Andebol

07 fevereiro 2025, 12h56

Gustavo Capdeville

Gustavo Capdeville

Durante vários dias, o andebol ocupou as manchetes dos jornais desportivos e os principais títulos dos meios de comunicação. Afinal, não é todos os dias que a Seleção Nacional derrota, consecutivamente, a Espanha e a Alemanha e consegue um brilhante apuramento para as meias-finais do Campeonato do Mundo.

Depois, soçobrou perante a melhor equipa mundial, a Dinamarca, que joga um andebol de outra espécie, mexido, fulgurante e imbatível, mas nem isso desiludiu os adeptos portugueses.

Nessa extraordinária seleção, estava integrado Gustavo Capdeville, guarda-redes do Benfica. Foi determinante, com as suas defesas, em vários jogos, e considerado o melhor em campo no jogo de atribuição do 3.º lugar. Nesta semana, foi o meu convidado no programa Protagonista, na BTV.

ORGULHO MUNDIAL

"Sinto um orgulho tremendo por fazer parte de uma geração que conseguiu algo de inédito e extraordinário para o andebol português. Não posso dizer que este foi o resultado que esperávamos, porque não estava nas nossas melhores expectativas acabar como a 4.ª melhor equipa do mundo. E com as contrariedades do início, com as lesões do Alexis e do Cavalcanti, e o que o aconteceu com o Miguel antes mesmo de começar o Mundial. Foram baixas de peso, de jogadores fundamentais na Seleção nos últimos anos. Mas fomos para a competição com o espírito de dar luta em todos os jogos e de conseguir disputar todos os jogos, fosse quem fosse o adversário. Mas, para uma equipa que não disputava um Mundial há 14 anos, creio que foi importante a forma como o selecionador nos preparou. É um treinador muito positivo e que nos faz acreditar que é possível ganhar qualquer jogo, a qualquer adversário."

Gustavo Capdeville

"Sinto um orgulho tremendo por fazer parte de uma geração que conseguiu algo de inédito e extraordinário para o andebol português"

Gustavo Capdeville

O DEDO DO TREINADOR

"As coisas começaram realmente a mudar quando o Paulo Pereira chegou à Seleção e disse aos jogadores que estava ali para ganhar e queria que os jogadores o acompanhassem nessa ambição. No início, foi um choque que o selecionador nos dissesse isso, porque o andebol português não tinha propriamente um histórico de vitórias, pelo contrário. Mas todos começámos a trabalhar com esse intuito. Até que, um dia, chegou um jogo com a França, e ele nos disse que era possível ganhar, e ganhámos. Foi uma surpresa para todos, e mesmo para nós, que então nos tínhamos convencido de que não era apenas conversa, conseguíamos mesmo ser competitivos contra as melhores seleções. A seleção da França era campeã da Europa, e nós tínhamos acabado de a derrotar. Foi um momento importante desta geração de jogadores, mas tudo começou com a forma como Paulo Pereira nos convenceu de que era possível. De início, não foi fácil acreditar nisso, mas o trabalho que fizemos, a forma como nos dedicámos a isso, permitiu que chegássemos a este ponto de nos sentirmos frustrados por não termos chegado às medalhas. Isso seria inimaginável há uns anos. Agora, tornou-se numa frustração."

Gustavo Capdeville

O GOLO QUE FALTA

"Perdemos a medalha por um golo, frente à França. Como diz o Paulo Pereira, é o golo que falta. Ele diz que, um dia, ainda vai escrever um livro sobre o golo que falta ao nosso andebol. É o nosso próximo desafio, marcar o golo que falta para chegarmos às medalhas. Estamos perto, cada vez mais perto, e é esse tipo de detalhes que ainda não conseguimos trazer para o nosso lado. Mas vamos conseguir. Temos o respeito de toda a gente; internacionalmente, o nosso resultado, as nossas exibições, o talento dos nossos jogadores já são reconhecidos. Mas ainda nos falta o tal golo. Vamos chegar lá. Esse golo depende de muito trabalho, de muito treino, de nos dedicarmos ainda mais ao andebol, de procurarmos a nossa constante evolução, e vamos conseguir. Tentaremos fazer com que o 4.º lugar num Mundial seja um ponto de partida do nosso andebol, e não um ponto de chegada. Há novas gerações a obter excelentes resultados na Europa, muito talento a chegar à Seleção, e creio que o futuro será muito risonho."

SENTIDO COLETIVO

"Temos uma equipa com grandes jogadores, muito talento, mas também muito homogénea. Hoje, destaca-se o Martim, amanhã é o Kiko, depois pode ser o Gustavo ou o dia do Frade. Ou seja, nunca será uma Seleção onde um jogador se sobreponha claramente aos outros. É uma equipa muito coletiva, onde os talentos se colocam ao serviço da equipa. A nossa grande força é coletiva, não é individual. E, depois, é muito homogénea, temos grande talento em todas as posições e novos jogadores a aparecer e a aumentar a competitividade dentro da própria equipa."

MELHOR EM CAMPO

"Fui o melhor em campo no jogo de atribuição do 3.º lugar, mas acho que foi mais um prémio de compensação dado à Seleção portuguesa, porque, nesse jogo, há um jogador francês que marcou 10 golos. Mas foi uma satisfação para mim, receber esse prémio, mas não apagou a frustração da nossa derrota, porque queríamos muito trazer a medalha para Portugal. E acho que o merecíamos, depois do Mundial que efetuámos. Tirar a fotografia com o presidente da República foi também um momento de satisfação e orgulho para mim."

Gustavo Capdeville

"Foi um momento inesquecível vencer essa competição [EHF European League] pelo Benfica e em Lisboa. E essa vitória é a mais importante de sempre na história do andebol português ao nível de clubes"

MUNDIAL E EHF

"São, para mim, os grandes momentos do andebol nacional. Este 4.º lugar num Mundial, pela Seleção, e a conquista da EHF pelo Benfica. Foi um momento inesquecível vencer essa competição pelo Benfica e em Lisboa. Posso dizer que estive nesses dois momentos, mas é para isso que todos os atletas trabalham, para vencer títulos, para serem reconhecidos pelo seu valor e pelo que se alcança nas nossas carreiras. Tenho uma mágoa muito grande por ainda não ter vencido um Campeonato Nacional pelo meu clube, pelo Benfica, mas não vou desistir, é possível ganhar esse título e juntar essas futuras conquistas àquelas que já conseguimos. E essa vitória, na EHF é a mais importante de sempre na história do andebol português ao nível de clubes. É uma vitória que ninguém vai apagar e que é nossa, do Benfica e dos seus adeptos."

O FUTURO DO BENFICA

"Queremos ganhar títulos pelo Clube. Claro que existem outras grandes equipas, como o FC Porto e o Sporting, sem desprezo pelas outras equipas. Mas não queremos ser a terceira equipa do andebol português, queremos ser a primeira, mesmo reconhecendo a qualidade dos nossos rivais. Antes da paragem do Campeonato, ganhámos ao Sporting e demonstrámos que é possível. Ganhar o Campeonato? Porque não? Estamos na luta, e essa vitória significa, para nós, um ponto de viragem no Campeonato. E queremos o mesmo na Taça de Portugal, onde vamos defrontar o Sporting, em Alvalade. Não interessa o sítio, é em casa deles, então é lá que teremos de ir jogar e ganhar, porque é a única hipótese de seguirmos em frente. Esse é o meu estado de espírito e o de toda a equipa. Temos uma equipa de bons jogadores, alguns jovens que estão a aparecer, como o João Bandeira, o Gabriel Sequeira ou o Miguel Mendes, vindos das camadas jovens, e temos um treinador que é muito paciente com os mais novos. Sabemos que vão falhar, como eu falhei quando tinha 17, 18 anos. Mas temos um bom espírito no balneário, um espírito conquistador. E o mesmo se aplica na EHF. Vamos iniciar a main round, e porque não sonhar em conquistar de novo essa competição? Vamos estar na luta e queremos conquistá-la. É isso que podemos prometer aos nossos adeptos."

Gustavo Capdeville

"Não queremos ser a terceira equipa do andebol português, queremos ser a primeira, mesmo reconhecendo a qualidade dos nossos rivais"

LIGAÇÃO A QUINTANA

"Todos conhecem essa ligação. Começou quando ele me recebeu e enquadrou na Seleção. Cheguei lá e ainda nem tinha consolidado a minha posição no Benfica, senti-me pequeno, ali, ao lado dos jogadores que via na televisão. E o Quintana acolheu-me e deu-me grande apoio. Nasceu ali uma relação de amizade que sempre fiz questão de colocar acima da questão clubística. Mesmo durante a época, falávamos muito, ele interessava-se pela minha evolução, e isso nunca esquecerei. Quando ele partiu, cedo demais, decidi fazer-lhe essa homenagem, utilizando o seu nome nas costas da minha camisola. Não sei até quando o farei, mas sei que lhe estou eternamente grato."

Artigo publicado na edição de 7 de fevereiro do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 7 de fevereiro de 2025

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