Basquetebol

12 junho 2024, 21h10

Norberto Alves

Norberto Alves

ENTREVISTA BTV

Quando cursou Educação Física, julgava ficar-se pelos escalões de formação de basquetebol, como treinador, mas o destino tinha-lhe reservado outros patamares, de êxito. Recém-sagrado campeão nacional em casa pela primeira vez na carreira, no Pavilhão Fidelidade, o que torna a conquista do Tricampeonato ainda mais marcante, Norberto Alves falou de diversos temas, em entrevista ao programa SL Modalidades, da BTV.

A viver a segunda passagem pelo Clube – orientara as águias entre 2003/04 e 2005/06 –, no 239.º desafio como treinador do Clube (tem 164 triunfos) foi culminada a época 2023/24 com sucesso na final do play-off do Campeonato Nacional, contra o FC Porto, um triunfo assente no "trabalho de equipa" e no "compromisso diário", aspetos que permitem "estar no melhor momento nos play-offs."

Norberto Alves, que ajudou a enriquecer o Museu Benfica – Cosme Damião com três títulos de Campeão Nacional, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça Hugo dos Santos, envolve os atletas na sua liderança, mais uma das receitas para ser bem-sucedido.

Equipa técnica de basquetebol do Benfica

"Sentimos o apoio das pessoas que exigem de nós, a Direção do Clube está sempre do nosso lado, e isso é muito importante. Sentimos que não caminhamos sós"

Norberto Alves

SATISFAÇÃO PROPORCIONADA PELA UNIÃO NO CLUBE

"O sentimento é de satisfação enorme pelos Benfiquistas, por jogadores, staff técnico e por uma Direção que sempre esteve do nosso lado. Começámos a época a perder dois jogos com a Oliveirense, passado pouco tempo fomos ao Dragão e perdemos por 18 pontos. Nesses momentos, sentimos o apoio das pessoas que exigem de nós, a Direção do Clube está sempre do nosso lado, e isso é muito importante. Sentimos que não caminhamos sós, e foi decisivo para depois percebermos o que seria o Campeonato, quais os momentos mais importantes e para planear a época para ganhar, sabendo que a equipa que foi connosco à final era uma equipa com potencial ofensivo impressionante. A certa altura, no nosso trabalho, dirigimo-nos para as questões defensivas, que nunca conseguissem jogar um contra um, mas um contra cinco, e isso foi a chave."

Equipa de basquetebol do Benfica

TRAJETO ATÉ AO TRIUNFO

"Penso que quando ganhámos a Taça da Liga, com muito mérito em termos coletivos, quer no ataque, quer na defesa, sentíamos que já éramos a melhor equipa do Campeonato. Isso é muito importante para nos dar confiança. Logo a seguir à Taça da Liga, começa o play-off. Jogámos a primeira eliminatória com o Vitória SC, que é uma equipa de muito talento ofensivo, e ganhámos por 2-0. Logo a seguir, a Oliveirense, que era outra equipa de imensa qualidade. Ganhámos essa eliminatória por 3-0. Até ao jogo de segunda-feira [10 de junho], a nossa média de pontos sofridos no play-off era de 62. Quem sofre apenas 62 pontos por jogo, em média, claramente arrisca-se, no bom sentido, a ganhar jogos e a competição. Na segunda-feira [10 de junho], o jogo foi mais difícil, como é evidente. Eles colocaram-nos uma dificuldade que só antes do jogo é que sabíamos. Como tinham sete estrangeiros disponíveis, não sabíamos quais eram os cinco que iam jogar. Em termos de estratégias defensivas, de algumas ações em concreto, é muito diferente defender um Barber, ou um Landis, ou um Melvin. Essa foi uma dificuldade com que tivemos de lidar. Não tenho dúvidas de que foi um pouco a união do grupo. Como disse o Makram [Ben Romdhane], é uma equipa que tem um espírito de grupo fantástico na maneira como trabalha no dia a dia. Percebemos quais são as nossas fragilidades e como é que as temos de resolver, numa ideia de resolvê-las coletivamente. Muitas vezes, fala-se que o Benfica tem mais talento do que o FC Porto. Normalmente, o talento revela-se mais nas tarefas ofensivas. Para se defender da maneira como defendemos, tem a ver com sacrifício, compromisso total uns com os outros. Isso não tem a ver com talento, tem a ver com trabalho e esse compromisso."

Benfiquistas

VENCER, ENFIM, NA LUZ

"Fomos campeões no Dragão, no João Rocha, e agora com os nossos adeptos. Foi fantástico ver o Pavilhão completamente lotado, com os adeptos a puxarem por nós nos nossos piores momentos. Todos os Campeonatos nos deram gozo. Este foi o primeiro Campeonato que uma equipa treinada por mim ganhou em casa. Foi uma sensação ótima, pois pudemos estar com as pessoas que mais gostam de nós, os Benfiquistas, que estão sempre presentes no dia a dia e que, quando não ganhamos, estão lá e dão-nos uma palavra de conforto. Dei a prancheta de treinador ao Sr. José Fardilha, que está em todas as modalidades e traduz bem o que é o Benfica e o amor pelo Clube. Nos maus momentos, está lá para apoiar. Percebe como ninguém que isto não é como começa, é como acaba. Os jogadores adoram-no, e fico contente pela alegria dele. O trabalho do treinador é ajudar os jogadores a ganhar e a dar esta alegria aos adeptos."

ESTABILIDADE E IDENTIDADE NO GRUPO

"Quando voltei ao Benfica, há três anos, era importante recuperar a identidade. Não é por acaso que o Pavilhão estava completamente cheio. Os Benfiquistas identificam-se com estas equipas, sabem o nome dos jogadores, e era importante não fazer muitas mudanças de ano para ano. A entrada do Trey Drechsel foi muito importante, pois precisávamos de alguém que nos trouxesse verticalidade ofensiva e compromisso em termos defensivos, mas manter o núcleo duro, que já se conhece, é decisivo para se poder vencer."

Norberto Alves

"Para se vencer, não tenho dúvidas de que decisivos são o trabalho de equipa, o compromisso diário, os valores e a disciplina que estabelecemos dentro da equipa"

DISCIPLINA COLETIVA ACIMA DAS INDIVIDUALIDADES

"O José Silva, infelizmente, contra o Vitória SC, caiu mal e fez uma fratura do escafóide. Estava a fazer a melhor época, uma época fantástica. O Terrell [Carter] é um jogador que ainda tem uma margem de progressão muito grande, evoluiu muito. Muitas vezes, olha-se para o Benfica e para as outras equipas e toda a gente pensa que o Benfica foi contratar aos Lakers. O Terrell Carter veio para Portugal pela primeira vez, para a Oliveirense, vindo da Segunda Divisão da Turquia. Fomos buscar o Aaron Broussard à Roménia, que não é propriamente daqueles campeonatos com mais nome. É evidente que o Toney Douglas jogou há muitos anos na NBA, mas, quando o fomos buscar, foi a uma equipa de baixo da tabela do Campeonato israelita. O José Silva já cá estava, foi muito importante e transmite um pouco o que é o Benfica, como foi o caso, logo nos primeiros dois anos, do Tomás Barroso. Deixou de jogar neste ano, mas foi muito importante para transmitir o que é o Benfica. Muitas vezes, mais importante do que ir buscar estes nomes, é a relação dos jogadores e a maneira como lidam uns com os outros no dia a dia. Os bons jogadores são aqueles que fazem o colega de equipa ser melhor todos os dias, porque, muitas vezes, quem está de fora, não percebe de onde é que estes jogadores vieram. Estes jogadores vieram para o Benfica, a maior parte deles com experiência de sucesso, que era importante, mas, para se vencer, não tenho dúvidas de que decisivos são o trabalho de equipa, o compromisso diário, os valores e a disciplina que estabelecemos dentro da equipa. A disciplina não é algo punitivo, é cada um saber o que tem de fazer, no seu papel, no momento em que se espera que faça aquilo. Isto foi decisivo para termos este sucesso."

Norberto Alves

INFLUÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO NA CHAMPIONS

"Foi importante para o Clube e para o basquetebol português. Ganhámos a uma equipa da Liga ACB, o Manresa, ao Limoges, da Pro A francesa, a equipas alemãs, campeãs da Polónia, equipas romenas, da Grécia, a uma equipa russa. Podemos competir com essas equipas, e estar lá é importante para os jogadores. Percebe-se o nível a que temos de estar para competir com estas equipas muito grandes com investimento tremendo. Dá-nos a noção clara de como se conseguem ganhar estes jogos de elevada dificuldade, como as finais, e foi importante para nós."

PARALELISMOS ENTRE AS DUAS PASSAGENS PELO BENFICA

"Há algo que é muito semelhante, que é a paixão dos adeptos pelo Clube. Esta maneira como as pessoas vivem o Clube com emoção não mudou nada. Agora, são dois mundos completamente diferentes. Quando cheguei, não havia o Estádio, nem o Pavilhão. Foi um período muito difícil para a equipa de basquetebol e das outras modalidades. A nossa casa, do basquetebol, chegou a ser Ponte de Sor, porque o Pavilhão estava a ser construído, tinha chegado um novo presidente há pouco tempo, estavam a reformular-se muitas coisas no Clube que eram importantes, portanto são dois mundos completamente diferentes. O atual Benfica é um clube extremamente profissional. Continua a manter algo que é, para mim, muito saudável, que é esta relação de proximidade que todos temos dentro do Clube. É realmente uma família, quem está no Pavilhão e vive as modalidades, com os funcionários, com os outros treinadores, sente isso. Agora, temos boas instalações e ótimas condições para trabalhar, estamos rodeados de profissionais de elevadíssima qualidade. Temos uma Direção muito próxima das equipas, e isto é decisivo para o sucesso. O Presidente [Rui Costa] vai muitas vezes falar connosco, não apenas nos momentos em que se comemora, mas principalmente quando sente que precisamos do seu apoio. O vice-presidente das modalidades [Fernando Tavares] é outra pessoa muito presente, esteve sempre do nosso lado nos momentos em que é difícil e em que é preciso estarmos juntos. Isso não mudou, mas tudo o resto mudou. Olhar para o Benfica agora é completamente diferente."

Texto: Paulo Nunes Teixeira e Simão Vitorino
Fotos: João Paulo Trindade / SL Benfica
Última atualização: 13 de junho de 2024

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