Voleibol Feminino

04 junho 2025, 14h30

Angélica Malinverno

Angélica Malinverno

ENTREVISTA

No epílogo do seu percurso de águia ao peito, Angélica Malinverno, capitã cessante da equipa feminina de voleibol do Benfica, confessou a sua felicidade por "deixar uma história" no Clube, traduzida na Taça de Portugal, na Supertaça e no Campeonato Nacional erguidos.

Na entrevista de despedida, concedida à BTV, a central brasileira recordou cada um dos 3 títulos conquistados ao longo das 2 épocas em que competiu com o Manto Sagrado, bem como a "maravilhosa" primeira impressão da Luz.

Angélica Malinverno doou ainda um par de ténis autografados ao Museu Benfica – Cosme Damião, gesto que enriquece o legado deixado pela atleta. Entre outros temas, a voleibolista enalteceu a importância das Marias e dos Benfiquistas no sucesso da equipa, revelando o que leva da sua passagem pelo Benfica.

Angélica Malinverno

PRIMEIRO IMPACTO DA LUZ

"Lembro-me de que cheguei no início de agosto, havia um jogo de futebol, e convidaram-nos para assistir ao jogo. E claro que não há uma maneira melhor de entrar num clube de futebol do que assistir a um jogo. Fui a esse jogo, e os adeptos já sabiam o meu nome, já sabiam a modalidade. É um choque de realidade, então a minha primeira impressão foi essa e foi maravilhosa. Fui superbem recebida."

ERGUER A TAÇA DE PORTUGAL VOLVIDO MEIO SÉCULO

"Foi colocar o Benfica de volta no lugar de onde não deveria ter saído, 50 anos depois. O sentimento era esse, tínhamos uma grande responsabilidade para jogar contra um adversário que já nos tinha ganhado algumas vezes durante a época, também num lugar neutro. Apesar de termos o apoio dos nossos adeptos, era no Norte, então havia mais adeptos deles, mas era uma coisa que ninguém imaginava qual seria a repercussão. Conseguir vencer o jogo da maneira como foi, a ganhar 2-0, tomar um empate em 2-2 – gostamos de um pouquinho de emoção –, ir para um tiebreak e conseguir sair vitoriosa na época. A Fernanda [Silva] era a capitã e fez questão de que eu a ajudasse a levantar a Taça, porque tínhamos feito muitas coisas para chegar ali. Foi uma emoção indescritível. Já ganhei outras coisas na minha vida, felizmente tive outras conquistas, mas uma conquista de peso, que é levantar uma Taça 50 anos depois, para um clube tão vitorioso, foi um sentimento único. Foi realmente muito maior do que imaginávamos."

Angélica Malinverno

"Ter um pavilhão cheio mostra que o trabalho está a ser bem feito e faz com que nos sintamos motivadas e apoiadas o tempo inteiro, o que faz muita diferença"

Angélica Malinverno

PRIMEIRA SUPERTAÇA DO PALMARÉS ENCARNADO

"Era uma nova época, com grandes objetivos, ambiciosos, contra um adversário que sempre nos deu muito trabalho, que era o FC Porto, num campo neutro. Tínhamos todas as possibilidades de sermos campeãs, assim como elas tinham. Tínhamos jogado uma semana antes contra elas na Copa Ibérica e tínhamos perdido, então também não havia muito tempo para conseguir reerguer a equipa e reorganizar, mas acho que todo o trabalho que foi feito – não tanto o vólei, mas o trabalho extraquadra – foi muito importante, e pudemos começar a época saindo campeãs. Não há uma maneira melhor de iniciar uma época. É muito emocionante, passa um filme de tudo o que trabalhamos, de tudo o que temos de fazer para lá chegar. Conseguir levantar uma taça e olhar para as minhas colegas e entender que ali era o início, era o primeiro passo... não tenho uma palavra para definir o sentimento, mas é um sentimento maravilhoso."

CONQUISTAR O CAMPEONATO 50 ANOS DEPOIS

"Fizemos uma grande meia-final contra o FC Porto, e, claramente, a equipa fica empolgada e motivada. O SC Braga fez uma meia-final muito dura contra o Sporting, com muito mérito conseguiu chegar à final, e tínhamos consciência de que iam ser jogos muito difíceis. Claro que todos os atletas pensam no melhor cenário possível, ganhar a série rápido, ganhar os jogos tranquilamente, mas tínhamos consciência – e até falei isso em algum momento – de que cada jogo tem uma história, e a final não era diferente. Conseguir chegar a um 5.º jogo, perdendo uma série por 2-0, tendo de ganhar o 3.º jogo da maneira como foi, o 4.º jogo na casa delas, e podendo trazer a possibilidade para a Luz, é muito do que foram estas 2 épocas: alguns altos e baixos, alguns momentos melhores e outros piores. Ninguém entra num jogo a achar que vai perder, mas tinha uma sensação dentro de mim de que jamais perderíamos aquele jogo. E mesmo na negra, quando estava 9-12 ou 10-12, ainda tinha esse sentimento de que íamos vencer. A equipa tinha-se preparado para isso, e não podia acabar a perder dentro da Luz um título que há 50 anos não era conquistado. Então, quando terminou, passa um filme, e, na hora, não caiu a ficha. A ficha vai caindo conforme os dias vão passando, mas foi inacreditável. Um 5.º jogo, 15-13, da maneira como foi, foi inacreditável."

Angélica Malinverno

PRESENÇA EMOCIONANTE DAS MARIAS

"Achei uma atitude incrível do Clube realmente mostrar que o passado anda sempre atrelado com o futuro, e tê-las ali connosco, algumas já com um pouco mais de dificuldade, mas a querer fazer parte, a contar e a perguntar as coisas, foi incrível. A partir do 3.º jogo, que foi quando elas foram para o pavilhão connosco, e até à final, e poder tê-las ali durante a comemoração do título, foi incrível. É uma coisa palpável tê-las ali, e ouvi-las contarem as histórias e como era na época, que era muito mais difícil do que é hoje, é emocionante."

BENFIQUISTAS DIFERENCIADORES

"O adepto pode achar que só está ali para prestigiar a equipa, mas, muitas vezes, ele consegue empurrar num momento difícil, consegue fazer uma pressão, consegue desconcentrar um pouco o adversário, então ter um pavilhão cheio, primeiro, mostra que o trabalho está a ser bem feito, porque normalmente as pessoas vão ao pavilhão quando os jogos estão a ser vencidos, e, segundo, faz com que nos sintamos motivadas e apoiadas o tempo inteiro, o que faz muita diferença."

Angélica Malinverno

"Tenho muito carinho pelo Clube, muito respeito pela história do Clube, e ainda mais pela maneira como as pessoas me trataram aqui"

DEIXAR UM LEGADO

"Na Rotunda Cosme Damião, está escrito 'Ousem fazer parte da nossa história', e essa frase ficou muito gravada dentro de mim, porque queria realmente sair daqui com a sensação de fazer parte da história, não só de ser uma equipa que vencesse jogos, mas uma equipa que vencesse títulos e fizesse história. Poder deixar estes ténis e saber que, daqui a uns anos, com certeza, vou voltar para passear e vou chegar aqui ao Museu e ver os meus ténis, e outras pessoas também, e vão ver as taças e as nossas fotos. E, quem sabe?, daqui a 50 anos, haja outras meninas que possam olhar para nós e ter esse sentimento de que dá para chegar. É um legado, é deixar uma história, e isso não tem preço."

DE CORAÇÃO CHEIO

"O meu coração é do Benfica, e vou estar a acompanhar, a torcer, de vez em quando a mandar uma mensagem para brigar com alguma delas, tudo dentro do normal. Tenho muito carinho pelo Clube, muito respeito pela história do Clube, e ainda mais pela maneira como as pessoas me trataram aqui. Uma equipa muito aguerrida, muito trabalho, seriedade. Foram 2 anos de muita resiliência, pessoal, primeiro, mas também dentro da equipa. Levo a alegria das vezes que desfilámos as taças para os adeptos no estádio, é realmente impactante. De estar ali no dia a dia, de estar às vezes a andar, ir para um jogo, alguém parar e perguntar, essas pequenas coisas. Os títulos são sempre muito importantes e vão sempre ficar marcados, mas é a maneira como somos tratadas, a maneira profissional, o carinho das pessoas que nem sempre aparecem, que estão dentro da estrutura connosco a dar uma força, então são essas pequenas coisas que vou levar. Claro que, se me perguntasse, queria ter mais troféus, mas sair daqui com 3 em 2 épocas é incrível. Fico muito feliz, desejo muita sorte, não só para o voleibol, mas para todas as modalidades, para o futebol, e longa vida ao nosso clube."

Texto: Redação
Fotos: Cátia Luís / SL Benfica
Última atualização: 4 de junho de 2025

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