Futebol

02 agosto 2019, 22h57

Bruno Lage

Bruno Lage

O treinador do Benfica, Bruno Lage, numa conversa improvável com Marcel Keizer, técnico do Sporting, ao Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol, anteviu o dérbi da Supertaça, enumerou os futebolistas dos leões que mais admira e recordou, ainda, Jaime Graça e a festa do 37.

Bruno Lage

Significado de jogar a Supertaça

“É mais uma oportunidade de me estrear numa competição, curiosamente é um título onde o Benfica não tem sido muito feliz e a nossa motivação é inverter isso. Trata-se de um troféu que tem significado por ser o primeiro de uma época e este, pelo facto de ser um dérbi, terá um significado maior para qualquer uma das equipas que vença.”

Expectativas sobre o Sporting

“Não é fácil responder quando estamos no início de época, em que, quer de um lado quer do outro, estamos a tentar dar ritmo aos atletas, a querer rapidamente colocar a equipa a jogar ao nível com que acabou a época passada, a tentar, ao mesmo tempo, conhecer os jogadores que chegaram de novo. Ainda não sei bem que Sporting posso encontrar, mas pelo que vi será um Sporting igual ao que fez na época passada, com o objetivo de ter bola, controlar o jogo, ir de encontro à baliza adversária e tentar jogar bom futebol.”

Bruno Lage

Bruno Fernandes e Mathieu merecem destaque

“Gosto muito de médios, porque são os jogadores da equipa que conseguem fazer mais coisas. Não são especialistas em nada, mas são regulares em tudo, e no Sporting toda a gente conhece o Bruno Fernandes. É muito forte a ligar jogo, nas entrelinhas ele sabe rodar e ocupar os espaços nas costas do médio para receber, virar e poder rematar. Ataca bem a profundidade, remata bem e um médio que saiba fazer isto tudo em termos ofensivos – ainda agora a corrida que ele fez contra o Liverpool –, revela o jogador de qualidade que ele é. Gosto também de ver o central, o Mathieu, a maneira como constrói o jogo, a forma como defende e sabe retirar a profundidade à equipa adversária e nota-se que com ele a linha defensiva tem um comportamento e sem ele a linha defensiva já tem outro comportamento. O Sporting é uma grande equipa, tem excelentes jogadores, mas assim de uma forma direta acho que estes jogadores fazem uma enorme diferença.”

O momento mais marcante da festa do título

“O meu irmão dizia uma coisa quando trabalhávamos na formação do Benfica que era: quando chegamos ao fim da época há um aliviar por ter vencido. Foi isso que senti. Fiquei aliviado por termos vencido, porque a determinada altura senti a importância de vencer este título. Com a expectativa que criámos, de podermos vencer, quando não o conseguimos é complicado de compreender. Quando aos 90’ vi que estávamos a vencer o Santa Clara, pensei: ‘já está, já não foge’. Há uma fotografia gira em que os jogadores estão a preparar-se para comemorar e levantar a taça e eu estou tranquilo, sentado numa cadeira, a beber uma Coca-Cola a relaxar. O que mais me deu prazer foi isso… foi vencermos o campeonato, não o perdermos duas vezes na mesma época porque isso foi importante para os adeptos e para a nossa estrutura. Fiquei feliz porque contribui para esse momento.”

Benfica-Santa Clara

O impacto de Jaime Graça na vida de Bruno Lage

“Falo do Jaime Graça porque foi a pessoa que mais me marcou, não só como treinador, mas também como pessoa e pela forma como era. Foi um grande jogador do V. Setúbal, Benfica e Seleção Nacional. Enquanto jogador, treinador e homem marcou-me muito pela sua simplicidade. Era um homem simples, até na forma como punha as suas equipas a jogar, com os 11 jogadores a passarem a bola entre si. Parecia fácil e foi isso que aprendi com ele. O Jaime Graça faleceu e senti que tinha de dar um passo diferente na minha vida. Saí do Benfica, fui para os Emirados Árabes Unidos, estive lá dois anos, depois fui para Inglaterra onde estive três anos. O meu filho nasceu, chama-se Jaime, e senti um clique que tinha de voltar a casa e depois aconteceu tudo isto no espaço de um ano. O Jaime Graça foi a primeira pessoa que me marcou desta forma, mas há outros como o Carlos Carvalhal.”

O que é o futebol para Bruno Lage

“Para mim, é um prazer em tudo. É tirar partido e divertimento desde miúdo até agora. Lembro-me em miúdo de ver os jogos na televisão, de fazer as coleções de cromos, de jogar em criança, de um dia poder sonhar e fazer carreira como treinador, depois, em determinada altura, perceber que podia ser a minha profissão, nunca imaginei, enquanto treinador, que podia chegar a este nível, enquanto treinador-adjunto sim, mas como principal não. As coisas proporcionaram-se desta forma e o meu maior receio é que os dias de hoje se transformem apenas em negócio. É verdade que tem de ser um negócio porque a nossa sociedade mudou, mas que esse negócio não vá contra aquilo que eu vivi e que acabei de explicar, que é a paixão que o futebol nos leva em várias coisas. Como adepto, como praticante, como colecionador de cromos e agora como profissional.”

“Há muitas pessoas a falar sobre futebol, mas nada sabem sobre o que se passa nos bastidores. Coisas como: o que queremos melhorar quando temos ou não a bola? Os problemas com os jogadores, quando um está na mó de cima ou na mó de baixo. Como se gere 25 homens que têm sonhos…”

Fiorentina-Benfica

Mensagem para os adeptos

“A primeira que quero deixar é que tanto adeptos do Benfica como do Sporting se possam sentar e falar frente a frente tal como nós estamos a fazer agora, e falar um pouco daquilo que é a vida e aquilo que cada um faz sem problemas. A paixão pelo futebol começa num sonho, mais que não seja do sonho de ir ao estádio e que isto se concretize, que seja um sonho de ir ao estádio, que seja um grande jogo e sem problemas. Os nossos adeptos têm sido incansáveis e particularmente nestes últimos cinco meses. Eu recordo-me no meu primeiro jogo, que estávamos a perder por 0-2 aos primeiros 20 minutos e sentiu-se uma energia muito positiva no Estádio da Luz que empurrou a equipa para uma reviravolta que moralizou imenso, e depois foi uma campanha fantástica. Foram cinco meses com enorme apoio e agora é esperar que os adeptos nos acompanhem. Nem sempre as coisas estão por cima, e quando estamos por baixo é quando mais precisamos; quando isso aconteceu, os adeptos estiveram sempre do nosso lado e ajudaram-nos a fazer uma grande campanha que nos deu a Reconquista, e isso tem de ser a nota dominante.”

Texto: Diogo Nascimento e Marco Rebelo

Fotos: Arquivo / SL Benfica

 

Última atualização: 21 de março de 2024

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