Atletismo

04 março 2024, 12h19

Vitória Oliveira

Vitória Oliveira

Dez anos são uma distância temporal suficiente para construir mentalmente um antes e um depois em torno de uma experiência pessoal e de um retorno ao ponto de origem. Isso aconteceu com Vitória Oliveira, que, aos 31 anos, se apresenta como uma das melhores marchadoras nacionais.

Há 10 anos, deixou de ser atleta do Benfica, procurando noutros destinos desportivos a sua felicidade e o seu melhor rendimento. Sendo do Norte, a distância física ajudou à decisão. A idade também foi um fator que pesou, porque, com 21 anos, sentiu a necessidade de um desafio diferente.

Agora, após o seu regresso, 10 anos depois, em entrevista ao programa Protagonista, da BTV, Vitória Oliveira descreveu um sentimento de gratidão e de reconhecimento da grandeza do Benfica. E notou a incrível evolução do Clube na sua disciplina e, mais abrangentemente, no atletismo.

Vitória Oliveira

"As diferenças são óbvias. O Benfica continuou a crescer imenso, e as condições, hoje, são muito diferentes do que eram há 10 anos. Eu também sou uma atleta diferente e com necessidades diferentes. Sou melhor atleta. Como pessoa, sou mais crescida, amadureci, retirei lições de todas as minhas experiências como atleta de outros clubes e, mais recentemente, como atleta individual, e cá estou de novo, com muita ambição e com um prazer incrível de representar um clube desta dimensão. Há 10 anos, talvez não estivesse preparada para esta dimensão, aos 21 anos temos uma capacidade diferente para lidar com a pressão, e não há nenhum clube que traga aos seus atletas tanta pressão como o Benfica. Aqui, ou se ganha... ou se ganha. Não é algo que todos os atletas consigam suportar naturalmente", disse a campeã nacional de marcha.

Se muitas coisas mudaram em Vitória Oliveira, no Clube, a evolução foi e continua a ser contínua. Da parte dos atletas, existe o reconhecimento de que o Benfica é, atualmente, um dos melhores clubes da Europa em atletismo.

"Essa foi uma das coisas que se alteraram em 10 anos. Quando aqui estive, o Benfica estava a reiniciar o seu projeto, e no feminino as coisas estavam um pouco mais atrasadas. Mas os objetivos da professora Ana Oliveira e do Benfica eram muito claros. Tornar o clube na grande referência nacional do atletismo e uma das maiores referências europeias. E isso foi conseguido. O Benfica é, hoje, a grande referência do atletismo nacional, como ficou comprovado nos Nacionais de pista coberta, onde o Clube venceu em masculinos e femininos, e, reconhecidamente, um dos melhores clubes europeus no atletismo. E não somos só nós que o dizemos, atletas estrangeiros dizem o mesmo e reconhecem o Benfica como um dos clubes que mais valorizam os seus atletas e melhores condições lhes oferecem. E, há 10 anos, ainda não era assim", descreveu Vitória Oliveira.

Campeões Nacionais

"O Benfica continuou a crescer imenso, e as condições, hoje, são muito diferentes do que eram há 10 anos. Eu também sou uma atleta diferente"

Vitória Oliveira

PAPA-MEDALHAS

Aos 31 anos, a marchadora do Benfica está numa fase de maturidade que lhe permite dominar o corpo e a forma como o consegue projetar para um patamar cada vez mais competitivo. A bater à porta de uma participação nos Jogos Olímpicos, Vitória Oliveira vai colecionando títulos nacionais, enquanto se prepara para os Europeus, onde até pode alcançar a marca que lhe permita uma qualificação direta para Paris.

"Neste ano, já venci os 3000 metros em pista coberta e contribuí com 8 pontos para a vitória da equipa feminina do Benfica na competição, venci a primeira edição dos Nacionais de marcha em 10 km e, anteriormente, o Nacional de marcha em 10 km. São provas onde vou conseguindo os pontos necessários para estar nos Jogos Olímpicos, se não conseguir a qualificação direta nos Europeus de marcha. E vai ser difícil, porque essa qualificação está cada vez mais apertada, porque a marca, nos últimos anos, tornou-se mais difícil de alcançar, numa medida da Federação Internacional para tornar a prova olímpica mais competitiva. Neste momento, se os Jogos Olímpicos fossem hoje, eu estaria lá, porque tenho acumulado pontos, e temos de reconhecer o esforço da Federação Portuguesa de Atletismo, que criou, por exemplo, o Nacional de marcha em 15 km, exatamente para proporcionar que os atletas possam pontuar. Foram provas importantes para mim, onde dei o melhor de mim para as vencer, e também como forma de preparação para a distância olímpica, que são os 20 km. E é essa distância que vou enfrentar nos Europeus", clarificou.

Vitória Oliveira

"Acredito que vou estar em Paris e, se estiver, vou competir e tentar entrar nas 20 melhores. Seria um enorme sucesso para mim"

O SONHO AMERICANO

Aos 31 anos, Vitória Oliveira sabe que já não terá pela frente muitos ciclos olímpicos. Paris está à distância de seis meses, e depois virão os Jogos de Los Angeles, em 2028. A atleta do Benfica aponta para a prova que decorrerá nos Estados Unidos como o pináculo da sua carreira olímpica.

"Acredito que vou estar em Paris e, se estiver, vou competir e tentar entrar nas 20 melhores. Seria um enorme sucesso para mim. E, depois, preparar-me para obter uma melhor classificação em Los Angeles. Não terei muito mais oportunidades para estar nos Jogos Olímpicos e creio que em 2028 será o limite para mim em termos de Jogos Olímpicos. Comecei tarde na marcha, e por isso o máximo que idealizo para a minha carreira são dois Jogos Olímpicos. E, em Los Angeles, tenciono estar num patamar ainda superior ao atual. Em relação a Paris, se lá estiver, vou ter um apoio de muita gente: de familiares, amigos, do meu treinador, dos meus companheiros e do Benfica. Tentarei a ser mais uma atleta do Clube nos Jogos Olímpicos, e nós sabemos que isso é de grande importância para o projeto olímpico do Benfica e para a manutenção dos seus padrões de exigência, que são muito altos", adiantou Vitória Oliveira.

Vitória Oliveira

"A capacidade para nos superarmos é uma das coisas que treinamos, porque é impossível, durante 20 km a marchar, não termos momentos de quebra"

A DIFICULDADE DA MARCHA

Será, talvez, uma das disciplinas mais difíceis de executar e que apenas o treino leva à perfeição de movimentos. A marcha tem peculiaridades próprias, e os atletas são constantemente vigiados, nas provas, por juízes muito zelosos do cumprimento das regras e que não permitem descuidos aos atletas.

muito ténue a fronteira entre a marcha e a corrida. Temos de aperfeiçoar muito a nossa técnica, porque ao mínimo erro de colocação do pé, a forma como se marcha para obter a forma mais rápida de nos movermos, os juízes estão espalhados ao longo do circuito, e podemos ser desqualificados das provas. É uma disciplina difícil que exige muito treino, que, sendo ao ar livre, pode ser influenciada pelo vento, pela sua força, se é vento lateral ou frontal, ou se o vento vem pelas costas. Mas, como eu costumo dizer, é igual para todos, nunca servirá de desculpa para resultados menos favoráveis. A chuva, o vento e o calor são fatores que os atletas não controlam, mas que são iguais para todos. Mas o pior de todos é o calor, e por isso é que as provas são disputadas muito cedo. Porque, de facto, o calor é algo que nós tememos, porque mais facilmente desidratamos e nos coloca desafios muito difíceis de superar. Mas, numa prova de 20 km, muita coisa pode acontecer e há sempre momentos de quebra, ou física, ou mental. Temos de criar resistência a esses momentos, e, muitas vezes, os incentivos que vêm de fora são muito úteis, porque é aí que vamos buscar mais forças para prosseguirmos. Mas uma das coisas que vamos adquirindo, ao longo do tempo, é a forma como aprendemos a lidar com essas dificuldades. A capacidade para nos superarmos é uma das coisas que treinamos, porque é impossível, durante 20 km a marchar, não termos momentos de quebra, não termos fadiga, não termos o corpo a dizer-nos uma coisa e a mente a dizer outra. Há, muitas vezes, um conflito entre o que queremos e o que podemos, e a experiência vai-nos dando pistas sobre como devemos proceder a cada momento. Aos 31 anos, lido melhor com esses momentos do que lidava no início", confessou Vitória Oliveira.

Texto: José Marinho
Fotos: SL Benfica e FPA
Última atualização: 21 de março de 2024

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