"Vale a pena lutar pelo Benfica"

Quando perguntei a Francisco Domingues o que sentia, todos os dias, quando entrava no Benfica Campus, a resposta foi uma espécie de cruzamento para golo. O capitão da equipa B do Benfica descreve a sensação de aceder a uma dimensão rara de orgulho e de encantamento. Para os jovens que treinam, que evoluem e que crescem, o Benfica Campus é um passaporte validado para o sonho.

Nesta entrevista ao programa Protagonista, senti a segurança nas respostas, a maturidade no pensamento e o talento para fintar os azares de uma carreira que só agora está a começar.

ALTOS E BAIXOS

"Fizemos uma 1.ª volta notável, com resultados e exibições muito boas. Chegámos a andar nos primeiros lugares da classificação, mas esse nunca é o objetivo prioritário. Para nós, é jogo a jogo, e cada um deles é um desafio e uma aprendizagem. Uma coisa é certa: entramos em todos os jogos para os ganhar, e depois, no fim, fazem-se as contas. Na 2.ª volta, creio que os adversários já entram mais avisados, já nos conhecem melhor, sabem da nossa qualidade, e temos enfrentado maiores dificuldades. Mas o objetivo mantém-se o mesmo. Lutar pela vitória, jogar bem e evoluir, ajudando-nos a fazer o nosso caminho. Acho que o balanço, até ao momento, é globalmente positivo, e acho que todos os jogadores sentem que, hoje, estão mais fortes do que estavam quando se iniciou a temporada."

ANO ZERO

"Para mim, aos 22 anos, sinto que esta temporada tem sido uma espécie de ano zero, porque foi a temporada em que me afirmei como titular e capitão da equipa. Sinto que sou mais jogador, que estou a evoluir e pronto para fazer o meu caminho. Tenho os meus objetivos de carreira bem definidos, mas ainda tenho muito para aprender, nesta função de lateral-esquerdo. Na minha formação, era um extremo razoável, mas, nos sub-19, o míster Luís Araújo puxou-me para lateral, e desde aí tenho feito essa adaptação. Sinto que já fiz bons jogos nesta temporada, e sinto que as coisas estão a correr bem, para mim e para a equipa."

LIGA COMPETITIVA

"A segunda liga é muito, muito, competitiva. Tem equipas com muita qualidade e com jogadores muito experientes. Há equipas na segunda liga que são tão ou mais fortes que outras equipas da primeira liga. Não concordo nada que se diga que um jogador da formação do Benfica emprestado a um clube da primeira liga evolua mais do que jogando pela equipa B na segunda liga. Acho que não há competição que nos prepare melhor para jogar num nível superior do que a segunda liga. Nós sentimos isso em campo. São jogos muito duros, e nem sempre é possível impor o nosso talento. Mas é algo que nos prepara para o passo seguinte nas nossas carreiras. Eu sou muito grato ao Benfica pela oportunidade que me dá, de crescer neste ambiente, e sinto que evoluo imenso a jogar pela equipa B, num contexto competitivo de grande dificuldade."

O SONHO DA LUZ

"Eu não sou diferente de todos os jogadores que entram, um dia, no Benfica Campus, para representar o Benfica. Entrei neste clube há 15 anos, muito novo, mas sempre movido por esse sonho de me estrear na equipa principal do Benfica, jogar no Estádio da Luz, nem que seja por alguns jogos. Não sei se isso será possível, não sei o que vai acontecer a seguir, mas sei que entrego, todos os dias, o meu melhor para evoluir e para concretizar esse sonho. Mas, se não acontecer aqui, acredito que acontecerá noutro lado, porque esse é, também, o outro lado do nosso percurso numa das melhores academias do mundo. Sabemos que nem todos podem chegar à equipa principal do Benfica, mas também sabemos que o Clube nos prepara para um plano alternativo. É só ver a quantidade de jogadores que têm conseguido construir a sua carreira noutros clubes, em Portugal e no mundo. Não é por não se chegar à equipa principal do Benfica que não temos talento. E é isso que o Clube também nos dá, a oportunidade de crescer e de ter uma carreira a fazer aquilo de que mais gostamos."

EXTREMO VS. LATERAL

"Há diferenças claras entre ser extremo e lateral. Mas eu penso que um extremo pode adaptar-se mais facilmente à posição de lateral do que o contrário. O extremo já traz da sua formação uma criatividade que pode ajudá-lo a ser um lateral moderno. Atualmente, pede-se aos laterais que sejam verdadeiros alas. Ou seja, como os antigos extremos, porque agora a tendência é para os extremos jogarem de pé trocado e procurarem espaços mais interiores. Por isso, eu sou lateral, vejo-me como lateral, mas em muitas situações de ataque ainda jogo como extremo. Onde tenho de ter mais cuidado é a defender, porque é isso que se pede a um lateral, que defenda o corredor, o espaço entre o lateral e o central, e com bola, não posso perder a bola no nosso meio-campo, não tenho essa liberdade que tinha como extremo, porque uma perda de bola atrás pode dar um golo ao adversário."

CARRERAS É O MELHOR LATERAL

"Na liga portuguesa, Carreras é claramente o melhor lateral-esquerdo. Tem uma qualidade incrível, e depois faz parecerem simples coisas que sabemos que são difíceis de fazer. Além de que também pode jogar como terceiro central. É um jogador muito completo, embora eu, pelas minhas características, me identifique mais com o Grimaldo. Felizmente, como jogador do Benfica, pude aprender com ambos. O Carreras tem uma qualidade que aprecio muito, que são aqueles passes a rasgar, a mudar o centro do jogo. Eu também faço isso às vezes, e até acho que devo fazer mais. Mas ter um jogador como Carreras no Benfica, como foi ter o Grimaldo, é uma sorte para quem quer aprender a ser um bom lateral-esquerdo."

ISTO SÓ VÍDEO

"Para me aperfeiçoar em jogo, vejo muitos vídeos de laterais-esquerdos. Muitas vezes, antes dos jogos, vejo os vídeos no YouTube de laterais-esquerdos, e já aconteceu, mais do que uma vez, chegar ao fim de um jogo e dar comigo a pensar que fiz algumas coisas que tinha visto nos vídeos. Não é para copiar ninguém, porque acho que tenho características só minhas, mas é para me ajudar a crescer numa posição que não é a minha de origem. E também tenho a informação que o míster Nélson Veríssimo me passa, sobre cada adversário, informação que todos nós recebemos e que é muito útil para nos prepararmos para os jogos. O míster é muito detalhista, além de ser um treinador de proximidade, que fala connosco, que nos ajuda. Será um treinador que recordarei para sempre, pelas oportunidades que me tem dado e pelo que me tem feito crescer."

LESÃO ATRAPALHOU

"Não quero pensar muito onde já poderia estar se não fosse a lesão grave que tive de ultrapassar. Foram momentos muito duros, desde que me lesionei até que voltei, é evidente que perdi tempo que poderia ter sido importante para mim, ainda por cima, em pleno processo de adaptação a uma nova função em campo, mas sinto que regressei mais forte. Tive uma ajuda preciosa, dos médicos, dos fisioterapeutas, da estrutura, dos colegas, e cá estou, pronto para fazer o meu caminho no futebol."

MELHOR ACADEMIA DO MUNDO

"Eu acho que qualquer jovem jogador que entre no Benfica Campus, para jogar pelo Benfica, sente que está a entrar num mundo completamente à parte. Para nós, é a melhor academia do mundo. E sente-se isso no dia a dia, na forma como somos tratados, na forma como vemos toda a estrutura funcionar, sem falhas, para que todos possamos evoluir. E, depois, o talento que se vê por aqui é incrível. Muitos jovens jogadores, com muito talento e que são dos melhores que existem no país e alguns fora de Portugal. É uma sensação muito boa aquela que sentimos quando entramos, todos os dias, no Benfica Campus. E, claro, a mística, a cultura de vitória. Sabemos que não podemos ganhar sempre, mas temos sempre de lutar para ganhar. E isso aprende-se no primeiro dia em que aqui entramos, aquela mística de que vale a pena lutar pelo Benfica."

Artigo publicado na edição de 18 de abril do jornal O Benfica