"A Taça é só o início"

Letícia Soares foi a última jogadora a ser incorporada na equipa feminina de basquetebol do Benfica, mas o impacto foi imediato. A luta nas tabelas é feroz e determinante no basquetebol, e a jogadora das águias tornou-se rapidamente dominadora nos ressaltos e na forma como ajuda a equipa a superar os desafios que as adversárias colocam.

A defender e a atacar, a presença da poste brasileira acaba por polarizar, em torno de si, muitas das jogadas em que o Benfica ganha vantagens sucessivas. E foi isso, exatamente, que Letícia Soares prometeu quando chegou ao Benfica, em janeiro. Uma combatividade já conhecida em Portugal e que determinou a sua aquisição pelo Clube, que enfrentava dificuldades nas tabelas.

"Sempre fui uma jogadora combativa, com impacto na luta das tabelas, jogando de costas para o cesto ou abrindo espaços para as minhas companheiras. Mas também gosto de lançar, de ganhar ressaltos, e acho que foi por isso que o Benfica decidiu contratar-me. Fiquei muito feliz, porque já fui adversária e não gostei muito da sensação", disse Letícia Soares.

Em entrevista ao programa Protagonista, da BTV, a poste brasileira relembra os seus jogos pelo GDESSA e as finais perdidas com o Benfica, que criaram na jogadora uma vontade de representar o seu atual clube que se tornou difícil de reprimir.

"Foram várias finais que perdi, frente ao Benfica, pelo GDESSA, e lembrei-me disso quando assinei pelo Clube. Senti que agora poderia estar mais perto de ganhar as finais que perdi contra o Benfica. Desde essa altura que alimentei esse sonho de jogar aqui, de me tornar jogadora do Benfica e fazer a minha história no Clube", confessou.

PRIMEIRA CONQUISTA

Não demorou muito tempo a conquistar o primeiro do que Letícia Soares deseja que venha a ser uma enxurrada de títulos pelo Benfica. Sente que, agora, sim, está no sítio certo para os conquistar.

"Esta vitória na Taça de Portugal mostra que vim para o clube certo. Foi para isto que vim para o Benfica, um clube onde só se pensa em ganhar. É incrível, temos condições muito boas, de excelência, que o clube proporciona, um ambiente de muita exigência, nos treinos e nos jogos. Desde o primeiro dia que cheguei aqui, a mensagem foi muito clara. No Benfica, só existe uma alternativa a ganhar, e é ganhar. Era do que eu precisava para mim, era o sonho que perseguia na minha carreira, e este título conquistado, frente às atuais campeãs, serviu para confirmamos o nosso valor e para que os nossos adeptos acreditem que isto é apenas o início", assegurou Letícia Soares.

Na final, desde praticamente o início do jogo, ficou claro que a forma agressiva como a equipa do Benfica se comportava nas tabelas seria decisiva para deitar a mão à Taça. E, aí, Letícia Soares destacou-se, sendo a MVP desse encontro.

"Acho que defendemos muito bem, e isso é cada vez mais importante no basquetebol, e nessa final foi determinante. Fomos muito agressivas, era esse o nosso plano, e acho que o executámos bem. Eu fui a MVP, mas podia ser outra companheira da minha equipa, porque houve exibições muito boas. Eu não ataquei nem defendi sozinha. Fiz o meu trabalho, foi para isso que o Benfica me contratou, e é por isso que o nosso treinador confia em mim e confia nas minhas companheiras. Temos um grupo muito unido, acho que isso se nota em campo, e isso é algo que o nosso treinador trabalha imenso. Claro que fiquei contente por terem reconhecido o meu valor, o meu trabalho, nesse jogo, mas o que eu festejei mesmo foi a conquista da Taça, o meu primeiro troféu em Portugal e pelo Benfica. Foi mesmo impressionante ver tantos adeptos do Benfica, num terreno neutro, a incentivar-nos, a festejar connosco. Foi incrível, e agora vamos por mais. A equipa tem uma qualidade muito boa, temos um grupo muito equilibrado e podemos ser felizes no campeonato e fazer felizes os nossos adeptos. Eles merecem", disse a poste do Benfica.

O PLAY-OFF DE CAMPEÃO

Depois da conquista da Taça, sobrou pouco tempo para festejar, já que se seguiu o primeiro jogo dos quartos de final do play-off de campeão. Em Barcelos, frente a uma equipa que, no seu pavilhão, colocou grandes dificuldades a todas as formações mais apetrechadas do campeonato.

"Foi um jogo difícil, como será, agora, no nosso pavilhão. É uma equipa com muita energia, que não desliga do jogo, e precisamos de estar na máxima força para conseguirmos passar às meias-finais do play-off. E será assim até ao fim, jogos muito equilibrados, onde precisamos de estar muito bem na defesa, porque esse é o nosso estilo, e é isso que nos exige o nosso treinador. Nunca nos deixa desligar, está sempre a passar informações, mesmo nos treinos. Às vezes, até apetece dizer 'calma', mas a nossa equipa é muito a cara do nosso treinador. E eu, sendo uma jogadora muito física, gosto disso, gosto dessa agressividade, a atacar e a defender. E, num campeonato tão equilibrado, a forma como defendes pode ser decisiva", considerou Letícia Soares.

A poste reconhece que demorou algum tempo a encontrar o seu melhor basquetebol. Quando recebeu o convite do Benfica, não esperava pela chamada, porque estava a recuperar de uma lesão e a época estava a ser muito descontínua, até pelo desinvestimento no plantel da sua equipa anterior. Dificuldades que Letícia Soares não escondeu, emocionando-se no programa, mas que lhe deram força para superar a fase inicial no Benfica.

"Foi difícil o início, porque eu queria, e as coisas não saíam como eu desejava. Foi muito difícil, mas uma das coisas que o Benfica e este plantel têm de bom é que não deixam cair ninguém. Nunca me senti tão apoiada, nunca me senti tão amparada. O Benfica é um grande clube em todas as dimensões, e o plantel é espetacular. Dentro e fora da quadra. As meninas formam um grupo muito unido, e na meia-final da Taça, então, no fim, só me perguntavam o que se tinha passado, porque tinha acabado de fazer a minha melhor atuação. As coisas começaram a sair, e na final, de novo. Tenho a agradecer a todos o apoio que recebi, e agora, nos jogos finais, pretendo retribuir com o meu melhor basquetebol. Fui a última a chegar ao plantel, mas rapidamente fui integrada e apoiada. Hoje, sinto que parece que estou aqui há anos", avisou a MVP da final da Taça de Portugal.

PLANTEL HOMOEUGÉNIO

Não há jogadora do plantel de basquetebol feminino do Benfica que não reconheça a importância do treinador Eugénio Rodrigues no rendimento da equipa e na evolução das atletas. Exigência máxima, compromisso comum.

"Lembro que, na primeira conversa que teve comigo, me perguntou. 'Quem é a Letícia e o que é que nos pode dar?' Eu lembro que respondi que era uma jogadora agressiva, que gostava do contacto físico, que gostava de lutar nas tabelas, de servir de pivô às minhas colegas, fazer os passes para elas poderem atirar ao cesto. Foi uma conversa muito agradável, porque me senti à vontade e senti que o treinador tinha uma missão para mim, mas quis envolver-me nessa missão. E o nosso treinador, o Eugénio Rodrigues, é assim, muito exigente, gosta de que as suas jogadoras deem tudo pelo Clube, pela equipa, mas que saibam que a equipa também dá tudo por nós. É um treinador incrível que nos incute muito a filosofia do Clube, onde é ganhar ou ganhar. Não existe outra via. E, em certos momentos, nos treinos e nos jogos, quando parece que estamos a desligar um pouco a ficha, temos um treinador que não o permite, com a sua energia, as suas instruções. Era tudo isto que eu pretendia para a minha carreira, esta exigência, esta vontade de conquistar títulos. Foi por isso que vim para o Benfica, e, sinceramente, estou a adorar. É outro mundo", confidenciou Letícia Soares.

Artigo publicado na edição de 5 de abril do jornal O Benfica