Campeões da Liberdade apadrinham a nova camisola

REPORTAGEM BTV

Tarde de calor em Lisboa. Pelas 14h00 desta quarta-feira, 12 de junho, já a mascote do Benfica está junto à entrada da Benfica Official Store do Rossio, no coração da capital portuguesa, sendo cumprimentada por muitos adeptos, que aproveitam para tirar fotografias no dia da apresentação da camisola principal das águias para a temporada 2024/25.

No interior da loja, já a nova indumentária está visível e pode ser adquirida. Alguns interessados querem inteirar-se do preço. Com a gola em V, demarcada a branco, é assinalado o regresso de um símbolo icónico, pois há cinco décadas era assumido esse mesmo regresso na camisola principal das águias.

"Temos uma história muito longa. Procuramos sempre, no lançamento das camisolas, encontrar motivos relacionados com história, adeptos ou outros factos relevantes. Na camisola principal, resolvemos pegar numa equipa icónica num momento singular da sociedade portuguesa, e lançámos uma reedição moderna da camisola dos 50 anos do 25 de abril e de uma equipa que deu muitas glórias ao Benfica", explana Miguel Bento, diretor Comercial e Marketing do Clube.

Presente no evento, a par do vice-presidente encarnado Domingos Almeida Lima, o diretor lembra que "o Benfica elege o seu presidente democraticamente desde o tempo da monarquia".

"O 25 abril é uma data única na história e, ao sentirmos que o Benfica tem a transversalidade na sociedade, pegamos nos seus pontos altos para enfatizar a sua história. Nada como pegar nos valores da história do Benfica para projetar o futuro risonho que terá", acrescenta.

Também a equipa feminina de futebol utilizará, pela primeira vez, uma camisola diferenciadora, na época em que se assinala o 50.º aniversário da celebração do Dia Internacional da Mulher, com um logótipo, colocado no interior da gola, alusivo à efeméride.

Miguel Bento expõe também a motivação para esta inovação: "O desporto feminino tem vindo a crescer de forma significativa. Na minha opinião, o Benfica é muito responsável por isso. Não faria sentido que o Benfica continuasse a jogar ao mais alto nível, em competições nacionais e internacionais, sem um equipamento dedicado às mulheres. Fala-se muito de equidade, equilíbrio, mas falar e não fazer não é apanágio do Benfica, por isso resolvemos dar este passo e, seguramente, virão muitos outros para dar às mulheres o que elas merecem."

Campeões nacionais em 1974/75, António Bastos Lopes, Cavungi, Diamantino Costa, José Henrique, Shéu Han e Toni marcam presença na cerimónia, e durante alguns minutos recordam momentos vividos. Sendo notória a amizade e o benfiquismo que os une, vão desfiando histórias de quem serviu o Glorioso com dedicação ímpar. E o Benfica tem memória, como diz António Bastos Lopes, à reportagem do Site Oficial e do jornal O Benfica.

"É sempre bom encontrar gente boa, que nos viu crescer no Benfica. Infelizmente, já não estão entre nós muitos dos que nos viram crescer, mas este momento também é para eles. O Benfica lembra-se de toda a gente que jogou nesta altura", afirma Bastos Lopes.

Conta-nos que vivia a segunda época no plantel sénior em 1974/75, e, naturalmente, as diferenças eram muitas no que respeita às camisolas, mas o que interessava era defender as cores encarnadas. "Foi o que fizemos", assegura, lembrando um ano difícil.

"Estava na tropa, era instrutor de condução e chegava ao quartel às 8h00. Ia para o Estádio da Luz, e a entreajuda foi importante para crescer. Estive sem treinar algumas vezes, o apoio dos meus colegas foi determinante", refere.

À época orientada por Milorad Pavic, na formação encarnada José Henrique era um dos guarda-redes. O mítico Zé Gato, como é conhecido, diz ser um privilégio "servir o Benfica". Há 50 anos, jogava com camisolas de lã, incomparáveis com os tecidos na atualidade.

A esse respeito, os materiais do novo Manto Sagrado têm especial atenção à sustentabilidade e, uma vez mais, a nova camisola apresenta-se como um produto adidas PRIMEGREEN, o que significa que foi produzida com uma série de materiais reciclados de alto desempenho. "Esta camisola vai para o meu museu", admite José Henrique, sem esquecer o que viveu há 50 anos.

"Foi o ano da liberdade, em que conquistámos o Campeonato. É um marco que nunca esqueceremos. É inesquecível ser campeão no ano da Liberdade", frisa, numa alusão à Revolução dos Cravos.

Vindo de Portimão, Diamantino gosta da nova camisola. "É muito gira", classifica o antigo jogador que chegou às águias à experiência, pela mão do pai, e foi recrutado após um único treino. A farta cabeleira loura até dava azo a brincadeiras. "Um locutor brasileiro disse que havia uma loura no banco, e essa loura era eu", sublinha, a propósito de um encontro do Benfica no Brasil, que Toni traz à baila.

Diamantino Costa fica incontornavelmente ligado ao título de 1974/75, pois foi o autor do golo do empate (1-1) em Alvalade que valeu a conquista da prova. "Foi uma jogada pela direita, e dentro da área rematei e marquei ao Damas", descreve.

Com saudade, Toni olha para as imagens referentes à equipa de 1974/75. Trazem-lhe boas memórias. "Nove deles, num plantel de 16 ou 17, já cá não estão, e claro que é também para eles uma palavra de saudade, para todos aqueles que, ao longo dessa época, ajudaram à conquista do Campeonato", reforça.

O V da camisola aguça bons prenúncios: "Com o V, ainda melhor, V de vitória. Que seja uma réplica não só das camisolas, mas também uma réplica dessa época que fizemos há 50 anos."

Igualmente com um passado rico no Clube, Shéu Han assume ser "agradável" ver que o Benfica segue na "vanguarda na área do marketing". "As camisolas hoje são adequadas a determinados fatores que são necessários para que os jogadores se sintam bem. Esta nova camisola é fantástica e bonita. No fundo, esperemos que inspire na conquista das provas em que o Benfica vai participar", sintetiza.

Cavungi era dos mais jovens do plantel, em 1974/75. Feliz por participar na apresentação da nova camisola, e do momento de tertúlia com os antigos companheiros, crê que o êxito de há cinco décadas pode inspirar ainda mais o Benfica para novas conquistas.

E, ao ser questionado sobre um momento que não esquece, a participação num torneio em Badajoz é o mote para risos. "Tínhamos acabado de treinar, e o Vítor Baptista pegou na chave do autocarro e escondeu-o. O motorista andava à procura do autocarro, mandou todos para fora. Eu não saí, porque era júnior. Cheguei ao hotel, e o Humberto Coelho e o Toni, como capitães, disseram: 'Da próxima vez, não façam isso, porque este é um grupo de trabalho. Quando um sai, saem todos.'"

Num evento apresentado por Daniel Leitão e Filipa Galrão, que também posou com a camisola, Toni protagonizou um momento de boa-disposição, mencionando implicitamente as Inspiradoras. "Olha, está aqui a Kika", atirou, percecionando semelhanças físicas com a radialista.