Entrevista

01 outubro 2023, 11h10

Lúcio Rocha

Lúcio Rocha

Muitas vezes, os génios são incompreendidos. Porque desenham, nas suas brilhantes mentes, realidades distintas de uma normalidade que acomoda os homens vulgares. Porém, os génios estão sempre à frente do seu tempo. Na música, na física, nas matemáticas e, também, no desporto.

No futsal, Lúcio Rocha pertence a essa rara estirpe de génios que joga com as mesmas regras dos outros, mas contorna-as com um talento modificador de jogos e de equipas. É um génio e tem de ser compreendido como tal, nascido para marcar uma era no futsal português e mundial.

Esta é a segunda época ao serviço do Benfica, e o maior clube português parece ter sido feito à medida das ambições de Lúcio. Sonha em ser o melhor do mundo e reconhecido assim pelos adeptos, pelos pares e pelos treinadores. E já começou a trilhar esse caminho das pedras, até ao cume do reconhecimento mundial. Há poucas semanas, no Europeu de sub-19, sem surpresa, foi considerado o melhor jogador do torneio e, também, o melhor marcador.

Em entrevista ao programa Protagonista, da BTV, Lúcio trouxe consigo o prémio de melhor jogador. Não lhe foi entregue o prémio que o distinguisse como melhor marcador, mas os registos não se apagam, assim como a memória coletiva que manterá o nome de Lúcio como um dos jovens mais marcantes da história do futsal.

Em estúdio, Lúcio pareceu sempre cómodo, à vontade, como se estivesse preparado para enfrentar uma eventual incomodidade do direto, e fê-lo como quem remove adversários do caminho. Iludindo-nos com a sua clareza, a sua humildade e a nítida resolução das suas respostas.

Lúcio Rocha

Lúcio, parabéns pelo título europeu e pelos prémios de melhor jogador e melhor marcador do Europeu. Era com isso que sonhava?

Já sonhava, desde a época passada, quando tive a maior desilusão da minha vida, uma lesão que me impediu de disputar a fase final do Europeu. Foi um momento muito difícil que consegui superar, com a ajuda da minha família, dos meus amigos e dos meus colegas, no Benfica. Foi muito importante, para mim, o apoio que recebi no Clube, desde colegas, treinadores, estrutura e adeptos. Muitas pessoas perguntam-me o que faz do Benfica um clube especial, e eu respondo que é isto, a forma como trata os atletas, como os apoia. Nas vitórias, é fácil, mas, naqueles momentos em que precisamos de alguém que nos traga para cima, o Benfica está sempre lá, está sempre presente.

A forma como lhe foi retirado o sonho, há um ano, modificou algo na sua preparação para este Europeu? Em algum momento temeu que pudesse acontecer alguma coisa que o afastasse da sua ambição de disputar o Europeu e conquistá-lo?

É impossível não pensar nisso, porque foi uma coisa que deixou marcas. Mas também me deu forças para enfrentar o desafio com uma vontade enorme de o superar. Desde o início da concentração percebi qual era o meu papel na equipa e que estava perante a derradeira oportunidade de ser campeão europeu, nesta categoria, por Portugal. Já fui campeão nacional, em Sub-19, já fui considerado o melhor jogador da Segunda Divisão, do Campeonato Nacional de Juniores, mas ser campeão europeu e melhor jogador do torneio é uma sensação completamente diferente. E trabalho para ter essas sensações desde miúdo. Enfrentei este Europeu com uma força enorme.

Uma força tão grande, que foi campeão, foi melhor jogador e melhor marcador. Esse prémio que aí tem anda sempre consigo?

Nestes dias, tem andado sempre. Já disse à minha mãe que tenho de comprar uma vitrina para colocar os meus prémios, que já são alguns, e colocar este em lugar de grande destaque. E, depois, é o reconhecimento da minha qualidade. Todos os jogadores gostam de ser reconhecidos, e sinto que já começo a ser reconhecido fora de Portugal.

Lúcio Rocha

Esse reconhecimento passa, também, por chegar rapidamente à Seleção principal?

Passa por chegar à Seleção principal. Se vai ser rapidamente, não depende só de mim. Vou fazer tudo para que isso aconteça, porque é, naturalmente, o próximo passo. E sinto que vou chegar lá. Tenho objetivos, tenho sonhos, e a Seleção principal é um deles.

Um desses sonhos é ser o melhor do mundo?

Não nego que gostava de vir a ser o melhor do mundo. Mas ainda há muito trabalho pela frente para que isso possa ser uma realidade. Mas ser o melhor jogador num Europeu é um sinal de que estou a fazer as coisas bem e de que, mesmo internacionalmente, o meu nome já começa a ser falado. Vamos passo a passo, e estar no Benfica é algo que me pode ajudar a concretizar esse sonho, porque estou num clube ímpar, conquistador e conhecido em todo o mundo.

Já imaginou, daqui a um ano, estar aqui, de novo, com outro prémio, de melhor jogador, melhor marcador e vencedor da Liga dos Campeões, com o Benfica?

Não foi nada que já não me tivesse passado pela cabeça. E não imagina a felicidade que isso me daria. Quero muito que isso aconteça, quero ganhar os maiores títulos ao serviço do Benfica, acho que os poderemos conquistar, temos qualidade, temos condições e temos a força que nos é dada pelos nossos adeptos, em qualquer canto do mundo. Seria fantástico ganhar uma Champions pelo Benfica, ou mais, e ser o melhor jogador e melhor marcador da competição. Quando cheguei ao Clube, trouxe comigo essa ambição, e tenho a sorte de estar num clube que tem a mesma ambição que eu.

Lúcio Rocha

Há pouco, disse que jogar no Benfica permite-lhe ser mais reconhecido internacionalmente. E chegar à Seleção?

Claro que quem joga no Benfica está mais perto de jogar na Seleção, porque no Benfica jogam os melhores. Esse é o nosso nível, e, se estamos num clube que escolhe os melhores, chegar à Seleção é um processo natural. Acredito mesmo que isso vai acontecer e, insisto nisto, sei que vai depender muito de mim.

O Carlinhos já lá chegou. Isso, para si, é mais um incentivo?

Para já, é uma chamada mais do que justa. O Carlinhos é um génio. É um jogador fenomenal, e a sua convocatória para a Seleção é mais um passo que ele dá no sentido de vir a ser, também, dos melhores jogadores do mundo.

O Carlinhos chegou ao Benfica um ano mais cedo que o Lúcio. Isso facilitou a sua adaptação?

E de que maneira. Foi fundamental. Ele é o meu melhor amigo. Jogamos juntos, no Caxinas, desde pequenos. Sabemos tudo um do outro. É uma pessoa incrível, que me ajudou e continua a ajudar. Vivemos juntos e temos uma amizade muito, muito forte.

Lúcio Rocha

O Benfica conquistou recentemente a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a Supertaça. Mas ainda falta ser campeão nacional e europeu. Pode ser já neste ano?

Pode ser neste ano, como pode ser em qualquer ano, porque o Benfica vive disto e, para jogar neste clube, esse tem de ser o pensamento. Temos um grupo muito forte, muito unido, com grandes jogadores, e digo-lhe, é um privilégio, para mim, treinar todos os dias com alguns dos melhores jogadores do mundo, que há poucos anos admirava à distância. Temos, efetivamente, muita qualidade no Benfica e, claro, temos a ambição de ganhar todos os títulos. Já vencemos a Supertaça, o que é bom, mas isso é apenas o início. Queremos mais, queremos tudo. Somos o Benfica.

Sentiu essa unidade, esse espírito, quando chegou do Europeu? Foi felicitado pelos seus colegas?

Pelos meus colegas (os que cá estavam, porque muitos deles estavam nas seleções), pela estrutura, pelos adeptos. Por todos. Isto é uma família, e a família sabe sempre reconhecer estes momentos importantes na carreira de um jogador. Senti que o Benfica se sentiu bem representado por mim, e as pessoas fizeram questão de me passar essa sensação maravilhosa. Depois, perguntam o que é que o Benfica tem de especial. É isto.

Artigo publicado na edição de 29 de setembro do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 22 de março de 2024

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