Nova casa, a paixão de sempre

REPORTAGEM BPLAY

Une-os o sangue angolano, agora com as raízes de sempre entrelaçadas no propósito comum de levar o Benfica a novos feitos, honrando o seu glorioso trajeto. Florentino sabe bem onde e como se trabalha, e, num momento de partilha, dá a conhecer a Leandro Barreiro o espaço no qual a ambição cresce e a preparação em busca da perfeição ganha robustez. O Benfica Campus foi exposto ao detalhe a quem se juntou à causa benfiquista, e a reportagem do BPlay captou todos os momentos.

Florentino abriu a porta do Benfica Campus a Leandro Barreiro, internacional luxemburguês que reforça as opções de Roger Schmidt para a temporada 2024/25. O médio made in Benfica já perdeu a conta ao tempo – está-lhe no corpo e nas memórias de sempre – de ligação umbilical ao Clube, e confessou-o ao centrocampista recém-chegado, quando ambos se encaminhavam para a área da Formação, um espaço que também foi de Florentino.

"Estou no Benfica há mais de uma década, já são uns aninhos. É sempre bom reviver estes momentos. Agora, graças a Deus, estou na parte Profissional, mas é sempre bom ver esta parte da Formação", atirou, antes de entrar no refeitório, repleto de jovens aspirantes a jogadores de futebol.

Leandro Barreiro não se intimidou com os olhares curiosos dos presentes – muitos deles frequentadores do Elite Training Camps – e soltou um "bom apetite".

"A alimentação conta muito! Passei aqui muito tempo, sobretudo após os 14 anos. Antes, nos 12 e 13 anos, vínhamos cá fazer alguns treinos e jogos. Depois, fazíamos tudo aqui, tínhamos muita relação com os colegas à mesa, e estão cá as 'tias', caras conhecidas que estão cá para nos ajudar em tudo", enquadrou Florentino.

E, com o olhar focado na ementa, Florentino acrescentou: "Temos várias coisas, salada... escolhemos o que queremos, fruta... Basicamente, tínhamos várias opções e o que precisávamos, tudo muito parecido ao futebol profissional, para que, quando lá chegamos, nada seja estranho." "Muito bem", aprovou, com entusiasmo, Leandro Barreiro.

O MIX ENTRE A FORMAÇÃO E A EXPERIÊNCIA

O atalho pela zona das refeições ficou para trás e a entrada principal da infraestrutura para os atletas do futebol profissional serviu para mais um momento de enquadramento cultural do que é o Benfica, como enalteceu Florentino.

"À entrada, dá para ver que há um mix com a Formação", especificou o cicerone, apontando para a imagem da primeira conquista da Youth League e enaltecendo as outras três finais disputadas pelo Clube na competição. "Aqui, está o que se pretende fazer no futuro, dar melhores condições e mais campos", continuou, centrando a atenção na maqueta do Benfica Campus. "E ali são os troféus que o Benfica já ganhou. Esperemos que neste ano consigamos aumentar", apontou Florentino, de olho no rico palmarés das águias.

Florentino acrescentou ainda um detalhe relevante: "Também temos dois troféus que o Benfica ganhou como melhor academia do mundo. Como já viste, os nossos treinos têm muitos, muitos jovens, mais de metade são da Formação. É importante haver esse mix entre os jovens e a experiência, assim a equipa fica sempre equilibrada."

Leandro Barreiro, adepto do Benfica "desde pequeno" – quando via jogar Pedro Mantorras, que atuou de águia ao peito na primeira década de 2000... –, tem bem presente a importância dada pelo Clube à sua Formação.

"O Benfica é conhecido por ter uma boa Formação", disparou, merecendo a concordância de Florentino. "Sim, sim. Nós, ao sabermos disso, sabemos também que é um clube que dá oportunidades, por isso damos um esforço extra. É o nosso sonho desde criança chegar à equipa principal, e, tendo essa janela de oportunidade, é ótimo para nós", retorquiu.

As "tias" – como carinhosamente são mencionadas as funcionárias do Benfica Campus que trabalham no refeitório – voltaram a ser tema de conversa no local onde a equipa toma o pequeno-almoço e os jogadores têm as suas conversas antes do treino.

Florentino mostrou-o e prosseguiu para outro espaço reservado. "Aqui, à direita, temos o nosso auditório. É onde temos as nossas reuniões de pré-jogo e de treino, onde o míster explica o que vamos fazer no treino. Parece uma sala de cinema. É onde temos as reuniões, vemos o que o adversário pode fazer, os sítios que podemos atacar, com o que temos de ter cuidado... É onde temos o nosso treino fora de campo", frisou.

NÍVEL E EXIGÊNCIA DE TOPO

Chegados a um dos ginásios do Benfica Campus, com mais de 400 m2, o médio luxemburguês não evitou a comparação de realidades, entre o que tem pela frente e o que conheceu nos alemães do FSV Mainz 05, onde atuou na equipa principal desde 8 de fevereiro de 2019.

"As condições eram boas, mas aqui é um nível completamente diferente. O clube [FSV Mainz 05] era um bocado mais pequeno, mas aqui é mesmo enorme. Nós, na Alemanha, tínhamos, se calhar, metade das máquinas. Foi um nível diferente", apontou Leandro Barreiro, recebendo um aceno de cabeça de Florentino, que lembrou os tempos em que jogou fora do país.

"Sim, também tenho as experiências no Mónaco [França] e no Getafe [Espanha], que são bons clubes. Mas ainda não encontrei um clube que tivesse as condições que o Benfica nos dá, e é por isso que o Benfica é um clube muito exigente, porque nos dão muito e pedem muito de nós em campo", frisou Florentino.

Mas nem só de competição é feito o dia a dia dos jogadores profissionais encarnados. Também há locais para alguns momentos de descontração, e o pequeno espaço onde costumam "brincar ao basquetebol" é um desses exemplos.

"Aqui, é uma parte onde nós brincamos, de vez em quando, com o basquetebol", atirou Florentino, antes do desafio: "Jogas basquetebol?" Leandro Barreiro não se encolheu: "Não, mas tento", respondeu prontamente, e a bola saiu da mão para o fundo do cesto. "Eh lá!", exclamou Florentino.

A VER O BENFICA DESDE... MANTORRAS

No caminho até ao Campo n.º 3, o mais usado pela equipa de futebol profissional do Benfica, houve tempo para conhecer mais um pouco as origens de Leandro Barreiro.

"Eu nasci no Luxemburgo. Os meus pais nasceram em Angola, vieram para Portugal, mas acabaram por ficar no Luxemburgo. Eu já nasci lá, com a minha irmã mais velha. Tenho família cá, em Portugal, em muitas partes da Europa, e também em Angola", revelou, indo de encontro às raízes africanas de Florentino.

"Também sou angolano, e os meus pais vieram cedo para Portugal, na altura da guerra. Vieram à procura de uma vida melhor, e hoje conseguimos concretizar o nosso sonho, jogar futebol, e ainda por cima no Benfica", afirmou, com orgulho.

"Claro, os meus pais fizeram de tudo para nós termos a melhor vida possível, e poder estar cá, poder estar aqui neste grande clube é um grande orgulho também para eles. Ainda para mais porque o meu pai é Benfiquista desde pequeno. Comecei a ver jogos do Benfica no tempo do Mantorras [representou as águias na primeira década de 2000], e, desde aí, fiquei a ser Benfiquista", disparou prontamente Leandro Barreiro.

UM BOX TO BOX QUE TAMBÉM GOSTA DE MARCAR

Ao descer para um dos campos de treino do Benfica Campus, Florentino enquadrou Leandro Barreiro.

"Aqui, são os campos de treino. Normalmente, ou quase sempre, nós treinamos por aqui, no Campo n.º 3. Depois, tem ali mais um bocadinho [de campo] para fazer o aquecimento e mais outro bocadinho [de campo] onde os guarda-redes costumam estar. Outras vezes também treinamos ali, no Campo n.º 1, que é o principal, mas vamos passar a maior parte do tempo aqui, no Campo n.º 3", revelou, antes de questionar Leandro Barreiro sobre as suas características.

"Sou um jogador que gosta de correr muito, um box to box. Acho que é uma boa definição da maneira como eu quero jogar. Gosto de defender, gosto de ajudar a equipa, mas às vezes também gosto de ir lá para a frente e marcar um 'golito'. Quem não gosta de marcar golos?", questionou o reforço.

Florentino entende que partilha as mesmas características e explicou-se. "Acho que tenho características muito semelhantes às tuas. Também sou um jogador muito de equipa, que gosta de manter o equilíbrio e manter a equipa balanceada no ataque e na defesa. E gosto das duas partes também, ajudar na defesa e no ataque, dar bons passes aos colegas e, quem sabe, também fazer golos", afiançou.

ESTILO DE JOGO CATIVANTE

O futebol praticado sob a batuta de Roger Schmidt cativa quem chega e é descrito como um fator diferenciador no momento de incorporar novos atletas. "Aqui, o nosso estilo de jogar é um estilo do qual quase todo jogador que vem para o Benfica gosta. É um estilo de estar na frente, de pressionar alto, de, quando perdemos a bola, reagir e ganhar logo, de termos a bola o mais tempo possível e mostrar um futebol bonito para, acima de tudo, ganhar jogos", resumiu Florentino.

Leandro Barreiro confessou que já sabia um pouco o que ia encontrar, precisamente pela influência familiar, e não só. A força dos Benfiquistas sempre o impressionou. "Nos últimos dois anos estive a seguir muito o Benfica, e vi a intensidade que há no Estádio, vi o amor que os adeptos têm pelo Clube, e também as expectativas dos adeptos. Via-se pela televisão! Estou ansioso por sentir tudo isso no campo também", revelou.

Florentino anuiu e enalteceu o apoio incessante que os Benfiquistas dão ao Clube. "Acho que explicaste tudo, é a intensidade que eles têm em todos os jogos, e vão estar sempre do nosso lado para conseguir o melhor resultado", rematou, concluindo com um "bem-vindo"!