"A expectativa de uma equipa pentacampeã é sempre ganhar"

Em entrevista à BTV, Marcel Matz, treinador da equipa de voleibol do Benfica, antecipou uma época que começará com um nível de exigência muito elevado, com a ronda inaugural para a fase de grupos da Liga dos Campeões, a Taça Ibérica e a Supertaça. O Campeonato Nacional e a Taça de Portugal são outros propósitos dos pentacampeões para a temporada 2024/25.

A ambição é elevada para um técnico que já ajudou o Clube a conquistar 14 troféus e que sabe da importância dos adeptos na concretização dos objetivos.

BALANÇO DO ARRANQUE DOS TRABALHOS

"Tem corrido bem. Temos feito um início de época um pouco mais acelerado, digamos assim, exigindo um pouco mais dos jogadores. Nessa circunstância há sempre uma possibilidade de se perder um jogador por lesão, e, por enquanto, estamos a conseguir manter-nos bem. Todos estão a evoluir. Pelo menos fisicamente estamos num nível próximo do da época passada, isto falando do núcleo da equipa do ano passado, que ainda se mantém. Já estamos a começar a chegar a um nível pronto para jogar. Os jogadores jovens ainda estão a chegar a esse nível, estão a adaptar-se aos colegas, ao sistema e à equipa técnica, mas vêm evoluindo, e eu estou satisfeito com esse início de trabalho."

JOGOS DE PREPARAÇÃO EM FRANÇA

"Fechámos quatro semanas de trabalho aqui na Luz, muito no ginásio, focados no trabalho físico. Tivemos de fazer uma adaptação em função desse calendário apertado do início de época, e agora é colocar a equipa a jogar desafios diante de outras equipas, outras formas de jogar, fora do nosso panorama aqui, para vermos como é que vamos responder a tudo. São quatro jogos em sequência em França, em quatro dias, e vou fazer uma rotatividade para não sobrecarregar muito, até porque a sequência que vem depois de França vai pesar. Então, agora é tentar diminuir um pouco a carga e ver a resposta que eles vão dar nesse início de época."

ANÁLISE DOS REFORÇOS

"Vou começar pelos dois mais jovens. O Tomás Natário é zona 4, veio da AA Espinho, e o Francisco Leitão já era da nossa Formação. São dois jogadores jovens portugueses que têm potencial. Tentámos que a nossa Formação estivesse mais inserida dentro do contexto profissional, tentando valorizar também os jogadores portugueses. São jogadores jovens que têm potencial, são inteligentes, com boa capacidade técnica, só que estão inseridos agora dentro de um contexto em que não estavam inseridos até ao momento, numa equipa com aspirações grandes em Portugal que quer enfrentar as equipas da Europa. É um desafio muito grande para os dois. Os outros jogadores são mais experientes. O Nivaldo Gomez e o Michal Godlewski, oposto polaco, são jogadores muito fortes fisicamente, com uma capacidade física muito grande. Sendo essa uma das principais características, eles ainda não têm toda a capacidade técnica. Se unissem essas duas coisas, seriam jogadores de topo mundial. Em termos físicos, acho que eles estão num patamar bem elevado, só que precisam de evoluir técnica e taticamente. Esse é o nosso desafio, é um início de época um pouco diferente dos outros anos, porque temos essa projeção de conseguir fazer um trabalho para que eles cresçam. O Matheus Alejandro já é dentro de um formato mais normal para o Benfica. É um jogador formado com quem eu já trabalhei há uns seis anos. Vem de uma escola que conheço bem, que é a escola brasileira, então foi um jogador dentro dos conceitos que tínhamos pensando muito num início de época que já vai ser muito forte. Não quis arriscar muito, trazendo já um jogador que sabe como o nosso sistema funciona. O Matheus Alejandro vai dar uma estabilidade, vai ajudar o Clube. Provavelmente não vai ser um jogador protagonista, mas bloqueia bem, é grande e tem experiência. Principalmente no início de época, que é bem difícil, é importante ter um jogador para crescer na posição (central). São quatro jogadores em relação aos quais tenho uma boa perspetiva de que vão crescer com o tempo, e um jogador já bem estabilizado."

MANUTENÇÃO DE UM NÚCLEO DURO

"Vendo um pouco a minha trajetória aqui, o Benfica sempre tentou manter uma base ao longo do tempo. Fico feliz por ter conseguido isso. É grupo muito forte, mas também já muito conhecido em Portugal. Vamos ter de criar situações novas para continuar a surpreender os adversários, continuar a tentar evoluir. Podemos falar no Tiago Violas, que já cá está há algum tempo, o próprio Japa já vai para sexta época aqui, portanto são muito conhecidos em Portugal, mas, ao mesmo tempo, têm também o passaporte bem carimbado para saber como fazer para chegar aos objetivos que queremos conquistar. Essa manutenção dos jogadores que foram mais importantes no ano passado deixa-me muito satisfeito. Dá um pouco de margem, mas, como é óbvio, a minha preocupação a cada época é sempre saber como vamos evoluir e como vamos estar para enfrentar os adversários."

INTEGRAÇÃO DOS MAIS NOVOS

"É muito difícil entrar na equipa de voleibol do Benfica porque existe um núcleo muito formado. Por exemplo, no ano passado foram duas trocas, e é muito percetível como é difícil para um jogador novo ter um bom desempenho, porque já tem uma máquina oleada há muito tempo. Podem sair uma ou duas peças, é estável, mas gera uma pressão para quem está a entrar. Neste ano trocámos cinco jogadores, já não é uma pressão para um-dois jogadores, são cinco caras novas que estão num processo, mas tendo uma base vai criar uma pressão para quem vai entrar. Os jogadores se tratam muito bem. Em nenhum momento faltou apoio para um jogador que está a chegar, nunca faltou paciência, mas gera muita cobrança para cada um. Hoje a pressão já é maior, mas sempre se respeitam muito."

FASE DE QUALIFICAÇÃO DA LIGA DOS CAMPEÕES

"O nível de começo de temporada pode ser mais alto do que o nível do final de temporada. Como é óbvio, isso não é o ideal. Tenho as convicções de algumas coisas que podem dar certo, mas outras podem demorar um pouco mais, principalmente para os jogadores que acabaram de chegar, ao nível do que eles vão conseguir já contribuir. Temos uma base formada que pode defrontar os adversários, mas o início vai ser bem complicado. Não ter entrado direto na Liga dos Campeões coloca-nos nessa fase preliminar, que é uma fase extremamente interessante para nós, jogar contra fortes equipas da Europa, campeões que não têm ranking para apuramento direto. Neste ano o ranking de Portugal não dava para entrar direto, era o próximo para entrar, digamos assim. A Espanha também está bem, quem passar de entre nós e o CV Guanas vai enfrentar o campeão grego. É bem difícil. Foi um sorteio sem qualquer tipo de critério, tem equipas muito boas. Não passando, vamos para uma realidade diferente, a Taça CEV, que acho que poderá ser bastante interessante. Podemos avançar até aos oitavos, quartos de final, apanhando algumas equipas que temos condições de vencer."

TAÇA IBÉRICA E SUPERTAÇA

"A expectativa de uma equipa pentacampeã, que tem investimento, é sempre ganhar. E a expectativa de quem não é do Benfica é sempre vencer-nos. A realidade é muito simples, não tem como fugir disso. A nossa expectativa é vencer as competições. Passar o CV Guavas, tentar vencer a Taça Ibérica e, logo depois de ter esses quatro/cinco jogos em sete dias, temos de estar em condições de jogar frente ao Sporting na Supertaça. O apoio no Norte do país é sempre muito bom, e vamos tentar retribuir colocando tudo o que temos neste momento na quadra, não tem outro caminho a seguir. Temos de assumir risco, ter coragem, tudo o que pode ser usado que não exige muito treino no início da época, para procurarmos passar a eliminatória da Champions, vencer a Taça Ibérica, jogar bem e ganhar na Supertaça. Esse sempre foi o objetivo, e não muda para esta época."

14 TROFÉUS CONQUISTADOS PELO TÉCNICO

"Fico feliz e realizado com o trabalho que já foi feito. Pensando nesta trajetória de seis anos, o sétimo ano está a chegar, para mim é só um motivo de mais preocupação, mais foco, de estar mais pronto para trabalhar. Não posso esquecer o que fizemos em seis anos, toda a estrutura, todos os anos temos desafios muito grandes. Conseguimos vencer bastantes coisas. Para o que estamos a começar, a minha expectativa é de um ano bem difícil, com novas equipas para nos enfrentar, um Campeonato para tentar vencer de novo, uma Taça de Portugal para tentar reconquistar. Esse é o meu foco, estou a dedicar-me ao máximo ao Benfica. São nove meses muito intensos para o voleibol, que tem um calendário mais compactado, em função do calendário internacional, e não vai sobrar tempo para muita coisa. Preparar, estar bem de saúde, para estar bem na temporada, vai ser bem pesado. Nunca teve muito segredo, foi sempre muito difícil, mas sempre conseguimos trabalhar bem, aguentar os momentos difíceis, chegar aos objetivos, que passam por vencer as competições. Dois troféus vão ser jogados já em setembro, depois sobram dois a longo prazo, que o trabalho pode ajudar, que são a Taça de Portugal e o Campeonato Nacional. Não vou colocar a Liga dos Campeões como um troféu possível, sabemos o que é a realidade do voleibol português e o que é a realidade do voleibol da Europa. Se tivermos de jogar na competição abaixo, a Taça CEV, dá para lutar um pouco mais. O meu desafio e da equipa técnica é exigir mais aos nossos jogadores, um desafio maior, porque eu acho que isso faz bem para a equipa, para Portugal, para o Benfica e para os adeptos. Que é pelo menos perceber o nível mais alto do voleibol. Tentar estar inserido neste contexto faz bem para a nossa cultura desportiva."

MENSAGEM PARA OS BENFIQUISTAS

"São muito importantes os adeptos. Às vezes sou surpreendido com sócios muito antigos e tento dar atenção para todos. É algo que tentamos passar para os nossos jogadores, para toda a nossa estrutura, precisamos do apoio dos nossos adeptos. Conquistámos muitos títulos nestes últimos anos, mas isso não dá nada garantido para o futuro. Precisamos de trabalhar duro e continuar a contar com o apoio dos adeptos."