Futebol feminino

06 junho 2025, 10h56

Cristina Prieto

Cristina Prieto

As malas com que chegou a Lisboa vinham mais leves que as malas que levou para Sevilha, de férias. Além das roupas, dos pertences, dos recuerdos para a família e para os amigos, Cristina Prieto carregou uma mala com 30 golos marcados na sua temporada de estreia em Portugal.

Não foram tempos fáceis, porque a adaptação de uma jogadora a uma liga diferente e a um clube gigante, como o Benfica, nunca é linear, nunca é um caminho apenas de linhas retas, sem deparar com as curvas de incerteza que o futebol coloca a quem chega. Mas o espírito positivo, o talento natural e a perícia goleadora tornaram, rapidamente, a atacante espanhola que o Benfica contratou ao Sevilha numa imparável máquina de golos e de permanentes alvoroços nas defesas adversárias.

Em entrevista ao programa Protagonista, a que se juntou mais um pouco de uma conversa descontraída, Cristina Prieto exibiu uma personalidade encantadora, simpática e muito resoluta. E sobrou uma certeza. Cristina só está no começo de uma história que promete muitos golos.

Cristina Prieto

MELHOR ÉPOCA DE SEMPRE?

"Não sei se posso dizer isso. Sou uma jogadora que sempre se focou no futuro, no que posso ainda alcançar. Marquei 30 golos nesta temporada, foi maravilhoso, mas agora quero mais. Por isso, não posso dizer que tenha sido a melhor época da minha carreira, porque quero fazer melhor já na próxima temporada. E acredito que farei melhor, conhecendo melhor as minhas colegas, o futebol português, o que querem de mim, o que posso acrescentar à equipa. Olhando para os números, claro que, até ao momento, foi a minha melhor temporada, mas quero chegar ao final da próxima época e dizer o mesmo."

ESTRELA DA COMPANHIA

"Nunca me senti uma estrela na equipa, por ter vindo de um campeonato mais competitivo que o português. Mas digo que a liga portuguesa me surpreendeu, porque há jogadoras com muita qualidade e equipas com muito potencial. Mas, verdadeiramente, nunca me senti uma estrela por vir de onde vim. Fiz o meu percurso, sempre me preocupando em dar o meu melhor e nunca a pensar se seria a melhor ou não. Estamos no futebol, é uma modalidade coletiva, e, sendo uma avançada, preciso do trabalho que a equipa faz, até as bolas me chegarem em condições para fazer os golos. Isso é o que gosto de fazer, golos. Ajudar a equipa com eles, e neste ano, felizmente, fiz muitos. Porque tenho uma grande equipa a ajudar-me e jogadoras com enorme qualidade."

Prieto

ADAPTAÇÃO DIFÍCIL

"No início, sim. Vim de uma equipa em que estava habituada a uma forma diferente de jogar, onde a bola me era metida para a profundidade. Aqui, soube desde o início que iria ser diferente e que teria de mudar algumas coisas na minha forma de jogar. Estou numa equipa que quer sempre ser protagonista, ter o domínio, e numa liga onde o Benfica é sempre favorito e tem essa responsabilidade com o jogo. Tive de mudar, a minha treinadora e as minhas colegas foram pacientes comigo, e sinto, até, que estou melhor jogadora. Toco mais vezes na bola, porque tive de entrar no estilo da equipa, onde as avançadas não estão só para marcar golos, também participam no jogo mais ativamente. Claro que continuo a ter o objetivo de marcar golos, é a minha função, mas, no Benfica, exigem mais de mim como jogadora."

TALENTO ACIMA DA MÉDIA

"Há jogadoras que me surpreenderam, especialmente no Benfica, porque têm muita qualidade. As mais jovens, como a Lara Martins, que tem um potencial incrível, a Andreia Norton, a quem é muito difícil tirar uma bola, é incrível, parece que os seus pés têm cola, e ainda a Andreia Faria. Não é por ser muito minha amiga, mas é uma jogadora que tem uma qualidade incrível. E não é só talento, é muito intensa na forma de jogar. É uma das grandes figuras da equipa e uma daquelas que podem sonhar muito alto na carreira."

Cristina Prieto

SUCEDER A KIKA

"Essa foi a expetativa que foi criada em torno da minha contratação, a de que vinha para substituir a Kika. Mas a Kika não se substitui, muito menos no Benfica, e muito menos eu, que sou uma jogadora completamente diferente. Do que tenho pena é de não ter podido jogar com ela, porque seria incrível, dado tratar-se de uma jogadora que pode chegar a ser das melhores do mundo. A história da Kika no Benfica é muito bonita, era uma jogadora muito querida dos adeptos e também cá dentro, no Clube, ainda por cima benfiquista e da formação. Não há nada em que me possa comparar à Kika, e só espero que seja muito feliz no seu clube e que tenha muita sorte na sua carreira, porque acredito no seu talento. Trata-se de alguém que, sendo tão nova, é um símbolo do Benfica, e, em clubes como este, não é fácil chegar a ídolo dos adeptos."

ENTRADA A MATAR

"Apesar das dificuldades iniciais, tive a felicidade de começar a marcar muitos golos. Isso foi muito importante para mim, porque me ajudou a superar uma fase que eu previa que fosse mais complicada. Estava a mudar a minha forma de jogar, e, se os golos não tivessem aparecido, certamente que a dúvida se iria apoderar de mim e, pior, dos adeptos. Felizmente, os golos começaram logo a aparecer, fui- -me integrando, e a minha adaptação acabou por ser fantástica. Pude ajudar a equipa a ganhar jogos, a somar pontos e a afastar as dúvidas que vinham do início da temporada, por termos perdido a Supertaça e não termos entrado na fase de grupos da Liga dos Campeões. Foi um golpe duro para as minhas colegas. Eu nunca tinha jogado esses jogos, mas elas vinham de fazer vários anos muito bons na competição." 

UM BENFICA GIGANTE

"Toda a gente que está no futebol conhece o Benfica. Mas é diferente conhecer o Benfica por dentro. É tudo muito grande, uma escala incrível. É um clube gigante, com um dos maiores estádios da Europa. Para mim, aos 32 anos, chegar a um clube destes é algo que sempre sonhei. O Clube tem uma estrutura fantástica, a academia tem tudo, é das melhores, tem tudo um nível a que não estava habituada. E joguei no Sevilha, que é o meu clube do coração. Tenho a minha família perto, são cinco horas de distância, de carro, sou muito ligada a eles, aos meus pais, ao meu sobrinho. Eles também já conhecem o Benfica e adoram. É um clube que fica para a nossa vida toda, é algo que não se esquece."

Cristina Prieto

FILIPA PATÃO

"Exigência é a palavra que me vem à cabeça quando falamos da Filipa. Em tudo. No treino, no jogo, na forma como encara o jogo. Foi muito importante, pela forma como me explicou, logo no início, como queria que eu jogasse, ajudou-me bastante, foi muito paciente comigo, mas sempre com uma exigência máxima. Tem muita competência, é uma excelente treinadora, preocupa-se bastante que as jogadoras conheçam o jogo e se sintam confortáveis em campo. Tira o melhor de nós, mesmo que nos coloque desafios táticos, que nos ajudam a crescer e a servir melhor a equipa."

LIGA DOS CAMPEÕES

"Foi uma lástima, para nós e especialmente para as jogadoras que estão habituadas a disputar essa competição. Quando vim para o Benfica, tinha essa curiosidade, queria jogar na Champions e tinha seguido alguns jogos da equipa na época passada. Na Champions, estão as equipas e os jogos que queremos jogar. Eu nunca tinha jogado a Champions, e, para mim, foi uma experiência incrível jogar as eliminatórias, no início da temporada, embora não tenham terminado como desejávamos. Mas foi diferente, para mim, sentir o ambiente da Champions. Felizmente, na próxima temporada, o Benfica vai estar na competição e vai ser estimulante, porque o formato será o mesmo da competição masculina, e acho que é um formato muito bom. Vai ser fantástico, e iremos dar o nosso melhor para chegar o mais longe possível na Champions."

Artigo publicado na edição de 6 de junho do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 6 de junho de 2025

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