Conteúdo Exclusivo para Contas SL Benfica
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Futebol
18 setembro 2025, 15h32
José Mourinho e o Presidente Rui Costa
No Benfica Campus, antes de responder às questões da comunicação social, o técnico fez uma declaração na qual assumiu ser "o treinador de um dos maiores clubes do mundo".
"Eu tenho tantas emoções, mas acho que a experiência me ajuda a controlá-las. Quero-lhe agradecer a confiança, quero-lhe agradecer a honra que eu sinto neste momento", referiu José Mourinho, dirigindo-se ao Presidente Rui Costa, sentado ao seu lado.
"Obviamente que, sendo português, não há um único que não conheça a história, a cultura, a dimensão da nação benfiquista e deste clube, mas quero deixar uma coisa absolutamente clara: eu tenho de ser capaz de bloquear todas estas emoções e olhar para o Sport Lisboa e Benfica e para este meu trabalho, para esta minha responsabilidade, de um modo muito simplista. Eu sou o treinador de um dos maiores clubes do mundo, e quero-me fechar nisto, quero-me fechar nesta missão, quero-me centrar, não diria na dificuldade, diria no prazer, sob o ponto de vista daquilo que é o trabalho de um treinador, de me focar em algo que é verdadeiramente apaixonante", sublinhou.
"São 25 anos, mas não venho para celebrar carreira. São 25 anos em que eu tive a oportunidade de trabalhar nos maiores clubes do mundo. E, para finalizar esta minha intervenção, queria-lhe dizer a si, como representante dos milhões de Benfiquistas neste mundo, que nenhum dos outros gigantes clubes que tive a oportunidade de treinar me fez sentir mais honrado, mais responsabilizado, mais motivado do que ser o treinador do Benfica", vincou, voltando-se mais uma vez para o Presidente.
"Palavras, o vento, às vezes, leva-as. As atitudes, não. E a promessa é muito clara: vou viver para o Benfica, vou viver para a minha missão. Saí de casa e disse 'até domingo' [sorrisos]. Significa que, até domingo, daqui não vou sair. E acho que é de facto uma honra tremenda, que a minha experiência me ajuda a controlar as emoções. E agradecia-lhes que fizéssemos isto curto, porque daqui a 48 horas temos jogo, e acho que, para a nação benfiquista, não há nada mais importante do que o jogo que nós temos daqui a mais ou menos 48 horas", reforçou José Mourinho.
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
O Presidente Rui Costa, e há pouco também, mencionou o que disse na conferência de imprensa, que o próximo treinador do Benfica tinha de ter um perfil ganhador. Todos sabemos o seu currículo. Nesse sentido, como é que vai pôr o Benfica a ganhar?
Na cabeça de algumas pessoas, tenho dois currículos. Tenho um currículo que durou um certo período de tempo e tenho outro currículo que, na cabeça de muita gente, ou de algumas pessoas, é, digamos, uma fase menos feliz da minha carreira. A minha infelicidade é que, nos últimos cinco anos, joguei duas finais europeias. É a parte negativa da minha carreira, a dramática fase da minha carreira – nos últimos cinco anos, joguei duas finais europeias. Mas eu não sou importante. Venho para o Benfica numa fase da minha carreira, onde... Não só da minha carreira, mas também como pessoa... Acho que nos transformamos para melhor. Sou mais altruísta, sou menos egocêntrico, penso menos em mim, penso mais no bem que posso fazer aos outros, na alegria que posso dar aos outros. Eu não sou importante. O Benfica é importante, os adeptos do Benfica são importantes – são o coração de qualquer clube, e no Benfica de uma maneira ainda muito mais especial. Os jogadores são importantes, e estou aqui para servir, fazer o Benfica ganhar. O DNA do Benfica é ganhar, mas também penso que o DNA do Benfica é perder nos limites. Revejo-me muito na cultura, revejo-me muito no perfil, revejo-me muito naquilo que é verdadeiramente o povo que ama o futebol. O povo que ama o futebol quer ganhar, mas quer-se sentir também parte do esforço, parte da mentalidade, parte do sacrifício. Nós somos privilegiados (treinadores, jogadores) a diversos níveis, mas, no fundo, durante 90 minutos, representamos toda aquela gente, e é com este sentimento que sempre entrei em campo. Tenho um respeito enorme pela minha profissão, tenho um respeito enorme pelos adeptos do meu clube, e, neste momento, os adeptos do meu clube são todos aqueles que – de uma maneira que até me fizeram sentir quase inconfortável –, ontem e hoje, quando eu era – infelizmente, mas é hoje assim – acompanhado por algumas motas com televisões, em que as pessoas percebiam onde é que eu estava, o benfiquismo saltava a estrada. Isso, para um como eu, que ia ali tranquilamente, arrepia, faz pele de galinha. Não é que 25 anos de futebol ao mais alto nível me transformaram numa pessoa imune a tudo isto. O que vou fazer para ganhar é exatamente começar por aí. Acho que, honestamente, queremos ganhar sempre. Não vamos ganhar sempre. Não podemos perder como perdemos há dois dias. Não é Benfica. Benfica é quem jogou contra o Fenerbahçe durante 30 minutos, Benfica é quem esteve em Istambul em dificuldade a jogar com um jogador a menos e conseguiu levar a nau a bom porto e conseguiu tirar um resultado positivo. Isso é o Benfica em que me revejo, é o Benfica com o qual cresci. Ganha muitas vezes. Quando não ganha, perde de maneira que as pessoas sentem "nós perdemos com eles", e acho que muito parte disso parte em unir sob o ponto de vista emocional. Tenho jogo daqui a 48 horas, vou encontrar uma equipa agora em que metade dos jogadores estão no segundo dia de recuperação, amanhã [sexta-feira] serão 24 horas antes do jogo. Tenho de meter o meu dedo, mas tenho de meter o meu dedo muito ao de leve. Não posso mudar, não posso radicalizar, não posso meter os dedos todos e querer mudar tudo ao mesmo tempo. Tem de ser com calma, e acho que aquilo por onde se tem de começar é exatamente por este perfil ao nível emocional. Temos de entrar em campo a saber que não somos só onze, temos de entrar em campo a saber que somos muitos milhões, e a pensar neles. Acho que parte muito por aí, porque, do ponto de vista tático, vou meter o dedinho, mas vou meter o dedinho muito controlado, porque não quero desvirtuar uma essência, nem sou capaz de mudar muita coisa. E dizer, com toda a honestidade e com todo o respeito pelo trabalho que foi feito pelo meu antecessor, que muita coisa foi bem-feita.
Antes de mais, acho que o futebol português tem de dizer "obrigado" por aqui estar. Este é um momento, obviamente, também importante para o futebol português. Falando ainda de sentimento, houve sempre uma angústia por ter saído do Benfica da forma como saiu [em 2000], de ter conseguido meter uma equipa que não era nada a jogar futebol e a ganhar? É um momento especial e de sentimento também por isso?
Tento, honestamente, bloquear esses sentimentos, e acho que é importante que eu o consiga fazer. Como eu dizia anteriormente, são duas fases completamente diferentes, não só da minha carreira, mas, principalmente, da minha vida como homem. São dois momentos completamente diferentes. É o início de uma carreira, e hoje estou num momento que eu diria de grande maturidade, em que, objetivamente, digo, se alguém está à espera que eu acabe a minha carreira daqui a 4 ou 5 anos, vai-se enganar. Vou ser eu quem vai decidir quando é que vou acabar, e vou acabar quando eu sentir que não tenho a mesma paixão que tenho hoje. O Presidente sabe que é verdade. Eu queria vir ontem à noite [quarta-feira, 17 de setembro], eu queria estar aqui ontem à noite, queria estar aqui a trabalhar, queria estar reunido com os analistas, com os assistentes. Só foi possível vir hoje por volta do meio-dia. Portanto, para dizer que só vou acabar quando sentir que alguma coisa mudou, e hoje eu estou a sentir que aquilo que mudou é que eu tenho mais "fome" – com todo o respeito pela essência da palavra – do que tinha há 25 anos. Numa fase completamente diferente, do ponto de vista humano, se calhar hoje as coisas não teriam sido como foram há 25 anos. Como ele dizia, eu hoje penso muito mais nos outros: quando digo os outros, digo em quem ama o Clube, os jogadores e quem dirige o Clube. Há uma série de coisas em que eu venho muito depois: sou o último, sou o último da fila, estou aqui para servir. E aquele momento é um momento completamente diferente, até ao nível de imaturidade, que leva a tomar determinado tipo de decisões. Portanto, é como eu dizia, estou superfeliz por estar aqui. Sinto uma enorme responsabilidade, mas sinto-me mais vivo do que nunca. É pena que o jogo seja já daqui a dois dias, mas, ao mesmo tempo, é bom. É pena porque não tenho tempo para trabalhar muito, mas, ao mesmo tempo, é bom, porque eu estou desejoso que isso aconteça. Tenho paixão por isto. E isto é muita coisa, é muita coisa junta quando eu digo isto. Quero muito, quero muito. E, seguramente, vocês têm alguma pergunta mais difícil escondida, sobre, por exemplo, se eu sinto que são todos os Benfiquistas que estão felizes por eu estar aqui. Se essa pergunta chegasse, eu antecipo já. Eu acho que não, eu acho que não. Quem é que é magnânimo? Quem é que detém esse poder de ter toda a gente do seu lado, toda a gente a seu favor, toda a gente contente, toda a gente que admira? Eu acho que ninguém. Portanto, de modo algum eu me sinto dessa maneira. Agora, sinto-me com essa responsabilidade e com essa motivação de conseguir fazer coisas boas. E fazer coisas boas aqui, nós sabemos aquilo que é: fazer coisas no Benfica, principalmente a nível nacional, é ganhar títulos.
Há pouco disse que já treinou os melhores clubes do mundo. Porque é que diz que este é o principal desafio e o que mais o responsabiliza? É também por estar aqui ligado ao facto de termos eleições daqui a 40 dias, isso também mexe um bocadinho consigo? E já agora a questão do contrato, o facto de ter assinado até 2027, mas haver aquela opção de não continuidade depois da próxima temporada, se nos podia explicar essa situação.
Eu acho que o contrato é um contrato com uma grande ética por detrás. Eu só o assinei, não fui eu que o elaborei, foi obviamente elaborado pela Direção do Benfica, pelo Presidente e pelos meus representantes. Obviamente que só assino aquilo que me agrada, aquilo com o qual concordo, mas acho que tem um conceito ético tremendo. Acho que tem da parte do Clube um respeito enorme por as eleições, acho que tem um respeito enorme pelos outros ilustres consócios que vão concorrer à presidência do Clube, e acho que isso é de louvar. A mim, sinceramente, sensibilizou-me o contrato ser direcionado a essa ética. Obviamente que no dia seguinte às eleições eu serei o treinador do Benfica, mas a presença deste lado ético no contrato dá uma ampla liberdade ou uma facilidade que em condições normais não existiria… O contrato está feito de um modo muito ético, o que me deixa também satisfeito, porque obviamente eu quero trabalhar no Benfica, mas quero que as pessoas confiem em mim, quero que as pessoas estejam no mesmo barco, digamos assim, do que eu, porque acho que é fundamental que isso aconteça. Se você me perguntar qual é o meu desejo, o meu desejo é cumprir os dois anos do contrato que eu tenho com o Benfica, cumpri-los com êxito, que o êxito permita que o Clube depois, ou antes, do final do contrato, queira renovar comigo, porque o meu objetivo é ser bem-sucedido, e, como eu já disse anteriormente, no Benfica, principalmente a nível nacional, ter êxito é ganhar competições.
Já sabemos que não é uma celebração de carreira, já sabemos que muita coisa mudou, mas o que queria perceber é o que é que ainda há de há 25 anos no José Mourinho de hoje, nessa vontade. Que vontade é essa do homem que hoje, aos 62 anos, está sentado nessa cadeira e que volta a Portugal para treinar o Benfica?
Aquilo que não mudou em absoluto é que estou doido para ganhar o próximo jogo. Há 25 anos, estava doido para ganhar o jogo; há 20 anos, estava doido para ganhar o jogo; há 10 anos, estava doido; há 5 meses, estava doido; quando joguei contra o Benfica, há um mês, estava doido para ganhar ao Benfica, e agora estou doido para ganhar ao Desportivo das Aves [AFS]. Esse sou eu, essa é a minha essência. Aquilo que está diferente... obviamente que há muito mais maturidade, que praticamente tudo no futebol passa a ser déjà-vu. É muito difícil que aconteça alguma coisa com a qual eu não me tivesse deparado já na minha carreira. Agora, venho para um clube que tem uma estrutura humana e profissional de altíssimo nível. As pessoas que trago comigo são ótimas e são a minha gente no primeiro dia. No segundo dia, já não são a minha gente. No segundo dia, a minha gente são todos os outros, mas trabalhar num clube evoluído ao nível técnico e humano como é o Benfica também é obviamente fantástico para mim.
Olhando aqui um bocadinho mais para o campo: quando puder meter os dedos todos, vai ser o José Mourinho que nós conhecíamos de antigamente, com uma linha de 4, que foi aquilo que vimos até certa altura, ou linhas de 3 centrais, como vimos nos últimos anos? Daquilo que já conhece do plantel – e deve conhecer bem porque já defrontou 3 vezes o Benfica: já pensou nisso? Ou, para já, não quer mexer muito, e depois logo se vê? Ou tem uma ideia clara de como vai jogar?
No meu anterior clube as coisas são muito fáceis: eu queria jogar a 4, mas o clube contratou 5 jogadores no dia a seguir a eu ter saído. Enquanto lá estive era completamente impossível jogar a 4, quando a equipa tinha 7 centrais e tinha só um ala. Portanto, adapto-me muito àquilo que existe. Quando tens a possibilidade de participar em mercados, podes... Obviamente, com a estrutura do clube – e cada vez mais os clubes têm estruturas profissionalizadas, nas quais os treinadores têm de se apoiar muito. Para não dizer depender, eu prefiro dizer apoiar-se muito. Quando não é o caso, como treinador, tens de te adaptar e não fazer prevalecer uma ideia tua que não está adaptada àquilo que existe. Eu elogiei o plantel do Benfica e voltarei a fazê-lo. Se me perguntar, [se] tentei jogar um bocadinho com as palavras, [se] tentei jogar um bocadinho com as emoções, [se] tentei retirar um bocadinho de pressão à minha equipa num momento e pôr um bocadinho sobre o Benfica, sim, obviamente, sim. Mas não retiro nenhuma palavra àquilo que eu disse na altura, que achei que o Benfica tinha feito um ótimo trabalho no mercado, tinha dotado a equipa de potencial, que se calhar não tinha na época passada, e que era uma equipa da qual eu gostei muito. Como eu dizia ontem, quando fui perseguido à minha chegada a Lisboa, eu não sou, propriamente – estou melhor, estou melhor –, um grande exemplo de fair play. Quando perco, mordo os dedos. Não foi com grande facilidade que me saíram os parabéns ao Benfica, os parabéns ao Bruno [Lage], os parabéns à equipa. O Benfica mereceu tudo isso. Portanto, eu reconheço tudo aquilo que aconteceu naqueles dois jogos que fizemos no play-off. O Benfica tem bom plantel, o Benfica tem bons jogadores, o Benfica tinha um bom treinador, mas a nossa vida é assim. Nós, como treinadores, acontece-nos muito, e aproveito a oportunidade para repetir também aquilo que eu disse ontem: é um luto que nós, treinadores, precisamos de fazer, nós próprios, quando o nosso trabalho é interrompido. Seguramente o Bruno [Lage], neste momento, sofre, como eu também sofria há um mês, mas a nossa vida é assim mesmo, e desejo ao Bruno [Lage] as maiores felicidades.
Quando chegou ao FC Porto, em 2002, prometeu que seria campeão. Hoje, pode prometer o mesmo aos Benfiquistas? Num clima de eleições e também de alguma instabilidade no Benfica devido aos últimos resultados, e tendo em conta que José Mourinho não tem apanhado propriamente contextos fáceis nos últimos clubes que representou, acha que pode ser feliz no Benfica? Acha que este é um bom contexto para si?
Relativamente àquilo que eu prometi há 20 ou 20 e tal anos, vem um bocadinho de encontro àquilo que eu disse anteriormente. As promessas valem o que valem. Eu na altura prometi e cumpri, podia ter prometido e não cumprido. São fases de um homem de 60 anos ou de um homem de 40. Eu neste momento não prometo. Aquilo que eu prometo é que penso, e penso verdadeiramente, que o Benfica tem todas as condições para ganhar o Campeonato. Tem 2 pontos perdidos. Seguramente iremos perder mais ao longo do Campeonato, espero que não muitos. Mas partimos praticamente da estaca zero. E o Benfica tem potencial suficiente dentro daquele balneário para ser campeão. E eu não me escondo. Podia estar aqui a dizer "talvez sim, talvez não"… Promessa, não, mas a convicção de que podemos e devemos, eu não me escondo. O contexto ideal para mim é voltar a treinar uma das melhores equipas do mundo. Para treinar um dos maiores clubes do mundo. A minha carreira foi rica até agora. Treinei os maiores clubes do mundo em diferentes países. Tive uma opção errada. Não sei qual é a palavra em português que às vezes me falta, mas no regrets. Porque regrets na vida não nos ajudam a nada. Mas a consciência daquilo que fizemos bem e daquilo que fizemos mal existe. Fiz mal em ir para Fenerbahçe. Não era o meu nível cultural. Não era o meu nível enquanto futebol. Não era o meu nível. Obviamente que dei tudo até ao último dia. Obviamente que também tive de fazer o meu luto como o Bruno [Lage] seguramente está a fazer agora, porque ninguém gosta de sair. Mas treinar o Benfica é regressar ao meu nível. E o meu nível é treinar os maiores clubes do mundo.
Disse que iria tentar bloquear os sentimentos iniciais de novamente representar um clube como o Benfica. Como é que vai bloquear então o ruído que vem de fora, numa altura em que estamos em período de campanha eleitoral, mas também num período em que o calendário é exigente? Há jogos de 3 em 3 dias, Campeonato e Liga dos Campeões. Se pudesse dizer umas palavras ao José Mourinho de há 25 anos, o que é que lhe diria? E como é que esse José Mourinho reagia ao saber que iria voltar 25 anos depois ao Sport Lisboa e Benfica?
Ao José Mourinho de há 25 anos, eu diria "fizeste tudo bem". Da maneira como a minha carreira se tem processado, acho que fiz tudo bem. Obviamente que não, fiz muita borrada e tomei muitas decisões erradas, mas as coisas correram-me bem. Relativamente ao ruído mediático, sou muito forte em não sentir ruído mediático, porque me protejo muito. Não sou um maníaco daquilo que dizem sobre mim, não sou um maníaco daquilo que dizem sobre a minha equipa. Tento passar ao lado, não desrespeitando, obviamente, o trabalho dos media, mas é uma proteção minha, de não ter nem tempo, nem condições para estar preocupado com coisas que são exteriores àquilo que posso controlar. Aquele que de vós me elogiar tremendamente não vai mudar a minha vida, aquele que de vós me criticar profundamente também não vai mudar a minha vida. Talvez pelo facto de treinar sempre clubes muito importantes e com muita força mediática, habituei-me a bloquear e a passar um bocadinho ao lado. Acabei de falar com os nossos responsáveis pela comunicação social. Eles podem perfeitamente dizer que uma das coisas que lhes pedi foi que só quero saber as coisas fundamentais. Não preciso de briefings diários, não preciso de saber grandes detalhes. Preciso só de saber pontos-chave em dias-chave. Esta é a minha maneira de ser e de estar.
Há pouco disse que não é consensual, e, de facto, é difícil ser uma pessoa consensual, qualquer treinador que ande por um clube. Mas José Mourinho, se calhar, há uns anos era consensual, quando ganhou os títulos no Chelsea e no FC Porto. Dá a ideia – com base em opiniões que muitas vezes vão circulando – de que José Mourinho se tornou num treinador mais defensivo. Para convencer esses adeptos que não concordam com a sua escolha para treinador do Benfica, promete um futebol atrativo e ofensivo? Esteve no Dragão há uma semana, vai voltar lá no dia 5 de outubro para o clássico. De que receção é que está à espera?
Estou à espera de uma receção diferente. A receção que tiveram para comigo acho que é normal, porque sou um treinador histórico no clube e as pessoas reconhecem. Não ia ao Estádio do Dragão há, sensivelmente, 20 anos, e, ter regressado lá, acho que a receção acaba por ser normal. Regressar como treinador do grande rival, sabendo eles que o meu objetivo não é desfrutar de uma visita, é tentar ganhar um jogo, obviamente, estou à espera de uma receção diferente. Mas o respeito que eu tenho para com eles e o respeito que eles têm para comigo, acho que não vai mudar. Volto como treinador do grande rival. Não há muita história, não há muita volta a dar, mas não tenho qualquer tipo de problema. Em relação à primeira pergunta? Com bola temos de atacar com onze e manter alguns equilíbrios, e sem bola temos de defender com onze. E morder muito, porque o Benfica, na minha opinião, nos últimos jogos mordeu pouco.
Gostava de saber qual é a sua opinião relativamente a este regresso à Luz, depois de tudo o que se passou na sua primeira passagem, em que até de alguma forma o sucessor de Vale e Azevedo teve um discurso um pouco deselegante para consigo na época. Se de alguma forma este sentimento de regresso num período pré-eleitoral mexe um bocadinho consigo, de que algo parecido possa acontecer nestas eleições?
Não, não, de todo. De todo. Não penso nisso, de todo. Penso na missão, na responsabilidade da missão, em servir. E quando tu pensas em servir, tu dás mais do que aquilo que recebes, e preocupas-te sempre em dar e não em receber. E eu estou nesse momento. Não penso que tenha uma dívida com o Benfica pelo facto de me ter dado a oportunidade de ser treinador do Benfica há 25 anos. Não penso que tenha uma dívida, porque senão podia pensar o oposto, também foi interrompido um trabalho que me dava uma ilusão, uma ilusão tremenda. Não penso nada. É como eu digo, é um bloqueio, e é fácil bloquear qualquer coisa que aconteceu há 25 anos. Estou extremamente focado numa missão, e, neste momento, sabe qual é a minha única preocupação? A minha única preocupação é que preciso ir treinar e o tempo está a passar.
18 setembro 2025
Apresentação de José Mourinho