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Clube
09 setembro 2025, 21h53
Nuno Catarino
Nuno Catarino, CFO do Clube e administrador executivo da SAD encarnada, considera que, "do ponto de vista económico, os resultados são muito bons".
"O mercado está feito, é um mercado que tínhamos planeado inicialmente, que é suficiente para a solidez financeira do Benfica, e partimos bastante confortáveis para este ano de exploração", sustentou, em entrevista conjunta aos meios do Clube e a vários órgãos de comunicação social, destacando o "resultado operacional positivo" como "um marco muito importante".
Nuno Catarino vincou igualmente que os Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) "crescem menos do que os rendimentos operacionais, e sem efeitos extraordinários crescem ainda menos".
Sobre o plantel de futebol profissional, o CFO do Clube e administrador executivo da SAD garantiu que o plano foi "executado" conforme idealizado: "O objetivo que tínhamos, e que mantivemos, era: aquilo que realizarmos em vendas tem de compensar aquilo que realizarmos em compras. E foi o que conseguimos fazer."
Considerando que o Benfica tem 2 anos para negociar os direitos televisivos, Nuno Catarino asseverou que o processo negocial está a ser levado a cabo "em várias frentes". "Tivemos, e temos, diferentes propostas, melhores do que a atual", realçou.
Questionado sobre os resultados apresentados e o momento pré-eleitoral, deixou uma garantia: "Para que fique claro: a administração da SAD é imune – e tem de ser imune, e só pode ser imune – a questões que têm que ver com a eleição da Direção do principal acionista."
Em processo de aumento de lotação do Estádio da Luz para 70 mil lugares, como referiu, Nuno Catarino explicitou que, com o Benfica District, o plano visa chegar aos 80 mil lugares.
O administrador executivo abordou igualmente os pressupostos do fair play financeiro e afirmou que o Benfica está a cumprir todos os critérios. "Sempre cumprimos. Não antevejo nenhuma razão para estar preocupado", disse.
Sobre o plano de compra de ações próprias por parte da Benfica SAD, Nuno Catarino foi taxativo: "Nós cumprimos os critérios de solidez financeira necessários para ter um plano de compra."
Que balanço faz do relatório e contas e dos resultados do exercício de 2024/25?
Do ponto de vista económico, os resultados são muito bons. Partimos de uma situação, se se recordam do ano passado, de resultados líquidos francamente negativos, por uma questão que não tinham sido concluídas vendas antes do final do anterior exercício, não havia outra interpretação para além dessa. Voltando atrás um ano, o compromisso estabelecido na altura com os acionistas era neste ano ter um resultado positivo. E tínhamos também um segundo objetivo, que era ter esta capacidade para, nos exercícios seguintes, conseguir ter sempre a parte de realizar aquilo que é preciso fazer, à cabeça, para ter uma estabilidade ao longo do ano. Foi o que também conseguimos fazer já depois do fecho do exercício. Ou seja, o mercado está feito, é um mercado que tínhamos planeado inicialmente, que é suficiente para a solidez financeira do Benfica, e partimos bastante confortáveis para este ano de exploração. É claramente – e tem alguns efeitos extraordinários, somos os primeiros a reconhecê-los – um exercício muito, muito positivo. Até mais positivo do que projetávamos inicialmente. Mais positivo com e sem Mundial de Clubes. É o evento mais extraordinário que está aqui no exercício.
A próxima administração tem o ano até ao final garantido?
Eu acho que é muito mais do que o ano até ao final garantido, mas pode começar, com alguma tranquilidade, a planear o futuro, porque as vendas estão feitas, estamos na Liga dos Campeões, o essencial para o exercício está feito.
Disse que este exercício superou as suas expetativas. O que é que, em concreto, foi mais além do que estava à espera?
Tivemos alguns critérios de prudência, com base no histórico, a nível do crescimento da receita recorrente, e esses, sim, é que suplantaram. Conseguimos um controlo de custos que é bastante assinalável. Os custos, de facto, aumentaram 0,9%, numa base recorrente, uma base comparável do que existia no ano anterior projetando para o ano à frente, que é bastante bom, e a mesma receita cresce à volta dos 10%. Ou seja, estamos aqui de facto com 9 pontos percentuais de diferença entre o crescimento da receita versus os custos no mesmo ano naquilo que é a base recorrente. Conseguimos também um resultado operacional positivo, que é um marco muito importante. Não sei se o conseguiremos sempre, mas era importante conseguir esse resultado, ou seja, antes de entrarmos nas contas de atletas, ter um equilíbrio entre custos e receitas. Esse também é um marco muito importante para alcançar durante este ano.
Um dos indicadores em que o Benfica tem mostrado alguma dificuldade tem que ver com a redução dos FSE. Como é que se comportaram neste ano?
Subiram no segundo semestre, mas há aqui três efeitos, comparando com o ano anterior. Temos o efeito do futebol feminino, mas este também já entrou no primeiro semestre e manteve-se no segundo semestre. Há sempre os custos associados ao futebol feminino. Temos o Mundial de Clubes, que teve um impacto: estamos a falar de quase 2 milhões em FSE. 1,7/1,8 milhões de FSE vêm do Mundial de Clubes, e há um terceiro efeito: mais jogos. Há uma correlação de jogos. Os jogos da Liga dos Campeões fora são caros, e os jogos em casa também são caros. O Benfica tem 2 mil pessoas em dia de jogo a trabalhar, de fora – entre segurança, catering, tudo e mais alguma coisa. Isto é uma operação. Operar um estádio é caro. Com mais jogos, mais caro fica. É mais esse efeito. Sem esse efeito, os FSE também tinham aumentado 0,2%, sem os efeitos extraordinários. Uma trajetória controlada em termos de FSE. Os contratos mais básicos de serviços aumentam com o salário mínimo nacional, automaticamente. É em todo o lado. Tivemos contratos que aumentaram 5%, o valor unitário, mas nós conseguimos, mesmo assim, combater esse aumento com poupanças noutras áreas. Tal como nos anos anteriores, metade dos FSE do Benfica são FSE internos. São pagamentos, sobretudo, à Benfica Estádio, são pagamentos internos, ou seja, a Benfica SAD trabalha aqui, tem de pagar renda, é um FSE. Tem de pagar a renda pela utilização do Estádio, ou seja, há aqui um encontro. Por isso, os valores nunca são muito comparáveis. Em boa verdade, como eu já disse no ano passado, se fizermos o rácio do que são os FSE expurgando os efeitos intragrupo sobre receita recorrente, até comparamos melhor do que qualquer outro clube português.
É manifestamente exagerada a ideia de haver um exagero nos FSE?
É um número maior porque o clube é muito maior. Não há outra forma mais simples de dizer isso.
Mas têm um ritmo de crescimento inferior ao crescimento dos rendimentos operacionais?
Muito inferior. Os FSE crescem menos do que os rendimentos operacionais, e sem efeitos extraordinários crescem ainda menos.
Já tem noção da receita pela presença no Mundial de Clubes?
O resultado do Mundial de Clubes, e está escrito no relatório, foram 17,3 milhões de euros. E é 17,3 porquê? Primeiro: muitas vezes os números que apareciam estavam em dólares, a diferença do dólar para o euro são 15%. Há retenções na fonte de impostos nos Estados Unidos. Não sobre todos os valores, mas há retenções na fonte de impostos. Sobre alguns valores, o imposto depois não é recuperado em Portugal, por isso passa a ser um custo. A própria FIFA imputa-nos alguns custos diretamente, ou seja, já não nos paga líquido o valor que deu como prémio bruto. Quando recebemos, já vem descontado daquilo que a FIFA considera os custos FIFA. Depois ainda temos os nossos custos. Tivemos de pagar um pouco mais aos jogadores, também está neste valor. Foi indexado, não é uma componente muito importante, mas tivemos de pagar mais aos jogadores, e depois tivemos mais alguns custos da operação. Também são relevantes.
O Benfica fez um all-in no mercado, tendo em conta os 135,8 milhões de euros em contratações? Pode explicar-nos por que motivo não foram concluídas as operações de Thiago Almada e de João Félix? Faltou liquidez?
Operações concretas com jogadores vou deixar depois para o Presidente explicar, quando tiver de explicar.
Mas estamos a falar de liquidez?
Se nós conseguimos comprar 138 milhões... Não foi por essa razão. Há razões objetivas. Definimos o que é que faz sentido. Depois, se o que faz sentido para nós não é igual ao que faz sentido para a outra parte, e não é igual ao que faz sentido para os jogadores… Se não há um encontro comum, não há negócio. Em qualquer outro negócio, não estou a falar desse em concreto.
A questão do all-in…
Nós, obviamente, quando partimos para um exercício, partimos, primeiro, com um orçamento, com um plano para um orçamento. O objetivo que tínhamos, e que mantivemos, era: aquilo que realizarmos em vendas tem de compensar aquilo que realizarmos em compras. E foi o que conseguimos fazer. Era o plano e é o que está executado. Há, de facto, uma equivalência, temos aqui um equilíbrio. Acaba por ser uma coincidência, se fosse mais um milhão de euros para cada lado também não faria muita diferença. A capacidade financeira existe, e, obviamente, nós fomos casando as operações, para chegarmos a uma situação que faria sentido no final. Executámos o plano.
O plano era haver estes valores muito semelhantes entre alienações e aquisições?
É. É assim que construímos o exercício. É disso que o Benfica precisa. E, para o futuro, é disso que o Benfica precisa. Este ano é um ano sem Mundial de Clubes. Como é óbvio, como somos uma administração responsável, só podemos perspetivar um exercício positivo. Um exercício positivo requer isto. Menos que isto é difícil.
É um tipo de estratégia que é repetível todas as épocas, ter estes valores semelhantes em aquisições e em alienações?
Isso não deve ser um objetivo. É condição limite que temos para operar para depois equilibrar o exercício operacional, neste momento, com as condições que temos no balanço. Quando chegarmos mais perto dos 500 milhões de euros de receita, podemos equilibrar de outra maneira. Podemos fazer mais compras do que vendas e manter a operação estabilizada, mas neste momento é onde estamos. Não era assim que estávamos no passado. No ano anterior já houve mais vendas do que compras, neste ano equilibrámos, e vamos conseguir manter, este vai ser o plano. Isto vem sempre de duas coisas: das necessidades do plantel – são identificadas pelo treinador, pelo Presidente e pela estrutura –, mas também vem muito do mercado. Este também foi um mercado diferente. Parecia que qualquer jogador custava 20 milhões de euros à cabeça, mas, depois, nem todos custaram. As coisas que vimos nos jornais... foi um mercado um pouco aquecido. Uma das razões pelas quais nós antecipámos o do próximo ano é: vamos ter um Mundial de seleções, o que faz sempre atrasar o mercado. Neste ano, com o Mundial de Clubes, não atrasou tanto, mas também atrasou. O importante para nós era não termos preocupação, entre aspas, de ter de vender jogadores por necessidades até agosto do próximo ano. Isso está assegurado. A nossa perspetiva é não ter pressão para vender em janeiro. Reservando sempre a capacidade de, se necessário, como fizemos no ano passado, em janeiro, podermos atuar no mercado, mas não no lado do vendedor. Neste momento, a perspetiva é não ser necessário.
Como é que está a situação do naming do Estádio?
Está como estava há seis meses. Estamos a discutir com empresas internacionais, são processos que levam muito tempo. Agora também há uma ligação ao tema do Benfica District, porque, fazendo-o, revaloriza a questão do ativo. A perspetiva é fazê-lo sempre, mas, como já disse, na nossa visão, tem de ser uma marca que acrescente ao portefólio de marcas do Benfica. Não deve ser uma marca qualquer. Segundo: temos um valor pré-definido que tem de acontecer. Enquanto não acontecer, vamos trabalhar para lá chegar.
Qual é o valor?
Isso não posso dizer, senão estaria a dizer aquilo que queria dos nossos patrocinadores.
É possível baixar os preços dos bilhetes e manter uma receita alta?
Neste ano, os Red Passes aumentaram 2%. É um valor que até foi abaixo da inflação. E não estamos com uma perspetiva de aumentar os Red Passes para além deste patamar, sendo que, e vou repetir, temos uma profunda preocupação em manter bilhetes a nível acessível para muita gente. Houve agora o lançamento do Benfica Social para apoiar sócios do Clube com mais dificuldades económicas para poderem vir ao futebol. E recordo que temos Red Passes, e bastantes, em que, se fizermos a conta do valor do Red Pass pelo número de jogos a que dá acesso, estamos a falar de valores à volta dos 7 euros por jogo. É um valor bastante razoável. E vamos sempre manter uma oferta abrangente de preços, não aumentando os valores mais baixos. Ou seja, houve, de facto, um aumento substancial há duas épocas. Foi feito, até para corrigir alguns anos em que não houve aumentos, desde a altura da covid. O retomar foi com os preços de antigamente, e a inflação, entretanto, tudo aumentou.
Custos com pessoal: ficou bem evidente o peso da indemnização a Roger Schmidt. Qual é a sua análise desse processo?
Já respondi a essa pergunta no primeiro semestre. Não há nada para acrescentar. Já está resolvido, foi resolvido há seis meses. Obviamente, acho que ninguém quer repetir uma situação dessas, nem está no horizonte isso acontecer.
Está aqui a dar a cara por resultados financeiros bastante positivos da SAD, mas já houve um candidato, Luís Filipe Vieira, que manifestou grande preocupação com os resultados do Benfica. Isto é uma resposta a essa preocupação?
Não é uma resposta, porque os resultados têm esta característica de serem os resultados. Para que fique claro: a administração da SAD é imune – e tem de ser imune, e só pode ser imune – a questões que têm que ver com a eleição da Direção do principal acionista. Temos de ser imunes, e vamos ser administradores desta SAD no pleno cumprimento dos nossos deveres, obrigações e responsabilidades fiduciárias até ao último dia do mandato. É assim que eu vou trabalhar. Por isso, nunca faríamos nada para responder ao que quer que fosse, nem nessa questão em particular. Dito isto: são resultados. É um pouco como arqueologia!!! Aconteceu, posso lá ir ver!!! Os auditores foram lá ver, confirmaram que são estes os resultados. A questão de resposta não existe. Olhando para os resultados, a nossa conclusão é que os resultados foram sólidos.
O mesmo candidato manifestou preocupações com a venda de jogadores para a Turquia. O Benfica formalizou vendas de mais de 50 milhões de euros a dois clubes turcos. Preocupa-o o não pagamento desses valores?
Deixe-me responder de outra maneira: se nos preocupassem os recebimentos associados à venda desses jogadores em concreto, não teríamos feito as vendas. Fazemos uma avaliação de risco, diversificação de risco do portefólio com base na análise temporal. Temos bastante histórico com o Besiktas – em boa verdade nunca tivemos um problema com o Besiktas, em particular, só para dar o exemplo de um dos clubes com quem já tivemos mais operações no passado. Estamos a falar de um dos maiores clubes da Turquia. Temos todos os critérios de cumprimento financeiro a que eles estão obrigados na Turquia e na UEFA, não temos uma preocupação de maior por isso. Quando fazemos uma operação, fazemos uma avaliação de risco. Fazemos várias avaliações, em boa verdade, não é só essa, mas também fazemos uma avaliação de risco.
Neste mercado, houve algumas propostas sobre outros jogadores do Benfica que a SAD recusou?
Houve, no final.
Pode contar-nos quais?
Vou deixar para o Presidente, se ele quiser contar.
Eram montantes significativos?
Eram. Podíamos ter feito a maior venda deste mercado no último dia, mas já não fazia sentido. Viram como é que foi o último dia de mercado, em que toda a gente está a tentar fazer uma operação de um lado e ter de arranjar solução do outro. Nós estávamos a concluir a última operação, e estava fechado, e ficámos bem.
Quando diz que teria sido a maior venda do mercado, seria acima dos 65 milhões de euros, à cabeça, da de Gyökeres? Ou seria a maior do mercado do Benfica?
Não, do nosso mercado. Eu diria que, provavelmente, também, porque não foi negociada, mas isso já é outra questão. Provavelmente também, mas... Do nosso mercado era de certeza.
Foi no último dia?
Nos últimos dias. Estamos a falar de sondagens...
No âmbito das perspetivas futuras, em que ponto está a situação da negociação dos direitos televisivos? O Benfica ainda tem um ano para negociar, e depois há um bolo mais importante...
Não, nós temos dois anos para negociar.
Envolve verbas muito importantes.
Como eu já tinha dito antes – e estou a pensar nos nossos direitos dos dois anos a seguir ao corrente –, nós temos estado a negociar estes direitos em várias frentes. Tivemos, e temos, diferentes propostas, melhores do que a atual.
Melhores do que a atual?
Melhores que a atual, e, em particular, uma também mais inovadora. O que resolvemos foi tentar levar este tema para a frente. Deve ser também já a próxima administração a tomar essa decisão. Porque, de facto, estamos a falar de dois caminhos diferentes. E prefiro não responder muito mais, mas é assim que estamos.
As propostas não desaparecem por causa dessa espera? Não há esse risco?
Temos estado a tentar gerir esse risco, como é óbvio. Obviamente, quem faz uma oferta quer fechar o mais cedo possível.
Estamos a falar de 2026/27 e 2027/28?
Sim, dois anos.
Já têm uma opção feita e estão à espera de que a próxima administração valide essa opção, ou ainda estão a tentar encontrar aquela que é a melhor solução?
Primeiro, temos contrato até ao final da época. E aquilo que tinha ficado estabelecido é que, obviamente, não podemos entrar no último mês, ou nos últimos três meses, de contrato sem ter uma solução para a frente. Solução temos. É melhor que a anterior? É. Eu acho que deve ser a primeira decisão que a futura administração deve tomar. Deve ser das primeiras decisões. E estará cá para tomar a decisão. Agora, são propostas diferentes.
Quando diz que é melhor do que atual: melhor do que a média dos 10 anos, ou melhor do que o valor do último ano?
É melhor do que a atual, a que está a correr.
Em comparação, estamos a falar só da prestação da parte dos direitos televisivos, ou estamos a falar da parte dos direitos televisivos e do aluguer da BTV, que, julgo, eram muitos milhões que estavam nesse contrato?
Nós vemos o pacote como direitos de televisão. É o que está aqui refletido nas contas. Por isso, é melhor com todas as considerações que podemos ter sobre o efeito.
Tem havido o anúncio de renovação de contratos com alguns dos maiores clubes por parte da Adidas, e os valores são astronómicos. No caso do Benfica, até já circularam algumas notícias a dar conta de que ia entrar para o clube da elite da Adidas no próximo ano, com as camisolas com o logo retro. Agora, uma vez que acaba o contrato, em que é que ficamos?
São tudo pontos que estamos a negociar, obviamente, com a Adidas, por ser uma continuação do contrato, também de outras perspetivas. Estamos a ver isso tudo em perspetiva. Isso é uma das coisas que também temos de fechar. A outra é sensível, esta também é sensível. Temos de ver se conseguimos. Tem que ver com os timings de encomendas, com os ciclos de produção das próprias camisolas e tudo mais. Também temos de tomar uma decisão sobre isso em breve.
A lógica será melhorar a remuneração que o Benfica recebe.
Um clube que há 10 anos vendia 120/130 mil camisolas, e agora vende 370 mil…. Obviamente que o próprio contrato, a meio, também já foi melhorado. É um contrato que já tem melhorias e há uma variável sobre as camisolas vendidas, como é óbvio, essa é a maior componente. Mas estamos à espera de uma melhoria muito significativa de contrato, sim.
A nível do Estádio, a receita de Matchday é importante e aumentou. Também aumentou a lotação, e esta vai aumentar novamente. Até onde é que está previsto esse aumento, até que número? Já se fala em mais de 80 mil.
No plano do Benfica District e da avaliação que fazemos do Estádio, obviamente é possível fazer várias coisas. Estamos no processo dos 70 mil, mas o plano que temos, com o Benfica District, é de chegar até aos 80 mil lugares. A perspetiva é de crescer a receita, nesse caso é proporcional. Vamos aumentar os lugares mais baratos, como aumentámos neste ano. A maioria do aumento (dos 3 mil) foi em lugares mais baratos do que a média do Estádio. Também temos alguma expansão de zonas que hoje são Corporate e zonas de Red Passes mais caros. Ou seja, vai haver algum crescimento por efeito do volume do número de bilhetes vendidos. Onde nós achamos que é possível crescer mais o Matchday revenue não é na bilhética, nem nos Red Passes. É numa melhoria do serviço que prestamos dentro do Estádio. Estamos a falar de Food and Beverage e tudo mais. Aí, temos muitas melhorias a fazer. Ainda temos algum histórico da altura da covid, porque na altura fizemos contratos mais longos. Eu não estou a criticar, e nunca vou criticar as decisões que foram tomadas na altura, porque, provavelmente, eu teria tomado as mesmas decisões. À medida que vamos tendo mais flexibilidade, conseguiremos melhorar o serviço. Também temos elevada expectativa – e têm-se dado alguns passos mais ou menos firmes – que seja possível a venda de bebidas de baixo teor alcoólico, num prazo mais ou menos curto de tempo, no próprio Estádio. Isso também terá algum impacto na receita do futuro. Acontece em toda a Europa, porque é que não há de acontecer em Portugal?
Quando diz num prazo curto de tempo, isso poderá ser incluído já no próximo orçamento?
Pelo entendimento que a Liga faz, e que nós fazemos, já é possível. Estamos em Portugal, temos de cumprir uma série de requisitos, haveremos de conseguir, e estamos a trabalhar para que seja possível para a próxima época desportiva.
Não vai afetar este próximo exercício?
Estamos a falar de muito dinheiro. Na nossa dimensão, estamos a falar de meio milhão, até mais, na venda de bebidas alcoólicas, no acréscimo de receita. Pode ser muito relevante para nós, mas não vai acontecer tudo à cabeça, temos de adaptar a infraestrutura, como tudo. Há várias adaptações que têm de ser feitas. Só dava um exemplo em concreto daquilo que pode ser uma melhoria de serviço, mas temos muita coisa para melhorar no nosso serviço e somos os primeiros a reconhecê-lo. Temos de trabalhar com mais fornecedores, puxar mais por aí.
O que pode dizer aos sócios e adeptos sobre o tema fair play financeiro? O Benfica não corre qualquer risco de ser sancionado do ponto de vista financeiro pela UEFA?
Acabámos de ser licenciados agora. Cumprimos, nos quatro critérios principais do fair play financeiro, o essencial: ter capital próprio positivo. Temos muito capital próprio positivo, dívidas a clubes não temos. A sustentabilidade do negócio está garantida. O custo do plantel sobre a estrutura de receitas também cumprimos, e esse até cumprimos bastante confortavelmente. Estamos a cumprir todos os critérios. Sempre cumprimos. Não antevejo nenhuma razão para estar preocupado. Monitorizamos sempre a dois anos de distância, com vários cenários, sabemos sempre o que é preciso fazer. Esperamos sempre o melhor, preparamo-nos para o pior, e, felizmente, o melhor, do ponto de vista financeiro, aconteceu sempre neste ano, e tem estado a acontecer sempre sistematicamente. Não temos nenhuma preocupação, mas temos muito conforto. Nós estamos nos 180 milhões, somando o capital próprio da Benfica Estádio. As contas da FIFA são contas combinadas, Benfica SAD e Benfica Estádio. Ou seja, temos 180 milhões de capital, para começar. Partimos de um resultado muito positivo.
Qual é o prazo para atingir o objetivo de receitas de 500 milhões de euros?
Nós tínhamos estabelecido atingir 500 milhões de euros em cinco anos, em receita consolidada, sendo que já estamos nos 400 [milhões de euros]. O plano a cinco anos tem menos vendas de jogadores do que temos hoje, por isso o crescimento da base operacional vai ser superior. É esse o plano, de crescer o operacional. Foi aquilo que eu disse: nós estamos a crescer operacionalmente acima de 10% na receita.
Sobre o plano de compra de ações próprias, qual é o projeto da atual administração?
Nós cumprimos os critérios de solidez financeira necessários para ter um plano de compra de ações próprias, vemos no horizonte períodos que perspetivamos com algum excesso de liquidez que nos permite ser ativos ao nível do mercado. Achamos que a cotação atual das ações não reflete o real valor do Clube, pelo que, como forma também de remunerar os acionistas, estamos dispostos a fazer operações de mercado para comprar ações próprias, no limite daquilo que a lei permite. É um programa a 18 meses, que é o máximo possível, e até 10% do capital.
Pode a Benfica SAD ser retirada da bolsa?
Não, retirar a SAD da bolsa, estamos longe desse fator, até porque temos acionistas com relevo minoritário. Gostamos de ser uma sociedade cotada, gostamos do exercício que isso nos obriga. Em boa verdade, temos obrigações, e as obrigações são as mesmas, nisso não é materialmente diferente.
E o plano também é aumentar a participação do Clube, para depois poder encontrar um verdadeiro parceiro estratégico para a SAD?
Não vejo nada que o meu acionista principal me tenha dito que aponte nessa direção. Acho que estão confortáveis com a sua posição. O plano, como estatutariamente está definido, é continuar a manter o controlo, reforçá-lo, se possível.
As últimas ações em leilão foram vendidas a 7 euros. É um preço sobrevalorizado?
Depende da perspetiva da compra, do momento e do tipo de investidor de que estamos aqui a falar. Faz mais sentido para uns do que para outros, digamos assim. Um acionista que tem 65% de ações não tem de andar a comprar ações por valores muito superiores àquilo que… Depois olha para o mercado e vê que tem de justificar-se a si próprio porque é que está a pagar tanto, enquanto um acionista que tem 2% e que quer chegar aos 5% ou aos 10% tem de fazer um esforço maior. Aí, sim, vem a questão do custo/oportunidade. Por isso é que nós entendemos que, a nível de SAD, é prudente fazer um plano com tempo, que nos permita ir fazendo, aprendendo, vendo qual é o impacto no mercado, e ir corrigindo para não criar nenhuma distorção no mercado.
Temos visto algumas SAD a criarem empresas autónomas para gerirem, nomeadamente, a parte de entretenimento, os estádios, e, em alguns desses casos, trazerem novos investidores. Ou seja, não entra na estrutura da SAD, entra nessa empresa que é controlada pela SAD. Isso faz sentido no Benfica, no vosso plano estratégico?
Pode, em algumas operações, em alguns negócios muito concretos, fazer sentido trazer isso dentro dos limites que estão definidos até pelos próprios Estatutos. Só para dar um exemplo: vamos ter um hotel, está no Benfica District, alguém vai ter de operar o hotel, não vai ser o Benfica que vai operar o hotel. Vamos ter de arranjar um parceiro para operar o hotel. Se, depois, o hotel é uma empresa separada, se é uma renda… há um conjunto de formatos que pode fazer com que isso se torne numa realidade específica para uma operação de hotel. Ou de arena. Uma arena de 10 mil lugares é, obviamente, para ter componente desportiva, mas tem a componente de eventos. Faz sentido ter a trabalhar connosco uma empresa internacional especializada em eventos. Pode ser como operação, pode ser como dono de uma empresa que tem a arena com direito de superfície a 50 anos.
Mas no Estádio não?
No Estádio, nesta fase, não vemos a necessidade de o fazer. Isso já começa a entrar muito no core do Benfica, não encontramos vantagens específicas para fazê-lo. Preferimos trabalhar com os melhores operadores em zonas específicas do que arranjar um operador integrado para tudo, isso claramente.
Com a alteração dos Estatutos, os chumbos dos orçamentos podem levar à demissão [da Direção]. Isso pode gerar alguma ingovernabilidade do Clube? Pode ser problemático nesse aspeto?
São questões do Clube, não são da SAD diretamente, por isso não tenho, sequer, de estar preocupado. Quem pensou, propôs e apresentou a proposta de Estatutos, e quem votou, ninguém pensou em criar ingovernabilidade. Tiveram outras considerações sobre o momento, e sobre as consequências que devem ter certos resultados da Assembleia Geral. Mas isso faz parte: uma gestão gere com os instrumentos que lhe são dados pelos acionistas, é tão simples quanto isso.
E quanto ao seu balanço pessoal?
Eu entrei há um ano, sabia que o meu mandato acabava passado um ano, entrei, nas condições, vi quais eram os objetivos, sabia o que é que queria fazer no primeiro ano, o que é que fazia sentido, validei com o Conselho de Administração, e executou-se. A obrigação de uma Direção ou de uma Administração é executar com os instrumentos nos que são dados. Não somos legisladores neste caso, somos executores.
Está disponível para continuar na Administração, qualquer que seja o resultado das eleições?
Acho que essa questão não se coloca. O mandato acaba, depois tem de haver convites para continuar. As coisas têm de fazer sentido para ambas as partes. Se é um projeto do qual eu gosto? É. Se estou motivado? Estou. Quando pensei no Benfica, pensei em cinco anos, acho que dá três quartos da resposta. Não ia pensar num plano a cinco anos se estivesse numa outra situação qualquer. Obviamente que sim, mas não é uma coisa que me preocupe por aí além.
Há seis candidatos com visões diferentes. Tem a perspetiva de só funcionar aqui com Rui Costa?
Não tenho de me preocupar com isso. Aprendi na minha vida – já tenho 50 anos – que não nos devemos preocupar demasiado com isso. Fazer o nosso trabalho, na esfera do que foi definido, está delimitado. A melhor garantia de futuro é fazer o trabalho presente.