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Voleibol
Uma viagem pelas memórias tocantes do homem que não deixou cair o voleibol no Benfica, o ressuscitou e o reconstruiu à imagem de um emblema vencedor e orgulhoso. A hegemonia atual está cheia das impressões digitais de José Jardim. Uma instituição no Clube.
14 abril 2023, 09h58
José Jardim (à direita) com o staff técnico após a conquista da Taça de Portugal de voleibol
A história de José Jardim, no Clube, confunde-se com a montanha-russa de acontecimentos que tem acompanhado o voleibol desde a sua origem. Foi campeão, como jogador e como treinador, mas, fundamentalmente, José Jardim foi o mentor de uma hegemonia que, neste século, levou o Benfica a ser reconhecido como o melhor clube português e também o mais titulado.
Mas foi num momento de profunda desilusão que o professor José Jardim não permitiu que o voleibol desaparecesse do mapa de modalidades que torna o Benfica num dos maiores e mais bem-sucedidos exemplos de ecletismo em todo o mundo.
No dia em que a direção do Benfica decidiu suspender a secção, devido a restrições financeiras, foi José Jardim e alguns dos seus companheiros de estrada que não permitiram que terminasse, sem remissão, a histórica relação entre o Benfica e a modalidade. A suspensão tirou a equipa principal do Clube dos pavilhões, mas a resiliência e a paixão de um grupo de homens obstinados não permitiram que o Benfica deixasse de competir nos escalões de formação. Hoje, sabe-se que foi uma das decisões mais felizes e estruturais na ziguezagueante história do voleibol do Benfica.
Com o coração machucado, pela inédita decisão da direção do Benfica, José Jardim, o Professor, liderou o processo de reabilitação do voleibol, criando as condições para o aparecimento de equipas competitivas e alguns dos talentos que, nos anos seguintes, possibilitaram construir uma boa equipa, quando, no início do século, o Benfica retomou a atividade da sua equipa principal.
O SENHOR VOLEIBOL
José Jardim é uma instituição no Benfica. Mas o que mais o carateriza, no contacto pessoal, é a sua rara humildade. À hora marcada, encontrei-me com o Professor José Jardim no espaçoso e multidisciplinar local onde todas as modalidades treinam e se cruzam, numa miscelânea de talento e benfiquismo.
Trocamos breves mas simpáticos cumprimentos, porque o dia a dia de José Jardim, entre o Benfica e a universidade, não permite grandes derrapagens nos tempos que dedica às suas grandes paixões. Por isso, fui direto ao assunto. Perguntei a José Jardim se se sentia confortável com o rótulo que levava na minha cabeça para colar ao pretexto da nossa conversa. Senhor Voleibol do Benfica?
"Se isso for o reconhecimento da minha paixão, por ter feito do voleibol do Benfica a grande prioridade da minha vida, aceito, porque sei que isso é dito com carinho. Mas gosto mais de considerar que houve vários outros Senhores na história do voleibol no Clube. É verdade que, durante este tempo todo, houve várias tempestades, mas nunca deixámos que o barco afundasse."
"Durante este tempo todo, houve várias tempestades, mas nunca deixámos que o barco afundasse"
José Jardim
SUSPENSÃO DA EQUIPA PRINCIPAL
Meados dos anos 1990. Devido a restrições financeiras, a direção do Benfica suspende a atividade da equipa principal do voleibol. Nessa altura, após ter sido capitão da equipa que venceu os primeiros títulos de campeão para o Clube, José Jardim era adjunto de Luís Sardinha. Confrontados com a chocante decisão diretiva, José Jardim e mais alguns companheiros de estrada, como Nuno Brites, que era treinador de uma das equipas de formação, decidiram manter em atividade quatro equipas a competir.
"Conseguimos uma coisa que há mais de um quarto de século não era alcançada. Em 2000, o Benfica ganha o campeonato de juniores, numa final frente à Académica de Espinho, que tinha uma equipa cheia de internacionais, liderada pelo professor José Moreira. E nós ganhámos a final, 20-18, na negra, depois de estarmos a perder por 2-0 em sets. Nesse mesmo ano, o Nuno Brites ganha a final de juvenis. O Benfica foi campeão nacional com as duas equipas", relembrou José Jardim.
"Numa equipa que não era profissional e na qual eu criei um incentivo de 1000 escudos, aos jogadores, de cada vez que andássemos nos dois primeiros lugares da classificação. Foi assim que subimos à 1.ª Divisão"
REGRESSO DA EQUIPA PRINCIPAL
Nessa altura, a treinar a Lusíada, orientando os jogadores que a formação do Benfica escoava, José Jardim dá início ao projeto de reabilitação da equipa principal. Esse renascimento dá-se na 3.ª Divisão, com um plantel composto por muitos dos jogadores provenientes das equipas campeãs do Benfica na formação. A direção, liderada por Vale e Azevedo, dá luz verde, ainda em 2000, para que a equipa principal retomasse a sua atividade. O treinador foi António Martins, sendo José Jardim o orientador do projeto de ressurreição do Benfica no voleibol sénior.
O sucesso foi imediato, e, em dois anos, com um plantel composto por jogadores da formação, o Benfica regressou à 1.ª Divisão, já com José Jardim como treinador. Mas o salto consciente para a realidade foi dado ainda na 2.ª Divisão.
"Nesse ano, defrontámos grandes equipas, por exemplo, o Nacional da Madeira, que, com sete estrangeiros, parecia uma sociedade das nações. Tinham uma equipa fortíssima. E a nossa apenas com jogadores formados no Clube. Isso ajudou a criar uma identificação. Numa equipa que não era profissional e na qual eu criei um incentivo de 1000 escudos, aos jogadores, de cada vez que andássemos nos dois primeiros lugares da classificação. Foi assim que subimos à 1.ª Divisão."
O BENFICA COMO CHAMARIZ
Sem pavilhão, com a casa literalmente às costas, a equipa do Benfica, nos primeiros anos após o regresso à 1.ª Divisão, foi-se dividindo entre as renhidas lutas pela manutenção e alguns épicos resultados, como terminar entre os primeiros seis classificados.
"Apesar daquela dor inicial quando se deu a suspensão da equipa principal, nesta altura a alegria era imensa, porque o voleibol do Benfica estava vivo, não o deixámos cair, e tínhamos uma base a partir da qual poderíamos construir um futuro no Clube. Houve uma fase em que participávamos em torneios de preparação e sabíamos ter poucas hipóteses de os ganhar, mas era o Benfica, e isso criava uma grande empatia em torno da equipa. Todos nos davam os parabéns por não ter deixado cair a modalidade, e isso era um grande incentivo", confidenciou José Jardim.
"Fomos à final da Taça de Portugal em 2005. Foi aí, nos pavilhões, com essa equipa, que nasceu o 'Ninguém pára o Benfica' e aquele ritual de os jogadores darem a volta ao pavilhão no final dos jogos"
OS PRIMEIROS TÍTULOS
Com a construção do novo estádio e com dois novos pavilhões e todo um sortido de condições de excelência, o voleibol, assim como outras modalidades, iniciou o processo, que durou vários anos, de aproximação aos títulos, primeiro, e à hegemonia, depois. Não foi um processo linear, houve avanços e recuos, sempre com investimentos que estavam para a equipa e seus objetivos como a fotossíntese está para as plantas.
"Com os novos pavilhões, demos um upgrade à equipa. Ainda semiamadora, já que tínhamos seis jogadores amadores e sete profissionais. O rookie era o André Lopes. Tínhamos seis jogadores brasileiros, o Carlos Teixeira era o líbero. Inicialmente, o nosso objetivo era estar nos quatro primeiros lugares. O Castêlo da Maia era tetracampeão, e a força do voleibol estava toda a norte. O Esmoriz faz uma aposta incrível, com jogadores brasileiros de maior nomeada. E a equipa foi conseguindo excelentes resultados. Quase sempre com os mesmos seis jogadores, para conseguirmos andar lá em cima. Fomos à final da Taça de Portugal em 2005. Foi aí, nos pavilhões, com essa equipa, que nasceu o 'Ninguém pára o Benfica' e aquele ritual de os jogadores darem a volta ao pavilhão no final dos jogos."
A DOBRADINHA DE 2005
Na final da Taça de Portugal, frente ao Esmoriz, um ambiente festivaleiro, autocarros com adeptos do Benfica e um crescente entusiasmo em torno da equipa. Que foi decrescendo, durante o jogo, já que o Benfica perdia por 2 sets a 0. A recuperação foi à Benfica, e o jogo terminou com a nossa vitória por 3-2, com um palpitante 16-14, no set final. Vitória histórica do Benfica e o seu primeiro título, depois da suspensão da equipa principal, 10 anos antes.
Nesse mesmo ano, a espantosa equipa do Benfica conseguiu, também, chegar à final do campeonato. Contra todas as expetativas, a equipa liderada por José Jardim podia alcançar a dobradinha: "Nessa final, perdi 10 quilos... Contra o Espinho, pavilhões a abarrotar. Antes, com o Vitória, em Guimarães, chegaram a estar 3 mil adeptos a assistir ao jogo. Grandes ambientes. E ganhámos a final, a dobradinha. Foi uma sensação incrível."
"Um orçamento muito limitado, apenas três profissionais, jogadores da formação, da casa, e fizemos uma equipa que nos deu um gozo extraordinário"
HEGEMONIA A CAMINHO
Porém, nos três anos seguintes, o Benfica falhou a final do campeonato, embora tenha repetido sempre a vitória na Taça de Portugal, até 2007. Apesar dos resultados e das conquistas, a modalidade seria, de novo, confrontada com novo recuo, devido a novas restrições financeiras, mantendo a atividade com um orçamento mínimo. Durante uma noite, o voleibol esteve perto de se extinguir, mas uma decisão superior do presidente do Clube, em 2007, não permitiu que o fantasma da extinção voltasse a assombrar o voleibol no Benfica.
"Na altura, até me recomendaram que saísse do Clube, mas não o fiz. Um orçamento muito limitado, apenas três profissionais, jogadores da formação, da casa, e fizemos uma equipa que nos deu um gozo extraordinário. Éramos muito apoiados, pelos adeptos e também pelo nosso presidente, que me ligava muitas vezes, a felicitar-nos pelo nosso trabalho. Entretanto, vamos às meias-finais do campeonato e caímos frente a um poderoso Sporting de Espinho. Isto foi em 2008. Recordo que o presidente, Luís Filipe Vieira, esteve no pavilhão e, no final do jogo, desceu ao balneário e disse-nos que não ia deixar cair o voleibol e que iria dar à modalidade o apoio que ela merecia. No ano seguinte, fomos à final", lembrou, ainda, José Jardim.
Com a direção do Benfica alinhada, nos anos seguintes, a promessa de maior investimento resultou em equipas mais competitivas, e, desde 2009, o Benfica nunca mais falhou uma final do campeonato. Em 2013, volta a ganhar o título nacional, e 10 anos depois já é o clube português com mais troféus conquistados.
* Artigo publicado na edição de 14 de abril do jornal O Benfica
Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 21 de março de 2024