Futebol

20 setembro 2019, 13h54

Bruno Lage

Bruno Lage

ANTEVISÃO

Bruno Lage, treinador do Benfica, lançou em conferência de Imprensa no Seixal o jogo da 6.ª jornada da Liga NOS, marcado para as 20h30 de sábado no terreno do Moreirense.

Porém, o espaço de antevisão do duelo com os minhotos teve muitas perguntas ainda sobre a partida de estreia das águias na Liga dos Campeões 2019/20, naquela que é a 10.ª presença do Benfica na fase de grupos da prova mais importante de clubes na Europa. Bruno Lage desenvolveu os temas e foi ao pormenor nas afirmações, leituras e explicações.

No regresso do Benfica ao Campeonato, que Moreirense conta encontrar neste jogo no Minho?

O Moreirense é uma equipa muito competitiva e organizada. Temos um jogo muito difícil por ser fora de portas e num campo mais pequeno do que é habitual, diante de uma equipa que tem tido um registo muito interessante em casa, com vitórias, golos marcados e zero sofridos. Adivinha-se um jogo muito competitivo perante um Moreirense que joga habitualmente em 4x3x3, com jogadores muito interessantes. Como sempre, temos de estar ao nosso melhor nível para voltarmos a fazer uma boa exibição e ganharmos os três pontos, que é o grande objetivo.

Bruno Lage

Voltando a olhar para o recente jogo do Benfica contra o Leipzig na Liga dos Campeões. Há quem fale de gestão da sua parte naquela partida. Que explicação pode dar a quem levanta esta questão?

Eu julgo que expliquei muito bem após o jogo, mas vou voltar a fazê-lo. Não houve gestão. O que eu faço é, em função da nossa forma de jogar e do momento de cada jogador, colocar os melhores em campo para cada jogo. Quando passamos a jogar de três em três dias, tenho de decidir em cada momento. Há duas ou três situações que já expliquei, mas vou recuperar. André Almeida: esteve muito tempo sem competir. Sem pré-época, o tempo de recuperação dele é muito superior. Com o Gil Vicente ainda pensámos em substituí-lo, mas, da forma como estava o jogo e a equipa a não controlar tão bem com bola, entendemos tirar Raul [de Tomas]. Como o André não estava a 100 por cento no jogo seguinte, entendemos pôr o Tomás [Tavares], e não é o plano A ou B. É a nossa avaliação e são as nossas opções: olhar para cada momento e decidir. Hoje, se calhar as pessoas já entendem por que razão o Raul saiu e o Seferovic continuou em campo no jogo com o Gil. Desse lado é muito fácil pensar as coisas a três, quatro, cinco jogos, mas aqui temos de fazer jogo a jogo. Não podíamos facilitar na partida com o Gil Vicente. Vejam o que aconteceu por essa Europa fora e mesmo aqui em Portugal [depois dos jogos das seleções].

...

Depois, há uma interpretação errada do que é a minha intenção de olhar para a Liga dos Campeões como uma oportunidade de realizar uma campanha tremenda, fazendo justiça ao passado e ao nome do Benfica. Essa é a nossa ambição e mentalidade. É para isso que trabalhamos diariamente. Temos de perceber o momento atual do Clube e o seu projeto. As pessoas podem interrogar: então jogamos com Tomás quando a opção principal é o André? Eu não sei qual é a opção principal... Por isso é que desde o primeiro dia disse que tínhamos de organizar um plantel equilibrado e competitivo. Faço algumas questões: onde é que arranjo um jogador como o Tomás com 18/19 anos? Qual é o preço dele? Como é que vou ao mercador contratar um jogador desta qualidade? Ou um David Tavares... Quanto é que isso me custa? Estamos a falar de um jogador de tremenda qualidade. Qual foi a diferença entre o André e o Tomás? Eu não a senti. Temos este projeto, um caminho para percorrer, mas não tirem ao treinador a exigência que eu quero lá dentro, isto é, fazer uma campanha à dimensão do Benfica. Hoje, falamos do Florentino como uma ausência na equipa... Qual foi o primeiro jogo dele [a titular]? Notou-se a diferença [no Galatasaray-Benfica da época passada]? Não se notou. Este tem de ser o nosso caminho. Se quisermos contratar jogadores do valor destes que temos aqui, eles custam 60 milhões. Temo-los em casa. Este é o nosso projeto, o nosso caminho, e é muito importante que as pessoas percebam isso. Mas isto não nos tira a vontade de querer fazer muito! E nós, desculpem-me, é a minha opinião, não fizemos uma exibição que envergonhasse os Benfiquistas no jogo com o Leipzig, antes pelo contrário. Faz-se uma avaliação apenas em função do resultado e não das oportunidades criadas, porque as criámos, tivemos duas, três bolas na cara do guarda-redes... Concretizando-as, a opinião e a conversa teria sido outra.

Bruno Lage

Com o plantel que tem à disposição, o que é que o Benfica pode ambicionar na Europa?

O Clube tem um caminho e um projeto, e eu acredito muito nisso! Vejam o passado recente... Com grande parte destes jovens fomos a duas finais da Youth League. Aonde é que estes indicadores nos levam? Vamos a uma situação de há 15 anos... Eu estava cá, construiu-se o Benfica Futebol Campus e o que se dizia na altura era "para quê?"... "Uma equipa campeã com base em miúdos? Difícil..." Conseguimos! Há alguns anos que se fala na oportunidade de o Benfica voltar a ser grande na Europa, em particular na Liga dos Campeões... Estamos a dar os primeiros passos e queremos conseguir. Os que hoje dizem que não é possível são os mesmos que há 10 anos diziam que não era possível ser campeão tendo jovens na equipa... E o Benfica em seis anos ganhou cinco Campeonatos, além de ter ido a duas finais da Youth League. Acredito muito nisto! Quero dizer aos Sócios e adeptos do Benfica que, com o Leipzig, meti aquela que na minha opinião era a melhor equipa para vencer. Para cada cenário, uma estratégia e os jogadores. Por que jogou Cervi? Dos três para aquela posição, é o melhor a pressionar. E tínhamos de pressionar muito. Jogou e, também segundo a Crítica, jogou bem, fez o que lhe pedi. Apareceu na cara do golo e, se tem convertido, era o herói da partida. São as nossas opções. Há o projeto do Clube, há o caminho e há o acreditar muito nestes jovens jogadores, onde incluo também o Chiquinho e o Gabriel. Acredito muito (porque acreditei na época passada que iríamos ser campeões e fomos) que vamos fazer uma competição à altura do Benfica, com estes jogadores e com esta mentalidade.

Bruno Lage

Seferovic exteriorizou sentimentos após o golo marcado ao Leipzig na terça-feira. Que leitura faz?

Sinto que, quando se olha para o Seferovic, transparece para o público a imagem ou a ideia de uma pessoa fechada, mas não... Ele é um jogador muito tranquilo, que está a viver o melhor momento da sua vida, foi pai recentemente. Sinto que o Sefe gosta muito de estar no Benfica e gosta dos adeptos, e sinto também que os adeptos têm um carinho enorme por aquele que foi o melhor marcador na época passada, pelo homem da frente que mais trabalha para a equipa. Estive ao lado dele na conferência de antevisão do jogo com o Leipzig... Quando alguém se senta aqui (estando a trabalhar para que as coisas aconteçam, vendo a equipa a marcar, a golear, a ganhar a Supertaça e com uma entrada tranquila no Campeonato...) e, em quatro de seis perguntas, só é questionado pelos golos... É quase como se estivéssemos a falar daquele que foi o empregado do mês e, no dia seguinte, queimou as batatas fritas e levou uma dura do chefe. É o equilíbrio das coisas...

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Se olharmos para os grandes avançados europeus da Liga dos Campeões, todos correm acima dos 11 mil metros por jogo. Volto a repetir: isto não é atletismo. Mas se queremos jogar com um ou dois avançados e pretendemos que a equipa tenha comportamentos ofensivos e defensivos, eles têm de correr muito. Vejam o que correram os avançados do Atlético de Madrid, por exemplo... ou os avançados do nosso adversário. Há que olhar para aquilo que o Sefe dá à equipa, além dos golos. Estou muito satisfeito com o trabalho dele, e ele tem de entender que é preciso conviver com certas coisas. Mas também, as pessoas de fora e os nossos adeptos, têm de perceber que por vezes a pressão que recai sobre os ombros destes jovens é muito grande.

Texto: João Sanches

Fotos: Cátia Luís / SL Benfica

Última atualização: 21 de março de 2024

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