Conteúdo Exclusivo para Contas SL Benfica
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Futebol
Futebol Formação
Modalidades
Atividades
Serviços
Eventos
Fãs
Imprensa e Acreditação
Em Destaque
Equipamentos
Moda
Papelaria e Ofertas
Garrafeira
Coleções
Novos Sócios
Família
Mais Vantagens
Corporate Club
Eventos
Merchandising
Mais Vantagens
Licenciamento
Patrocínios
Casas do Benfica
Fundação Benfica
Clube
SAD
Instalações
Eco Benfica
Imprensa e Acreditação
Encomenda
Compra Segura
Futebol Feminino
Benfica Campus
Formar à Benfica
Centros de Formação e Treino
Andebol
Voleibol
Basquetebol
Futsal
Hóquei em Patins
Escolas
Desportos de Combate
Bilhar
Natação
Polo Aquático
Ténis Mesa
Triatlo
Apoios Institucionais
Pesca Desportiva
Aniversários
Benfica Seguros
Jornal "O Benfica"
Corrida Benfica
Homem
Acessórios
Informática e Som
Brinquedos e Jogos
Acessórios de casa
Sugestões
Colheita
Reserva
Executive Seats
Espaços
Casas Benfica 2.0
Contactos
História
Prestação de Contas
Participações em Sociedades Abertas
Ofertas Públicas
Admissão à Negociação de Valores Mobiliários/Ficha
Museu Benfica Cosme Damião
Para continuares a ler este conteúdo, inicia sessão ou cria uma Conta SL Benfica.
Clube
A edificação da antiga Catedral é um dos acontecimentos fundamentais na história do Sport Lisboa e Benfica.
24 dezembro 2022, 13h52
O primeiro Estádio da Luz
Atente-se aos números constantes nos relatórios e contas do Sport Lisboa e Benfica: entre 1952 (ano de início das obras do Estádio) e 1954 houve um acréscimo efetivo de 7059 sócios, significando um crescimento na ordem dos 30%, o que correspondeu a um aumento das receitas de quotização em torno dos 67%. Nas receitas geradas pelo futebol observou-se um incremento acima do dobro de 1953 para 1954, não obstante a inauguração ter ocorrido somente em 1 de dezembro.
Escreveu-se no relatório de 1954: "Para o aumento das receitas contribuiu poderosamente o elevado número de sócios entrados, as receitas dos jogos da inauguração do nosso Estádio e a marcação de maior número de lugares cativos."
Ter uma casa própria que respondesse às necessidades de um clube em contínuo e acelerado crescimento foi sempre uma ambição bem presente nas preocupações dos associados do Benfica, resolvida de forma definitiva só com o surgimento do Estádio da Luz (em rigor, o problema tornou-se inexistente quando, décadas mais tarde, o Clube tomou posse dos terrenos).
A lotação do Estádio era uma questão vital: os sócios usufruíam da entrada livre nos jogos, o que resultava num condicionamento do número de associados à capacidade do campo de jogos. E com o Estádio da Luz (aquando da inauguração, 35 mil espectadores mais uns milhares "apertadinhos") quase que duplicou o potencial de crescimento da massa associativa, sendo que os planos existentes de ampliação do Estádio auguravam um futuro ainda mais risonho.
Importa aqui abrir um parêntesis: a dimensão do Estádio da Luz foi a possível em função do que se entendeu ser a capacidade de investimento do Clube, já de si imensamente musculada pelas avultadas contribuições de sócios e adeptos através das mais variadas iniciativas (perduravam na memória coletiva – e em particular na do Presidente Joaquim Bogalho – os problemas financeiros resultantes da construção do Campo das Amoreiras, com implicações nefastas no desempenho desportivo). Só no final da década se acrescentariam as torres de iluminação (junho de 1958) e se ampliaria o Estádio com o terceiro anel (num dos lados).
Os passos cautelosos (as torres de iluminação foram pagas com a campanha dos azulejos e, sobretudo, pelo Presidente Maurício Vieira de Brito, a quem coube também a fatia de águia, através do mecenato, do terceiro anel) contrastaram com os principais adversários, que, igualmente nessa década, inauguraram novos estádios (FC Porto em 1952 e Belenenses e Sporting, ambos em 1956). Com o Estádio pago integralmente, o que não se verificou nos adversários, o Benfica dispôs de uma posição vantajosa a nível financeiro face aos oponentes.
Neste enquadramento, introduzindo-se ainda na equação a implementação do profissionalismo no futebol benfiquista e a construção do Lar do Jogador, nos quais o treinador Otto Glória, contratado em 1954, teve papel preponderante, facilmente se percebe porque o Benfica, depois de nove temporadas consecutivas em que venceu apenas um Campeonato, ganharia quatro das sete edições posteriores à inauguração do Estádio, culminando esse período com a primeira conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Mas a história do antigo Estádio da Luz tem mais dimensões do que as referidas associativa, económica e desportiva. Há, por exemplo, a questão simbólica da data da inauguração, nomeadamente quando analisada em comparação com as datas de inauguração dos estádios dos principais adversários à época, tornada relevante por derivas revisionistas passadas décadas, procurando-se diminuir o estrondoso sucesso do Benfica a partir dos anos 60 do século passado, pelo caminho ocultando-se o sucesso benfiquista até ao início dos anos 40 – e o mesmo é dizer que se tentou justificar insucessos próprios atropelando-se a história.
A historieta do "Benfica, clube do regime" não tem adesão à realidade, pelo que pode ser desmontada de diversas formas. Os factos demonstram que o Benfica é, desde sempre e ininterruptamente, um clube inclusivo, alheio ao contexto político, predominando a ideia de que todos são bem-vindos desde que o propósito seja engrandecer o Clube.
António Ribeiro dos Reis, antigo jogador, treinador e dirigente benfiquista, certa vez afirmou "O Benfica, só o Benfica e nada mais do que o Benfica" (a citação poderá não ser ipsis verbis, mas o sentido é este), traduzindo um dos mais vincados traços identitários do Clube. O Benfica está acima de tudo e todos, não se devendo deixar instrumentalizar por quem quer que seja.
Durante o Estado Novo, o Benfica foi servido por milhares de Benfiquistas, incluindo figuras da oposição e da situação, todos respeitando a salutar convivência em prol do Clube e subordinados aos direitos e deveres dos associados, onde se incluía a participação em atos eleitorais democráticos num país subjugado ao totalitarismo. A política ficava de fora, só o Benfica e nada mais do que o Benfica interessava.
Por isso não surpreende que o Estádio da Luz, em contraste com os estádios de outros clubes inaugurados na mesma década, tivesse passado ao lado da situação política. Houve expropriação de terrenos e comparticipações monetárias disponibilizadas para a construção à semelhança do que aconteceu com vários estádios, mas esse foi o limite no caso do Benfica, que nem sequer foi palco de jogos da Seleção Nacional até 1971.
Em 1950, englobado nas comemorações do 28 de maio – data do golpe militar de 1926 que conduziu ao Estado Novo – foi inaugurado o Estádio 28 de Maio, em Braga, pertencente ao município. Em 1952, de novo em 28 de maio e integrado nas festividades do regime, foi inaugurado o Estádio das Antas, do FC Porto. E, em 1956, 10 de junho, então denominado "Dia da Raça", o outro grande feriado do Estado Novo, foi com pompa e circunstância que se deu a estreia do Estádio José Alvalade, do Sporting. O Estádio do Restelo "nasceu" em 23 de setembro do mesmo ano.
Foi em 1 de dezembro de 1954 que o Estádio do Sport Lisboa e Benfica recebeu dezenas de milhares de benfiquistas pela primeira vez. O prato forte das festividades foi o desafio entre Benfica e FC Porto, o qual não correu de feição (1-3), mas o futuro ditaria que não seria de mau agoiro. Seguiu-se, no dia 5, um jogo com o Belenenses (7-2) e, no dia 8, a receção ao Real Madrid, de Di Stéfano, com o resultado a sorrir aos merengues (0-2).
O 1 de dezembro é o feriado civil mais antigo em vigor em Portugal, comemorado desde o século XIX, uma data sempre importante para o país resultante das celebrações da restauração da independência de 1640. Evocado pelo antigo regime, não se tratou ou foi transformado numa data do Estado Novo.
A escolha desse feriado afastou, por isso, a possibilidade de o Estado Novo se apropriar da inauguração do Estádio da Luz, convertendo-a, desse modo, em mais uma ação propagandística.
Não houve possibilidade, no entanto, devido a alegados atrasos nas obras, de se repetir com o Estádio da Luz a data escolhida, em 1941, para a estreia do renovado Estádio do Campo Grande, o dia 5 de outubro, um feriado tolerado, e pouco celebrado, pelo Estado Novo, que inclusivamente o redenominou "Implantação da República" em detrimento de "Heróis da República", por certo numa tentativa de suavizar a conotação com os protagonistas do regime anterior à ditadura militar de 1926.
O Benfica, só o Benfica e nada mais do que o Benfica. Foi, é e sempre será assim. Por muito que alguns teimem em desvirtuar a história.
Artigo publicado no jornal O Benfica
Texto: João Tomaz
Fotos: Centro de Documentação e Informação do SL Benfica
Última atualização: 21 de março de 2024