Clube

28 fevereiro 2025, 22h00

José Augusto

José Augusto e o seu famoso "Viva o Benfica!"

REPORTAGEM BTV

O Lounge do Piso 2 do Estádio da Luz ficou repleto nesta sexta-feira, 28 de fevereiro – dia do 121.º aniversário do Sport Lisboa e Benfica –, na cerimónia de apresentação do livro José Augusto e o Benfica dos Anos 60.

Na data em que o Benfica celebrou 121 anos, nada mais oportuno do que apresentar um livro que mergulha profundamente na era mais bem-sucedida da história do Clube. Ainda mais quando essa viagem é feita por um dos mais célebres e importantes membros das equipas que de 1960 a 1970 tantas glórias deram ao SLB.

No palco, o homenageado da tarde, José Augusto, esteve acompanhado da lenda António Simões, de Luís Lapão, autor da obra, e de Jaime Cancella de Abreu, editor da mesma.

Desde as 17h30 que a sala se foi compondo. Primeiro a conta-gotas, com Toni e Humberto Coelho, quase como verdadeiros "batedores de honra", a serem dos primeiros a chegar, depois, a entrada de velhas glórias foi-se sucedendo à velocidade da luz: Carlos Manuel, António Simões, Shéu, Pérides e Vítor Martins.

Os familiares daqueles que tanto e tanto deram ao Clube, mas que já partiram para o 4.º anel, também marcaram presença, fazendo com que os seus (e nossos) entes queridos fossem, por si, representados. Elementos dos órgãos sociais e colaboradores foram, igualmente, chegando e ocupando os seus lugares, não sem antes momentos de convívio.

José Augusto e Benfica dos anos 60

José Augusto, a figura da tarde, chegou acompanhado de familiares e foi, por todos, muito saudado e cumprimentado. Abraços, beijinhos e palmadas nas costas, bordados de rasgados sorrisos, tudo serviu para celebrar este símbolo vivo do Clube.

Minutos depois, o Presidente Rui Costa entrou no Lounge do Piso 2 do Estádio da Luz. Após cumprimentar todos aqueles com quem se cruzou no caminho, ocupou o seu lugar, que o deixou muito bem ladeado de Mística. À esquerda, Humberto Coelho, à direita, Toni.

No palco estavam sentados Luís Lapão, o autor do livro que seria apresentado daí a instantes, Jaime Cancella de Abreu, editor do mesmo, António Simões, um dos mais brilhantes jogadores da história do Benfica, e, claro está, José Augusto Pinto de Almeida. O nosso José Augusto.

De águia ao peito, durante 11 temporadas (1959/60 a 1969/70), foram 479 jogos, 207 golos, oito Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal e duas Taças dos Clubes Campeões Europeus.

Jaime Cancella de Abreu

A primeira palavra é de Jaime Cancella de Abreu. "Quando sabemos olhar e beber no passado, o futuro tem todas as condições para ser melhor construído, e este livro tem muito de honra sobre o passado da década de maior sucesso do Benfica, que são os anos 60, construída à volta da pessoa de José Augusto", explicou, numa alusão à forma como o passado pode inspirar as décadas futuras.

O editor da obra revelou a pertinência de José Augusto ser o "personagem principal desta história": "O José Augusto foi o único jogador que participou em todos os jogos das cinco campanhas que levaram o Benfica à final. É o único que tem esse currículo, portanto, ninguém melhor que a figura do José Augusto, que nós conhecemos como um Benfiquista de alma e coração, para construir esta narrativa à volta dos anos 60."

Mas não ficou por aqui nas palavras tão fortes como justas à pessoa do antigo jogador encarnado. "Olhamos para si e vemos a Mística do Benfica na sua pessoa. É algo que nos comove como Benfiquistas. O José Augusto personifica essa Mística do Benfica. É merecedor de todos os elogios que possamos fazer", considerou.

A intervenção de Jaime Cancella de Abreu terminou com mensagem dirigida a "todos os intérpretes dessa época de ouro", mas entregue nas pessoas de António Simões e José Augusto: "Vocês, na década de 60, não tornaram o Benfica o maior de Portugal, porque, porventura, já o era. Tornaram o Benfica maior que Portugal. Tiraram as fronteiras todas ao Benfica e fizeram o Benfica um clube do mundo. É um reconhecimento e uma gratidão que todos os Benfiquistas devem ter por todos vocês."

José Augusto e Benfica dos anos 60

Recebidas as tocantes palavras do editor de José Augusto e o Benfica dos anos 60, António Simões pegou na batuta da apresentação e dirigiu os minutos seguintes, com a mestria com que o fazia com a bola nos pés.

"É uma obra que é merecida e é, sobretudo, ter memória. É muito importante que tenhamos memória, porque, assim, não esquecemos a história. Mas mais que isso, ainda, é que não perdemos, de maneira nenhuma, identidade. E este senhor que aqui está [José Augusto] faz parte da nossa identidade, da nossa história", avaliou.

O mais jovem campeão europeu da história, não só do Benfica, como também de sempre (18 anos, 4 meses e 18 dias), recordou o momento em que antes de, também ele, vencer a Taça dos Clubes Campeões Europeus, viu José Augusto fazê-lo.

"Zé, não me posso nunca esquecer do teu grande jogo contra o Aarhus [quartos de final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1960/61]. Era eu um miúdo que jogava nos Juniores e fui para a televisão a correr, para te ver a ti e a outros. E ver-te campeão europeu... Imaginem o que é ter 17 anos, vir para aqui com 15... Eu corria. Vivia na Cruz de Pau e corria para ver passar o autocarro. Aquele famoso autocarro, o 'marreco', como o chamavam. E nunca mais me esqueço: via sempre o Costa Pereira na primeira cadeira ao lado do senhor João Cabo-de-Faca, que era o motorista. Muito pouco tempo depois, estou sentado ao lado deles e, depois, a jogar com. Vocês imaginem o que é isto", desafiou António Simões.

José Augusto

Durante essa caminhada, que havia de terminar com José Águas a erguer a primeira de duas Taças dos Clubes Campeões Europeus (1960/61), José Augusto foi considerado o melhor extremo-direito da Europa, facto que deixou António Simões, ainda um jovem jogador dos Juniores do Benfica, cheio de "orgulho".

"O que foi ver – por um jornalista do L'Équipe ou do France Football, já não me recordo – dizer 'José Augusto, o melhor extremo-direito da Europa'... Eu li. Zé, ser colega do melhor extremo da Europa... ouve o que te vou dizer: cresci tanto que até aprendi a jogar melhor. Não podia aprender outra coisa que não tentar ser igual a vocês", confessou, olhando para o antigo companheiro, tendo, pouco depois, acrescentado em jeito de conclusão: "Zé, não é apenas um orgulho, é uma honra estar aqui e ser teu companheiro. Toda a carreira que fizeste, fala por si, mas sempre com um nome ligado a ti: Sport Lisboa e Benfica."

José Augusto e Benfica dos anos 60

Da escrita para a voz, Luís Lapão explicou que "o livro não se cinge apenas à figura de José Augusto", embora este seja "o coração desta obra", tendo a mesma viajado às origens do antigo futebolista.

"Não podia ter contado a história do José Augusto sem perceber como ele aparece. O livro tem quatro partes: as duas do meio, os ossos; e a primeira e a última, a carne. E que ossos são esses? É, de facto, o aparecimento do José Augusto no panorama futebolístico português, ainda nos anos 50, como jogador do Barreirense. Foi aí que se fez atleta e homem. Aliás, o pai do José Augusto foi, também, jogador de futebol no Barreirense. José Augusto ficou órfão de pai aos 14 anos, mas penso que a herança do pai foi também determinante nas várias escolhas que ele fez", disse.

O papel do pai na vida de José Augusto é um dos temas abordados na prosa, sendo, aliás, o primeiro capítulo do livro, que descreve "a pessoa, o homem que está dentro do José Augusto".

"O José Augusto, para além de ter sido um grande e um único jogador de futebol, é um homem, como nós todos. Este homem vive uma vida normal como nós todos. Dentro deste homem, está a criança que ele foi nos anos 40. As conversas que fui tendo com o José Augusto deram-me a conhecer, primeiramente, o homem. É uma pessoa maravilhosa, muito fácil de lidar, um homem de uma simpatia e afabilidade muito grande", revelou.

José Augusto e Benfica dos anos 60

O jogo do Benfica com o Aarhus, em 1960/61, em que as águias ganham por 1-4, com dois golos de José Augusto, um de José Águas e outro de Santana, não é apenas mencionado por António Simões.

Luís Lapão, a meio da intervenção, contou uma história que terminou de forma, no mínimo, surpreendente.

"O José Augusto e todos os outros vão jogar à Dinamarca. Na Dinamarca, à porta do hotel, juntam-se uma série de miúdos lourinhos, de volta dos jogadores, a pedirem autógrafos. Tínhamos na altura um diretor que se chamava José Jorge Azevedo Coelho Virgílio. Este senhor encontrou-se à porta com um dos miúdos dinamarqueses, que se chama Jan Biermann, e o José Augusto também [lá estava]. A partir daí, nasceu uma relação de amizade. Esse miúdo integrou a comitiva do Benfica a convite do Coelho Virgílio, levou o José Augusto às compras na cidade de Aarhus para comprar um presente para a sua esposa, Ângela, esteve com a equipa no treino, acompanhou até ao final, foi ao aeroporto despedir-se, e nasceu daí uma amizade", relatou.

E prosseguiu... "Toda esta história, eu peguei nela, conto-a aqui no livro, e não podia deixar de contactar este senhor Jan Biermann que, em 2016, veio entregar todo o seu espólio, que foi reunindo ao longo do tempo. Quando comecei a investigar entrei em contacto com o Jan, ele veio cá, encontrou-se com o José Augusto. O Jan Biermann está aqui, sentado à minha frente, viveu tudo isto. Ao lado do Jan, está o José Coelho Virgílio, o filho. Da idade do Jan e que se conheceram nesta semana, ao fim destes anos todos", revelou, com os dois a levantarem-se e a serem agraciados com uma enorme salva de palmas, não escondendo a emoção.

José Augusto

A comprovar o impacto na sua vida, na hora do homenageado da tarde tomar a palavra, José Augusto fez questão de recordar o pai, e uma homenagem feita pelo Benfica ao mesmo.

"O Benfica deslocou-se ao Barreiro e fez uma homenagem ao meu pai. O meu pai que, infelizmente, faleceu, mas teve sempre o condão de superar aquilo que era o seu filho. O meu pai faleceu-me bastante novo e encontrei-me com ele antes da sua morte. Não posso deixar de agradecer, sempre, ao Benfica, que se deslocou ao Barreiro com a sua equipa. Realmente, o meu pai foi um jogador de futebol extraordinário. Eu não o vi jogar, mas todos os dias estava com o meu pai. Ensinou-me a jogar coisas fantásticas. Eu nem quero contar mais, porque estou a sentir bastante", confessou.

Emocionado com a homenagem e com o peso melancólico que as recordações sempre trazem, José Augusto decidiu que aquele que era o momento ideal para terminar a apresentação. "Bom... terminou. Não vai mais", disse. Mas houve mais... Como não poderia deixar de ser e não fosse este dia de aniversário, José Augusto soltou um pujante e encorajador "E viva o Benfica!".

Feitos os agradecimentos a todos pela presença, e após ser efusivamente saudado e abraçado por todos, com o Presidente Rui Costa à cabeça, era então hora dos parabéns "ao menino Benfica". A uma só voz, todos cantaram e desejaram as maiores felicidades a este clube jovial, que, a cada ano, tem a capacidade de se renovar e apontar a futuros sempre mais gloriosos, ou não tivesse o melhor património possível e imaginável: a sua história e os seus adeptos.

José Augusto e Benfica dos anos 60

Em exclusivo ao Site Oficial, Shéu Han lembrou que foi José Augusto "a pessoa responsável que foi a África, a Moçambique, dar a chancela" para que viesse para o Benfica: "Era treinador adjunto quando eu cheguei."

O antigo médio recordou também os tempos em que, sem televisão, imaginava, com os amigos, os jogos das equipas do Benfica dos anos 60.

"Perguntávamos aos outros, 'viste aquele lance, aquele cruzamento, a maneira como ele saltou?'. Isto significa o quê? Significa que nós estávamos a ver qualquer coisa. Imaginávamos qualquer coisa. Isso para nós, para mim, que vivi intensamente aquilo, toca-me ainda hoje. É voltar muitos anos atrás e dizer assim, 'pá, valeu a pena'", afirmou.

O contacto com nomes como Eusébio ou Simões, por exemplo, era algo que dava uma bagagem extra àqueles que, mais novos, chegavam ao Clube.

"Aprendemos imenso. Aquilo que nós trazíamos, se calhar, não era suficiente para sermos jogadores do Benfica. Mas o facto de eles estarem ali ao lado, quase que nós aprendíamos por contacto. Tínhamos sempre uma medida ao nosso lado. E essa medida servia para nós aferirmos as nossas capacidades. Portanto, nós éramos obrigados a cavalgar, digamos, para um nível maior", observou.

José Augusto e Benfica dos anos 60

Com tantos anos de Benfica, fosse como jogador, treinador ou dirigente, função da qual se despediu do Glorioso em 2018, Shéu considera-se um "sortudo" por ter tido "a hipótese de ganhar a cultura dos finais dos anos 60, dos anos 70", e que isso o ajudou nas décadas que esteve ao serviço do Clube.

"Deu-me muita capacidade de poder interagir com os novos jogadores, com as novas formas de estar. Também poder-me adaptar, digamos, à nova convivência com os jogadores que vinham", avaliou.

Foi com o testemunho de alguém que transpira a Mística em cada palavra, em cada ação, que nos despedimos do local, no dia do 121.º aniversário da maior instituição portuguesa, que, bem recentemente, chegou aos 400 mil sócios, o que atesta a vitalidade e a força, quer do Clube, quer do Benfiquismo.

A José Augusto, e a todos aqueles que nos anos 60 (e antes, e depois) ajudaram a engrandecer a lenda que simboliza o nosso emblema, só há duas coisas que se podem dizer: obrigado, e Viva o Benfica!

Campanha 121 Anos Benfica

Texto: João André Silva e Rafaela Certã Alves
Fotos: Isabel Cutileiro / SL Benfica
Última atualização: 5 de março de 2025

Patrocinadores principais do Futebol


Relacionadas