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Futebol
30 setembro 2024, 21h01
António Bastos Lopes e António Silva
Lançado na equipa principal a 27 de agosto de 2022, António Silva não mais parou de crescer até se tornar no jogador mais novo, deste século, a completar 100 jogos oficiais pelo Glorioso, com dois títulos (Campeonato Nacional e Supertaça), golos e exibições marcantes nos grandes palcos, e ainda presenças no Mundial 2022 e no Europeu 2024 pela Seleção Nacional.
Orgulhoso pelo marco alcançado no passado sábado, 28 de setembro, na vitória sobre o Gil Vicente (5-1), o central Made In Benfica revisitou o seu percurso no Clube, abordou um presente marcado pelo "futebol ofensivo e atrativo" de Bruno Lage e projetou um futuro que antevê risonho: "Sem nos exaltarmos muito, a pensar sempre naquilo que é o próximo jogo e, passo a passo, acho que vamos conseguir coisas muito bonitas."
Uma conversa de António para... António, carregada de Mística e recheada de elogios, de parte a parte, à incomensurável força dos adeptos do Benfica, o "grande suporte" da equipa.
ANTÓNIO BASTOS LOPES: De António para António… Antes de mais, parabéns. És o jogador mais jovem, deste século, a atingir os 100 jogos oficiais pelo SL Benfica. Sabias disso? O que significa para ti?
ANTÓNIO SILVA: Eu sabia que, antes do jogo, iria ser o primeiro. Mas era algo que eu nunca pensei que fosse possível concretizar. Tinha o sonho, sim, de jogar na equipa A do SL Benfica. Agora de chegar aos 100 jogos… Era algo muito longínquo e que teria de ter muito trabalho envolvido. Felizmente consegui fazê-lo e, com 20 anos, ser o mais jovem de sempre neste século a fazê-lo, é um motivo de orgulho para mim.
ABL: A minha estreia… Era suplente do SL Benfica com a tua idade e a minha estreia foi com 19 anos, nas Antas. Foi uma afirmação para mim, com 19 anos, naquele tempo quando a equipa tinha 40 jogadores. Para mim, com 19 anos, chegar às Antas como titular foi uma coisa muito importante.
AS: Sim, sem dúvida. Uma estreia num Clássico tem sempre um sabor especial.
ABL: Lembras-te como foi a tua estreia e qual foi [o jogo] mais especial para ti?
AS: O jogo mais especial? Lembro-me da minha estreia, que foi no Bessa [Boavista-SLB, 0-3, 27/08/2022]. Era algo que eu já estava mais ou menos à espera, na altura, que pudesse acontecer devido às lesões no plantel. O jogo que mais me marcou… Pfuu. Individualmente é capaz de ter sido o jogo com o Paris Saint-Germain [SLB-PSG, 1-1, 05/10/2022]. Deve ter sido o meu quinto ou sexto jogo no SL Benfica, em casa. Mas acho que aquele em que eu senti mais, aquilo que era o Benfica, e que era realmente o sentir Benfica, foi com o Sporting, no golo do João [Neves] no último minuto [SCP-SLB, 2-2, 21/05/2023]. Naquele do Braga [SLB-SCB, 1-0, 06/05/2023], no ano em que fomos campeões, também senti uma adrenalina dentro de mim que nunca tinha sentido antes.
ABL: Eu vi-te crescer no centro da defesa nas várias camadas jovens, tinhas muitas aptidões para a idade que tinhas. Em que tipo de central sentes que te tornaste e em que aspetos achas que podes crescer?
AS: Eu acho que, principalmente no meu primeiro ano, foi um ano muito perfeito para mim e estava a precisar de sentir também alguma dificuldade porque a vida traz-nos dessas coisas. Nem sempre é um mar de rosas. Mas como jogador sinto que posso melhorar também naquilo que é o jogo aéreo, também defensivo. Eu olho muito para o Nico [Otamendi], que é um jogador que ganha muitos duelos aéreos. Depois as coisas vêm com a consistência, com as vivências e vou melhorando também a partir daí.
ABL: Nós defesas, primeiro temos de defender bem. Mas quem é que não gosta de marcar o seu golinho? Eu marcava poucos, o Humberto Coelho marcava muitos. Tu levas oito em 100 jogos. É bom? (…) Para um central…
AS: Acho que é uma boa média. Claramente que podiam ser mais. Acho que na primeira época fiz muitos. Fiz, se não me engano, cinco. São bons números, e acho que ainda os posso aumentar nos próximos jogos.
ABL: O Humberto Coelho – que toda a gente conhece –, que foi um dos grandes centrais do mundo, posso dizer que do mundo... havia um canto a favor do SL Benfica e toda a gente do adversário sabia que o Humberto [Coelho] chegava ao primeiro poste: "Cuidado, atenção, vejam lá que o Humberto aparece…" E o Humberto [Coelho] agarrava, chegava ali e marcava. Aproveitar melhor os lances de bola parada é um dos teus objetivos?
AS: Sim, sem dúvida. Aumentar os meus números de golos. Acho que valoriza também muito aquilo que é um defesa-central.
ABL: A Mística, a Mística… O que é que significa a palavra Mística para ti?
AS: A Mística… A Mística do SL Benfica é um sentimento que percorre dentro de nós. Que, como toda a gente diz, é difícil de se expressar, mas é algo que me foi incutido desde que eu era pequenino, pelo meu pai. E era o ir ao estádio, sentir o estádio, ver os jogadores, tirar fotos com os jogadores… É sempre algo que eu tento sempre levar para dentro de campo. O facto de eu ser benfiquista, levá-lo para dentro de campo dá-me sempre uma força extra, dentro de campo. E saber que estou a lutar pelos adeptos – que eu sou um deles, que a minha família é do Benfica –, acho que é muito por aí.
ABL: Eu costumo dizer que a Mística não se explica, sente-se. Aquilo que me introduziram em mim, no Benfica, sobre a Mística foi o sentir, o estar naquele clube que eu gosto. Queria trabalhar para continuar a estar no meu Clube, fazer coisas para que o meu Clube seja maior. Fazer coisas que o público goste e que, com a ajuda deles, o Clube continue a ter vitórias. Isto foi tudo o que me ensinaram os grandes craques que passaram pelo Benfica: Eusébio, [António] Simões, Coluna, Humberto [Coelho], Toni, o Nené… Todos esses grandes craques que passaram pelo Benfica, eu bebi tudo o que eles me passaram. Vou contar-te como é que o Benfiquismo nasceu em mim. Eu tinha… pfuuuu. Os meus pais iam para todo o lado ver o Benfica. E, então, eu era bebé de colo. Eu devia ter aí, sei lá, uns seis, sete, oito meses, talvez. E o Benfica foi jogar a Évora. Évora, como sabes, Alentejo é quentíssimo. E o Benfica, para onde vai, esgota tudo. Então o meu pai foi ao bar ver se havia uma água para ver se me dava, segundo ele, porque eu berrava por todo o lado. E então talvez tenha sido o meu batismo, nessa altura. Passou o massagista do SL Benfica, deu-me água, deu [uma garrafa de água] aos meus pais para me darem água. Eu penso que isso foi um batismo, pah… Perfeito.
AS: De Benfica. (…) Perfeito.
ABL: E tu, lembras-te dos teus primeiros contactos com o Benfiquismo?
AS: O meu pai sempre me foi contando histórias porque ele é de Moçambique e, na altura, o Benfica ia sempre jogar a Lourenço Marques. E ele sempre me contou a história de ver o Benfica a jogar, em Lourenço Marques, quando era pequenino. Ele depois veio para Portugal, quando eu nasci, e depois levava-me sempre a mim e ao meu irmão, pelo menos duas a três vezes por ano, ao Estádio da Luz ver o Benfica. Depois eu vim para o Benfica e nós – eu, o meu pai e o meu irmão –, todos os fins de semana, fizemos sempre questão de ir ao estádio. E é isso, acho que agora é passar de geração em geração aquilo que é o sentimento do Benfica e viver o Benfica.
ABL: Olha, falemos da nova época: como sentes o grupo neste momento?
AS: Eu acho que o grupo está a caminhar bem. Acho que a equipa está bastante equilibrada, estamos unidos. E sinto também aquilo que estava a dizer, de passar a Mística. Começo a sentir que os jogadores estrangeiros também sentem aquilo que é preciso para estar no Benfica, o saber estar. Principalmente também quando entram no estádio e veem aquela multidão de pessoas a apoiá-los… E acho que estamos todos a remar para o mesmo lado. O Míster [Bruno Lage] também nos passa muito aquilo que são os valores do Clube e acho que estamos todos juntos para conquistar grandes coisas pelo SL Benfica neste ano.
ABL: Qual é a mentalidade e igualmente o ambiente que se vive naquele balneário?
AS: Eu acho que é, neste momento, de muita felicidade e de muita alegria. E acho que isso está-se a transportar para aquilo que é o campo. Mas temos de continuar a trabalhar porque foram apenas alguns jogos. E, como sabemos, para conquistar grandes coisas, é preciso uma consistência grande de resultados e é isso que vamos tentar fazer. Mas pensando sempre naquilo que é o próximo jogo e não naquilo que vem mais para a frente.
ABL: Cada treinador vê o jogo à sua maneira. Eu tive várias experiências diferentes a esse nível. Sobre Bruno Lage, o que te pede ele?
AS: Eu acho que, naquilo que é o modelo do Míster [Bruno Lage], um central moderno acho que é muito importante. Mas acima de tudo a equipa, como um todo, num futebol ofensivo que as pessoas gostem daquilo que veem. Com muitos golos, se possível, e sempre tentar que a nossa baliza esteja a zeros.
ABL: Revês-te na forma como ele vê o futebol? No estilo de jogo que se aplica?
AS: Sim, sem dúvida. Eu já tinha visto na última passagem em que o Míster [Bruno Lage] esteve aqui. O futebol que era praticado. O sistema é também o sistema que eu gosto de jogar, sempre fui habituado a jogar assim na Formação também. E é isso. Um futebol ofensivo é aquilo que todos os jogadores gostam. Atrativo, que joguemos muito perto uns dos outros, com capacidade de nos associarmos entre nós. E depois partimos para aquilo que é o último terço e que culmine sempre com golos, que é o que nós queremos.
ABL: Adeptos, falar dos adeptos… Como eu disse, no antigo estádio, os adeptos chamavam por nós. Como tu sabes o estádio era todo em pedra. E havia um túnel, talvez o triplo desta extensão. E os adeptos estavam com uma ansiedade que nós entrássemos dentro do campo. Fazia-se um silêncio antes de a equipa entrar. O Humberto [Coelho] chegava a espreitar, só se via a cabecinha dele, e o público começava logo "Wow". Queria dizer que nós vínhamos aí. E o Humberto [Coelho] dizia para nós: "Está bom, está bom. Vamos embora." Entrávamos por ali, juntos. A gente entrava sempre juntos, agradecia sempre juntos (…) porque a união tem de ser essa.
AS: Faziam a vénia.
ABL: Hoje, como ontem, os adeptos do SL Benfica são exigência e paixão. De que forma eles entram no coração de cada jogador?
AS: São especiais. Pela exigência que metem também a nós jogadores. Mas acho que quando se cria uma onda à nossa volta, acho que depois é muito difícil de nos pararem porque cria-se um ambiente à nossa volta de sucesso. E catapulta-nos muito, dentro de campo, para aquilo que nós queremos que são títulos, vitórias… Acho que os adeptos são sempre muito especiais. Jogar no Estádio da Luz é sempre muito, muito especial. E também o facto de as nossas famílias – pelo menos a minha – sentirem o Clube como eu, acho que traz sempre algo de muito especial ao facto de jogarmos, quer no estádio, quer quando vamos mesmo ao Norte – que temos sempre muito apoio e sentimos sempre muito apoio. E nós jogadores sentimos que devemos sempre algo aos adeptos, e a maneira de o fazermos é dentro de campo, a jogar bem e a fazer golos.
ABL: São eles o grande suporte da equipa e temos de continuar a puxar por eles.
AS: Sim, sim.
ABL: Sentes que este Benfica está a construir uma nova história? O que vos cabe fazer, a vocês jogadores, para que o final seja feliz?
AS: Eu acho que nós jogadores queremos sempre ter um nome na história do Benfica. Aquilo que eu ambiciono é títulos e, neste momento, tenho dois e claramente que ambiciono ter mais. Mas nós, enquanto equipa, sabemos que o Clube vive de títulos, os adeptos vivem de títulos e é isso que vamos tentar passar para as pessoas. Sem nos exaltarmos muito, a pensar sempre naquilo que é o próximo jogo e, passo a passo, acho que vamos conseguir conquistar coisas bonitas.
AS: Obrigado por esta conversa. Acho que me fez muito bem este testemunho, que nós passámos entre nós. O míster [António Bastos Lopes] foi meu treinador, já nos conhecemos há muito tempo, mas acho que é sempre muito especial ter este tipo de conversas.
ABL: Ai, eu adorei! Depois de cinquenta anos, ter outro António que possa seguir as pisadas que eu fiz… É com um orgulho muito grande ainda continuar aqui no Benfica porque são mais de 55 anos a estar aqui a trabalhar e com muito orgulho de ver crescer muitos de vós, ver-vos jogar naquele campo enorme e vocês lá em baixo a dar o vosso melhor.