Voleibol

13 maio 2024, 10h00

Pablo Natan

Pablo Natan

Quando, na época passada, em Itália, num jogo da Liga dos Campeões, o serviço de Pablo Natan atingiu a velocidade de 123 e 124 quilómetros horários, o zona 4 brasileiro do Benfica chegou a um novo máximo do seu poderoso e já reconhecido movimento. Com o peso que se exige num jogo da Liga dos Campeões, porque do outro lado estão jogadores para os quais estes serviços são autênticas meiguices.

"Verdade, eu nem queria acreditar. Eu a servir daquela forma, e do outro lado o líbero deles a receber as bolas de uma forma tranquila e a deixá-la no distribuidor, limpinha. Eu perguntei como era possível. Mas é o nível da Champions, que não temos em Portugal. Mas foi aí que atingi o máximo da potência no meu serviço", relembrou Pablo Natan, convidado desta semana do programa Protagonista, da BTV.

Já fora do estúdio e da gravação, ele confessa-me a sua admiração por estas equipas e pelo nível a que chegou o voleibol na Europa. Aliás, o atacante brasileiro, de 26 anos, franqueou as portas do voleibol europeu por França, em representação de uma das melhores equipas francesas, o Tours.

Na época passada, revisitou o local onde treinou e jogou durante uma temporada, quando, pelo Benfica, defrontou o clube francês. "Tem sido sempre assim, calhamos sempre em grupos de equipas muito fortes. Mas temos conseguido ser competitivos, mesmo defrontando grandes equipas, grandes jogadores. Tem sido importante para a nossa evolução na Europa", adiantou Pablo Natan.

Pablo Natan

"Temos conseguido ser competitivos, mesmo defrontando grandes equipas, grandes jogadores. Tem sido importante para a nossa evolução na Europa"

Pablo Natan

O NÍVEL DE CHAMPIONS

Com a mesma segurança com que abre o braço e o move para disparar bolas pesadas e certeiras, aquele que foi considerado o melhor atacante do campeonato português perceciona as diferenças que ainda separam a melhor equipa portuguesa das mais apetrechadas da Europa. Mas o caminho que se está a fazer vai trazer sucesso, mais tarde ou mais cedo.

"Eu acredito nisso, que estamos a competir com as melhores equipas, e durante estes anos já chegámos várias vezes perto da vitória. Conseguimos, nos jogos, estar mais perto dessas vitórias do que imaginávamos. Vamos conseguir, mais tarde ou mais cedo. A equipa mantém um bom espírito, sabemos que estamos cada vez mais perto, e uma coisa que o Benfica tem feito bem, que é manter a base dos jogadores. Todos os anos, juntam-se à equipa, dois ou três jogadores, que encontram aqui uma equipa montada e ambiciosa. Ajuda bastante a conquistar os títulos, em Portugal, e a manter a equipa a evoluir na Europa", determinou Pablo Natan, que chegou ao Benfica há três anos, depois de uma temporada no fortíssimo Tours de França.

Pablo Natan

A CHEGADA AO BENFICA

Trocar uma das melhores equipas da liga francesa, uma competição muito apreciada e reconhecida internacionalmente, pelo Benfica foi a decisão com que Natan foi confrontado no final da sua primeira temporada em França. Segundo o jogador brasileiro, não foi uma decisão difícil de tomar. "Estamos a falar do Benfica, um clube mundialmente reconhecido. É verdade que não conhecia muito do projeto do voleibol no Clube, mas a forma como falaram comigo e as informações que recolhi de jogadores brasileiros que jogaram no Clube tornaram fácil a decisão de vir. Saí de uma liga mais competitiva, mas vim para um clube que tem uma notoriedade incrível. Mesmo no Brasil, o Benfica é muito conhecido, muito respeitado. E eu já tinha vindo de um clube que é também muito conhecido pelo futebol, mas tem uma estrutura incrível no voleibol. Falo do Cruzeiro, onde fui campeão, no Brasil. E vir para o Benfica foi reencontrar um clube com essa grandeza. Depois, a conversa com o Marcel Matz também foi importante. A forma como ele me explicou o que pretendia de mim, que era a altura ideal para eu dar este salto, que o Benfica me iria ajudar a elevar o meu voleibol, e tudo o que ele me falou do Clube e da forma como os atletas são tratados. Por tanto, foi uma decisão fácil", aclarou o zona 4 do Benfica.

Pablo Natan

"No Benfica não há alternativa à vitória, mas, depois, sentimo-nos apoiados, envolvidos, e sabemos que, em caso de necessidade, o Benfica está sempre lá, para nos ajudar"

UMA GRANDEZA ENORME

Três anos depois de ter chega do a Lisboa e ao Clube, Pablo Natan descreveu o que sente e sobretudo o que o impressionou muito acima das suas expetativas iniciais. O Benfica é assim, é um colosso, mas quando os atletas o sentem, a partir de dentro, torna-se algo concreto, difícil de explicar, mas fácil de sentir.

"Posso dizer que houve coisas no Benfica que me surpreenderam. Este clube é de uma grandeza incrível, e por isso, no início, esperamos uma adaptação mais lenta, porque estamos à espera de encontrar uma realidade distante e fria no relacionamento. E o Benfica não é nada disso. É uma paixão muito grande dos adeptos, é incrível a ligação deles ao Clube, a forma como nos empurram para as vitórias, como nos apoiam, e não estou a falar apenas de vitórias. Já me senti muito apoiado, no Clube, nas derrotas. Felizmente, têm sido poucas. Mas a estrutura, que nos faz sentir em casa, como o Clube conseguiu juntar todas as modalidades numa grande família, onde nos apoiamos uns aos outros. Como disse, estive no Cruzeiro, outro grande clube, mas não é nada comparável ao que encontramos no Benfica. É tudo muito profissional, muito exigente, porque sabemos que no Benfica não há alternativa à vitória, mas, depois, sentimo-nos apoiados, envolvidos, e sabemos que, em caso de necessidade, o Benfica está sempre lá, para nos ajudar. Portanto, sim, eu posso dizer que o Benfica é o maior", atesta Pablo Natan, com um brilho indisfarçável no rosto.

Pablo Natan

O JOGO DO TÍTULO

O estado de espírito de uma equipa e dos seus jogadores é, quase sempre, um dos segredos mais bem guardados na alta competição. Neste ano, o plantel do Benfica, apesar de tetracampeão, sentiu que se apoderou dos adeptos uma certa desconfiança em relação à equipa e à sua capacidade para vencer o pentacampeonato. O melhor servidor do campeonato falou-me disso, agora que o título já cá canta. "Naquela semana, depois do jogo da Taça [de Portugal] que perdemos para o Sporting, sentimos ali uma certa desconfiança em relação à equipa. Não era muito visível, mas essa derrota não deixou marcas apenas nos jogadores. O Sporting estava mais forte, durante a época só tinham perdido contra o Benfica, e na segunda fase até fizeram mais pontos, mas prevaleceu o número de vitórias que nós tínhamos e que nos deu a vitória na fase regular. Nós acreditámos sempre que poderia cair para o nosso lado e, quando começou a final, sentimos isso. Estivemos melhor mais vezes que o Sporting, e isso acabou por fazer a diferença. Nos dois últimos jogos no nosso pavilhão, melhorámos o serviço, o que foi determinante para vencermos", confessou, agora mais descontraído, Pablo Natan.

Pablo Natan

"Fizemos história e vamos continuar a querer fazer. Há uma fome de vitória nesta equipa que nos faz saltar de uma conquista para a outra"

Mas, entre os jogos 3 e 5, que se disputaram na Luz, pelo meio, o Benfica desaproveitou a hipótese de ser campeão, mais cedo, em Alvalade. Foi uma derrota, pesada no resultado final, mas, mais uma vez, equilibrada nos parciais. Era preciso jogar a negra, em casa.

"É por isso que vencer a fase regular é tão importante. Não conseguimos vencer em Alvalade e fechar aí o campeonato, e tínhamos nova possibilidade, perante os nossos adeptos, que nos iam empurrar. Sinceramente, não ficámos muito afetados com a derrota em Alvalade, porque no treino a seguir ao jogo vimos o que tínhamos feito de mal e precisávamos de corrigir. O serviço melhorou bastante, estivemos mais seguros, e logo ali percebi que não nos deixaríamos afetar pelo jogo lá. E essa é uma das vantagens desta equipa e de haver poucas mudanças no plantel. Isso, vi logo que cheguei aqui. Há uma resistência muito grande à derrota, e todos sabem como reagir a ela. Por isso, fomos para a negra, sabendo que ia ser difícil, mas também que ia ser um jogo diferente do anterior. E sabíamos tudo o que precisávamos de saber para atacar o adversário. Correu bem, apesar de oscilações no resultado, que são normais entre duas grandes equipas, e acho que, no fim, fomos justos vencedores do campeonato. Fizemos história e vamos continuar a querer fazer. Há uma fome de vitória nesta equipa que nos faz saltar de uma conquista para a outra. É isso que o Benfica nos exige, e é isso que significa vestir esta camisola", terminou.

Artigo publicado na edição de 10 de maio do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: SL Benfica
Última atualização: 13 de maio de 2024

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