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Futebol feminino
11 agosto 2024, 11h30
Rute Costa
À entrada para a terceira temporada de águia ao peito, Rute Costa destacou a forma como a grande aposta do Clube efetivou o crescimento da modalidade em Portugal e permitiu à equipa consolidar a hegemonia a nível nacional e atingir grande projeção internacional, cimentada na presença nos quartos de final da última Liga dos Campeões e consequente ascensão meteórica no ranking da UEFA (top 10 europeu).
Traçando um balanço positivo dos trabalhos de pré-época, a internacional portuguesa, que renovou recentemente o seu contrato até 2027, também falou da boa capacidade de adaptação das jogadoras contratadas para atacar 2024/25 e do impacto positivo das jogadoras da formação chamadas pela treinadora Filipa Patão aos trabalhos da equipa principal, apontando a excelente dinâmica e uma interessante fusão de conhecimentos como armas para manter a elevada bitola das águias nos últimos anos.
O Benfica vai iniciar uma nova época depois de uma recheada de sucessos, coroada com o pleno interno e com a chegada aos quartos de final da Liga dos Campeões. Como é que vocês se sentem por terem participado num percurso que seria, até há poucos anos, inimaginável para uma equipa feminina de futebol portuguesa?
O projeto do Benfica arrancou com grande ambição, e isso foi visível ao longo dos anos. Quem estava de fora e chegou ao Clube percebe perfeitamente que foi uma grande aposta. O Clube tentou sempre dar condições e fez de tudo para que a modalidade tivesse mais visibilidade em Portugal. Foi, provavelmente, o único que fez uma grande aposta, e, por isso, os resultados foram surgindo. É de enaltecer o trabalho que o Clube faz. Conseguimos destaque nacional e internacional, e isso é importantíssimo para o crescimento da modalidade. Esperamos que os restantes clubes tomem o Benfica como exemplo, porque sem dúvida que tem tido um papel importantíssimo neste capítulo. Isso proporcionou estas conquistas. Quanto a nós, jogadoras, temos um sentido de responsabilidade acrescido pelo que fizemos para trás. De ano para ano, a margem para fazer história é cada vez mais pequena, mas vamos continuar a lutar para atingir essa margem. À medida que o tempo vai passando e as conquistas aumentando, o sentimento e a pretensão de continuar a fazer história passam a ser o principal objetivo da equipa.
Os resultados alcançados e a ambição do projeto do Benfica foram fulcrais na sua decisão de renovar contrato [até 2027]?
É claro que, quando um atleta tem várias opções em cima da mesa, há muitas coisas que contam, mas, sobretudo, e desportivamente falando, a capacidade que o Benfica tem para ganhar títulos, as condições ao nível de recursos humanos e materiais e toda esta envolvência profissional numa modalidade que ainda não é profissional em Portugal são, sem dúvida, pontos a ter em conta numa renovação. Na minha cabeça, ainda não fiz tudo o que eu queria no Benfica, sei que tenho todas as condições para crescer enquanto atleta e pessoa, e sei que tenho valências que podem ser transversais à instituição, não só no jogo, mas em toda a dinâmica que envolve o futebol. Foi por aí a minha decisão.
"O Benfica foi, na minha opinião, o principal fator de crescimento da modalidade"
Rute Costa
A Rute Costa completou 30 anos recentemente e tem um longo percurso no futebol português, onde já enfrentou o Benfica como adversária e, agora, veste de águia ao peito. Face à sua experiência, o que sente que o Benfica trouxe para esta modalidade e que a fez crescer nos últimos anos?
Enquanto eu era adversária e o Benfica estava a tentar assumir a sua posição na modalidade, todos os outros clubes tentaram proporcionar esse crescimento, mas foi o Benfica que efetivou esse crescimento. O Benfica foi, na minha opinião, o principal fator de crescimento da modalidade com a aposta enorme do Clube. Tal como disse anteriormente, é importante que os outros clubes tenham esse reconhecimento perante uma instituição que tudo fez para elevar a modalidade. Agora, precisamos de mais competitividade interna para irmos mais longe a nível internacional.
Como estão a correr os trabalhos de pré-temporada?
Estão a correr bastante bem. Tem sido uma altura de grande cansaço físico e psicológico, algo que é característico desta fase. Mas acho que tanto as jogadoras como a equipa técnica estão satisfeitas com aquilo que está a ser desenvolvido. Estamos confiantes e a aprimorar as nossas capacidades, portanto faço um balanço positivo desta pré-temporada.
Existe muita competitividade no plantel por um posto no onze do Benfica. Como se sente na luta por um lugar na baliza?
Sinto-me bem. No ano em que cheguei precisei de ganhar o meu espaço. Um atleta novo precisa de se habituar às rotinas e entender a dinâmica da equipa. Isso leva algum tempo. Nesta fase, sinto-me completamente integrada naquilo que são as ideias da equipa técnica e naquilo que são os princípios e os valores do Clube. Tal como qualquer outra jogadora, estou aqui para acrescentar valor, para ajudar a equipa, para dar o melhor pelo Clube e elevar o nome do Benfica ao mais alto patamar.
O Benfica voltou a apostar forte no reforço da equipa para 2024/25. Como tem sido a integração das novas jogadoras?
Acho que elas têm conseguido adaptar-se bem. Nós também tentámos acolhê-las de forma que elas se sintam o mais confortáveis possível na sua adaptação, que é sempre difícil. É um país novo, um clube novo, jogadoras novas e uma equipa técnica nova. Há um conjunto de dificuldades pelas quais todas nós já passámos numa transição para um novo clube, e as jogadoras mais experientes, e posso colocar-me nesse patamar, têm esse conhecimento e sabem o quão difícil é a adaptação. Dessa forma, conseguimos dar uma mão, auxiliar, encaminhar e estar disponíveis para as ajudar. Mas a integração delas está a ser fácil. Estão num país maravilhoso, num clube com todas as condições e, certamente, vão ter muito sucesso aqui.
A treinadora Filipa Patão chamou várias jogadoras da formação aos trabalhos de pré-época. Como avalia a presença delas? Sente que o futuro do Benfica está assegurado?
O momento em que uma equipa técnica reconhece a capacidade de jovens jogadoras para estarem num contexto sénior diz logo tudo. Nós temos imensa qualidade [na formação], e as miúdas têm muita capacidade. É um contexto potenciador de crescimento, porque é difícil para elas: nós temos mais experiência, somos mais aguerridas, e elas, connosco, vão crescer e perceber o que podem apanhar e melhorar. Até é importante para elas recusarem os vícios que nós temos e que não são tão bons. Esta ligação entre o futuro e o presente é excelente, no sentido de potenciar as miúdas e dotá-las de capacidades para que o futuro do Benfica esteja garantido e que exista essa transmissão de valores, princípios e do saber estar. E também é importante que elas possam desfrutar de todas estas condições do profissionalismo, que têm de uma forma menos reduzida. Só têm de aproveitar este momento, crescer e pensar que também trazem muitas coisas que nós adquirimos. Há uma fusão de conhecimentos que é bastante interessante.
Uma dessas jovens jogadoras foi a Thais Lima, guarda-redes que tem trabalhado de perto consigo. O que pode ela dar à equipa no presente e no futuro?
Ela tem muita qualidade e um enorme potencial. Sei que ela tem consciência disso e da responsabilidade futura. É uma miúda que tem uma margem de crescimento enorme, e o facto de ter vindo trabalhar connosco vai dar-lhe muita experiência e muito conhecimento. Agora, com a ausência da Lena [Pauels], somos só nós as duas a trabalhar. Trocamos muita informação e muitas ideias. Ela pergunta-me algumas coisas, eu pergunto-lhe como ela se sente, como faz isto, como faz aquilo. É muito bom para ela assumir uma posição e estar preparada para um futuro em que eu, se tivesse a idade dela e estivesse nesse contexto, teria, certamente, ambições. Acho que ela tem de pensar nisso.
Há aproximadamente um ano, a equipa começou a cumprir as suas rotinas diárias no Benfica Campus. Até que ponto essa mudança contribuiu para a vossa evolução?
A vinda para o Seixal foi muito importante, no sentido de estabilizarmos a nossa rotina. Até então tínhamos algumas mudanças diárias que afetavam a estabilidade, o rendimento e a recuperação. Num dia treinávamos num campo, noutro dia em outro lado, tínhamos de levar as coisas, às vezes regressávamos e apanhávamos trânsito. Todos esses pormenores que afetam a performance atlética a longo prazo foram eliminados e permitiram que a rotina fosse muito mais estável e comprometida com o propósito da equipa. A vinda para o Seixal foi algo muito importante para a nossa equipa e também foi importante para o Clube. Essa estabilidade que nos foi permitida é, mais uma vez, reflexo da valorização, do respeito e da aposta da instituição na modalidade. O Clube tem feito tudo o que é possível para que a modalidade cresça e que as atletas tenham todas as condições necessárias para desenvolverem o seu trabalho da melhor maneira.
Temos visto nos estádios, mas também nos eventos fora das quatro linhas, a popularidade que as Inspiradoras têm junto dos adeptos do Benfica. Esperam por eles para vos empurrarem rumo a novos sucessos?
Claro que sim. Os adeptos são, sem dúvida, um pilar fundamental no crescimento desta equipa e dão-nos um apoio enorme. Dizemos, e temos sempre isso bem presente, que o carinho e o apoio deles são cruciais para a nossa performance em campo. Porque, muitas vezes, eles são o jogador a mais que nós temos. Portanto, é de realçar tudo o que eles fazem. Acho que, no fundo, também é uma resposta à forma como lidamos com eles, à atenção que damos e ao carinho que tentamos retribuir. Eles também reconhecem que a equipa feminina os valoriza, e é por isso que nos apoiam e nos seguem para todo o lado. Muitas vezes, comentamos entre nós que parece que estamos a jogar em casa, mas estamos no Norte do país. O Benfica é uma enorme instituição, com muitos adeptos, com pessoas que estão lá sempre, que têm sempre uma palavra de carinho para nos dar e que nos recebem da melhor forma possível. Esta equipa também tenta retribuir com troféus e alegrias, e acho que temos conseguido valorizar os nossos adeptos.
ENTRADA NO LOTE DAS CAPITÃS
Em 2024/25, Rute Costa fará parte do lote de capitãs da equipa feminina de futebol do Benfica e destacou o privilégio de poder exercer uma função que, revelou, já fazia por cumprir sem a braçadeira.
"Sem dúvida. Interiormente, sinto que tenho algumas valências de liderança que são características da posição de guarda-redes. Tenho muitos espaços de intervenção, de liderança e de orientação da equipa. Por si só, já sou uma pessoa observadora, gosto de perceber o que o outro sente, estar ali, apoiar e ajudar. Gosto desta dinâmica. A equipa técnica reconheceu isso nesta renovação e passou-me um papel que, para mim, é de enorme responsabilidade. É um privilégio estar num lote tão restrito e, num clube tão grande como o Benfica, é um privilégio ainda maior. Encaro esta posição como mais uma pessoa a ajudar a estabilizar o grupo e a torná-lo ainda mais forte."
Artigo publicado na edição de 9 de agosto do jornal O Benfica