco que altere drasticamente o curso da doença e que evite em larga escala a sua progressão para as formas mais graves. No entanto, as melhores armas de que dispomos neste momento são soluções parciais, embora extremamente importantes: o isolamento social, a etiqueta respiratória (higienização das mãos, uso de máscara, etc) e os testes em massa. Enquanto população geral, onde neste momento também me incluo, o melhor contributo que podemos dar à ciência e a quem luta na linha da frente é tempo e responsabilidade. Tempo, para que se saiba cada vez mais sobre o comportamento do vírus, a evolução da doença e para que a referida solução definitiva possa surgir. Responsabilidade, para respeitar o enorme esforço que muitos profissionais (não só da área médica) fazem para rapidamente se adaptar e nos servirem da melhor forma possível, muitas vezes no meio do caos. Dentro da infelicidade dos que perderam familiares e amigos, podemos afirmar que o nosso esforço coletivo permitiu até agora evitar muitas outras mortes. Porém, particularmente numa altura em que começamos a tentar regressar a alguma normalidade e onde a falsa sensação de segurança nos pode enganar, a disciplina e a responsabilidade social são mais importantes do que nunca."
"Gostava de agradecer aos que estiveram sempre a apoiar, independentemente do momento desportivo que vivíamos. É uma motivação extra poder lutar por pessoas que tanto gostam do clube! Particularmente no caso do andebol, sei que nem sempre foi fácil ser adepto. A verdade é que não conquistamos o principal objetivo a que nos propusemos e eu defendo que deve ser sempre a equipa, com resultados positivos, mas acima de tudo com atitude e garra, a trazer a cada jogo que passa mais um benfiquista ao pavilhão para nos ver. Porém, creio que os adeptos ainda têm pela frente o excelente desafio de tornar ainda maior e mais eclético este clube. O Benfica não é, nem pode ser, apenas futebol e as modalidades precisam e merecem ter pavilhões cheios no maior número de jogos possível! O mundo do desporto está cheio de exemplos de que este apoio aproxima qualquer equipa do sucesso."
Fotos: SL Benfica