Conteúdo Exclusivo para Contas SL Benfica
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Futebol
Futebol Formação
Modalidades
Atividades
Serviços
Eventos
Fãs
Imprensa e Acreditação
Em Destaque
Equipamentos
Moda
Papelaria e Ofertas
Garrafeira
Coleções
Novos Sócios
Família
Mais Vantagens
Corporate Club
Eventos
Merchandising
Mais Vantagens
Licenciamento
Patrocínios
Casas do Benfica
Fundação Benfica
Clube
SAD
Instalações
Eco Benfica
Imprensa e Acreditação
Encomenda
Compra Segura
Futebol Feminino
Benfica Campus
Formar à Benfica
Centros de Formação e Treino
Andebol
Voleibol
Basquetebol
Futsal
Hóquei em Patins
Escolas
Desportos de Combate
Bilhar
Natação
Polo Aquático
Ténis Mesa
Triatlo
Apoios Institucionais
Pesca Desportiva
Aniversários
Benfica Seguros
Jornal "O Benfica"
Corrida Benfica
Homem
Acessórios
Informática e Som
Brinquedos e Jogos
Acessórios de casa
Sugestões
Colheita
Reserva
Executive Seats
Espaços
Casas Benfica 2.0
Contactos
História
Prestação de Contas
Participações em Sociedades Abertas
Ofertas Públicas
Admissão à Negociação de Valores Mobiliários/Ficha
Museu Benfica Cosme Damião
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Efeméride
Sócio Honorário do Benfica e Nobel da Literatura, o escritor teria completado 100 anos no dia 16 de novembro.
12 dezembro 2022, 07h00
José Saramago
José Saramago era Benfiquista. Era o próprio quem o assumia, não obstante um certo distanciamento progressivo em relação ao futebol no decurso da sua vida, conforme confessou em entrevista dada a Afonso de Melo, recuperada em 2017 nas páginas de O Benfica em crónica do mesmo autor: "Eu fui Sócio do Benfica com os meus 8 ou 9 anos. Por influência do meu pai, claro está!, ele era um Benfiquista ferrenho, do tempo do estádio das Amoreiras, com aquelas bancadas e aquele peão de Terceiro Mundo. Mas depois as mudanças de vida levaram-me para outros caminhos."
O afastamento não significou corte definitivo, aceitando, em 1999, um ano após ser agraciado com o Nobel da Literatura, a homenagem que o Sport Lisboa e Benfica lhe prestou, ao atribuir-lhe o estatuto de Sócio Honorário.
José Saramago publicou, em 1956, um artigo no suplemento Cultura e Desporto do jornal O Benfica
A obra de José Saramago conta com vários romances entre os considerados melhores da literatura portuguesa publicada no século XX. Livros como A Jangada de Pedra, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Ensaio sobre a Cegueira, Memorial do Convento ou (à data, muito polémico) O Evangelho segundo Jesus Cristo, entre outros, fazem de Saramago um escritor único, de estilo singular, controverso e imensamente laureado.
Os romances não perfazem a totalidade do seu legado à humanidade. Contos, diários, narrativas infanto-juvenis, peças de teatro e crónicas foram outros dos formatos da expressão artística do escritor, entre os quais se inclui um quase ignorado artigo publicado no suplemento Cultura e Desporto do jornal O Benfica. Este suplemento surgiu em dezembro de 1955, sob a direção de Paulino Gomes Júnior, responsável máximo do jornal O Benfica em cinco períodos distintos e hoje mais conhecido pela autoria da letra de Ser Benfiquista.
Na página 2 da edição publicada em 19 de janeiro de 1956 consta um artigo intitulado "É tempo…" da lavra de José Saramago, então com 33 anos de idade. O futuro Nobel começa por discorrer sobre "o critério absurdo que pretende impor a ignorância como… meio de conhecimento", o ponto de partida para uma crítica ao conservadorismo, subversiva quanto baste num tempo em que ainda vigorava, fora do meio artístico, o primado do convencional.
"Eu fui Sócio do Benfica com os meus 8 ou 9 anos. Por influência do meu pai, claro está!, ele era um benfiquista ferrenho, do tempo do estádio das Amoreiras"
José Saramago
Saramago argumenta que pronunciar as palavras "No meu tempo…" é equivalente a "uma certidão de óbito mental" e desenvolve a ideia: "Eis a confissão de que o tempo em que fisiologicamente continuamos a viver já não é o nosso tempo, eis o reconhecimento tácito de que estamos cegos para tudo que seja expressão viva e autêntica de um mundo em que vagueamos como fantasmas de um universo revoluto, agarrados a convicções, ideias e formas que, diga-se, valem pelo que valem, e muitas vezes valem muito, mas não pelo que nos habituámos a encontrar nelas."
O autor exemplifica com a costumeira rejeição da arte moderna: "Repare-se na contradição: este homem sonha com um automóvel do último modelo, usa capa de plástico, calça peúgas de nylon, serve-se do telefone, anseia pela televisão, reclama o metropolitano, faz projetos de viagens à Lua – e não quer nada com a arte do tempo em que vive." Mais adiante: "Pois não se está mesmo a ver que os estúpidos somos nós? Nós que temos a franqueza (a força, digamos antes) de amar o tempo em que vivemos, a inocência lúcida de ir para a obra de arte autêntica sem ideias feitas, sem atitudes preconcebidas, sem bitolas aferidas pela autoridade e pelo hábito." E conclui: "A arte moderna, queiram-no ou não, é uma coisa muito séria, tão séria como o foi sempre a arte em qualquer época. Troçar dela, ignorá-la, não adianta nada. Ela permanece ali diante de nós, à espera, com a tranquila certeza de quem sabe que cedo ou tarde lhe farão justiça. E parece-nos que já vai sendo tempo de começar."
É por estas e por outras que, cada vez que se tenta rotular o Sport Lisboa e Benfica de "clube do antigo regime", qualquer Benfiquista informado se debate com a mesma dúvida de Paulino Gomes Júnior, revelada numa destas páginas em plena ditadura do Estado Novo, corria o ano de 1972. Em causa estavam as críticas proferidas na Assembleia Nacional por um deputado da nação dirigidas aos jornais privados de clubes, e eis a dúvida do diretor de O Benfica: "Não precisei de ler mais nada para ficar sem saber se devia escancarar-me todo de riso, se me morder de indignação."
Artigo publicado na edição de 18 de novembro de 2022 do jornal O Benfica
Texto: João Tomaz
Fotos: SL Benfica e Arquivo
Última atualização: 22 de março de 2024