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Futebol
27 setembro 2025, 14h30
José Mourinho
Marcante no discurso e nas abordagens que efetua, José Mourinho destacou a "felicidade" dos últimos anos nas competições europeias, ele que disputou duas finais europeias ao serviço da Roma – Liga Europa, em 2022/23, e Conference League, em 2021/22 –, reconhecendo que a Liga dos Campeões é "a competição máxima", prova que já venceu em duas ocasiões (2003/04 e 2009/10).
"Estes anos em que eu não estive na Champions League não foram maus. Não foram maus porque joguei as finais da Europa League e da Conference League, o que significa que eu posso dizer na prática que, mesmo sem a Champions League, eu fui feliz nas competições europeias. Obviamente que a Champions League é a competição máxima, é a competição dos clubes mais importantes da Europa. E para mim, obviamente, tem um significado importante, porque, se ganhar uma é um sonho para todos nós, ganhar duas é ainda melhor", disse.
Agora, de águia ao peito, José Mourinho encara no Benfica o "desafio" que procurava, sublinhando estar envolto em "responsabilidade gigante e expectativas gigantes".
NOVO FORMATO DA CHAMPIONS LEAGUE
"As coisas novas necessitam sempre de algum tempo para aprovação ou para a negação de que é uma mudança para positivo. Eu ainda estou num momento de estudo, ainda estou num momento que não me permite dizer que gostava mais do primeiro formato ou que gosto mais deste. É diferente. No ano passado joguei este formato na Europa League, e eu prefiro dizer que é inovador. E, ao mesmo tempo, aquilo que é inovador é também um bocadinho estranho, no sentido de: joga-se só um jogo contra uma equipa; ao jogar só um jogo, há aquela frustração de: só jogo fora, gostava de jogar em casa; ou se jogo em casa, gostava de jogar fora. Ou não é justo que, numa classificação entre tantas equipas, eu esteja nesta classificação, mas não joguei contra uma equipa que está à minha frente. É um bocadinho estranho. Mas é engraçado porque também te permite jogar contra adversários, neste caso, oito adversários diferentes, logo numa fase inicial. Temos de nos adaptar. Aquela coisa de quantos pontos são necessários para atingir determinado tipo de objetivo também não é uma coisa muito evidente, muito fixa, não há um target. Não há verdadeiramente um target que se possa dizer: OK, eu faço 10 pontos e estou qualificado nos primeiros 8 ou nos segundos 8. É difícil. Acho que é uma competição que se tem de desfrutar, tem de se jogar jogo a jogo, e depois, no fim, logo se vê."
REGRESSO AO BENFICA
"Estar de volta ao Benfica é estar de volta a um clube gigante. Eu tive a sorte na minha carreira de passar por muitos gigantes – Real Madrid, o Inter, o Manchester United, o Chelsea. Passei por uma série de gigantes, e é regressar a um gigante não só a nível social, mas também a nível histórico. O Benfica é gigante. E, nesse sentido, clube gigante, responsabilidade gigante, expectativas gigantes, é tudo gigante, mas é o tipo de desafio de que eu preciso. A minha vida tem sido praticamente sempre nesta dinâmica, e fundamentalmente é isso, é a possibilidade de trabalhar novamente num clube, como eu gosto de chamar, gigante."
JOGO CONTRA O CHELSEA
"Já me aconteceu muitas vezes, inclusive quando saí do FC Porto, o meu primeiro jogo europeu com o Chelsea foi Chelsea contra FC Porto. Com o Inter joguei uma infinidade de vezes contra o Barcelona – eu também já tinha estado no Barcelona, é uma coisa que me acontece. Com o Fenerbahçe eu joguei contra o Manchester United, joguei contra o Benfica, é uma coisa que me acontece. Eu considero que tenho a capacidade de, durante 90 minutos, esquecer completamente onde estou, com quem estou a jogar, em que cidade é que estou, este estádio foi meu... Durante 90 minutos, eu consigo ter essa capacidade. Agora, confesso que aquilo que antecede é um bocadinho diferente, e quando o jogo acaba, principalmente quando tens ainda nesse clube, nesse estádio, quando tens ainda gente do teu tempo – às vezes já nem são jogadores porque as gerações mudam, mas os funcionários, as pessoas com quem tu estavas habituado a viver o dia a dia –, obviamente que o feeling humano é diferente. Ir agora fazer Chelsea-Benfica não é seguramente a mesma coisa que fazer Arsenal-Benfica, são coisas completamente diferentes nesse aspeto."
O MESMO FEELING DE SEMPRE
"Eu acho que é a nossa natureza, e acho que é a capacidade de perceber se algum dia nós mudamos. Porque se um dia eu sentir menos prazer a levantar-me cedo para vir trabalhar, se um dia eu sentir menos alegria por ganhar um jogo, se um dia eu sentir menos tristeza por perder um jogo, se alguma coisa mudar, é uma luz vermelha que se acende. Enquanto essa luz não acontece, eu acho que é a nossa natureza. Se calhar, é por termos essa natureza que já ganhámos tanto no passado, e acho que é com essa natureza que nós vamos iguais até ao fim. Eu recordo, por exemplo, um jogo da Champions, Manchester United-Real Madrid – eu estava no Real Madrid, e o sir Alex estava no Manchester United –, onde eu estive no escritório dele antes do jogo, e eu faço-lhe a pergunta: 'Sir Alex, isto muda com o tempo? No sentido de, antes de um jogo dessa dimensão, a tensão, a adrenalina a chegar. E ele disse-me: 'Não, não muda, é igual até ao fim.' Isto deve ter sido em 2012, 2013, já passaram mais de 10 anos, e o meu feeling não muda, ou seja, não há red lights, continuo igual a mim próprio."
TREINADOR JOSÉ MOURINHO – RETROSPETIVA DE 25 ANOS
"Eu acho que como treinador sou melhor hoje do que antes. Acho que qualquer treinador que tenha sentido crítico, que pense muito, que analise muito sobre as experiências que vive... Acho que um treinador é melhor com o acumular das experiências. A sensação do déjà-vu é uma coisa marcante, é uma coisa que te prepara para aquilo que aparece e que é déjà-vu, que tu já estiveste numa situação igual ou numa situação parecida. Eu sinto-me mais forte, sinto-me um treinador muito melhor do que antes. Como pessoa, o DNA é igual, nasces e morres com o mesmo. Acho que um treinador nasce e morre com o mesmo DNA, não tem hipótese a dar. Mas como pessoa há diferenças. A diferença fundamental que eu reconheço em mim próprio é que, se calhar, no início eu pensava mais em mim, e transformei-me de uma maneira em que, não sei, sinto-me mais altruísta, sinto-me que estou no futebol mais para ajudar os outros do que para me ajudar a mim próprio. Estou mais para ajudar os meus jogadores do que para pensar naquilo que vai acontecer comigo daqui a um ano, daqui a dois ou três. Estou mais a pensar no clube, estou mais a pensar na alegria dos adeptos do que propriamente em mim. E acho que também é um câmbio natural que não me desvirtua como treinador, mas como pessoa dá-me um lado... que eu gosto de viver com esse lado diferente. Eu continuo igual, só que uma coisa é ires à procura, é ires deliberadamente à procura desse conflito, e outra coisa é: o conflito aparece à tua frente, ou o conflito vem ter contigo. Se o conflito aparecer à minha frente, eu bato-me lá com ele. Se o conflito vier de encontro a mim, faz clash. Agora eu ir à procura do conflito, confesso que a estabilidade emocional nos ajuda a ter outro tipo de perfil."
MEMÓRIA MARCANTE
"Eu diria que foi o primeiro troféu que eu ganhei. O primeiro campeonato que ganhei. Acho que, como muitas coisas na vida, a primeira vez tem um significado diferente. Que depois é uma responsabilidade, porque, quando se faz alguma coisa de importante, o focus está, e espera-se sempre mais do mesmo. Mas eu penso que, mais do que a dimensão dessa primeira competição – que não foi nem a Champions, nem a Europa, foi simplesmente o Campeonato em Portugal –, a primeira vez que tu sentes 'ganhei' é forte."
UMA PARTE DO TODO
"Eu nunca me senti génio. Eu nunca me senti... Provocador, talvez um pouco, mas diabo, nunca. Mas génio nunca me senti. Senti sempre que tenho, obviamente, capacidades naturais, e que fui adquirindo, para ser um bom treinador, como os grandes jogadores seguramente sentem. Há jogos na minha carreira em que eu senti 'ganhei'. Fui eu que ganhei. Este jogo fui eu que ganhei. Sinto. Às vezes, sinto. Porque às vezes tens cliques, tens decisões, tens estratégias, às vezes antes do jogo, mas outras durante o jogo. Aquelas que principalmente são durante o jogo, e que mudam completamente o cariz do jogo, fazem-me sentir 'esta é minha, esta parte de mim'. Mas nunca me senti génio. Senti-me sempre parte de um grupo, senti sempre que os jogadores eram mais importantes do que eu, senti sempre que estava ali para os ajudar, e não eu para ser o centro e o núcleo da situação. Isso nunca senti."
A PERCEÇÃO DOS OUTROS
"É uma coisa que eu não posso controlar. Ainda há pouco tempo diziam que eu, nestes últimos anos da minha carreira, não tinha ganho tantos títulos como tinha ganho no passado. OK, é verdade, mas quantos treinadores na Europa é que fizeram 2 finais europeias nos últimos 5 anos? É que não é nos últimos 25, é nos últimos 5. Nos últimos 5, eu fiz 2 finais europeias. Quem é que fez 2 finais europeias? Não são muitos, devem ser 2 ou 3 treinadores que o fizeram. Portanto, às vezes as pessoas medem-me por coisas que eu consegui e não pela realidade do momento. Mas é problema das pessoas, não é problema meu."
VENCEDOR, SEMPRE VENCEDOR
"[Setbacks ajudaram no percurso?] Eu verdadeiramente não considero setback, porque... eu saio do Chelsea depois de ter ganho a 3.ª Premier League, depois de ter ganho a 4.ª League Cup, e saio. Saio do Manchester United depois de ter ganho a Europa League, depois de ter ganho a Taça de Inglaterra, depois de ter ficado em 2.º lugar no Campeonato, depois de ter ganho a Supertaça. Eu saio do Tottenham depois de levar o Tottenham a uma final de Taça. Eu saio da Roma depois de ter ganho a Europa Conference League e depois de ter levado a Roma a uma 2.ª final consecutiva, neste caso na Europa League. O único clube de onde saí com o sentimento de 'aqui não foi feita história' foi agora recentemente no Fenerbahçe, mas é uma realidade que está um bocadinho desfasada daquilo a que nós estamos habituados. Eu não sinto como setback."
"MUSEU É HISTÓRIA" – FORA DO DIA A DIA
"O sucesso? Tenho lá uma sala em casa onde guardo as réplicas e algumas medalhas e algumas camisolas, e é museu. Eu digo sempre 'museu é história'. A história é intocável, mas não faz parte do meu quotidiano, não faz parte do meu dia a dia, não faz parte do meu presente, não faz parte do meu futuro, completamente. Aquilo que eu sou hoje é aquilo que eu sou hoje, e não aquilo que eu fiz no passado. Eu sou julgado por aquilo que faço hoje, a minha motivação é aquilo que eu faço e aquilo que eu quero fazer, não é aquilo que eu fiz. Eu não tenho muito tempo de refletir, nem quero refletir. Talvez um dia tenha tempo para o fazer, agora não tenho tempo, nem faz parte da minha mentalidade. Eu digo sempre 'podem roubar-me tudo, mas a história que eu fiz ninguém ma poderá roubar'. Mas já está. Quando tu estás no ativo, quando tu trabalhas, quando tu tens ambições, aquilo que foi feito não conta. Eu não acredito que os grandes jogadores que ainda jogam, ou até ao final da carreira deles, pensem muito naquilo que eram, naquilo que tinham feito. Depois de deixarem de jogar, aí, sim. Depois de deixarem de jogar é que eu acredito que eles têm tempo para perceber aquilo que fizeram."
GESTÃO DOS MOMENTOS E DOS EQUILÍBRIOS
"Nós às vezes não não desfrutamos tanto daquilo que conseguimos quanto deveríamos, mas depois continuamos a sofrer tanto com os setbacks, com as coisas que não se faz... No outro dia, mesmo em conversa com o meu staff, eu dizia temos de começar... não de um modo louco, como é óbvio, mas temos de desfrutar um pouco mais das coisas boas, porque depois, quando as coisas más acontecem, não há maneira de escapar. Agarram-nos, o insucesso agarra-nos e não nos deixa fugir. Somos obrigados a dormir mal depois do jogo que perdemos, somos obrigados a acordar mal no dia seguinte, somos obrigados a querer estar isolados e a não contactar com as pessoas. Disso, nós não conseguimos fugir. Se não conseguimos fugir disso, quando as coisas correm bem, temos de desfrutar um bocadinho mais, isso, sim. A vida de jogador e de treinador é a melhor vida do mundo até ao jogo. Depois, o jogo é, digamos, o êxtase. E depois do jogo vem a alegria da vitória, a frustração da derrota. Normalmente, a alegria da vitória nós não conseguimos... ou pensamos logo no jogo seguinte, e não temos tempo de desfrutar verdadeiramente de. Mas no momento da derrota, ela não foge de nós, ficamos com ela durante algum tempo."