Estádio da Luz, o palco de grandes decisões nacionais

A Catedral tem um peso emblemático para todos os Benfiquistas, historicamente palco de enormes emoções à dimensão das paixões que cria, mas a verdade é que, também para as cores nacionais, o Estádio da Luz, casa do Sport Lisboa e Benfica, tem sido marcante em vários momentos decisivos da equipa das Quinas, quando esta tem pela frente o último passo para Campeonatos da Europa ou do Mundo, como acontece neste domingo, 14 de novembro, pelas 19h45, frente à Sérvia.

Até pode nem ser necessário vencer a Sérvia (um empate é suficiente depois da igualdade a zero na República da Irlanda) no derradeiro encontro de Portugal no grupo A de qualificação para o Campeonato do Mundo do Catar, em 2022, porém o lastro histórico que a formação lusa tem quando o Estádio da Luz é cenário principal, do antigo ao novo, oferece confiança. Desta feita, como em muitos dos momentos que iremos recordar, também os portugueses vão responder à chamada, num apoio vibrante que se vai traduzir na lotação esgotada da Catedral.

Um ponto de partida importante a reter é que Portugal não perde a fase final de uma grande competição desde 2000 e tem a seus pés a qualificação para mais uma, sendo que, na pior das hipóteses, mesmo em caso de derrota frente à Sérvia, a presença no play-off está assegurada como derradeira hipótese de manter a tradição recente. 

Mas antes de 2000 o mítico Estádio da Luz, que chegou a albergar mais de 120 mil espectadores, viu Portugal garantir pela primeira vez na sua história um lugar numa fase final de um Campeonato da Europa, concretamente em 1984, acabando nesse certame por atingir a meia-final, perdendo frente à formação da casa, a França de Platini (foi o melhor marcador com nove golos) por 3-2 após prolongamento.

No entanto, para lá chegar Portugal teve de bater no jogo decisivo a antiga União Soviética, de Dassaev e Blokhin, ultrapassando-a na derradeira jornada do grupo 2 com um triunfo por 1-0, após uma grande penalidade assinalada por falta sobre Chalana, convertida por Jordão. Portugal retribuiu a goleada por 5-0 sofrida em Moscovo, a única derrota na fase de qualificação. Os 75 mil adeptos presentes nas bancadas (o terceiro anel ainda estava por fechar) vibraram com o feito histórico daquele dia 13 de novembro de 1983, gerador de muitas lágrimas e abraços entre os atletas e responsáveis técnicos portugueses.

Doze anos e dois dias depois... novo apuramento para o Campeonato da Europa carimbado na Luz! A chapelada do agora Presidente do Sport Lisboa e Benfica sobre o guardião Alan Kelly à hora de jogo ficará gravada para sempre na história da equipa das Quinas! Rui Costa, uma das referências de uma geração considerada por muitos como de ouro, com um disparo de classe, colocado, enviando a bola, a uns bons 25 metros, primeiro, a embater na barra e ato contínuo a beijar as redes irlandesas, deu o empurrão para o 3-0 final e a garantia de que Portugal terminaria o grupo 6 no primeiro lugar.

Hélder Cristóvão e Cadete fecharam a contagem perante mais de 70 mil pessoas. No Euro 1996, Portugal foi eliminado nos quartos de final frente à República Checa, com um golo Karel Poborsky, que envergou a camisola do Benfica entre as épocas 1997/98 e 2000/01, apontando 17 golos em 112 jogos.

A Estónia, em outubro de 2001, foi goleada (5-0) na Luz no último duelo do grupo 2 de apuramento para o Campeonato do Mundo de 2002, qualificação essa disputada até ao final com a República da Irlanda, que terminou em igualdade pontual com a equipa das Quinas, ambas com 24 pontos. João Vieira Pinto, Nuno Gomes por duas vezes, Pauleta e Figo foram os autores dos golos que validaram a presença no certame organizado conjuntamente pela Coreia do Sul e pelo Japão, onde Portugal não passou no grupo D, em que constavam Polónia, Estados Unidos e Coreia do Sul. Foi o segundo Mundial após a presença histórica em 1966, onde Eusébio foi a figura maior no 3.º lugar alcançado.

Na qualificação para o Campeonato do Mundo de 2010, Portugal ficou em segundo lugar no grupo H, atrás da Dinamarca, obrigando a formação comandada por Carlos Queiroz a disputar um play-off de apuramento com a Bósnia e Herzegovina para garantir a presença no Mundial organizado pela África do Sul.

A 14 de novembro de 2009, na Catedral, um golo de cabeça de Bruno Alves fixou o 1-0 que os portugueses levaram até Zenica, na Bósnia, onde, na segunda mão, confirmaram a passagem com novo triunfo por 0-1, desta feita graças a Raul Meireles. Portugal seria eliminado nos oitavos de final do Mundial 2010 frente à Espanha. 

Novamente a Bósnia, desta feita no apuramento para o Campeonato da Europa de 2012 (disputado na Polónia e na Ucrânia), surgiu no caminho de Portugal, precisamente em novo play-off após novo segundo lugar no grupo de apuramento. Na Bósnia, Portugal foi pressionado, mas logrou um empate sem golos para a decisão em Lisboa no dia 15 de novembro de 2012. Uma goleada foi o que se celebrou então no Estádio da Luz. Dois golos de Cristiano Ronaldo e de Hélder Postiga, um de Nani e outro de Miguel Veloso deram substância ao 6-2 final. Portugal chegou às meias-finais da prova, caindo no desempate por grandes penalidades frente à Espanha.

No terceiro play-off de apuramento para uma fase final disputado no Estádio da Luz, desta feita para o Campeonato do Mundo de 2014, no Brasil, Portugal venceu a Suécia na primeira mão a 15 de novembro de 2013, graças a um golo de Cristiano Ronaldo, aos 82'.

O 1-0 levado para Solna fez prever dificuldades extremas, minoradas pela brilhante exibição do capitão da Seleção Nacional, autor de três golos, contra os dois de Zlatan Ibrahimovic, num dos mais intensos e apaixonantes duelos dos últimos anos entre dois craques pelas respetivas nações. O 2-3 foi passaporte para o Brasil, onde Portugal acabou eliminado na fase de grupos, na disputa que teve com Alemanha, Estados Unidos e Gana.

À semelhança do apuramento para o Campeonato do Mundo de 2002, a qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018 foi disputado até à última, necessitando Portugal de vencer a Suíça no derradeiro confronto do grupo B para igualar os helvéticos no topo da classificação com 27 pontos, valendo então a diferença de golos favorável aos comandados de Fernando Santos.

No Estádio da Luz, que já recebeu duas finais da Liga dos Campeões (2014 e 2020), um autogolo de Djourou e um golo de André Silva fixaram o 2-0 final e valeram a presença em mais uma fase final do Campeonato do Mundo. Aí, na Rússia, Portugal foi eliminado nos oitavos de final frente ao Uruguai, por 2-1.

Segue-se um novo capítulo de decisões na Luz, agora frente à Sérvia. Mas o saldo, esse, é claro: sete vitórias e 19-2 entre golos marcados e sofridos.

Olhando para o histórico de jogos de Portugal no atual Estádio da Luz, desde a sua inauguração a 25 de outubro de 2003, verificamos igualmente que o registo tem sido bastante positivo para as cores nacionais, somando 17 vitórias nos 23 confrontos realizados, três empates e outras tantas derrotas (52-11 em golos marcados e sofridos).

Além dos apuramentos já mencionados, os confrontos frente a Inglaterra (nos quartos de final do Campeonato da Europa de 2004), Espanha (preparação para o Campeonato da Europa 2012) e Itália (Liga das Nações) surgem como os jogos de maior destaque na nova Catedral, até pelo peso histórico dos rivais. Por outro lado, o momento mais marcante pela negativa foi a derrota frente à Grécia na final do Campeonato da Europa de 2004.

No antigo Estádio da Luz, com lotação (mais do que) esgotada, Portugal conquistou o Campeonato do Mundo de Sub-20, em 1991. Foi a revalidação do título ganho na Arábia Saudita em 1989, batendo o Brasil na final no desempate por grandes penalidades (após 0-0 em 120 minutos), com o pontapé decisivo a ser cobrado por Rui Costa. Nessa caminhada, Portugal disputou cinco dos seis desafios no Estádio da Luz.