Futebol Formação

28 novembro 2024, 18h30

O campo onde foi realizado o momento de avaliação

São 120 hectares de área total

A iluminação artificial permite realizar sessões de trabalho à noite

O treino no relvado

REPORTAGEM

Chegam acompanhados pelos pais. Com o sonho de se tornarem jogadores profissionais, dezenas de jovens de várias nacionalidades preparam-se para testes de grande exigência num desafiante campo de avaliação. Estamos no Campus da Saint Leo University, em Tampa, na Florida (Estados Unidos da América), local onde vai funcionar a Benfica Residential Academy, projeto pioneiro do Glorioso, que vamos dar-lhe a conhecer. Venha daí nesta reportagem dos meios do Clube!

Na tarde de 15 de novembro, sente-se muita expectativa, ansiedade e vontade de que chegue a hora de mostrar qualidades no relvado. O check-in antecede esse momento. Dadas as boas-vindas aos 80 candidatos a atletas/estudantes com a "chancela" das águias, aproxima-se o momento.

No relvado, os treinadores do Benfica, André Ferreira, Carlos Veloso e João Rosmaninho, preparam tudo para a primeira sessão prática. No Wellness Center desta universidade, fundada em 1889, cruzamo-nos com uma senhora cuja indumentária não engana. Veste uma camisola e um casaco do Glorioso. Adepta incondicional das águias, com raízes em Alvaiázere, Sandra Carvalho Fontela fala-nos do filho de 12 anos, Maximiliano, que jogou cerca de seis meses em Portugal, no GD Alvaiázere. Ao se aperceberem desta oportunidade, foi "dito e feito". "Vamos ver o que ele consegue fazer nas mãos destes profissionais. O sonho dele é representar o Benfica, e até já jogou no Estádio da Luz", conta Sandra.

O filho também adora as águias. "Gosto muito do Benfica. Quero jogar aqui, porque sinto que é um bom clube e terei o melhor de dois mundos: proximidade da família e do Benfica", afirma Maximiliano, pronto para ter bola nos pés.

Country manager do SL Benfica no país, Leandro Scabin explica-nos como surgiu o projeto. Brasileiro, emigrou há 10 anos para os Estados Unidos da América (EUA), ficou encantado com o sistema residencial local, que apelida de "muito forte".

Benfica Residential Academy - reportagem

"Como o Benfica tinha a metodologia mais importante do mundo, imaginei que, se conectasse o sistema à capacidade metodológica do Benfica, seria um projeto explosivo"

Leandro Scabin

Todavia, detetou lacunas. "Havia uma deficiência muito grande no desporto que mais crescia nos EUA, que era o futebol. Como o Benfica tinha a metodologia mais importante no mundo, imaginei que, se conectasse o sistema à capacidade metodológica do Benfica, seria um projeto explosivo. Os EUA têm duas deficiências graves: uma é a metodologia no futebol, e a outra é a questão residencial, porque os clubes profissionais da MLS não têm residência", sublinha. "Nos EUA, a questão metodológica está a começar, não há uma metodologia estabelecida, o que prejudica demais o desenvolvimento de atletas americanos. A ideia era juntar a capacidade residencial ao ensino, que é muito bom, com a metodologia do Benfica, e o projeto nasceu", revela.

Benfica Residential Academy - reportagem

Os estudantes/atletas vão residir no campus universitário, em dormitórios específicos afetos à Benfica Residential Academy, e irão estudar em salas de aula organizadas pela Bishop McLaughlin Catholic High School. O entusiasmo do momento é-nos partilhado por Ruy Castelo Branco, diretor da Benfica Residential Academy. Antigo futebolista, com passagem igualmente bem sucedida pela seleção brasileira de futebol de praia, Ruy Castelo Branco refere-nos que a Benfica Residential Academy vai "suprir um gap no desenvolvimento metodológico americano".

"O Benfica tem uma das melhores academias do mundo, e os atletas vão estar expostos, a tempo inteiro, a esse nível de treino em dois períodos por dia. Isso vai fazer muita diferença. É muito diferente do que é o mercado americano no futebol", afiança.

Benfica Residential Academy - reportagem

À medida que se aproxima a hora da primeira sessão prática, a expectativa adensa-se para os candidatos nascidos entre 2006 e 2012. Feito o check-in, já munidos de equipamento à Benfica, os atletas encaminham-se para o relvado. Formado um círculo, o treinador Carlos Veloso apresenta os restantes técnicos e explica que treinou, entre outros, António Silva e João Neves, antes de estes chegarem à equipa principal das águias. Um bom incentivo para estes jovens, ávidos de percorrer caminhos de glória.

"Nestas sessões, vocês serão jogadores do Benfica, estamos cá para puxarmos por vocês, pressionar e melhorar", acrescenta João Rosmaninho. Lembrada a regra de colocar a camisola dentro dos calções, é hora de desfrutar e ter momentos de diversão com responsabilidade. "1, 2, 3, Benfica, Benfica, Benfica" é o mote para o preparo!

METODOLOGIA É TRAÇO DISTINTIVO

"O nosso objetivo está na metodologia. Se quiserem branding, há muitos outros clubes para comprar camisolas. O nosso foco é fazer com que cada estudante/atleta atinja a sua melhor versão como estudante e atleta para chegar ao potencial máximo, e para alguns o potencial máximo será jogar no Benfica. Se conseguirmos desenvolver o ser humano antes do atleta, isso vai facilitar que todos saiam felizes. É o que queremos, que saiam melhor do que entraram", elabora Ruy Castelo Branco.

Benfica Residential Academy - reportagem

"O nosso objetivo está na metodologia. Se quiserem branding, há muitos outros clubes para comprar camisolas"

Ruy Castelo Branco

Funcionando o mercado americano na base do pay to play, a principal inovação da Benfica Residential Academy passa por 4 pathways, segundo nos dá conta Ruy Castelo Branco. O primeiro será, naturalmente, conseguir chegar ao Benfica, enquanto o segundo passa por recorrer a um dos parceiros das águias na MLS, como o FC Dallas. "Se o atleta não estiver preparado para ir para o Benfica, ou não tiver a idade necessária, poderá jogar no FC Dallas. O próprio FC Dallas tem o North Texas, uma equipa que joga na MLS Next Pro. Por isso, dentro do FC Dallas, existe este outro caminho para o atleta", refere Ruy Castelo Branco.

A terceira via é seguir para uma universidade ou faculdade, na qual possa jogar na NCAA, Divisão I, II ou III. "Aqui, o atleta poderá ter uma boa educação e continuar a desenvolver-se em termos atléticos, algo que é normal nos Estados Unidos. Fora dos EUA não é normal que os atletas saiam da universidade e acabem por tornar-se profissionais, após a graduação", acrescenta.

Se, na pior das hipóteses, o atleta não conseguir enveredar por estes caminhos referidos, há a quarta e última via: admissão garantida a 100% na Saint Leo University, prosseguindo então a carreira académica.

Benfica Residential Academy - reportagem

Com seis campos previstos para a prática de futebol, o Wellness Center, com "uma piscina espetacular, infinita, que termina no lago", é outro ponto atrativo. Acrescem duas quadras de futsal, e os relvados sintéticos ganham particular preponderância na Florida, onde chove muito em determinado período do ano.

"É algo diferenciador em relação às restantes academias. Quando chove, os clubes aqui em redor têm de terminar o treino. Ter um campo de relva sintética ajuda, porque os nossos atletas podem continuar a treinar. Quando há raios e trovões, somos obrigados a parar de treinar, mas, se estiver a chover, os atletas podem continuar. Vamos oferecer aos estudantes/atletas um ambiente em que podem desenvolver-se em qualquer das situações", expressa o diretor.

Apontando a 4/6 equipas no primeiro ano de atividade, a decisão dos responsáveis pelo projeto foi de não participar em nenhuma liga e ter a liberdade para viajar, nacional e internacionalmente, para a disputa de vários torneios.

No campo, dá-se por concluído o primeiro treino. Ao lado dos treinadores portugueses André Ferreira, Carlos Veloso e João Rosmaninho, o quarteto de adjuntos locais – Airton Caíco, Adriano Laaber, Ricardo Cavalcanti e Gustavo Vasconcelos – também avança para os cumprimentos de despedida. "Bom trabalho" dizem, em inglês.

Benfica Residential Academy - reportagem

A partir da inauguração, os coordenadores técnicos e a equipa técnica principal serão oriundos do Benfica Campus, sendo que todos estarão acreditados pela Federação Portuguesa de Futebol e pela UEFA. Com estudantes/atletas do 9.º ao 12.º ano de escolaridade, anualmente serão efetuadas análises técnicas, táticas, físicas e psicológicas que possibilitem entender qual o pathway mais apropriado para cada um dos candidatos.

"Por vezes, o melhor pathway pode não ser o profissional. O nosso objetivo é que recebam a melhor proposta para chegar ao college. Um atleta que vai treinar com esta metodologia durante quatro anos, muito provavelmente, estará preparado para jogar nas maiores ligas daqui dos Estados Unidos, e a isso chamamos college placement. E isso é muito importante para conseguirmos colocar o atleta na melhor universidade, ou college", afiança Ruy Castelo Branco, também ele presença assídua no relvado ao longo dos três dias de atividades.

Benfica Residential Academy - reportagem

A Saint Leo University é uma porta aberta para progredir na carreira académica, mas os estudantes/atletas não estão obrigados a frequentar esta universidade. "A Saint Leo é uma ótima oportunidade, porque o campus é maravilhoso. Tem parceiros nossos, a educação é muito boa", resume Ruy Castelo Branco.

Além de nova sessão de treino, o segundo dia é marcado por jogos de futebol. Apesar de estarem num ambiente de concorrência, e submetidos a avaliação, a camaradagem impera. A uma mazela física de um atleta, obrigado a sair, surge de imediato preocupação em perceber o estado físico do companheiro, que recebe assistência.

Em campo, um excelente domínio de bola é aplaudido. "Bom toque", incentiva um dos jogadores, cujas nacionalidades são diversificadas: norte-americanos, brasileiros, argentinos, mexicanos, islandeses e suecos. "Tivemos a sorte de juntar uma das melhores metodologias do mundo com um dos mais seguros e melhores campus dos EUA, com uma escola que tem um ótimo background", valoriza Ruy Castelo Branco.

Benfica Residential Academy - reportagem

"O Benfica tem um plano muito ambicioso em montar uma das melhores equipas femininas do mundo na categoria da formação, e no masculino igualmente"

Ruy Castelo Branco

Além do masculino, há uma grande aposta na vertente feminina. "Os EUA têm mais atletas femininos do que o mundo inteiro. Mais de 50% das atletas femininas estão aqui. O Benfica tem um plano muito ambicioso em montar uma das melhores equipas femininas do mundo na categoria da formação, e no masculino igualmente. Temos o plano de montar uma equipa para competir aqui e internacionalmente", desvenda o diretor.

Na Benfica Residential Academy, a vertente social não é descurada, promovendo-se a igualdade. "Temos uma parceria com a Fundação All Kids Moving Forward, uma fundação que visa ajudar crianças de todo o mundo a ter acesso à educação aliada ao desporto. A Ariana [dos Santos] é embaixadora, e temos a sorte de ter esta fundação a apoiar-nos", lembra Ruy Castelo Branco, destacando as diferentes bolsas de estudo. A primeira é uma bolsa académica. A segunda é uma bolsa de estudos com base atlética. A terceira é uma bolsa de estudos baseada no deslocamento, que está acima e além do que os estudantes/atletas residentes na Florida recebem do Step Up for Students.

Benfica Residential Academy - reportagem

"Temos uma parceria com a Fundação All Kids Moving Forward, uma fundação que visa ajudar crianças de todo o mundo a ter acesso à educação aliada ao desporto"

No campo, os challenges proporcionam momentos de descontração e dinâmicas de grupo interessantes: sorrisos depois da intensidade no relvado. No último dia, também não faltam estes desafios, que antecedem um almoço e um convívio junto à piscina. "Como primeiro evento, estava ansioso, e foi melhor do que eu esperava, a nível das infraestruturas e a nível do futebol apresentado, bem como do feedback dos treinadores de Portugal sobre os atletas. Foi interessante, foi positivo", vinca Ruy Castelo Branco, revelando que haverá novas datas para avaliação, em janeiro e em março.

Dirigindo-se aos atletas, a mensagem final é de agradecimento. "Foi um fim de semana divertido, muito intenso nos treinos, e agradeço aos treinadores portugueses que passaram os fundamentos da metodologia do Benfica. Espero que possam fazer parte da academia. Obrigado por acreditarem no projeto do Benfica", diz Ruy Castelo Branco.

Fernando Pinto, diretor de projetos desportivos do futebol de formação do SL Benfica, salienta a importância educativa. "Independentemente de ficarem na academia ou não, o que interessa é crescer como jogador e pessoa. Espero que tenham desfrutado. Para nós, foi fantástico ver o talento existente." E, em roda, todos unidos, grita-se: "Benfica, Benfica, Benfica!"

Benfica Residential Academy - reportagem

RECRUTAR É O PRÓXIMO DESAFIO

Leandro Scabin, country manager do SL Benfica nos EUA, frisa que o primeiro desafio era conectar a escola, a capacidade de infraestruturas, que nos EUA é muito cara, com o Benfica. Depois desta missão, e com a plataforma pronta, "o próximo desafio é o recrutamento". "Queremos ter acesso aos melhores talentos dos EUA, e de fora dos EUA. Esse processo de recrutamento é demorado e fará toda a diferença no sucesso da academia. Este foi o primeiro momento de recrutamento, havia 80 atletas. Pelo que vimos, alguns já têm capacidade de se tornarem atletas da academia, e daqui até agosto de 2025, que é quando começa, haverá o desafio gigante de recrutar os melhores atletas dos EUA e alguns dos melhores do mundo", perspetiva.

Benfica Residential Academy - reportagem

SABER USAR A TÉCNICA PARA DECIDIR BEM

Treinador principal dos Sub-7 do Benfica, João Rosmaninho entrou para a estrutura dos encarnados há 15 épocas. Integra a área internacional há cerca de oito anos e considera que o nível dos atletas presentes neste momento de avaliação foi "bom". "São bons grupos para trabalhar. Individualmente, temos atletas com nível bastante alto. Em relação ao modelo de jogo, ao que procuramos em jogadores à Benfica, estão um bocadinho atrás, o que é normal, porque a nossa forma de trabalhar e de ver o jogo não se consegue passar para o atleta de um dia para o outro", avalia. Mas não é por isso que os mais novos podem desistir. "Como já têm esse nível técnico bastante evoluído, torna-se muito mais fácil passar o resto, porque vão ter armas para resolver os problemas que vamos colocando durante os exercícios e os jogos", assegura, enaltecendo a capacidade dos instruendos para ouvir.

Benfica Residential Academy - reportagem

"Uma característica diferenciadora é a parte em que utilizamos os exercícios para melhorar a decisão dos atletas [...], é quase impossível não melhorar para um patamar superior"

André Ferreira

Nas águias desde 2016, André Ferreira, treinador na academia do Benfica, explica o que diferencia as águias na metodologia de treino. "Uma característica diferenciadora é a parte em que utilizamos os exercícios para melhorar a decisão dos atletas. Arranjamos muitos problemas e, ao mesmo tempo, damos ferramentas para poderem resolvê-los de várias maneiras. Em treino, experienciam coisas que acontecem no jogo, e têm essa memória muscular para utilizarem no jogo, algo vindo do treino", sublinha.

E, se a grande diferença entre o futebol europeu e o praticado fora do Velho Continente é a capacidade de decisão, o cunho técnico encarnado é uma mais-valia. "Capacidade técnica há em todo o lado, e nós entramos na capacidade de usar a técnica para decidir bem o jogo. Há sempre margem de progressão. No nosso caso, é um trabalho passo a passo, a nossa metodologia é rica nisso, e é quase impossível não melhorar para um patamar superior", aponta.

Num momento de avaliação, como este que presenciámos, procurámos também saber quais os critérios principais na hora de avaliar. Já Carlos Veloso, treinador do Benfica há 18 anos, admite que tal depende da faixa etária. No entanto, há características imutáveis. "Estamos bastante atentos à capacidade física, à velocidade, aos aspetos técnicos, passe, receção, condução de bola, finalização. Tudo é importante, desde o psicológico ao cognitivo, mas, a destacar duas características, diria o físico e a técnica."

Benfica Residential Academy - reportagem

PROVEITOSA TROCA DE CONHECIMENTOS

Importantes no apoio aos treinadores do Benfica, que viajaram de Portugal, os técnicos locais Airton Caíco, Adriano Laaber, Gustavo Vasconcelos e Ricardo Cavalcanti também ajudaram a comandar as sessões práticas, já depois de contactos e formações à distância com os técnicos lusos. "É sempre muito importante estar a conhecer novos pensamentos e ideias. Novas formas de pensar acrescentam-nos muito", responde Adriano Laaber, conhecido por Adrianinho no meio, e com uma carreira de 19 anos enquanto futebolista profissional. Destacando a dinâmica dos treinos, bem como a "metodologia diferente, que envolve muita velocidade na bola", o treinador canarinho atribui nível elevado aos aprontos.

Benfica Residential Academy - reportagem

O PAPEL DO GUARDA-REDES

Numa posição específica, a de treinador de guarda-redes, Gustavo Vasconcelos, um dos especialistas locais, releva "a energia excelente, a experiência e a metodologia dos técnicos portugueses". "A posição de guarda-redes tem evoluído, e podem ver o Ederson, 'cria' do Benfica. Antigamente, esses jogadores não tinham tanto jogo de pés. Hoje em dia, para ser diferenciado, tem de saber jogar com os pés, iniciar a construção do ataque, o um contra um, e ter a paciência de saber tomar a decisão correta", frisa, realçando a importância de um guardião jogar adiantado no terreno como sweeper.

Por isso, desde tenra idade, é necessário dar ferramentas aos atletas, como testemunhámos nos exercícios realizados. Indicações sobre posicionamento e modo de atuar foram preocupações de todos os técnicos, em particular de Gustavo, no que diz respeito à baliza. Como porta-voz do trio de treinadores lusos, Carlos Veloso destaca o trabalho e o apoio mútuos, essenciais nas "partilhas de conhecimento" que permitiram fazer dos três dias uma experiência enriquecedora para todos os envolvidos.

Benfica Residential Academy - reportagem

"SENTIR UM TREINO À BENFICA"

Sempre atento e disponível para auxiliar os treinadores e todos os jovens atletas presentes, Fernando Pinto, diretor de projetos desportivos do futebol de formação do SL Benfica, salienta a importância deste primeiro momento de arranque no terreno da Benfica Residential Academy. Perante os pais, que puderam presenciar os trabalhos, deu-se o contacto com a metodologia e a forma diferenciadora de trabalhar do Benfica. Foi "sentir o que é um treino à Benfica", refere-nos.

E a intensidade foi notória e destacada pelos atletas e pelos pais com quem falámos. Mas não é só a forma intensa do momento que marca a diferença para os demais.

Fernando Pinto explica. "Diferencia a forma como olhamos para o treino, a forma como olhamos individualmente para cada miúdo e para o desenvolvimento dele, olhando não só para o futebol, mas também para o atleta como um todo, à parte dele como pessoa, como estudante", afirma, sem esquecer que a vertente académica "tem um peso forte neste projeto". "Terem sempre um futuro, independentemente do futebol, é o que pretendemos, terem futuro com os seus estudos, criando um caminho além da prática desportiva", realça.

Benfica Residential Academy - reportagem

"Acima de tudo, um momento de reconhecimento, na forma como o resto do mundo olha para nós e como reconhece o trabalho feito na formação de jovens futebolistas e aquilo em que podemos contribuir para que isso aconteça noutros locais do mundo"

Fernando Pinto

Profundo conhecedor do terreno, Fernando Pinto sente que este é mais um momento na afirmação internacional do Benfica, enquanto entidade formadora de excelência. "Acima de tudo, um momento de reconhecimento, na forma como o resto do mundo olha para nós e como reconhece o trabalho feito na formação de jovens futebolistas e aquilo em que podemos contribuir para que isso aconteça noutros locais do mundo", diz.

Pelo passado e pelo presente no crescimento de valores made in Benfica Campus, haverá uma capacidade de atrair muitos atletas à Benfica Residential Academy.

"Acreditamos que, logo à cabeça, pelo que as pessoas já conhecem do Benfica e muito pelo trabalho que vão sentir que é feito e pela diferença desse trabalho, vamos começar a atrair cada vez mais jovens jogadores e jogadoras para o projeto", conclui.

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MERCADO DOS EUA COMO PRIORITÁRIO

Com este projeto, a aposta no mercado dos Estados Unidos da América representa a continuidade da expansão da marca Benfica além-fronteiras. Também presente, Lourenço Menezes, international business manager da equipa Benfica Internacional, aborda a questão. "O Benfica tem uma estratégia internacional para vários mercados, para muitos lugares do mundo. Há 2/3 anos começámos a virar baterias para o mercado americano, e hoje, com o Mundial de Clubes que se avizinha, e o investimento e a importância do futebol nos EUA, trata-se de um mercado prioritário", afirma, acrescentando que a Benfica Residential Academy é "o primeiro grande projeto com presença de raiz no mercado americano".

"É um projeto que tenta olhar o que é o futebol nos EUA com o modelo Benfica. Não é um copy/paste de outros modelos de outros clubes. É um modelo de raiz Benfica, adaptado ao futebol americano" evidencia. Seguida a metodologia "made in Benfica num modelo Benfica Campus", Lourenço Menezes lembra que "há muitas áreas dos EUA em que o Benfica tem uma expressão enorme com a comunidade portuguesa". "Olhamos também a isso. O Benfica tem de ser um clube do mundo, e aqui temos jogadores de todo o lado do mundo", expressa.

Com a presença encarnada no Mundial de Clubes, está a ser preparada uma série de ações nos EUA ligadas à marca Benfica. Como tal, a Benfica Residential Academy "é mais uma das peças, importantes, porque vai ser relevante", segundo Lourenço Menezes. As condições da universidade, refletidas na excelência das instalações e na qualidade dos recursos, permitirá que o trabalho seja efetuado de forma similar ao que acontece no Benfica Campus.

Benfica Residential Academy - reportagem

"QUERO SER FUTEBOLISTA DO BENFICA, É O MEU SONHO"

A intensidade dos treinos foi-nos destacada inúmeras vezes por atletas e por pais, entusiasmados pela forma como os três dias foram conduzidos. Com raízes em Aveiro, onde vivem os avós, Matt Sobreiro visita Portugal em todos os verões. Por estar desde pequeno nos EUA, prefere não falar na língua de Camões, embora notemos o esforço empreendido. "Quero ser futebolista do Benfica, é o meu sonho! O meu avô é um grande benfiquista, e esta oportunidade é boa. Sonho pisar o relvado do Estádio da Luz", assume, pouco antes de entrar em campo para um momento de jogo. Fã de João Neves e de António Silva, dupla made in Benfica Campus, Matt Sobreiro, de remate fácil, gosta de marcar e de assistir. Aos 17 anos, não perde uma oportunidade de acompanhar os desafios do Glorioso e vibra com os triunfos das águias.

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O "SÍTIO CERTO" PARA O CRESCIMENTO DE ARIANA DOS SANTOS

Com 244 mil seguidores no Instagram, Ariana dos Santos não é apenas um fenómeno de popularidade nas redes sociais. No campo, é sinónimo de qualidade, como atesta Carlos Veloso, treinador que acompanhou o grupo de treino onde ficou inserida a atleta brasileira de 14 anos. "Sabemos que a Ariana já representa a seleção brasileira. Dou os parabéns pela forma como trabalha, mas é preciso ser humilde, manter os pés no chão e ter foco. Ser profissional é o sonho de muitas crianças, e isso só se consegue com adequada metodologia e, acima de tudo, com qualidade e muito trabalho", resume o experiente técnico, que trabalhou com António Silva e João Neves nos escalões jovens do Benfica.

"A Ariana tem de fazer o seu caminho e acompanhar o futebol com os estudos, algo que o Benfica privilegia bastante", reforça, perante o olhar de Ariana, radicada nos EUA.

Benfica Residential Academy - reportagem

No relvado, comprovamos a alegria desta jovem que ambiciona ser profissional de futebol. Nos duelos com os meninos, nunca se atemoriza e até leva a melhor em alguns momentos. "Sinto-me bem, com os treinadores a puxarem por mim, a fornecerem-me as ferramentas de que preciso para me tornar profissional. Este é o sítio certo para isso, e estou feliz que seja o meu treinador", vinca Ariana, dirigindo-se diretamente a Carlos Veloso, que acaba de escutar. "Entusiasmada e expectante", Ariana dos Santos gostou da forma como foi ministrado o treino. "Trabalhámos muitas coisas, como remate, passe, como posso melhorar de várias formas", comenta.

Quando Ariana era ainda mais nova, Marta, consagrada avançada brasileira, era a sua inspiração. A jovem conta-nos que via diversos vídeos da internacional canarinha. Foi assim que tentou captar as habilidades da compatriota e estimular a sua criatividade em campo. E também Neymar dá alento ao seu futebol. Ao falarmos do Glorioso, há logo um nome que Ariana refere: João Félix, produto da formação das águias. O guarda-redes Ederson também não é desconhecido para Ariana. "Eles estiveram aqui, e é bom jogar aqui", resume, com um sorriso que diz tudo quanto ao momento que está a viver.

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"GOSTEI MUITO DO TREINO, É DIFERENTE DO QUE SE FAZ NOS EUA"

Ao lado da filha, depois de presenciar o treino ao lado da esposa, como muitos outros pais fizeram, David dos Santos não disfarça o orgulho, e até se nota um brilhozinho nos olhos quando se apresta para conversar connosco. Assume que treinou Ariana desde o 1.º ano de idade, mesmo numa fase em que naturalmente tudo era brincadeira.

A residir nos EUA desde 2002, soube deste campo de avaliação por intermédio do treinador Adriano. Tendo em conta a "notoriedade" e os pergaminhos do Benfica, não hesitou. "Acho que é a hora de ela fazer a mudança, de sair de onde está, e passar a estar com treinadores diferentes, sem ouvir a minha voz. Quero que fique com uma metodologia diferente. Acredito que o futuro estará dependente de muita coisa, e vai ser preciso um pouco de sorte, humildade e trabalho", afirma.

Reconhecendo que foi difícil separar as facetas de pai e de treinador, na bancada teve a perceção perfeita do que pode vir a ser o futuro, ou não fosse conhecedor do que é necessário trabalhar no terreno. "Gostei muito do treino, é diferente do que fazemos nos EUA. Aqui vai ser o lugar certo. Há uma mistura de profissionalismo com brincadeiras, e isso é necessário, porque estamos a trabalhar com crianças", refere.

Apontada a altos voos, Ariana terá de manter os pés assentes no chão. Carlos Veloso já alertou para isso mesmo, e o pai concorda. "Treino-a desde que tinha 1 ano. Talento ela tem, mas tem de trabalhar muito para melhorar. O futuro dependerá dela, das decisões que tomar, e esperamos que faça o melhor."

Benfica Residential Academy - reportagem

Para o dia seguinte estava reservada uma grande surpresa. Depois de uma palestra de Fernando Pinto, diretor de projetos desportivos do futebol de formação do SL Benfica, que deu a conhecer o Clube aos pais e aos estudantes/atletas, Ariana dos Santos foi chamada e recebeu uma camisola do Benfica, que vestiu de pronto. Foi o momento em que passou a fazer parte da Benfica Residential Academy. "Mantém-te focada, continua a amar o jogo", aconselhou Fernando Pinto. Antes, através de uma mensagem transmitida via vídeo, as boas-vindas a este projeto foram dadas por André Vale, treinador adjunto de Filipa Patão.

Para Ruy Castelo Branco, Ariana dos Santos "é uma atleta que valida o produto". "É uma ótima jogadora, o perfil dela alinha muito com o nosso perfil, é muito humilde, muito correta e, dentro dessa metodologia, vai crescer. Acreditou no nosso projeto, e acho fantástico que esteja connosco", aponta o diretor da Benfica Residential Academy.

"INTENSIDADE, BOM TREINO E BOAS PESSOAS"

Diego é outro dos exemplos de amor ao Benfica. "Intensidade, bom treino e boas pessoas", sintetiza o atleta nascido em 2010. "Este campo de avaliação é muito importante, porque temos pessoas com experiência e ficamos com a experiência de treinar como jogadores profissionais", descreve o atacante, cujo jogador do Benfica preferido dá pelo nome de Di María.

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PROCESSO DE RECRUTAMENTO

  • Recrutamento passivo: os atletas entram em contacto com a Benfica Residential Academy e manifestam a intenção de integrá-la (há quase 3000 registos de atletas sob análise);

  • Recrutamento através de recrutadores internacionais, em vários países;

  • Processo de scout: encontrar o melhor atleta e convidá-lo.

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Texto: Paulo Nunes Teixeira
Fotos: SL Benfica
Última atualização: 29 de novembro de 2024

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