Domingos Soares de Oliveira em entrevista ao "The Athletic"

Domingos Soares de Oliveira, CEO do Grupo Benfica, foi entrevistado pelo prestigiado portal "The Athletic", onde abordou a atualidade em torno dos desafios que o Benfica e os clubes europeus enfrentam na indústria competitiva do futebol, assim como a relação pessoal e de trabalho com o Presidente Rui Costa.

O responsável benfiquista, que recentemente regressou ao Conselho de Administração da Associação Europeia de Clubes (ECA), explanou as suas ideias, concretamente em torno da Superliga Europeia, o aumento da competitividade do futebol nacional, assim como a "tendência" que será seguida por muitos clubes de ter antigos jogadores de futebol como presidentes, elogiando as capacidades de Rui Costa.  

Superliga, meritocracia e relação extremamente forte entre a UEFA e a ECA

"Nós percebemos a ideia que está por detrás do conceito dos clubes e passa por gerar receitas adicionais. Mas nós, e não falo apenas do Benfica, mas, sim, da família do futebol e da maioria dos clubes que não faz parte da Superliga, acreditamos que a meritocracia é extremamente importante. Uma Liga fechada pode existir em outras partes do globo, mas não a nível Europeu. Pensamos que a UEFA é um parceiro-chave, e o que vi na última assembleia geral da ECA (European Club Association), em Viena, é uma relação extremamente forte entre a UEFA e a ECA. Vamos na direção certa. A ECA é a entidade que está responsável por defender os interesses dos clubes e está a trabalhar de mãos dadas com a UEFA, existindo um memorando de entendimento que é muito claro, inclusive Aleksander Ceferin esteve presente na assembleia geral. Todas estas coisas estão a caminhar na direção correta. Estou certo que os grandes clubes vão continuar a jogar entre si, mas não deve ser numa competição fechada. Tem de estar debaixo de regras estabelecidas por nós."

Competitividade da Liga Portuguesa e projeção europeia

"Penso que estamos a falhar onde outras Ligas melhoraram para conseguirem competir bem a nível europeu. Em Portugal, habitualmente, são quatro clubes [Benfica, Sporting, FC Porto e Braga]. Podemos ter o Vitória de Guimarães ou o Marítimo. Mas é difícil para eles conseguirem ser competitivos. Se olharmos para os motivos de Portugal estar em perda em termos de coeficiente europeu quando comparado com a Liga dos Países Baixos, é sobretudo porque têm muitos clubes na Conference League. Não temos a mesma situação em Portugal. A nível europeu, mesmo sendo apenas quatro clubes [que regularmente competem nas provas da UEFA], tivemos três equipas na fase de grupos da Liga dos Campeões, o Benfica está nos quartos de final, e o Braga está nos quartos de final da Liga Europa, o que é muito interessante."

Presidente Rui Costa: modelo que é uma tendência de futuro

"Tivemos eleições em outubro. Mudámos de presidente. O anterior presidente esteve no Clube desde 2003. Foi uma grande mudança. Agora temos como presidente Rui Costa. É a primeira vez em Portugal que um antigo jogador se torna presidente. É algo que, na minha opinião, vai na direção certa. Tenho alguns amigos que estão na mesma posição, como são os casos de Karl-Heinz Rummenigge [no Bayern Munique] e Edwin van der Sar [no Ajax]. Rui Costa já foi um bom número 10, agora penso que é um bom número 1, e por número 1 não digo guarda-redes. Temos trabalhado juntos desde que se retirou como jogador e entrou na administração. Trabalhamos juntos desde  2008/09. É muito tempo, e isso é bom. É mais ou menos a mesma situação que Kalle [Karl-Heinz Rummenigge] e Edwin [Edwin van der Sar]. Tiveram tempo para se prepararem para as posições que ocupam. De facto eles vivem o futebol, adoram, são apaixonados pelo futebol e têm muita experiência. Esta é uma tendência para o futuro. Penso que veremos cada vez mais jogadores de futebol nesta posição. O Rui Costa sabe o que se passa no terreno. Sabe o que se passa na sala da administração. Sabe também o que acontecem nas diferentes instituições que controlam e gerem o futebol. Ele também tem experiência como homem de negócios não apenas pelo seu sucesso na vida pessoal, mas pelo facto de também ter mais de 10 anos de experiência como membro da administração. São as mesmas situações que experienciei. Se falamos sobre patrocínios, estratégias para aumentar as receitas em dias de jogo, direitos televisivos, ele sabe. É muito positivo para o Clube e para a indústria."