Conteúdo Exclusivo para Contas SL Benfica
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Futebol Formação
05 junho 2025, 11h30
O treinador Vítor Vinha
Em conversa exclusiva com a BTV, o treinador Vítor Vinha abre o coração e partilha os desafios que transformaram esta equipa, pronta para deixar marca no futebol nacional. Para o técnico, este troféu é o início de uma nova era, um ponto de partida que renova a ambição e reforça o compromisso diário de recomeçar, de evoluir e de lutar com uma sede insaciável de vencer e de fazer história.
UM TÍTULO QUE SELA UM CAMINHO
"É um balanço muito positivo, sobretudo se analisarmos tudo desde o primeiro ao último dia: a evolução dos nossos jogadores, o crescimento... E, quando falamos em evolução, é em todos os aspetos, em todas as dimensões do jogo – quer física, quer técnica, quer tática, quer, sobretudo, mental. Nós percebemos que há um crescimento muito grande dos nossos jogadores, da nossa equipa, do nosso conjunto, de toda a envolvência também, de todo o staff. Portanto, é um balanço extremamente positivo, que culminou com essa conquista do primeiro título neste escalão de sub-23 no nosso Clube."
SUB-23: O ESTÁGIO DA VIDA REAL
"Nós temos de contextualizar muito este escalão de sub-23. Os nossos jogadores vêm de um processo formativo completamente habituado a ganhar e a lutar por títulos. E este escalão de sub-23 é o primeiro ano em que tiramos os nossos jogadores completamente da caixa, fora de uma zona de conforto. Nós competimos, claramente, contra equipas mais velhas, projetos diferentes – mais, não diria capacitados, mas mais virados, efetivamente, para o resultado. Portanto, neste escalão, no nosso contexto, eles atingem a maioridade, começam a sair do Benfica Campus, passam a viver sozinhos, fora de uma realidade completamente diferente daquela a que estão habituados, tiram a carta de condução... Abre-se aqui uma panóplia de situações, de solicitações, com as quais eles têm de saber lidar. É um contexto muito volátil, com muitas solicitações, muita volatilidade, e eles têm de aprender a lidar com isso tudo. Portanto, quando nós compreendemos todas estas vicissitudes, quando os nossos jogadores conseguem interiorizar que vão ter de trabalhar ainda mais – vamos trabalhar para ser os melhores, para combater todas estas dificuldades –, tudo isto torna o caminho mais fácil. E depois vivemos numa sociedade em que há uma nova questão: o feedback muito imediato, o sermos avaliados constantemente, e termos uma avaliação por parte de quem lidera o processo de forma muito rápida. Então, quase todas as semanas temos de estar a dizer ou a falar com os nossos jogadores: 'Olha, estiveste bem, precisas de melhorar aqui ou acolá.' Antigamente, se calhar, não era assim. Os treinadores falavam de vez em quando sobre o processo, sobre o caminho, e só mais espaçadamente faziam essa avaliação. Aqui, não: os nossos jogadores – e, lá está, a sociedade – precisam de um feedback mais imediato. Então, todas as semanas, estamos a bater nestas questões. Mas, quando percebemos isto tudo, quando eles entenderam verdadeiramente o contexto, tornou-se tudo muito mais fácil. E o crescimento foi muito bom, foi muito grande, como ficou visível nesta parte final da época."
"É um balanço muito positivo, sobretudo se analisarmos tudo desde o primeiro ao último dia: a evolução dos nossos jogadores, o crescimento..."
Vítor Vinha
UMA FORÇA INVISÍVEL
"O crescimento mental é brutal. Não quer dizer que eles não tivessem uma mentalidade anteriormente, não. Mas lidar com esta adversidade constante, semana após semana, defrontar equipas mais velhas, projetos criados verdadeiramente para vencer a Liga Revelação… E nós, no nosso caminho, evoluirmos, crescermos na nossa mentalidade competitiva, na nossa mentalidade diária de treinar sempre no máximo, de nos colocarmos à prova, de não termos receio de nos colocarmos à prova… Porque essa também é uma vertente. Não é fácil nós chegarmos, perdermos um jogo – e como perdemos um jogo no nosso clube, lá está, é um problema. E é, efetivamente. Mas temos de retirar sempre aspetos positivos, temos de entender onde é que podemos crescer, onde é que podemos evoluir. E foi este, sem dúvida, o nosso principal fator. A chave deste resultado final, se calhar, foi mesmo essa avaliação que os jogadores foram fazendo, esse crescimento que foram tendo, e a perceção que foram tendo da competição – aliada ao seu trabalho, à sua capacidade de trabalho diária –, culminou com este resultado e com esta forma final em que estivemos muitíssimo bem."
CRESCER SEM PERDER A RAÇA
"Obviamente, estamos num clube que está obrigado a lutar por títulos, a ficar nas primeiras posições. Mas, se avaliarmos a história do Benfica neste escalão, nesta competição, percebemos que há muita dificuldade em ficar nas primeiras posições. Desde o início, nós percebíamos e sentíamos que tínhamos algo, que tínhamos capacidade para mais. E, com todas estas solicitações, com o nosso projeto, também a subida e descida dos jogadores – que é algo fantástico para eles, mas que, ao mesmo tempo, se torna difícil no sentido de criar um sentimento de pertença a um escalão, a uma equipa. Quando avaliámos esta 1.ª fase do campeonato, percebemos que fomos muito intermitentes. Vencemos, perdemos, vencemos, perdemos. Nas derrotas, muitas vezes, jogávamos muitíssimo bem, criávamos muitas oportunidades, mas, por qualquer motivo, não conseguíamos concretizá-las. Fomos sempre fazendo esta avaliação, tentando perceber porque é que não conseguíamos vencer. E fomos percebendo que necessitávamos do nosso tempo para crescer – como seres humanos, como jogadores, como equipa técnica. Precisávamos de tempo para evoluir. E, mesmo nas derrotas, tivemos jogos muitíssimo bons, em que, se calhar, o resultado não foi tão justo – mas é o futebol, e temos de aprender a lidar com isso. E o clique, a mensagem, foi sempre esta: vamos ser a equipa contra a qual ninguém vai querer jogar. Temos de evoluir na nossa concentração, temos de evoluir na nossa capacidade de trabalho, temos de evoluir na nossa frieza dentro do campo – na hora de finalizar, na hora de fazer um corte, na hora de defender. Sempre fomos muito claros com os jogadores naquilo que tínhamos de crescer, mas nem sempre o facto de estarmos a dizer e eles entenderem automaticamente o que é que era necessário… há um longo caminho a percorrer. E, portanto, a 1.ª fase foi um pouco isto. Depois, quando iniciámos a 2.ª fase, era necessário darmos aqui um upgrade. Em termos de mentalidade competitiva, em termos de capacidade de concentração, em termos de capacidade de concretização – estava tudo lá, mas precisávamos de mais. Era necessário mais. E, nessa fase inicial, tivemos jogos em que estivemos muitíssimo bem, como, por exemplo, aqui em casa com o Gil Vicente, em que perdemos o jogo por 0-1, mas tivemos três bolas nos postes, tivemos o guarda-redes adversário, com todo o mérito, a fazer três ou quatro defesas de golo, tivemos um jogador do Gil Vicente a tirar uma bola em cima da linha de golo… e chegámos ao final e perdemos 0-1. A pergunta era: está tudo mal? Não. Mas não conseguimos vencer. OK, não conseguimos este, temos de tentar, temos de continuar o nosso caminho, temos de evoluir e temos de crescer. Até que, a determinada altura, acho que tudo se conjugou, e nós conseguimos, semana após semana, concretizar pelo menos metade daquilo que criávamos. E, quando nós conseguimos concretizar metade do que criámos, os resultados, ou as vitórias, começaram a aparecer com maior regularidade. E acabámos muitíssimo bem, com uma série tremenda de resultados, em que penso que nos últimos 7 jogos tivemos 5 vitórias e 2 empates – e os 2 empates que tivemos foram injustos. Connosco, por exemplo, no último jogo, a falhar um penálti aqui, a ter outra grande oportunidade num um contra um, uma bola no poste... Quer dizer, se nós analisarmos friamente, sob a perspetiva, obviamente, futebolística, dentro de campo, nós merecíamos mais. Mas nem sempre os resultados acompanharam esse merecimento. Quando nós somos a equipa mais jovem, com jogadores de 17, 18, 19 anos, com toda a qualidade, com todos os defeitos e virtudes que nós temos… conseguir este 3.º lugar [na Liga Revelação] é algo bastante positivo e bastante meritório. E acaba por ser, creio, uma das melhores classificações até da história da competição do Benfica. Creio que já fizemos uma vez um 2.º lugar, e neste momento conseguimos um 3.º Portanto, acho que é muitíssimo positivo. Mas queríamos mais, obviamente. Não podemos ficar contentes, de alguma maneira, com o 3.º lugar – ou temos de ficar contentes pelo 3.º lugar, mas, ao mesmo tempo, podíamos e devíamos ter feito mais. E acho que é esse o sentimento que fica no final: se calhar, com um crescimento mais rápido, com aqui ou ali um bocadinho mais de sorte, também poderíamos ter ficado melhor."
"Competimos, claramente, contra equipas mais velhas, projetos diferentes, mais virados, efetivamente, para o resultado"
A LIDERANÇA QUE FORMA
"Eu não tenho filhos, mas, se pegarmos aqui numa educação de um filho, quantas vezes nós temos de explicar aos nossos filhos a mesma coisa? Se calhar, às vezes, eles vão ter de cair por eles próprios para conseguirem compreender. Se calhar, nós vamos ter de perder muito tempo com os nossos filhos a explicar a mesma situação. E nós aqui não nos podemos esquecer que são jovens jogadores – já atingem a maioridade, supostamente já terão de ter aqui outra maturidade, outra tarimba. No entanto, naquilo que é o contexto, naquilo que é o nosso campeonato da Liga Revelação, os diferentes projetos e tudo o mais, nós sofremos aqui um bocadinho. E, portanto, quando entendemos que é preciso tempo para eles crescerem, tempo para eles evoluírem, e eles efetivamente percebem isso – que têm de acelerar esse crescimento, têm de acelerar essa maturidade –, essa acaba por ser a chave. Acaba por ser a chave da nossa equipa, do nosso contexto sub-23 e de outros projetos até semelhantes ao nosso. Agora, a competência esteve lá, a organização esteve lá, o staff todo a puxar para o mesmo lado, a fazer crescer e evoluir os nossos jogadores, a ser exigentes com eles naquilo que eram os horários, o trabalho de ginásio, a nutrição, as sessões de psicologia, deixar o balneário limpo e ajudar o técnico de equipamentos a arrumar as coisas, a não deixarmos nada no campo. Esse tipo de situações leva o seu tempo, cumprimos, crescemos, e isso depois notou-se dentro do campo e nos resultados, sobretudo."
DO PROBLEMA À OPORTUNIDADE
"Eu entendi muito rapidamente aquilo que era o projeto, entendi muito rapidamente aquilo que era o contexto do Benfica sub-23, onde nos inserimos dentro do nosso clube, a nossa organização e a nossa interação diária com a equipa de juniores, com a equipa B, e até com a equipa principal. E, ao percebermos todo este enquadramento e toda esta conjuntura, o nosso foco enquanto equipa técnica foi sempre o foco nas soluções. Vamos encontrar soluções. Que jogadores temos para cada jogo? O que é que nós vamos encontrar pela frente? Quais são os nossos pontos fortes? Quais são os nossos pontos mais débeis? Como é que os podemos esconder? Fomos sempre fazendo esta avaliação, esta reflexão, e fomos sempre promovendo aquilo que era o crescimento e o desenvolvimento individual dos nossos jogadores. E, portanto, nunca parámos muito tempo a pensar nos problemas. Creio que foi a minha mais-valia enquanto líder do processo, e também toda a minha experiência para trás. Embora eu não tenha estado aqui no contexto do Benfica anteriormente, fui jogador de futebol profissional, joguei na 1.ª Liga, joguei na 2.ª Liga, trabalhei com grandes treinadores que estão, neste momento, na 1.ª Liga portuguesa e noutros contextos. Aprendi muito com eles. Como treinador adjunto, tinha sido campeão nacional da 2.ª Liga no Rio Ave com o Luís Freire. E, portanto, transportei toda a minha experiência e todo o meu entendimento sobre o jogo, toda a experiência acumulada que tinha, e toda a minha paixão, obviamente, pelo jogo, por trabalhar com jovens jogadores. E depois, claro, o desafio de trabalhar numa casa como esta, num clube grande como este. Penso que se juntou aqui tudo. Casámo-nos todos muito bem, e, portanto, acho que é um balanço extremamente positivo da minha parte."
"Creio que os nossos adeptos não vão esperar menos do que isto no próximo ano. Cá estaremos para tentar dar resposta"
RECOMEÇAR SEMPRE
"Há sempre uma frase com que nós, treinadores, brincamos uns com os outros, e a realidade é que, agora, que conquistámos a taça, parece que foi fácil, não é? E parece que isto agora vai ser todos os anos desta forma. Não. Nós temos de entender que, no nosso contexto, todos os anos, há aqui uma renovação, há uma remodelação, há um avançar dos jogadores, há uma série de situações que mudam e que nos obrigam a praticamente recomeçar o processo do zero. Basicamente, é isto. E, recomeçando o processo quase do zero, vem novamente tudo isto à baila, vem novamente todo este crescimento, todo este dia zero, dia um, dia dois, dia três… todo este contínuo de complexidade pela frente. Agora, claro está: tivemos o mérito e a responsabilidade de conseguir ganhar este primeiro título, esta primeira taça neste escalão. Creio que os nossos adeptos não vão esperar menos do que isto no próximo ano. Vai ser um ano, novamente, muito difícil. A expectativa está alta, mas vamos ter de começar do zero novamente. Mas a ambição é grande, o desafio é grande, e cá estaremos para tentar dar resposta e para tentar satisfazer aquilo que são as exigências. A sede de vitória, o desejo de vitória, tem de estar sempre inerente. E vamos tentar fazer tudo para, sobretudo, fazer crescer os nossos jogadores e também satisfazer os nossos adeptos nestas conquistas."