Futsal Feminino

08 junho 2024, 11h55

Angélica Alves

Angélica Alves

A tenacidade que coloca em todas as ações na quadra ajudou Angélica Alves a superar um início de temporada em que passou por uma sala de operações, para debelar um problema num tornozelo. Foi em agosto e obrigou a laboriosa pivô do Benfica a uma recuperação, entre convalescença e fisioterapia, dos seus melhores índices físicos.

Nada, no entanto, que dissuadisse Angélica Alves de colocar como objetivo de temporada afirmar-se definitivamente na melhor equipa do futsal feminino e contribuir para que o Benfica continuasse a somar títulos e reconhecimento.

"Uma lesão é sempre o nosso pior inimigo. É sempre algo que tememos, e se obrigar a uma operação, ainda pior. Aconteceu-me a mim, numa altura em que devia estar a preparar-me para uma época que voltaria a ser difícil, para mim e para a equipa, e tive de parar. Mas, quando isso acontece, é fundamental que nos concentremos na recuperação, porque é isso que nos pode fazer regressar mais cedo. Felizmente, tudo correu bem, a operação e a recuperação, e, mais uma vez, tenho a agradecer aos profissionais do Benfica, que são incríveis e que ajudam a superar estes maus momentos na vida de uma atleta. E o Benfica tem isso, ampara-nos nos momentos mais difíceis e não deixa que eles nos afetem mais do que é normal", contou Angélica Alves, numa conversa amena e reveladora da forma resoluta como está na quadra e na vida.

Angélica Alves

"O Benfica tem isso, ampara-nos nos momentos mais difíceis e não deixa que eles nos afetem mais do que é normal"

Angélica Alves

JANICE É UM EXEMPLO

Desde que chegou ao Benfica, vinda do Novasemente, Angélica Alves sabe o que é suceder a Janice, talvez a melhor jogadora do mundo, e, no ano a seguir, dividir o balneário com ela. E, quando se esperava um ocaso de Angélica Alves com o regresso ao Benfica da consagrada pivô, aconteceu o contrário.

"Quando soube que ela ia regressar, passou-me pela cabeça que iria ter a oportunidade de aprender com uma jogadora que eu já admirava. É uma das melhores jogadoras do mundo, e não há atletas que não queiram jogar com as melhores. É verdade que jogamos na mesma posição, mas tenho aprendido muito com ela. Posso dizer que tenho sido uma das mais beneficiadas com o regresso dela, pelo que tenho aprendido, nos jogos e nos treinos. E, depois, fora da quadra, a Janice é uma pessoa incrível. É um exemplo para todas nós. Aliás, a esse nível, esta equipa tem jogadoras que são verdadeiros exemplos para as mais novas como eu. Nada disto seria possível sem as nossas capitãs, a Inês Fernandes, a Sara [Ferreira], a Ana Catarina. Porque, além de jogadoras incríveis, são autênticas líderes e pessoas fantásticas. As nossas vitórias começam aqui, neste ambiente que souberam criar na equipa", adiantou a internacional portuguesa, convidada desta semana do programa Protagonista, da BTV.

A LIGA DOS CAMPEÕES

Ainda não foi nesta temporada que a equipa conseguiu cumprir o objetivo que as jogadoras colocaram a si próprias, para manter a sede de vitórias e a fome de títulos. Ganhar todos os títulos internos e ainda a Champions de futsal. Na época passada, faltou a competição europeia. Neste ano, com a conquista da prova, esperava-se que a soma dos títulos permitisse, ao plantel, concretizar o sonho. Mas uma inesperada derrota, nas grandes penalidades, com o Novasemente, nas meias-finais da Taça da Liga, adiou o sonho.

"Nós temos esse objetivo e, após ganhar a Champions, tínhamos de manter a nossa competitividade e o desejo de ganhar. Então, surgiu esse objetivo de ganhar todos os títulos na mesma temporada. Mas, depois, aconteceu aquele jogo com o Novasemente, onde não conseguimos marcar um golo, o que não é normal. Falhámos muitos golos, também houve muito mérito delas, e no fim perdemos nos penáltis. Foi muito duro, para nós, porque não estamos habituadas a perder, e muito menos a falhar finais das competições. E tudo isto aconteceu poucas semanas depois de termos conseguido a vitória que o Clube perseguia há tanto tempo, a vitória na Champions. E aí, foi uma felicidade indescritível, porque queríamos muito ganhar essa competição e sentíamos que era algo que nos faltava e que faltava aos nossos adeptos. E é por eles que lutamos, que superamos todas as dificuldades e todos os obstáculos. E sempre sentimos que eles esperavam isso de nós, esperavam que, mais tarde ou mais cedo, trouxéssemos esse troféu para o nosso museu. A nossa carreira no Benfica nunca ficaria completa sem essa conquista. E quando chegámos a Lisboa com o troféu, percebemos o quanto isso era importante para os adeptos, que sempre nos apoiaram. Foi uma sensação incrível, que nunca esquecerei", assegurou.

Angélica Alves

"Quando chegámos a Lisboa com o troféu, percebemos o quanto isso era importante para os adeptos, que sempre nos apoiaram. Foi uma sensação incrível, que nunca esquecerei"

MENINA DO RIO

"Eu sou da zona ribeirinha do Porto, de Miramar, perto da Alfândega. E, como todos os miúdos daquela zona, adoro o rio. A minha mãe ficava sempre preocupada, é natural, mas eu andava sempre com os meus amigos a dar mergulhos para o rio, a nadar. Despreocupada. Eu também andei na natação, cheguei a competir e, portanto, sou uma boa nadadora. Mas é impensável ser da Ribeira, no Porto, e não dar uns mergulhos no rio. Era assim o verão todo. Adorava e sinto saudades disso. Claro que, aqui em Lisboa, também tenho o Tejo, mas já não tenho idade para mergulhos no rio [risos]."

SAUDADES DE CASA

"No final do meu primeiro ano no Benfica, pensei em voltar ao Porto. Tinha muitas saudades dos meus pais, da minha família, dos meus amigos. Acho que isso é natural, saí da minha zona de conforto, sou muito ligada à família, aos meus pais, e tinha muitas saudades. Foi um momento difícil. As pessoas chegaram a pensar que eu queria sair do Benfica porque ia regressar a Janice. Claro que me passou pela cabeça que iria jogar menos, mas não foi isso que me fez pensar em dar um passo atrás na minha carreira. Felizmente, estou num clube que nos apoia em tudo, e acabei por superar essa dificuldade. A minha família também ajudou, fez-me ver que deixar o Benfica seria um retrocesso muito grande na minha carreira. Sendo da Ribeira, no Porto, tenho muitos amigos que não são do Benfica, mas até eles me aconselharam a ficar. Eles sabem o que lhes digo sobre o Clube e ficam muito contentes por mim. No futsal feminino, torcem pelo Benfica."

Angélica Alves

"Podem dizer o que quiserem, sinto-me campeã europeia de clubes, defrontámos as melhores equipas da Europa e fomos as melhores. O Benfica é campeão europeu de futsal feminino"

FUTEBOL DE RUA

"Comecei a jogar futebol na rua, com os meus amigos, numa altura em que era possível fazê-lo. Jogava com os rapazes, o que deixava a minha mãe preocupada, porque era o dia todo a jogar à bola. Em cima do empedrado, fazíamos as balizas com pedras, era muito divertido. Atualmente, já não se vê tanto disso, e é pena. A rua era a academia de muitos jovens que, depois, se tornaram futebolistas ou jogadores de futsal. Entretanto, um dia, pediram-nos para fazer uma equipa para ir a Valadares, em Gaia, defrontar uma equipa do Miramar, um clube histórico do futsal, onde começou, por exemplo, o Ricardinho. Fomos, gostaram de me ver, e fui convidada para me juntar à equipa. Ainda joguei um ano, com os rapazes, e sentia-me bem, porque o futsal com rapazes é mais duro, é mais agressivo, e eu sempre tive essas características. Aliás, quando comecei a jogar só com raparigas, senti logo a diferença, e, como estava mais preparada fisicamente, isso dava-me vantagem nos duelos. Antes de vir para o Benfica, ainda fui ao Novamente, e foi aí que as coisas começaram a tornar-se sérias. Lutávamos por títulos, embora o Benfica os ganhasse constantemente. Eu sei o que é jogar contra o Benfica e ir para casa frustrada porque não lhes conseguíamos ganhar. Agora, que estou deste lado, às vezes penso nisso. Aliás, todas pensamos, porque do outro lado estão sempre equipas cuja maior ambição é derrotar o Benfica. Somos as melhores, acho que temos, nesta altura, o melhor plantel de sempre do Benfica e do futsal português e um dos melhores da Europa. E foi por isso que vencemos a competição europeia. Podem dizer o que quiserem, sinto-me campeã europeia de clubes, defrontámos as melhores equipas da Europa e fomos as melhores. O Benfica é campeão europeu de futsal feminino."

Artigo publicado na edição de 7 de junho do jornal O Benfica

 

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 8 de junho de 2024

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