Futebol

01 outubro 2025, 02h21

Chelsea-Benfica

José Mourinho

PÓS-JOGO

Olhos nos olhos: foi assim que José Mourinho viu a exibição do Benfica frente ao Chelsea (1-0), em jogo da 2.ª jornada da fase de liga da Liga dos Campeões, disputado nesta terça-feira, 30 de setembro, em Stamford Bridge.

O treinador do Benfica, lembrando que "uma derrota é uma derrota" e assumindo-se como "resultadista", deixou elogios ao desempenho dos seus atletas ainda antes da conferência de imprensa, em declarações à Sport TV.

"Uma derrota é sempre uma derrota. Por muito bem que se jogue e por muito imerecida que seja, uma derrota é uma derrota. E isso é uma verdade que eu não quero esconder dos meus jogadores. Inclusive já falámos sobre isso. Mas há perder e perder. Há perder e ter vergonha de sair de casa no dia seguinte. E há perder e ter a sensação de que se fizeram muitas coisas bem. Que se teve atitude, que se teve coragem. Que se jogou olhos nos olhos contra uma boa equipa. Que se perdeu, mas que se podia perfeitamente ter conseguido um resultado diferente. E, com tão pouco tempo para treinar, termos coisas a que nos agarrarmos. Acho que este é o nosso jogo mais conseguido. Equipa muito estável, muito organizada. Sem problemas do ponto de vista tático. Sem problemas defensivos. E um guarda-redes que não foi o melhor jogador em campo. Podíamos ter feito golo, temos de fazer", atirou.

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José Mourinho notou "algum crescimento tático e mental" da equipa. "Também já nos apresentámos bastante melhor, porque também tivemos 3 dias entre jogos, agora vamos ter 4, o que nos dá, eu penso, a possibilidade de chegar [ao clássico], se não fresco, fresco, bastante melhor", sublinhou.

Porém, a recuperação dos níveis de confiança da equipa e dos adeptos "só acontece verdadeiramente com bons resultados". "É uma derrota, não deixa de ser uma derrota, mas depois de perder com o Qarabag, de certeza que não quiseram [os jogadores] sair de casa no dia seguinte, e amanhã, se quiserem ir jantar à Avenida da Liberdade, acho que nenhum Benfiquista os vai insultar. Portanto, acho que esta mudança de atitude em campo, não só a atitude na maneira como enfrentam o jogo, mas também a atitude no sentido de lutar muito, acho que é positivo", anotou.

Quanto ao jogo com o FC Porto, na 8.ª jornada da Liga Betclic, José Mourinho referiu: "É uma excelente base [o jogo realizado], o FC Porto é uma ótima equipa, está num momento fantástico, ganha tudo, marca golos, não sofre golos, tudo lhes corre bem, seguramente com muito mérito também, mas acho que quem chega aqui a Stamford Bridge e joga desta maneira tem obviamente de estar preocupado, porque vai jogar contra um grande adversário, mas não tem de ter medo do FC Porto, como não teve do Chelsea!"

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UMA EXIBIÇÃO BEM CONSEGUIDA

"Eu acho que a minha análise é igual à de todos porque fiz TV para Portugal, para Espanha, para França, para Inglaterra e para Itália, e todos os cinco jornalistas que me entrevistaram iniciaram, de igual modo, a dizer que o Benfica fez um grande jogo. Eu também acho. Disse aos jogadores, até porque é a minha maneira de ser, que uma derrota é uma derrota. E uma derrota jogando pessimamente, ou uma derrota jogando bem e merecendo mais, não deixa de ser uma derrota. Ter jogado bem não nos dá nenhum ponto. Mas há perder e perder. E perder da maneira como nós o fizemos não pode ser um ataque à nossa confiança, um ataque ao nosso crescimento. Pelo contrário, tem de ser uma base de construção. O Chelsea é indiscutivelmente a melhor equipa das 4 contra quem eu joguei no Benfica. Com todo o respeito, é melhor que o Gil [Vicente], é melhor que o Rio Ave, é melhor que o AFS. E este é o melhor jogo que o Benfica faz. Faz um jogo consistente, faz um jogo sólido, faz um jogo de grande equilíbrio, seja tático, seja emocional. Cria oportunidades, tem ótimas saídas da pressão, controla muito bem uma equipa dificílima de jogar contra, pela qualidade individual e pelos desenhos táticos que eles metem em organização ofensiva. Acho que o Benfica fez um jogo muito conseguido. Vamos obviamente com a frustração da derrota. Como eu digo, a derrota é a derrota. Mas acho que é uma base de construção importante, e a equipa esteve bem."

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OCASIÕES SUFICIENTES PARA OUTRO DESFECHO

"Sim, sem dúvida. Nós começámos bem, nós controlámos, tivemos, não sei se posso dizer grandes ocasiões, mas tivemos ocasiões garantidamente, e o golo é provavelmente o único pequeno erro que fizemos a nível defensivo. Penso que [Richard] Ríos e Dedic fecharam ambos a mesma área e deixaram o Garnacho aberto para colocar a bola em frente à baliza. Apesar disso, a equipa esteve muito estável, muito confiante e permanentemente a empurrar, empurrar, empurrar, empurrar. No último período, eu tentei jogar com jogadores frescos, tentei jogar com um segundo avançado, tentei jogar com um novo extremo-esquerdo, vi o Malo Gusto em dificuldades. Maresca viu Malo Gusto em dificuldades e mudou para um jogador ainda melhor do que Malo Gusto. Isto é o plantel do Chelsea, que lhe permite fazer isso. Eu estou aqui há 10 dias, já joguei 4 jogos em 10 dias, é jogar, recuperar, viajar e jogar, não tenho tido muito tempo para desenvolver o treino. Hoje, estou muito feliz. Há alguns dias, eu estaria feliz com a vitória, mas hoje, o desempenho... eu realmente gostei, gostei muito."

AS VITÓRIAS COMO ALIMENTO

"[Teve uma receção maravilhosa dos adeptos do Chelsea] Sim, mas não me alimento com essas memórias, eu alimento-me de vitórias e de resultados. Claro que lhes agradeço, no campo estava focado no jogo, mas ainda ouvi o som. Claro que lhes agradeço, eu vivo aqui ao lado, quando eu estou em Londres cruzo-me com eles todos os dias nas ruas. Sei que será uma relação para sempre, e espero voltar daqui a 20 anos com os meus netos. Fazem parte da minha história, e eu faço parte da deles."

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APENAS FALTOU O GOLO

"O que pode [o Benfica] aprender? Tem de meter a bola lá dentro. Não fazes [golos], não ganhas. Nós conversámos sobre isso e, quando preparámos o jogo, falámos sobre isso: para ganhar aqui, tens de ser defensivamente muito sólido, tens de ser defensivamente muito equilibrado, não podes deixar romper o jogo, porque, se rompe, eles são rapidíssimos, e têm mais velocidade no banco para depois meter. Quando tiraram o Garnacho, meteram o Gittens, e por aí fora, e era importante tudo isso. Agora, tens de fazer golos. Tivemos as nossas oportunidades, ainda não as vi no monitor, não sei se são grandes ou enormes, mas pelo menos oportunidades tivemos. Tivemos bom controlo, saímos bem das zonas de pressão, jogámos bem por dentro, e depois, na parte final, tentei dar nova energia, com o Schjelderup na esquerda, o Ivanovic na direita, que nas alas tem grande dificuldade, mas eu tinha de meter alguém para o lugar do Lukebakio, e pensei que um jogador fresco, mesmo que não seja o seu habitat natural, pudesse dar ali qualquer coisa. Os jogadores foram fantásticos, ter 3 médios com cartão amarelo, num jogo de transições e de velocidade, é muito difícil, muito difícil jogar ali com 3 jogadores com amarelo. Tirei 1, fiquei só com 2, tinha de ser o Barreiro aquele que podia arriscar algum amarelo em transição. Acho que fizemos tudo bem, menos ganhar o jogo e menos fazer golo. Não quero dizer parvoíce, ainda não tive tempo de ver na televisão, fico com a sensação de que o João Pedro devia ter sido expulso antes, fico com a sensação de que há uma bola de João Pedro com o Otamendi, que normalmente um jogador com cartão amarelo nem arrisca fazer o que ele fez. Se tivesse saído ali o segundo amarelo, não me espantava nada, e seguramente, se eles já estavam em dificuldades 11 contra 11, 11 contra 10, seguramente podiam ter colapsado, como colapsaram no passado jogo com o Brighton. Mas não tenho a certeza daquilo que estou a dizer."

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DESAFIO CONSTANTE E AMBIÇÃO

"[Qual é a dimensão do seu desejo de vencer, 20 anos depois?] É maior, é maior, porque, quando vim, ninguém esperava algo da minha parte. Eu lembro-me, havia muitos pontos de interrogação, será que vou conseguir, será que não... A minha carreira levou-me a uma posição onde parece que eu tenho magia para fazer as coisas acontecerem. Deixei o Manchester United após ter ganho coisas, deixei o Tottenham após levar o clube a uma final, deixei a Roma após duas finais europeias, porque comigo nunca é suficiente. Se estou neste trabalho, é porque gosto de me desafiar todos os dias. Tenho uma família fantástica, mas eles sabem como sou, incentivam-me a sair, sabem que preciso de trabalhar. Estou 'desesperado' para vencer o próximo jogo, é essa a minha natureza."

A BELEZA DA JUVENTUDE E A FÉ NA QUALIFICAÇÃO

"[Neste tipo de jogos, sente falta de jogadores com mais maturidade?] Eu acho que ter um banco superjovem também tem as suas belezas, também tem os seus desafios, e todos os grandes jogadores, num determinado momento da carreira deles, eram jovens. Estou sempre contente de pôr jovens a jogar, mas a sua pergunta tem alguma lógica, porque é como eu dizia: o Malo Gusto já estava em dificuldade, entrou o James; o Garnacho já estava em dificuldade, entrou o Gittens. Estamos um bocadinho limitados. Agora, obviamente que, se tivéssemos o Bah, se tivéssemos o Manu, já estávamos a falar de dois jogadores que são jogadores potencialmente para jogar, que nos dariam um equilíbrio maior, e principalmente agora, que estamos a iniciar outubro, temos três meses em que pensar em mercado, ou pensar em fazer alguma coisa para ajudar o grupo, não deve ser o treinador a pensar. O treinador deve focar-se naquilo que é o seu, e atenção, que temos aqui jovens jogadores que têm capacidade, têm muita capacidade. Relativamente à pergunta que me fez [Como considera as hipóteses de passar à fase seguinte, tendo em conta os adversários que tem pelo caminho?], o sorteio foi muito difícil para o Benfica, os 3 pontos obrigatórios, que eram os 3 pontos do Qarabag, nós perdemos, deixam-nos agora numa situação de 2 jogos e 0 pontos, o próximo é uma vez mais fora, uma vez mais contra uma equipa de Premier League de potencial elevado... E depois, você tem razão... Não, você não tem totalmente razão, porque você diz 'equipas, na teoria, muito melhores do que o Benfica'... Uma coisa é o potencial humano, e uma coisa é o fantástico potencial do Newcastle, do Nápoles, do Real Madrid, todas estas equipas com quem nós jogamos, mas nós jogámos hoje contra uma grande equipa, e eles não foram nem melhores, nem muito melhores. Acho que o jogo foi completamente olhos nos olhos. Acho que, subindo os níveis de confiança e com o trabalho, nós podemos competir contra toda essa gente. Tendo perdido estes 6 pontos, pensar na qualificação direta, nos primeiros 8, acho que é muito, muito, muito difícil, mas vamos ponto a ponto, vamos ponto a ponto e vamos ver se conseguimos ser qualificados. Eu acredito que conseguimos."

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LUKEBAKIO É O PRESENTE

"[O Benfica sentiu a falta de Kerem Aktürkoğlu?] Não, o Kerem já não está aqui. O Benfica fez um bom trabalho em trazer o Lukebakio, que é um bom jogador, não teve pré-época, teve uma lesão importante, é só o seu 2.º jogo, 2.º e mais alguns minutos, ele está a voltar. Hoje, teve um jogo difícil contra um jogador que é muito agressivo e muito rápido a defender como é o Cucurella, foi um adversário complicado, mas o Lukebakio é um bom jogador, por isso, esqueça o Aktürkoğlu."

MUITAS COISAS POSITIVAS

"[Aquilo que os jogadores fizeram hoje é uma prova de personalidade que o pode deixar mais confiante para o que aí vem?] Eu acho que sim, a diferença entre 2 e 3 dias é fundamental. Fazer 1 jogo ou 2 a cada 2 dias não é dramático, mas quando se entra no ciclo de 3, 4 jogos seguidos, com 2 dias de intervalo, aí a situação é... – e não sou eu que o estou a dizer, é cientificamente provado que nunca entras em recuperações completas e já começas a jogar sob fadiga. Quando começas a jogar sob fadiga, imagina como é que acabas o jogo. E isso tem-nos acontecido. Eu acho que, hoje, este 3.º dia deu aos jogadores uma determinada frescura. O apoio fantástico dos nossos adeptos aqui fez-se sentir muito, fez-se sentir muito. Stamford Bridge, que tem uma boa acústica, os azuis não se fizeram sentir assim tanto. Eu acho que o Benfica conseguiu criar um ambiente dominador até de fora para dentro. Os jogadores sentiram-se confortáveis a jogar. E, depois, a maneira como o jogo se desenvolveu. Acho que, obrigatoriamente, tem de aumentar os níveis de confiança. O próprio [Richard] Ríos, que depois até tem a infelicidade de estar no golo, eu começo a compreendê-lo um bocadinho melhor, é um jogador que, quando baixa muito, não tem muita qualidade em espaços curtos, é um jogador que precisa de espaço para jogar, é um jogador com chegada, é um jogador que vai e pode aparecer em zonas de finalização também, recupera muita bola. Até ele, que tem sido um jogador um bocadinho criticado por causa do número que tem nas costas (não o número da camisola, o número da transferência), acho que até ele esteve positivo; os 3 jogadores de meio-campo a jogarem com o cartão amarelo tanto tempo, acho que é uma demonstração de capacidade... Fizeram um bom jogo, fizeram um bom jogo. Não posso dizer que estou contente, porque, lá está, a velha história, 0 pontos, estás contente porquê? Mas consigo retirar daqui muitas coisas positivas."

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ESTÁ TUDO BEM COM ANTÓNIO SILVA

"O António Silva saiu lesionado, mas depois já, mesmo a sair do campo, saiu a caminhar. Mas obviamente que nestas coisas, quando as tonturas chegam, apesar de ele neste momento estar recuperado, mas no campo, quando existe tontura, mais importante do que o jogo é o homem, e houve logo o sinal. E, ainda por cima, nem sequer me criou uma situação dramática, porque é uma das poucas posições onde nós no banco tínhamos um jogador de corpo inteiro preparadíssimo para jogar, como é o Tomás [Araújo]. Acho que o António não vai ter grandes problemas para poder recuperar, nem penso que se possa chamar de concussão."

BOM SINAL QUE INDICIA QUE PODEMOS ROUBAR PONTOS FORA

"[Havia a ideia de que o Benfica estava mais confortável em jogos teoricamente mais equilibrados, ou até em que não seria o favorito, do que em jogos em que seria amplamente favorito. Concorda?] Repare, eu, utilizando no outro dia uma expressão que acho que foi qualquer coisa como 'não somos uma equipa com grande presença na área', não somos uma equipa com grande presença. Provavelmente, quando jogamos contra equipas muito baixas que se metem lá atrás, o Benfica é uma equipa que está mais habituada a ter bola, a circular bola, muitos passes atrás, muito passe lateralizado, é uma equipa que procura pouco a profundidade. Talvez seja um bocadinho por aí. Mas o facto de hoje termos estado muito sólidos sob o ponto de vista defensivo, muito equilibrados, sem dar grandes hipóteses ao adversário de ter transições... Você viu, por exemplo, que o Gil Vicente teve 3 ou 4 transições perigosas; hoje o Chelsea, com melhores jogadores que o Gil Vicente, não conseguiu criar perigo, porque a equipa foi ela própria muito bem equilibrada. Talvez seja um bocadinho por aí. Mas acho que, pensando na Champions, é um bom sinal que nos dá uma garantia de ir a Newcastle, a Amesterdão e a Turim e poder pensar que podemos ir lá roubar pontos e compensar os 3 que perdemos, principalmente, em casa com o Qarabag."

Texto: Redação
Fotos: Cátia Luís / SL Benfica
Última atualização: 1 de outubro de 2025

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