Futebol Formação

29 maio 2025, 11h19

Nélson Veríssimo

Treinador Nélson Veríssimo

ENTREVISTA BTV

Num misto de balanço e projeção, Nélson Veríssimo, treinador da equipa B de futebol do Sport Lisboa e Benfica, reflete sobre uma temporada desafiante, exigente e, sobretudo, promissora. O 4.º lugar alcançado na Liga 2 não é apenas um número na tabela, é reflexo de crescimento coletivo, afirmação individual e da competitividade feroz de uma prova onde o talento se mede também pela capacidade de superação.

Em entrevista à BTV, o técnico partilha os bastidores de uma época marcada por uma mentalidade forte e uma união inabalável entre jogadores, equipa técnica e adeptos. Fala da importância dos "bancos de titulares", do papel essencial das lideranças dentro de campo, e do espírito incansável de querer sempre mais, num grupo que nunca se acomodou.

Olhando para o futuro, Nélson Veríssimo transmite otimismo e confiança, consciente de que os obstáculos farão parte do caminho, mas convicto de que a qualidade e a mentalidade dos novos protagonistas continuarão a honrar o emblema. A mensagem final é clara: a presença dos adeptos será, como sempre, determinante. Porque esta é, e será sempre, uma caminhada feita em família.

Nélson Veríssimo

BALANÇO POSITIVO E CONTRIBUTO-CHAVE NUMA LIGA COMPETITIVA

"O balanço que podemos fazer é o de uma época bastante positiva, num Campeonato difícil, numa Liga muito competitiva, em que, jornada após jornada, percebemos qual era o nível em que as equipas estavam. Tendencialmente, aquilo que vamos sentindo é que, época após época, as ligas se tornam mais competitivas, e nós também sentimos que, nesta época, contribuímos muito para essa competitividade. De forma natural, acaba por se olhar muito para a classificação, para os pontos somados, mas também temos de fazer outro tipo de análise, que é perceber que tipo de combate demos relativamente às equipas. Ao fazermos a análise da competitividade desta Liga, também temos de reconhecer, de certa forma, o mérito do trabalho da equipa B do Sport Lisboa e Benfica e o contributo que deu para essa mesma competitividade."

OS PILARES DO SUCESSO

"Indiscutivelmente, a qualidade dos jogadores e, desde uma fase muito inicial, o espírito que foram cultivando enquanto equipa, assim como a mentalidade que foram impondo jogo após jogo. Esse acabou por ser um dos segredos desta época desportiva. Os jogadores têm qualidade, é verdade, mas existe também o desafio que todos temos – jogadores, treinadores, staff técnico – de construir uma equipa. E, numa fase bastante inicial da Liga, percebemos que a mentalidade dos jogadores era muito competitiva e que a tal 'fome' de que fomos falando ao longo da época esteve sempre presente, em todos os treinos e jogos. Uma palavra de muito apreço e carinho para os nossos adeptos, que, ao longo desta jornada – que começou em Matosinhos e terminou com o FC Porto B –, estiveram sempre do nosso lado, apoiando-nos. Aproveitando que falamos das pessoas que contribuíram para esta época, uma palavra para a minha equipa técnica. Por norma, o treinador principal é o rosto visível, mas não nos podemos esquecer de que, por trás desse rosto, existe uma equipa técnica, um staff, que muito contribuiu para o sucesso da campanha que fizemos. Foram muitas horas de trabalho, muitas horas de análise. O mais visível é o treino e o jogo, mas existe todo um trabalho por detrás: análise de treino, análise de jogo, projeção dos melhores contextos de treino, para que os jogadores, treino após treino, jogo após jogo, possam desenvolver-se. Porque esse também é um dos grandes objetivos deste trabalho da equipa B. Não há bons treinadores sem jogadores com qualidade, e, felizmente, nesta casa, temos jogadores com qualidade."

Nélson Veríssimo

"A maior alegria que um treinador e a sua equipa técnica podem ter é olhar para os jogadores e sentir que eles cresceram"

Nélson Veríssimo

NÚMEROS QUE REFLETEM CRESCIMENTO, MENTALIDADE E TRABALHO COLETIVO

"Eu vou pegar pelo número de golos que conseguimos a partir do chamado 'banco de titulares'. Usamos muito essa expressão porque acreditamos verdadeiramente que os jogadores que, numa fase inicial, começam o jogo no banco também têm capacidade para dar resposta começando no onze inicial. A preponderância que tiveram ao nível dos golos marcados traduz bem aquilo que foi a mentalidade e o espírito que cultivaram enquanto equipa, e que depois se refletiu nesses números. Claro que os dados – o número de derrotas ou o número de jogos sem sofrer golos – são registos interessantes, aliados, naturalmente, à produção ofensiva. Tivemos o 3.º ataque mais concretizador da prova e, acima de tudo, isso reflete um trabalho que foi desenvolvido ao longo da época, com continuidade também da época passada. A maior alegria que um treinador e a sua equipa técnica podem ter é olhar para os jogadores e sentir que eles cresceram. E esse crescimento vê-se na resposta que dão hoje em comparação com há dois meses, ou com o início da época. Depois, é olhar para a equipa e perceber que, coletivamente, também deu um passo em frente. Normalmente, o maior desafio que temos aqui, no contexto da equipa B e na 2.ª Liga, está relacionado com o momento defensivo. Obviamente, o momento ofensivo também exige atenção – permite-nos investir tempo a posicionar os jogadores nos sítios certos, em função das suas características individuais, para criar situações de finalização e fazer golos. Porque, ao fim e ao cabo, o ADN deste clube é naturalmente fazer golos, ganhar jogos e conquistar pontos. Mas uma das maiores dificuldades, e falo com a experiência de já ter vários anos na equipa B, está na transição defensiva: como os jogadores reagem à perda da bola, se encurtam o espaço, quais as posições que devem ocupar se não conseguirem recuperar imediatamente a posse, como devem recuar e reorganizar-se. Também há desafios na organização defensiva propriamente dita. E, olhando para os números desta época, sentimos que houve claramente um passo em frente face ao que têm sido os registos habituais da equipa B na 2.ª Liga. Acima de tudo, julgo que o que estes números traduzem é o sentimento que os jogadores mantiveram ao longo da época: o de querer sempre mais e melhor. Nunca se contentaram com o que estavam a conquistar."

Nélson Veríssimo

COMPETITIVIDADE INTENSA NA 2.ª LIGA

"As equipas que, por norma, descem da 1.ª para a 2.ª Liga, no ano seguinte têm sempre o objetivo de lutar pela subida de divisão. Umas conseguem, outras nem tanto. Depois, naturalmente, há equipas que, estando já há alguns anos neste patamar, ambicionam sempre – umas de forma mais objetiva, outras de forma mais camuflada – tentar subir de divisão. Há pouco falava das sete primeiras equipas da liga, e todas elas tiveram essa ambição. À exceção da nossa, claro, porque não podemos subir de divisão. Mas das outras seis, sete, oito equipas, todas mostraram essa vontade. Isso traduz-se em dificuldades e, relativamente a essa competitividade, percebemos facilmente que as equipas de cima perdem pontos quando jogam com equipas de baixo. Não há nenhum jogo que seja garantido que vamos ganhar, assim como também não há nenhum em que seja certo que não teremos hipótese de conquistar pontos. Foi sempre isso que nos orientou: acreditar que, em todos os jogos, podíamos lutar pelos três pontos. E, felizmente, acabámos por somar um conjunto de pontos que nos levou a esta classificação final."

A FORÇA POR DETRÁS DA SUPERAÇÃO

"Nesta época – tal como na anterior, mas agora com lideranças diferentes – tivemos três ou quatro jogadores com uma liderança muito preponderante. Falo, nomeadamente, e de forma mais vincada, do Kiko [Francisco Domingues] e do [Diogo] Prioste, pela forma de liderança mais interventiva que tinham junto dos colegas; e do Filipe Cruz e do Gustavo Marques, com outras formas de liderança, mas também muito agregadoras. Eu fui jogador e sinto isso: muitas vezes, a intervenção não tem de vir apenas do treinador. Dentro do grupo – da equipa de jogadores – têm de existir dinâmicas próprias de exigência, de cobrança, que são muito próprias... e que fazem a diferença. Por isso, uma palavra de mérito para o papel do Kiko. A forma inflamada, emocional, com que ele transmitia as mensagens e contagiava os colegas – isso teve grande impacto na ativação emocional dos jogadores em campo."

Nélson Veríssimo

"O ADN deste clube é naturalmente fazer golos, ganhar jogos e conquistar pontos"

DESAFIOS E GESTÃO DE TALENTO

"Nós aqui temos um bom problema, que é termos qualidade. Enquanto estrutura, enquanto equipas, olhamos para os Sub-23 – que fizeram, na minha perspetiva, um campeonato muito bom, regular na Liga Revelação, e que estão agora a discutir a possibilidade de conquistar a Taça Revelação – e olhamos também para o escalão abaixo, os Sub-19, que foram campeões nacionais, e sentimos que existe ali qualidade. Qual é o desafio? É percebermos, em função dessa qualidade que não é questionável, qual o momento certo para colocar os jogadores num contexto competitivo que sabemos ser mais exigente e difícil. Porque vamos jogar com adversários mais velhos, com outra perceção do jogo, jogadores que têm uma capacidade de luta, de duelos, de organização defensiva – e que colocam problemas diferentes. O desafio é perceber o timing certo para lançar esses jogadores, sabendo que vão naturalmente cometer erros, fruto da sua inexperiência, mas ao mesmo tempo perceber se já atingiram um estado de prontidão que lhes permita dar resposta. Esse é um desafio não só dos treinadores, mas também da direção técnica: perceber qual é o momento ideal para lhes dar esse contexto."

50 JOGOS E A PASSAGEM PARA DESAFIOS MAIORES

"Bom, os 50 jogos são ali o limiar em que nós consideramos, ou a linha em que nós consideramos que os jogadores, atingidos os 50 jogos num contexto de 2.ª Liga, num contexto de equipa B, e em função daquilo que é a capacidade de resposta que eles têm, já começam a estar, de alguma forma, preparados para dar o passo a seguir. Nós, objetivamente, tivemos muitos jogadores nesta época que superaram esses 50 jogos. Em condições normais, digamos que é um fim de ciclo naquilo que são as dinâmicas de renovação dos plantéis da equipa B. Vai abrir a possibilidade, primeiro, de eles seguirem a sua carreira num contexto competitivo de maior exigência – e isso permite que eles, naturalmente, acabem por ter outro tipo de evolução. E, por outro lado, também abre espaço para que aqueles jogadores que já estão na equipa B, mas que não tiveram tanto volume competitivo, possam ter um espaço para competir com mais volume, da mesma forma que abre espaço para os jogadores que estão nos Sub-23 e que têm capacidade, têm potencial e qualidade para darem um passo acima."

Nélson Veríssimo

"[Mensagem aos adeptos] Contamos muito com o vosso apoio, com o vosso carinho, com o vosso calor, para que, nos momentos bons e nos momentos menos bons, estejam lá connosco"

RENOVAÇÃO COM CONFIANÇA: OS DESAFIOS E ESPERANÇAS PARA A TEMPORADA 2025/26

"Há aqui jogadores que claramente estão em fim de ciclo daquilo que é o projeto da equipa B. Vai haver uma remodelação, ou uma renovação mais ou menos profunda na mudança de ciclo, mas, acima de tudo, com uma grande crença de que as coisas vão correr bem, porque, como eu disse há pouco, nós sentimos, olhámos para o Sub-23, olhámos para o Sub-19, olhámos para os jogadores que estão na equipa B nesta época e que vão transitar para a próxima época e temos lá qualidade. Agora, o nosso desafio é criar os contextos de dificuldade que eles vão apanhar na 2.ª Liga, e desde logo numa fase inicial. Depois, com o tempo, naturalmente, os jogadores vão crescendo, vão evoluindo. Como também referi, a maior satisfação que me dá a mim como treinador e à minha equipa técnica é olhar para eles e sentir que, individualmente, já tomam melhores decisões, perante a dificuldade reagem de maneira diferente, conseguem conviver com o sucesso de forma natural. Eu costumo dizer que devemos festejar as vitórias como se fosse a primeira, não nos devemos habituar à vitória, mas também, quando não ganhamos, não devemos enfiar a cabeça na areia, nem ficar deprimidos, e temos de ter a capacidade de dar o passo em frente. Portanto, vai ser uma época com jogadores novos, mas, acima de tudo, muito esperançoso na resposta que eles vão dar enquanto jogadores, que nós vamos dar enquanto equipa, e sabendo que será um processo naturalmente difícil, como foi no início desta época e como foi no início da época anterior. Depois, vamos ter de ir dando resposta face aos desafios da própria competição. Mas, acima de tudo, muito convicto de que vamos ter um trabalho difícil, mas positivo, no sentido de que há qualidade e os jogadores têm capacidade para dar resposta."

Nélson Veríssimo

O APOIO INCONDICIONAL DOS ADEPTOS

"Deixar uma mensagem aos nossos sócios, aos nossos adeptos: a próxima época, tal como esta, vai ser certamente uma época difícil e, para o ano, na linha do que tem acontecido nas duas últimas épocas, contamos muito com o vosso apoio, com o vosso carinho, com o vosso calor, para que, nos momentos bons e nos momentos menos bons, estejam lá connosco, como sempre estiveram. Um abraço, e até à próxima época."

Texto: Redação
Fotos: SL Benfica
Última atualização: 29 de maio de 2025

Patrocinadores principais do Futebol Formação