Jorge Jesus: "Jogo de alta intensidade e de risco para as duas equipas"

ANTEVISÃO

Jorge Jesus acredita que o intenso e apertado ciclo de jogos do Benfica não terá impacto na receção deste domingo (20h00) ao SC Braga, adversário que considera "forte" e em pé de igualdade com os encarnados.

No Benfica Campus, na conferência de Imprensa de antevisão ao duelo da 7.ª jornada da Liga NOS, o treinador encarnado voltou a falar sobre Darwin, o avançado uruguaio que está a ter um grande arranque de temporada. "Ele tem de ficar muito tempo no Benfica para cada vez ser mais jogador", defendeu...

Benfica e SC Braga vão para o sétimo jogo em três semanas. Acredita que este fator pode ter influência na qualidade do jogo de amanhã [domingo]? Que qualidades identifica na equipa do SC Braga?

Esse problema dos jogos só as boas equipas é que têm, portanto, é um problema do SC Braga e do Benfica. Nenhum dos dois está em vantagem. O SC Braga é uma excelente equipa, que ao longo dos anos tem estado cada vez mais perto dos três grandes e penso que este ano é um dos que está mais perto. Vai ser um jogo difícil para o Benfica, como é óbvio, como também vai ser difícil para o SC Braga, mas o Benfica é uma equipa que tem vindo a crescer, é uma equipa que normalmente faz golos, e isso também nos dá garantia e confiança para podermos sair vencedores frente aos nossos opositores.

Quem chega melhor para este jogo? 

Chegam os dois bem, porque tanto o SC Braga como o Benfica estão a fazer uma Liga Europa muito boa. É verdade que o SC Braga perdeu agora em Inglaterra, mas é uma equipa que se modificou muito. Tirou quatro/cinco jogadores que são titulares para poder estar amanhã [domingo] ao melhor nível com o Benfica. Penso que o jogo que o SC Braga teve [derrota na Liga Europa] não vai ter consequências negativas, até porque os jogadores no final do jogo disseram logo 'o jogo mais importante é com o Benfica'. Eu também penso como eles, que vamos jogar com um adversário forte, que está junto a nós na classificação. O SC Braga é uma das boas equipas do futebol português, que disputa qualquer jogo, seja com quem for, em Portugal ou na Europa, desde que tenha em campo o seu melhor onze. O jogo de amanhã [domingo] vai ser de alta intensidade e de risco para as duas equipas.

O Benfica tem 26 golos marcados em 10 jogos oficiais, mas depois, por outro lado, tem 13 sofridos. A equipa mostra aqui um rendimento bem diferente no momento ofensivo e no momento defensivo. O que explica esta diferença dentro da mesma equipa e como pretende equilibrar a qualidade desses dois momentos?

Os números provam que somos uma equipa ofensivamente forte e provam que não somos uma má equipa a defender, somos uma equipa se calhar diferente daquilo que eu pensava que poderia ser. Isto quer dizer que a última linha de quatro jogadores está a trabalhar comigo há três meses e pouco, e eu tenho ideias completamente diferentes. Se fizerem um resumo das minhas equipas, elas sofrem sempre poucos golos, mas este ano tem sido um ano um pouco atípico porque aquela linha de quatro está praticamente sempre a mudar. O André [Almeida] lesionou-se, saiu o Rúben [Dias], o Grimaldo veio de uma lesão... Portanto, aquela linha de quatro, tirando o guarda-redes, está sempre mudar. Como também não temos tempo para treinar, só para recuperar, ela não está aprumada ainda com as minhas ideias, mas também não é agora que vai ficar porque os jogadores vão parar para as seleções. Estou muito mais habituado a trabalhar na prática do que ter uma organização defensiva na última linha, e essas minhas ideias, vocês sabem, foram elogiadas na Europa na minha primeira passagem no Benfica. Esse é o fator número um, não é um fator de falta de qualidade dos jogadores, é o fator que advém das várias mudanças de jogadores, e eu não poder trabalhar com eles a parte prática origina que não estejamos tão fortes como habitualmente estamos.

O Benfica sofreu seis golos nos últimos dois jogos pelo lado esquerdo. Está particularmente preocupado com essa situação? 

O Benfica sofreu seis golos nos últimos jogos... Pelo lado esquerdo foram dois golos. Claro que isso me preocupa como treinador. Não é um Benfica mais frágil a defender pela esquerda do que pela direita. Foram situações de pormenor, onde a fragilidade não tem a ver com o setor, mas sim com a movimentação coletiva do Benfica. Já passámos isso à equipa. 

Vai fazer mudanças no onze inicial, nomeadamente nos laterais? Do ponto de vista físico como está a equipa?

O Grimaldo já teve duas lesões este ano, não tem sido um jogador que tem jogado tanto, troca muitas vezes com o Nuno [Tavares]. O Nuno tem feito bons jogos, com algumas oscilações muito grandes, mas isso é normal porque é jovem e aos poucos vai percebendo isso, porque vou conversando com ele. O André Almeida saiu [por lesão] e agora estamos a tentar introduzir ali um novo jogador, o Gilberto ou o Diogo [Gonçalves], mais o Diogo, que vai ter alguns erros durante alguns jogos naquela posição, porque não é uma posição que ele conheça a 100%. Isso faz-se com muito treino, com muita conversa e indicações do treinador, mas acabei de dizer que não temos tido tempo para isso. Em relação ao cansaço isso aplica-se às duas equipas, jogámos os dois na quinta-feira, vai haver algumas alterações para poupar alguns jogadores e isso é igual para os dois.

O SC Braga de Carlos Carvalhal não é uma equipa com uma organização muito fixa. Espera um adversário com uma linha de cinco ou de quatro?              

O SC Braga tem-se adaptado, ao longo do início da época, fazendo algumas variantes do sistema. Para nós, não é muito importante como é que o SC Braga possa vir jogar aqui, em termos defensivos. Temos uma ideia de jogo e, baseados na nossa ideia de jogo ofensivamente, são os nossos adversários que vão ter de se preocupar com as nossas movimentações. Ofensivamente, sim, já nos diz respeito e temos de conhecer os posicionamentos dos jogadores do SC Braga. É isso que estamos a fazer, a preparar o nosso jogo. 

Têm saído notícias que o Al-Nassr, da Arábia Saudita, está interessado no central Lucas Veríssimo. Na sua perspetiva, é apetecível em janeiro ou já não olha para ele como potencial reforço?

Lucas Veríssimo é um jogador que sempre esteve na nossa agenda desde o primeiro dia. Por isto ou por aquilo não conseguimos, mas quando tens concorrentes a contratar qualquer jogador, e quando vêm da Arábia, tu não tens capacidade de resposta porque os números são… nem há comparação possível! Sei porque já lá estive, e sei o que é o mercado árabe. Isso é uma coisa, outra questão é que o Lucas Veríssimo, na minha opinião, é um excelente jogador.

O fator Europa não poderá pesar na decisão do jogador? Poderá fazer alguma tentativa de o contratar? 

Se o Lucas olhar para a carreira desportiva, vem para o Benfica ou para a Europa. Se olhar para a carreira financeira, vai para a Arábia. Não tenho capacidades para interferir na decisão dele. 

O empresário de Darwin disse que o jogador quer ficar no Benfica mais dois anos. Acha que um dos motivos é por ter sido aposta consigo?

O Darwin é um menino, está a começar a dar passos numa carreira que vai ser brilhante, se tudo correr normalmente. Ele tem de ficar muito tempo no Benfica para cada vez ser mais jogador, independentemente dos interesses financeiros que possa haver. Quanto mais tempo ficar no Benfica, mais jogador vai ser no futuro. Não tenho dúvidas nenhumas.

Como analisa o trabalho que está a ser feito na equipa B? Há a possibilidade de mais algum jogador dos Bês subir à equipa principal?

As equipas B são para formar jovens e para poderem um dia mais tarde alimentar a equipa principal. Claro que a classificação é importante, mas não é o mais importante. O mais importante nas equipas técnicas das equipas B, e não só, também dos outros escalões, é formarem jogadores que possam ter talento para quando chegarem à equipa principal poderem ser escolhidos e integrados. Neste último jogo [com o Rangers], atuou o Diogo Gonçalves na direita e o Nuno Tavares na esquerda, dois jogadores do Seixal a jogarem na equipa principal e o tema importante é esse. Mas se me perguntarem se é importante a equipa B do Benfica ficar na II Liga, claro que é, porque há mais competitividade, os jogos são diferentes, é importantíssimo. Mas esse problema nunca se vai colocar, nem que tivéssemos de fazer uma salvação nos últimos jogos com jogadores da equipa A.

Como vê o regresso de Nico Gaitán ao futebol português, pelo SC Braga?

O Nico Gaitán é um produto criado pelo Benfica. Foi no meu ano e fomos buscá-lo à Argentina. Tem uma história interessante, fomos à Argentina ver um jogador que não era o Nico e o meu assistente falou-me nele. A partir daí comecei a ver os jogos do Nico e pedi ao Presidente para o contratar... Foi assim que o Nico veio para o Benfica. O Nico teve uma passagem gloriosa no Benfica, é um grande jogador, depois eu saí, ele também saiu, mas continua a ser um talento com bola no pé e vai continuar a pensar mais à frente. Não sei em que condições físicas estará, porque também tem tido alguns problemas musculares, mas que é um grande jogador, ninguém tenha dúvidas disso.

Que comentário faz às recentes declarações do presidente do Conselho Fiscal do Benfica, Fonseca Santos?

Fico alegre e feliz quando tenho um presidente do Conselho Fiscal a dizer que o Benfica, na perspetiva dele, vai ser campeão. Isso é um sinal positivo, é porque acredita nos jogadores e na equipa técnica do Benfica. Eu penso como ele, eu e todos os Benfiquistas. 

Texto: Filipa Fernandes Garcia e Márcia Dores

Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica