A meta derradeira de Manuel Arons de Carvalho

A lutar contra a doença há vários anos, Manuel Arons de Carvalho continuava a frequentar as piscinas do Complexo Desportivo do Estádio da Luz. A prática de desporto fez parte do seu quotidiano, em particular a corrida desde que, aos 10 anos, se apaixonou por atletismo.

Ingressou no Benfica aos 16 anos, em 1963, acrescentando à qualidade de sócio a de atleta. Então, na categoria aspirantes, integrou a equipa de estafetas vencedora dos 700 metros no Campeonato Regional. Já como sénior contribuiu para as conquistas do Campeonato Regional de Pista (foi campeão dos 800 metros) e do Campeonato Nacional de Pista. Teve uma carreira que o próprio, sempre humilde, classificou de "efémera, muito dedicada, mas bem pouco brilhante".

O abandono precoce da competição para se dedicar aos estudos (na atual Faculdade de Motricidade Humana) não significou um afastamento da modalidade. Manuel Arons de Carvalho continuou ligado ao Benfica através da secção de atletismo do Clube, à qual se dedicou até 1973, regressando em 1977 e assumindo, até 1979, a presidência da mesma. Entre 1975 e 1977 foi 2.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral, era Presidente da Direção Borges Coutinho.

Trabalhou na Direção-Geral dos Desportos desde 1974, acumulando com a profissão de jornalista, a qual iniciou no jornal República. Ao longo da vida colaborou com várias publicações, nomeadamente o "Record", pelo qual foi agraciado, em 2013, com a medalha "Record de ouro" pelos serviços prestados, com particular ênfase no seu adorado atletismo.

Da vida imensamente preenchida ainda lhe sobrava tempo para ser um colaborador gracioso e muito ativo do jornal O Benfica (até 2015, com interrupções) e da revista Benfica Ilustrado, chegando a ser diretor adjunto de ambas as publicações.

Nos prémios "Benfiquistas do Ano" de 1991 foi galardoado na categoria "Jornalista". Na reportagem do jornal do Clube sobre o evento lia-se: "Para Arons, esta distinção não é senão o reconhecimento das duas funções que desempenha sem sacrifício algum, a de ser Benfiquista e a de ser colaborador de O Benfica. Este galardão surge numa altura em que a sua disponibilidade e entrega quer ao Jornal, quer à Revista, é maior do que há algum tempo."

Noutro número do jornal, referia-se: "O nome de Manuel Arons de Carvalho tornou-se referência obrigatória num ano em que para além de ter conseguido impor, de parceria com Luís Pereira, a revista dentro da periodicidade estipulada, esteve sempre presente, através de grandes entrevistas, nas colunas do nosso Jornal. Atleta/jornalista por vocação, é um dedicado Benfiquista que desinteressadamente tem prestado o seu importante e precioso contributo à equipa que produz quer O Benfica, quer O Benfica Ilustrado, onde é diretor adjunto, mas, mais do que isso, principal dinamizador de uma publicação que conhece um êxito invulgar."

Intransigente e empenhado no que entendia ser a defesa do Sport Lisboa e Benfica, característica bem presente, também, nas colaborações ocasionais com a BTV, à qual sempre se mostrou disponível quando solicitado, Arons de Carvalho foi ainda autor de um extraordinário site de estatísticas de atletismo, um impressionante repositório, notavelmente organizado, de resultados de provas realizadas ao longo de décadas nesta modalidade.

A Arons de Carvalho, que faleceu aos 75 anos, o Sport Lisboa e Benfica e o atletismo português têm uma imensa dívida de gratidão, sobre a qual, estamos plenamente convictos, o próprio diria que não tem razão de ser. Tudo o que fez pelo Benfica e pelo atletismo fê-lo por paixão e devoção às causas que tão entusiástica e abnegadamente abraçou.

Obrigado e até sempre, Arons!

P.S.: Dados recolhidos pelo Centro de Documentação e Informação do Sport Lisboa e Benfica.