Luís Castro: "Estamos cada vez mais otimistas e preparados"

ENTREVISTA

Com vista à fase final da Youth League e após duas semanas de trabalho individualizado, os jogadores dos Sub-23 do Benfica, orientados por Luís Castro, regressaram aos treinos em grupo com toda a segurança.

O treinador da equipa Sub-23 fez, em entrevista à BTV, um ponto de situação do trabalho realizado até ao momento. Os encarnados vão disputar o primeiro jogo às 17h00 do dia 18 de agosto frente ao Dínamo Zagreb nos quartos de final da Youth League.

Estado da equipa

"Os jogadores já estão num bom nível. A nossa maior preocupação nas primeiras semanas era o aspeto físico, porque a paragem foi muito longa, nunca pararam tanto tempo. Chegaram, como é evidente, com alguns défices físicos. Apesar de terem trabalhado nas férias chegaram um bocado em baixo, mas neste momento a equipa está bem, respondeu bem, passo a passo estamos a começar a ter o nível físico desejado. Estamos cada vez mais otimistas."

Retoma da Youth League 

"Houve sempre esperança. Falávamos entre nós e houve sempre a esperança que continuasse. É claro que, quando a notícia foi confirmada, ficámos superfelizes porque isto é a nossa vida. Estávamos ansiosos e, quando a notícia nos foi dada, festejámos. Agora estamos prontos para isso."

Os passos da preparação

"A nossa primeira preocupação foi perceber como é que estava cada um deles. Mais do que nunca era necessário individualizar, porque chegaram todos com níveis diferentes. Cada um estava numa zona diferente do país, a alimentação era diferente, o que faziam era diferente e, apesar de terem uma planificação do Benfica e de terem sido monitorizados, não podíamos controlar a alimentação como controlávamos aqui, por exemplo. Apesar de eles terem alguns cuidados, nunca é igual, então a nossa maior preocupação foi ver como estava cada um deles para poder individualizar, depois planificar de acordo com as regras da DGS, que complica muito a nível de treino, mas tentámos, juntamente com HPD, com as pessoas da monitorização física, começar a colocar no nível desejado, a pouco e pouco, os que estavam mais atrás, e neste momento passámos para o treino em grupo. Já temos jogadores a um bom nível. Correu muito bem. Estava com receio a nível de lesões ou de poderem não chegar a esta fase como nós desejávamos, mas correu melhor do que esperávamos."

Transição para os treinos em grupo

"Mais importante do que a bola (porque bola num treino individual conseguimos colocar facilmente), era pô-los a pensar porque eles até ali tinham fintado bonecos, tinham rematado à baliza, mas sem oposição, e era importante colocá-los a decidir, a ter um lado fechado e ter de ir pelo outro. Quando estava a planificar os treinos com a minha equipa técnica eu dizia em jeito de brincadeira que esperava que os bonecos fossem muito bons e não roubassem a bola a ninguém, porque eles já sabem o que vão fazer antes e vão ter sucesso, porque o boneco não se vai mexer. Nessa parte, quando passámos para o treino em grupo, o mais importante foi eles terem de voltar a decidir, a terem um colega para passar, a decidir se vão fazer o passe no pé ou o passe na frente onde estava o espaço. Neste primeiro treino já senti os jogadores a fazerem coisas diferentes. Penso que foi quase um renascer para toda a gente."

Talento pode compensar o físico

"Os jogadores não estão todos ao mesmo nível, porque isso não se faz de um dia para o outro, mas o grupo está mais homogéneo, está mais perto. Certamente que não vamos chegar à competição no nível máximo, porque não estiveram todos a competir como estavam antes. Se estivéssemos numa pré-época normal já nunca estariam no primeiro jogo no nível físico que estavam quando parámos. Sendo uma 'pré-época' com quatro meses de paragem, não estão nem vão estar ao nível máximo. Temos ainda a dificuldade dos jogos-treino, porque não podemos estar a treinar com as outras equipas regularmente e isso também dificulta que os jogadores cheguem a um nível superior. A minha crença é que, através do talento que temos, possamos minimizar a parte física."

Todos a lutar para serem convocados

"Estão todos a lutar, não consigo fazer a análise do ponto de tempo de jogo na Youth League, porque neste momento eles estão todos a lutar para serem convocados para a Suíça. Estão todos a dar o máximo, se calhar uns para manterem o lugar de titulares, porque estão a sentir que os outros estão a apertar, outros que estão mais perto dos que jogaram mais tempo querem ganhar esse lugar e jogar de início, e depois outros que jogaram menos na Youth League estão a lutar porque querem ficar na convocatória final."

Escolha de jogadores

"É a melhor dor de cabeça que podemos ter. A pior é quando só temos um a trabalhar para a posição e estamos a pensar se ele se aleija, ou se leva um amarelo e fica um jogo fora, e depois não temos mais ninguém. Quando estão todos a trabalhar no máximo, a dor de cabeça vai ser na escolha, mas vamos escolher o que está muito bom ou o que está excelentemente bem, por isso essas são as escolhas mais fáceis."

D. Zagreb analisado ao pormenor

"Já estamos com alguns aspetos táticos de acordo com o primeiro adversário que temos, que já sabemos como funciona. Para nós, equipa técnica, o adversário já está mais do que conhecido, já tínhamos preparado o adversário antes da paragem e agora estivemos a rever tudo. Estamos a passar aos jogadores através de treino, aos poucos. Uma das preocupações é o aspeto físico, ainda temos de os melhorar para chegarmos lá em condições de competir com as equipas que lá estão. Ainda por cima o nosso próximo adversário [Dínamo Zagreb, nos quartos de final da Youth League, dia 18 de agosto] é da Croácia, e lá a paragem não foi como aqui, inclusive eles têm jogadores que estão a jogar na primeira equipa regularmente, e nós sabemos que para nos batermos com eles ainda temos de melhorar um bocado os índices físicos. Mas temos noção de que, no aspeto individual, temos jogadores que, acredito, dentro de alguns anos serão alguns dos melhores do mundo nas posições deles."

Paragem devido à COVID-19 e dificuldades

"Voltar a treinar é muito benéfico para os jogadores. Esta paragem pode causar alguma depressão ou ansiedade. Aqueles que já regressaram já não estão com esse pensamento, porque estão focados na competição que vem aí e nos treinos, mas os que estão em casa ainda pensam quando é que vão começar, quando vão competir e isso cria-lhes alguns problemas no que diz respeito à saúde mental. Depois, com o tempo, e espero que isto não dure muito mais, tudo se vai diluindo com a ajuda dos treinadores e equipa técnica. Espero que toda a gente que está no futebol tenha essa consciência de que os jogadores vão precisar de ajuda para começarem a recuperar tudo o que perderam ao longo deste tempo."

Texto: Márcia Dores

Fotos: SL Benfica