Quem tem Casa... quer casa

REPORTAGEM

Não é uma data qualquer, são 30 anos, e a Casa Benfica Ourém celebrou este aniversário na companhia de uma centena de amigos, entre os quais se inclui o sr. Shéu e até o programa Pelas Casas do Benfica.

Toda a gente conhece o adágio popular "Quem casa, quer casa". No associativismo encarnado, há um parecido, que todos aqueles que se dedicam à causa das embaixadas benfiquistas conhecem por dentro: "Quem tem Casa... quer casa." Significa isto que quem gere uma Casa do Benfica nestes tempos modernos se vê confrontado com a necessidade de um espaço que permita a sustentabilidade de um projeto desta natureza, ao mesmo tempo que proporcione uma maior oferta de serviços à comunidade. Um espaço como o das Casas 2.0, no fundo, que é o grande sonho de quem se encontra à frente de uma Casa Benfica.

A Casa Benfica Ourém não é exceção, e foi esse desejo para o futuro que marcou esta celebração do passado, como deu conta Jorge Jacinto, o diretor do departamento das Casas Benfica, presente no jantar de aniversário.

"Aquilo que nós temos desafiado a Casa, e temos estado a trabalhar com eles, é para já a capacidade de encontrar um espaço em que seja possível criar um projeto que, seja ele qual for, seja totalmente sustentável. E a sustentabilidade de qualquer projeto é o futuro da Casa, não é o presente. Por isso, estou muito convicto de que, em breve, possamos estar a apadrinhar um projeto com essa qualidade e com essa solidez na sua base", anteviu.

Mas não nos detenhamos já com o futuro, deixemos que Vítor Marques, o atual presidente, nos conte a história desta embaixada.

"A Casa Benfica Ourém tem 30 anos, precisamente faz hoje [25 de outubro] 30 anos que foi fundada. É uma Casa que esteve algum tempo inativa, por variadíssimas razões. Entretanto, deu-se a covid, mais inativa ficou. Agora esta direção, que está aqui há um ano e meio em funções, pretende fazer com que a Casa se movimente, se mexa e que seja uma Casa à Benfica", partilhou, indo mais a fundo: "O projeto principal desde que a direção tomou posse foi ter uma sede, que não esta, em que os sócios, os simpatizantes, os Benfiquistas de Ourém, e não só, pudessem assistir aos jogos, conviver e confraternizar com tudo aquilo que implica... Ter uma televisão, ter os canais correspondentes onde se transmitam os jogos, ter uma parte de merchandising, ter cafetaria, restaurante, é esse o nosso objetivo."

Para driblar a falta de condições, o presidente referiu uma iniciativa que ilustra a resiliência dos Benfiquistas que decidem dedicar-se a esta causa: "Tivemos uma atividade muito interessante ao longo deste tempo, deste ano e meio, que foi a Casa do Benfica em Movimento. O que é a Casa do Benfica em Movimento? Quando o Benfica jogava, ao sábado ou ao domingo, quando dava na televisão, como nós não temos sítio para ver a televisão, que esta sede não está preparada para isso, nós percorríamos aqui aos cafés da zona, levávamos algo para sortear, um presunto, uma garrafa ou dois presuntos, duas, três, quatro garrafas, com rifas, com antecedência propúnhamos este evento aos donos dos estabelecimentos, e as pessoas aderiam."

Presente na festa estava também João Serrano, um dos fundadores da Casa e o homem que terá mesmo dado o pontapé de saída há 30 anos.

"Houve, na passagem de ano de 1993 para 1994, uma discussão de Benfiquistas, discussão entre aspas, em que se perguntava porque é que não havia uma Casa do Benfica em Ourém. Eu lembrei-me assim: vou pensar um pouco nisso. Eu era assessor do sr. presidente da Câmara da altura, sr. professor Manuel Albuquerque, e falei com ele, que também é um Benfiquista ferrenho, falei com ele e disse assim: 'Estou na disposição de avançar com a criação de uma Casa do Benfica aqui em Ourém.' Ele disse: 'Eh, boa ideia, boa ideia, faz isso.' Entretanto, eu, como ia várias vezes a Lisboa, tratar de assuntos da Câmara, lembrei-me um dia de passar pelo Estádio da Luz, o antigo, e pedi a alguém lá de dentro para falar com o presidente para efeitos da criação da Casa. Assim foi, falei com ele, ele disse-me aquilo que era necessário fazer, desde os estatutos à criação de uma comissão instaladora, sede, sócios, pronto, tudo o que é necessário para haver uma Casa do Benfica. Depois convidei outros amigos, e assim se formou a Casa do Benfica", contou o histórico fundador.

Curiosamente, 30 anos depois, outro Albuquerque, também ele Benfiquista ferrenho, preside à Câmara Municipal de Ourém. E estava na festa, orgulhoso dos seus consócios.

"Isto ajuda a manter a mística e a alma benfiquista da nossa região. A nossa região tem muitos Benfiquistas, e tudo o que seja encontros deste tipo ou de outra forma de juntar os Benfiquistas é sempre bom, são sempre bem-vindos. E por isso o que se vive aqui hoje é um jantar de Benfiquistas, um jantar onde se discute o Benfica, onde se partilha o Benfica, onde se vivencia o Benfica, e isso é sempre importante", começou por dizer Luís Albuquerque, ficando desde logo a ideia, para quem não o conhecesse, de que se tratava de um verdadeiro Benfiquista, o que não tardou a confirmar.

"Eu, efetivamente, sou um fervoroso Benfiquista, não escondo. Todas as pessoas que me conhecem sabem que eu vivo muito o Benfica. Tenho duas cadeiras no Estádio da Luz, dois Red Passes. Sou um espectador atento e assíduo dos jogos do Benfica e quando não posso, por força das minhas funções, como muitas vezes não posso, procuro sempre ver em casa, ver na BTV, e também acompanho muitas modalidades. Em resumo, o Benfica é muito para mim, porque efetivamente muitos dos meus tempos livres passo a ver o Benfica", explicou o autarca.

Falando de grandes Benfiquistas no evento, com o devido respeito por todos os presentes, não devia estar lá nenhum maior que Shéu Han, "o sr. Shéu", como o tratam os adeptos, um homem que tem mais de 50 anos de Benfica e que encheu de satisfação os convivas, honrados com a sua comparência.

"Tenho esta proximidade com as Casas porque reconheço nelas, digamos, a representação do Clube em cada sítio. E, ao longo dos anos, eu fui habituado a estes grupos de Benfiquistas que vinham de algum lado. Isso fica-nos na pele, e a mim também ficou na pele. E eu reconheço, no fundo, que este tipo de organização merece da nossa parte, de quem jogou ou de quem ainda representa o Clube, essa presença em situações como esta. E dizer também que, de cada vez que vou a uma das Casas, me sinto cada vez mais Benfiquista", referiu a glória encarnada ao explicar a sua presença.

Aliás, o convívio com estas figuras históricas é algo muito valorizado pelos adeptos. Veja-se o caso deste Benfiquista de Aveiro, que se deslocou de propósito a Ourém para este evento.

"Pois, vim ao jantar para conhecer a Casa do Benfica daqui de Ourém e estar com o sr. Shéu, que é um grande ídolo para mim. E adorei. Fui muito bem recebido por todas as pessoas da Casa, por todo este grupo de jovens daqui de Ourém. Estive com os presidentes, pedi autógrafos, vou superfeliz, supersatisfeito. Tenho aqui bastantes coisas autografadas, e vou de coração cheio", contou Tiago Santos.

E, sendo o Benfica um clube de sócios, de muitos Tiagos destes, também as embaixadas do Clube precisam de associados. Isso mesmo foi realçado pela vice-presidente Joana Calado, que primeiro quis expressar a sua gratidão ao SLB: "Claro que temos de fazer um agradecimento enorme ao Benfica por nos ter trazido o Shéu para abrilhantar aqui a nossa noite. São 30 anos, e, portanto, é sempre bom sentirmos que o nosso trabalho também traz pessoas importantes aqui a Ourém", disse antes de lançar um apelo aos adeptos encarnados da sua terra.

"Este jantar tem para mim como principal objetivo também a angariação de sócios para a Casa do Benfica, porque sem eles não conseguimos crescer, e, se não conseguirmos crescer, não conseguimos concretizar os nossos objetivos. Portanto, basicamente, é dar-nos a conhecer, as pessoas saberem que nós existimos, e depois juntarem-se a nós para que o nosso trabalho consiga evoluir da forma como esperamos. Quero deixar a mensagem: dirijam-se a nós, contactem-nos para se tornarem sócios, porque é com um maior volume de sócios que nós conseguimos uma receita maior para podermos então fazer as atividades que temos programadas", disse. O recado está dado.