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Futebol
03 junho 2020, 18h39
Bruno Lage
Aos jornalistas, o técnico analisou a pausa competitiva e refutou qualquer possibilidade de o Benfica tirar vantagem desse facto; lamentou a ausência de adeptos nas bancadas, revelou o que mais sentiu falta nestes meses, explicou a aposta nos oito jovens que trabalham com a equipa e rematou com um agradecimento...
O Campeonato vai retomar após uma longa paragem e o Estádio da Luz receber o primeiro jogo sem adeptos. Perante esta conjuntura, que jogo é que podemos esperar frente ao Tondela?
É tudo inédito. A paragem a meio do Campeonato e o tempo de paragem maior do que o habitual. Depois, o jogo… perspetivar o que o adversário pode fazer e jogar no Estádio da Luz sem os adeptos. Um estádio tão bonito e estar sem adeptos, que são a alma do Benfica e do que representa o Benfica... Esse período foi de enorme trabalho de todos, a tentar evoluir até ao regresso. O regresso vai ser frente a uma equipa competente, difícil, que tem feito um percurso interessante. O jogo na primeira volta foi difícil. O Tondela pode jogar em 4x3x3 ou com uma linha defensiva de cinco homens, e pode jogar em transição. Perspetivamos ter uma reentrada forte e foi nisso que nos focámos, tendo em conta a nossa qualidade e potencial. Preparámo-nos para tudo e até simulámos jogar no Estádio da Luz sem adeptos, no mesmo horário de jogo, como sabem, através de um treino. A resposta tem de ser dada. Os adeptos não estão lá, mas estão a ver-nos. Estive com um adepto há pouco tempo, trocámos umas palavras… estar a treinar uma equipa com a grandeza do Benfica, com uma massa adepta que nos acompanha para todo o lado e agora ir a jogo sem eles... Não há forma de nos prepararmos para isto. Esse adepto disse-me: "Não vamos estar fisicamente, mas vamos estar de coração." A iniciativa dos cachecóis é uma excelente iniciativa, porque é uma demonstração de alma e de coração.
"Temos de fazer uma reentrada muito forte"
O Benfica vinha de três jogos sem vencer. Pode ter beneficiado com esta paragem do Campeonato?
Acho que não. Para mim, não foi benéfico parar. As séries de vitórias ou derrotas começam e, numa determinada altura, temos de dar uma resposta. Após o jogo com o V. Setúbal, a equipa teve tempo e fez o suficiente para se preparar, treinar e apresentar de novo bem. No último treino [12 de março] na Luz, a equipa estava pronta para dar uma boa resposta. Só posso falar do que aconteceu. Imagine que a partir dali, e até ao fim do Campeonato, tínhamos uma série de vitórias… Não estivemos ao nosso nível no mês de fevereiro e devíamos ter feito mais e melhor. O que temos de fazer é ter uma entrada forte, determinada e de acordo com o nosso potencial. Temos de vencer os três pontos. Consideramos os nossos adeptos a nossa alma. Não podem estar presente, mas queremos brindá-los com uma boa exibição e com uma vitória.
A interrupção foi útil tendo em conta que Gabriel e André Almeida recuperaram fisicamente?
A paragem nunca pode ser boa em nenhum aspeto. De facto deu tempo para esses jogadores [Gabriel e André Almeida] estarem disponíveis, mas ao nível profissional não pudemos tirar grande partido. Ao nível pessoal se calhar todos tirámos partido. Nesta paragem pude privar com o meu filho durante dois meses. Foi um tempo de contacto diário, de aprendizagem e de poder estar com ele. Esse é o único ponto positivo que posso tirar desta situação. Em termos pessoais pudemos partilhar o convívio diário com as pessoas que nos são mais próximas, neste caso, com a minha mulher e com os meus filhos.
"Uma paragem assim nunca poderá ser benéfica"
Tendo em conta as várias lesões que têm acontecido na Bundesliga, este é um aspeto que o preocupa?
Isso foi o que tentámos perspetivar. Pelo que vi, as equipas treinaram e fizeram jogos-treino, treinaram nos respetivos estádios na hora do jogo. Fizemos treinos com curto espaço de tempo entre si, que começaram nos 60 minutos e passaram para os 90 minutos. Mesmo sem estarmos totalmente recuperados, voltávamos a colocar os jogadores em situação de jogo, porque, neste momento, tendo em conta o período de tempo existente, e sem ser possível fazer mais treino e mais adaptação, senti a equipa com um ritmo bom. Fomos mais além, fizemos dois jogos de 30 minutos. Fechávamos um jogo, trocávamos os equipamentos e os jogadores e fazíamos outro jogo. A equipa teve sempre uma boa resposta.
Este é um momento novo no futebol. Considera que as equipas que estiverem melhor nas três primeiras jornadas após o regresso estão mais perto do sucesso?
Há a consequência de parar muito tempo e depois há a fadiga acumulada de jogar de forma quase seguida. Entrar bem e depois chegar ao quarto, quinto, sexto jogo [após a retoma] com fadiga acumulada e com o tempo de recuperação a ser menor… Todos os jogos são importantes porque a diferença pontual é muito curta. Há vários fatores. Há as lesões, há jogadores que podem ficar infetados… Temos de entrar a vencer.
Considera as cinco substituições uma boa medida? O que muda em termos de plano de jogo?
Eu concordo muito com as cinco substituições. Já vi várias opiniões diferentes, mas podemos pensar uma equipa que não tem o potencial do Benfica... Com mais substituições, as equipas mais fortes têm mais recursos para colocar? Sim, pode acontecer. Ter um plantel mais ou menos rico tem pontos a favor e pontos contra. Há 100 anos nem substituições havia. A evolução aconteceu… Tendo mais gente envolvida no banco, é bom. Cinco substituições com três paragens... era mesmo isto que eu faria.
"Concordo com a medida das cinco substituições"
De que sentiu mais falta nestes meses de paragem?
Eu vejo-me como um treinador de treino e aquilo que me fez mais falta foi o trabalho diário com os jogadores. É difícil explicar quando se tem esta vida durante 20 anos. O contacto diário com os jogadores, o treino, o preparar os jogos, o projetar a equipa… Foi realmente o que me fez mais falta.
Qual é a sua opinião sobre a possibilidade de voltar a haver adeptos nas bancadas durante a presente temporada?
Não quero fazer aquilo que alguns fazem quando dão opiniões sobre algo que não se domina. As coisas têm sido feitas com as pessoas que melhor entendem o fenómeno, com consciência e lógica. Podemos estar a fazer as coisas um pouco mais devagar, mas imagine que deixavam entrar público e fazíamos tudo à pressa. Depois temos de dar dez passos atrás e quem é que toma essa responsabilidade? Quem melhor percebe deste assunto tem de tomar as decisões com muita segurança, porque depois se acontece algo não somos nós que sofremos, é a alma do Estádio, é a alma deste plantel, é aquilo que empurra esta equipa para a frente. É claro que preferia ter algum público, contudo, prefiro que as coisas sejam feitas devagar. Experimentar, ver e ir analisando o que vai acontecendo. Dar passos seguros e não passarmos do 80 para o 8.
"Há que ter rendimento a todo o momento"
Aproveitou esta fase para chamar oito jovens da formação para a equipa principal. Que tal tem sido a resposta deles?
Tem sido efetuado um trabalho fantástico ao longo dos anos. O Clube tem feito uma transformação com passos seguros e de há uns anos para cá tem conseguido incluir jovens da formação e que conseguem ser reforços da equipa principal. São oito jogadores que têm feito um trabalho fantástico na equipa B e alguns deles nos Juniores e nos Sub-23. São o presente e o futuro do Benfica, mas há algo que tem de ser transversal a todos, independentemente da idade. Todos terão altos e baixos na vida. Por exemplo, quando cheguei cá fiz essa reflexão com o grupo. Comigo vieram cinco jogadores da equipa B e, em determinada altura, primeiro por lesão, e depois por mérito do atleta que ocupou a posição, o nosso capitão de equipa supostamente "perdeu o lugar". O Jardel, um dos jogadores mais titulados do plantel, "perde o lugar" para um miúdo da formação e não deixa de trabalhar para evoluir! Começou a nova época com uma lesão e agora teve uma reentrada muito boa neste reinício. Já tem 34 anos e treina com uma ambição enorme para poder ser titular. Essa tem de ser a mentalidade. Quem chega tem de pensar dessa forma. Fazer o que o Renato Sanches e o João Félix fizeram, em dois períodos diferentes, é possível, mas não acontece sempre. Falo do Jardel, mas também posso falar do Florentino. Chegou, foi titular e teve uma lesão em Braga que o deixou de fora da competição durante muito tempo. Voltou e, na minha opinião, não voltou com o melhor rendimento. Contratámos um jogador para essa posição e mesmo assim continua a treinar todos os dias com uma alma enorme para voltar a conquistar o lugar. Independentemente da idade, esta tem de ser a mentalidade. Neste clube há que ter rendimento a todo o momento.
"Estrutura tudo fez para que pudéssemos ficar seguros e saudáveis"
A confiança transmitida pelo Presidente Luís Filipe Vieira em entrevista à BTV deixa-o mais tranquilo? E a renovação do contrato de Jorge Jesus com o Flamengo?
O que tem uma coisa a ver com a outra? Vocês [jornalistas] já diziam que o Jorge Jesus vinha substituir o Rui Vitória. Aconteceu? Não. O que eu controlo e me deixa tranquilo é ter reconhecimento das pessoas que trabalham comigo diariamente: jogadores, Presidente e diretores. Quando um dia deixar de ser eu o treinador, o que vier a seguir já não é preocupação minha. Tanto pode ser o Jorge Jesus como outro a vir para este lugar, que é uma posição fantástica e de enorme orgulho. E digo isto com todo o respeito porque ele fez um trabalho fantástico, reconhecendo-lhe competência pela forma como a equipa jogava. Teve continuidade e em seis anos conquistou três Campeonatos. Vou contar uma pequena história para perceber que a relação entre o Presidente e Jorge Jesus acontece também com outras pessoas. Depois de oito anos na Formação do Benfica, senti que precisava de outro desafio para evoluir. Falei com o Presidente e expliquei-lhe o que sentia. "Presidente, veja-me como um jogador"… Expliquei que podia evoluir e mais tarde podia regressar a casa. Por isso não acho nada anormal que o Presidente tenha esta relação com o míster Jorge Jesus, porque tem a mesma comigo depois de eu trabalhar aqui oito anos.
"Quero aproveitar, porque a paragem foi prolongada, para dar uma palavra de apreço à nossa estrutura e ao nosso diretor-geral. Permitiram que toda a equipa técnica e os jogadores tivessem todas as condições para continuarmos a fazer a nossa vida de forma normal, para que nada nos faltasse e pudéssemos ficar seguros e saudáveis. Um agradecimento meu e do plantel a todas estes profissionais fantásticos que trabalham na sombra", finalizou Bruno Lage.
Texto: Diogo Nascimento, Filipa Fernandes Garcia e Marco Rebelo
Fotos: Tânia Paulo / SL Benfica