"Queremos ser os melhores do mundo"

Aos 34 anos e com 21 títulos conquistados na carreira, Pedro Henriques não é apenas aquele que separa os adversários do Benfica da nossa baliza: o guarda-redes da equipa de hóquei em patins das águias é uma espécie de reserva moral do Clube que pratica a modalidade há mais anos seguidos em todo o mundo.

Verdadeiro distribuidor de mística, Pedro Henriques sabe como soletrar as palavras que encantam os adeptos e alimentam a paixão pelo Clube e o obrigam a renovar-se, todos os anos, entre títulos e conquistas. No mar tranquilo do amor à camisola, o experiente guardião sonha com o vermelho liso das conquistas, enfunando as velas da embarcação benfiquista, esperando pelo vento da exigência e da ambição.

QUASE IMBATÍVEIS

"O Benfica esteve a poucos segundos de manter a sua invencibilidade, no Dragão Arena. Falhámos a grande penalidade que nos daria o empate. Foi o único jogo que não ganhámos desde o início da temporada. Tem sido um percurso notável da equipa, em todas as competições. Mesmo o jogo que perdemos, com o FC Porto, podíamos ter evitado essa derrota, jogámos bem, num pavilhão sempre muito difícil, muito específico, onde eles têm alguma vantagem, porque é um recinto diferente do nosso, um ambiente também sempre muito hostil ao Benfica, e essas coisas acabam por ter sempre um peso na forma como os jogos se desenrolam. Mas é preciso notar que, para já, só ganhámos a Elite Cup, não ganhámos mais nada. Temos pela frente mais três troféus, queremos conquistá-los, mas o que fizemos até aqui não nos garante o sucesso se não continuarmos a evoluir, a ganhar e a jogar bem."

NOVA LIDERANÇA TÉCNICA

"Há coisas que estão a mudar, algumas que já tínhamos visto com Alejandro Domínguez, que também vem da escola catalã, mas Edu Castro trouxe, também, um novo conceito de liderança. A pressão alta está lá, o que nos expõe a fazer mais faltas, a sofrer mais golos, mas somos uma equipa muito ofensiva. Costumo dizer que, se ganharmos os jogos todos por 50-40, não me importo. É muito importante não sofrermos golos, mas ainda mais importante é marcá-los, porque só se ganham os jogos marcando golos. E é esse conceito que a nova liderança técnica trouxe para a equipa, um jogo novo e que, é importante reconhecê-lo, está alinhado com a qualidade extraordinária do plantel e dos seus jogadores. Um plantel que tem o capitão da seleção espanhola, o capitão da seleção argentina, o melhor jogador francês, dois jogadores portugueses que serão dos melhores de Portugal, além de outros internacionais pela Espanha e por Portugal. E uma equipa técnica que funciona exatamente assim. É uma espécie de liderança tricéfala, com o líder, com uma personalidade incrível, um adjunto muito participativo, no treino e no jogo, e um preparador físico. E todos funcionam em plena harmonia."

A AMBIÇÃO DE ESTAR NO TOPO

"Sabemos que existe essa expectativa em torno da equipa, dos seus jogadores. As pessoas não esperam de nós que apenas ganhemos os jogos, esperam que a equipa dê espetáculo. Mas, no fim, temos de ter a consciência de que o campeonato português é muito competitivo, todas as equipas sabem jogar bom hóquei e as surpresas podem acontecer, quando menos se espera. Queremos ser os melhores do mundo, temos um plantel com qualidade para o sermos, mas isso exige muito trabalho e muita concentração nos objetivos. E os objetivos são muito claros, trazer os troféus para o nosso museu, e com a consciência de que nem sempre vai dar para marcar muitos golos, nem sempre vai dar para jogar o hóquei que os adeptos exigem de nós. Onde nós não podemos falhar é na atitude. Os nossos adeptos perdoam-nos uma exibição menos conseguida, não nos perdoam que não entreguemos tudo dentro do campo. É daí que vêm as críticas, porque a maioria dos adeptos compreende quando damos tudo mas não obtemos o resultado que queríamos. Desde muito novo, quando cheguei ao Benfica, percebi que há uma ligação especial entre os nossos adeptos e a equipa de hóquei em patins. A direção conseguiu juntar este plantel, que é constituído por alguns dos melhores jogadores do mundo. Uma equipa técnica que é, também, das mais conceituadas do mundo. Portanto, sermos os melhores do mundo não é algo que não esteja ao nosso alcance."

GANHAR A LIGA DOS CAMPEÕES

"É sempre um objetivo deste clube. O Benfica é o clube que pratica o hóquei em patins há mais tempo, 106 anos, e não pode ter apenas duas Ligas dos Campeões. Tem de ter quatro, cinco, seis. Um dos maiores desafios que estão colocados à nossa equipa é trazer a Liga dos Campeões para o Benfica. Até ao momento, está a correr bem, porque somos a única equipa da competição só com vitórias. Mas ainda nem chegámos a meio do percurso com este novo formato. Temos conseguido vitórias, mas frente a adversários difíceis. Em Trissino, e mesmo em França, obrigaram-nos a trabalho tático, e com a Oliveirense, uma das candidatas ao título europeu e nacional. Mas precisamos de continuar, queremos muito ganhar essa competição, porque é algo que falta ao Clube, porque o Benfica, tendo a tradição que tem no hóquei em patins, não pode continuar apenas com duas Ligas dos Campeões no seu palmarés."

LIGA MUITO COMPETITIVA

"A liga portuguesa é a melhor do mundo, e não é à toa que é considerada a melhor. Todas as equipas, mesmo as mais apetrechadas, têm de estar sempre no seu melhor. Qualquer candidato ao título pode perder pontos, porque todas as equipas jogam bom hóquei. Temos de entrar, em todos os jogos, com a concentração máxima e nunca pensar que, sendo melhores, isso basta, porque às vezes não chega, e depois perdem-se pontos que não se podem perder. Mas é preciso que as pessoas percebam que o campeonato é mesmo muito competitivo, e não é por falta de qualidade das outras equipas que temos feito o nosso percurso até aqui. Pode haver a tentação de considerar que o Benfica tem de ganhar os jogos todos porque somos melhores. Claro que os queremos ganhar, e, se me dissessem, no início da temporada, que iríamos ter os resultados que tivemos até ao fim do ano, eu assinava por baixo. Mas ainda falta a outra metade da temporada e três títulos que queremos conquistar. Será muito difícil, e até considero ser mais difícil ganhar o nosso campeonato do que a Liga dos Campeões. Porque há mais jogos, as melhores equipas portuguesas também são das melhores equipas da Europa, e é preciso ter uma regularidade que é aquilo que faz a diferença em provas longas como o campeonato. Não será fácil, nunca foi, mas, com a qualidade que temos e que a direção conseguiu juntar no plantel, acredito que poderemos atingir os nossos objetivos. Tudo faremos para que a época seja inesquecível."

O APOIO DOS ADEPTOS

"Todos sabem que os adeptos do Benfica contam, para nós. Especialmente no hóquei em patins, que tem uma tradição especial no Clube. Sempre foi assim, e desde que cheguei ao Clube vivenciei essa ligação. E é isso que os torna mais exigentes, porque compreendem o jogo apesar das mudanças que vão existindo na modalidade. Claro que essa exigência puxa por nós, porque, se falhamos, sabemos que teremos de lidar com as críticas, mas também sabemos que eles estão sempre lá, ao nosso lado, a apoiar-nos. Há uma química especial entre o hóquei em patins no Benfica e os nossos adeptos. Queremos ganhar mais títulos, queremos trazer mais troféus para o museu e reforçar essa ligação com os adeptos, porque ela alimenta-se de títulos. Não há outra forma."

Artigo publicado na edição de 10 de janeiro do jornal O Benfica