Polo aquático feminino

16 junho 2024, 10h37

Inês Nunes

Inês Nunes

Depois de uma extenuante final, Inês Nunes, a capitã da equipa pentacampeã de polo aquático, levou a mão ao peito e deu-lhe três feéricas batidas, mostrando de que material eram feitas as atletas do Benfica. Foi genuíno, sintomático e simbólico de uma equipa que precisou de lutar contra o adversário e até contra algumas desconfianças que os jogos da final geraram em si própria.

Em plena final, o Benfica chegou a enfrentar uma desvantagem de três golos, mas a equipa encarnada superou os solavancos próprios da competição e agarrou-se à mirífica ideia de um pentacampeonato que teria de ser, ali mesmo, conquistado e perpetuado.

Reza uma das lendas em que o Benfica se tornou reconhecido que, se fosse fácil, não seria para nós. O nós, aqui, são as jogadoras, o treinador, a estrutura e os adeptos. Tudo peças resilientes de um mesmo puzzle de encaixe místico e apaixonado. E essa é uma das vantagens que a equipa do Benfica habitualmente leva para as piscinas. O amor pelo Benfica, que precede o amor pelo polo aquático.

A capitã, Inês Nunes, entrevistada no programa Protagonista, da BTV, é um desses casos de identidade clubística, pois apenas aos 14 anos encontrou na modalidade um porto competitivo onde poderia atracar a sua paixão clubística. Antes, começara pela natação, de forma lúdica, e até o karaté experimentou. Sempre foi uma desportista, com a estima clubística já desenhada no seu quadro mental e sentimental, mas foi na sua adolescência que entrou na água, pela primeira vez, para jogar polo aquático, a convite de um seu conhecido. A partir de então, o karaté e a natação passaram a ser águas passadas, e aí começou uma história que a levaria a cumprir um dos seus episódios favoritos: tornar-se jogadora do Benfica.

Inês Nunes

"É nas pequenas coisas que sentimos a grandeza do Benfica. Na forma como o Clube nos apoia, nos dá todas as condições para nos desenvolvermos"

Inês Nunes

SENTIR O BENFICA

"Chegar ao Benfica, pode dizer-se que foi o cumprir de um sonho. Mas foi um sonho que começou ligeiramente tarde, porque só aos 14 anos comecei a praticar polo aquático. Até esse momento, nunca me passou pela cabeça ser atleta do Benfica, porque, embora praticando desporto, como a natação e o karaté, não o fazia de uma forma competitiva. E mesmo quando comecei, aos 14 anos, não pensei imediatamente que seria uma coisa que alcançaria mais tarde. Quando fui convidada pelo meu professor de natação, nem fazia ideia do que era o polo aquático. Comecei no Arsenal 72, mas foi, depois, no Clube de Natação da Amadora (CNA) que as coisas se tornaram mais sérias. Representei o CNA durante oito temporadas, até que surgiu um convite para jogar em Espanha, num clube de Pamplona. A modalidade está muito mais desenvolvida lá, e foram três anos de uma experiência incrível. Tomei a decisão de voltar a Portugal, e isso coincide com o início do projeto do Benfica, que aproveitou o fim do CNA. Várias jogadoras transitaram para o Benfica, e eu senti que era uma oportunidade que não poderia desaproveitar. Agora, sim, começava a pensar que era possível jogar no Clube, e as coisas tornaram-se realidade. E foi assim que começou um projeto vencedor e hegemónico em Portugal. À Benfica."

O APOIO DO CLUBE

"É nas pequenas coisas que sentimos a grandeza do Benfica. Na forma como o clube nos apoia, nos dá todas as condições para nos desenvolvermos. Não somos profissionais, ou estudamos ou trabalhamos, e sem o apoio que o Benfica nos dá, a todos os níveis, não seria possível manter esta regularidade. É que não nos falta nada. Além do companheirismo que existe entre nós, e apesar da diferença de idades, das mais velhas para as mais novas, o clube proporciona-nos condições de excelência. E isso motiva-nos cada vez mais, porque sentimos, todos os dias, que estamos a representar um grande clube, o maior de Portugal e um dos maiores do mundo. Mesmo atletas que atuam no estrangeiro dizem que temos muita sorte por jogar no Benfica, devido às condições que temos. Fisioterapeutas, médicos, psicólogos, tudo o que uma equipa de alta competição tem, nós temos. E isto, para atletas como nós, é muito importante, porque nos sentimos como uma verdadeira equipa do Benfica. Já não somos a equipa das meninas do polo aquático, e mesmo os adeptos nos encaram de uma forma diferente. Apoiam-nos, interessam-se pelos nossos jogos, que já começam a ser transmitidos. Tudo isto conta para nos mantermos concentradas e aplicadas, porque é o que o Benfica merece."

Inês Nunes

"Foi o campeonato mais difícil de conquistar. O Fluvial contratou, para a final, duas jogadoras, vindas dos Estados Unidos"

A DIFICULDADE DO PENTA

"Acho que posso dizer que este foi o campeonato mais difícil de conquistar. O Fluvial contratou, para a final, duas jogadoras, vindas dos Estados Unidos, e isso elevou o nível da sua equipa. Nos outros anos, acho que foi mais descontraído, nunca estivemos em desvantagem, tínhamos sempre uma margem de dois golos ou mais. Neste ano, não. No jogo 2 e no jogo 3, chegámos a estar, várias vezes, em desvantagem, e no jogo 3, que era a finalíssima, estivemos três golos atrás. Precisámos de fazer uma remontada para conquistar o título. Senti que algumas das nossas jogadoras, na final, estavam nervosas, porque estávamos perante a hipótese de perder, mas, honestamente, nunca acreditei que isso fosse acontecer. Há uma pausa, onde reagrupámos, juntámos forças e fomos à luta. Sabíamos que era possível, mergulhámos nas profundezas da nossa vontade e trouxemos o jogo para o nosso lado. Quando entrámos no último período do jogo, já tínhamos uma vantagem de dois golos, e não a perdemos mais. E fomos campeãs, com toda a justiça."

A JOGADA-SURPRESA

"Há um momento, no jogo da final, que o ajudou a virar a nosso favor. O nosso treinador prepara, sempre, para as finais, uma jogada fora da caixa, uma jogada-surpresa. Uma jogada mágica. E disse- -nos que estava na hora de a experimentar. E nós arriscámos e fizemos a jogada tão bem, que marcámos golo. Foi uma jogada tão bem executada, que nos deu uma enorme motivação, e acredito que desmoralizou a equipa do Fluvial. Elas devem ter pensado 'se elas conseguem fazer isto'... E isso desmoralizou-as, e nós sentimos isso no jogo. Começámos a jogar com maior confiança, as coisas começaram a sair com maior fluidez, arriscámos mais nas jogadas, porque temos jogadoras, ainda muito jovens, mas que são irrequietas e muito desequilibradoras. Para mim, esse foi o momento definidor. Primeiro, um momento do treinador, que percebeu o que o jogo estava a pedir, e, depois, um momento nosso, em que fomos capazes de executar uma jogada muito difícil e imprevisível, porque treinámos muito para aquilo acontecer."

Inês Nunes

"O nosso treinador prepara, sempre, para as finais, uma jogada fora da caixa, uma jogada-surpresa. Uma jogada mágica"

AQUELA VAIDADE

"Quando fomos à competição europeia, neste ano, uma espécie de Liga Europa do polo aquático, demos mais um passo em direção ao reconhecimento da equipa e à afirmação da modalidade no Benfica e em Portugal. Chegámos à final e perdemos por um golo. Agora, somos reconhecidas lá fora. E somos reconhecidas, também, porque somos jogadoras do Benfica, para mim, o melhor clube do mundo. Apresentámo-nos na competição todas vestidas à Benfica, ao contrário de outras equipas que não dispõem das mesmas condições, e torna-se impossível de esconder a vaidade que sentimos por jogar no Benfica, por nos apresentarmos como a equipa do Benfica. E o impacto que isso tem nas jogadoras das outras equipas, mesmo estrangeiras, porque toda a gente conhece o Clube, toda a gente fala no Benfica. É uma sensação incrível, e algumas dessas jogadoras estrangeiras dizem-nos que deve ser lindo jogar no Benfica. E têm toda a razão. É lindo jogar no Benfica."

Artigo publicado na edição de 14 de junho do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 16 de junho de 2024

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