Um grande sucesso desportivo e social

REPORTAGEM BTV

Com uma faceta formativa bem vincada, refletida na qualidade dos resultados e com um impacto social tremendo, o Complexo de Piscinas do Estádio da Luz é um espaço no qual a presença de atletas e utentes é uma constante. Ao serem completadas duas décadas desde a sua inauguração, damos-lhe a conhecer uma casa na qual a mística está enraizada.

Das memórias ao presente, o futuro do complexo também é abordado por vários rostos indissociáveis desta estrutura que funciona desde 30 de outubro de 2004.

Nem tudo foram facilidades, como é relatado nesta reportagem aos meios do Clube, mas a base do sucesso nunca se perdeu. "Estamos muito satisfeitos com estes 20 anos. Espero que as piscinas do Benfica continuem vivas e com boa atividade também nos próximos 20 anos, num projeto com resultados fantásticos do ponto de vista do impacto social e também desportivo", refere o vice-presidente Fernando Tavares.

Na transição do antigo estádio para novas instalações, foi necessário andar com a "casa às costas", à semelhança das de­mais modalidades. "Vivemos uma experiência que provavelmente poucos clubes tiveram e que só enraizou os valores do Benfica. Conseguimos fazer uma transição quase limpa, pois estivemos quase três anos a treinar em piscinas camarárias", recorda Sérgio Proença, na altura treinador e coordenador da competição do Clube e atual encarregado do complexo.

Com o apoio dos pais, dos atletas, do presidente de secção à data, António Ponces, e do vice-presidente Fernando Tavares, segundo Sérgio Proença dá conta, o espírito de equipa foi mantido da formação aos seniores.

RESSURGIR EM FORÇA

"A passagem da piscina antiga para a nova foi um momento difícil. O nosso coordenador Sérgio Proença e o senhor [António] Ponces, seccionista, andavam de piscina em piscina a tentar manter a equipa, que foi muito abaixo, mas no ano a seguir [2004] deu-se a reconstrução da equipa até aos tempos de hoje", completa Mário Madeira, que recentemente disse adeus ao Benfica, que representou como atleta e serviu como treinador e coordenador da natação durante 19 anos.

Bem perto da nossa reportagem, vê-se que as piscinas estão cheias de crianças e outros utentes mais velhos. A hidroginástica, a hidroterapia e a natação adaptada são algumas das atividades à disposição da comunidade em geral.

Ex-presidente da secção de natação, António Ponces garante que o complexo novo é-lhe "muito especial". "Não quis que a natação acabasse no Benfica, e tive a recompensa de ver o complexo feito. Este complexo, para mim, é tudo. É a menina dos meus olhos. Vinha cá todos os dias acompanhar as obras", recorda o antigo dirigente, que esteve conectado ao Clube cerca de 30 anos.

Hoje, o complexo é um polo de dinamismo. Edgar Silva, coordenador de competição da natação do Clube, explica-nos que o Benfica se organiza entre pré-competição, cadetes, infantis, juvenis, juniores e seniores. "A partir das aulas selecionamos todos os potenciais nadadores", afirma. De escalão para escalão, o número dos treinos é intensificado. Com vários protocolos firmados com entidades como a Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica, ou a Câmara Municipal de Lisboa, há cerca de 3000 utentes do complexo, metade dos quais são crianças.

ATIVIDADE COMEÇA CEDO

Logo às 6h00, a atividade é iniciada pelos atletas de alta competição do Benfica. Uma hora depois, dá-se a abertura aos demais utentes. Há atividades para crianças, adultos, bebés, hidroterapia, hidroginástica e natação adaptada. Os horários são sempre muito preenchidos. "O número de vagas no início de cada época é praticamente zero", diz Vasco Marçalo, coordenador de atividades. Os dias são longos, e o encerramento de portas acontece às 22h30.

Professor de natação durante largos anos, treinou os cadetes e os infantis, além de ter estado na coordenação de atividades do Benfica. "Tivemos aqui uma evolução ao longo dos anos não só ao nível do número de utentes, mas também da qualidade de ensino", explica.

Superado o retrocesso natural devido à pandemia, a partir de 2021/22, notou-se um crescimento exponencial, "não só em termos de faturação como a nível de utentes".

A meta está traçada. "Apesar da manutenção contínua e da preocupação constante na me­lhoria de todos os processos internos e externos, o que é certo é que, mesmo que queiramos ter mais utentes, é complicado, porque as piscinas são as mesmas. Qualidade, temos, os serviços prestados ao utente são de qualidade, e o crescimento terá de ser sempre com vista à alteração estrutural do complexo", realça Vasco Marçalo.

PRONTOS PARA "DESAFIO GRANDE"

Em conjunto com Miguel Frischknecht, José Machado é um dos novos rostos técnicos da natação encarnada. Este último, que nadou na inauguração da piscina anterior do Clube, nota de imediato melhorias e assume "uma felicidade grande" por viver este momento de águia ao peito. "O tempo passa muito rápido", atira, lançando um olhar para o futuro.

Manter o nível de resultados alcançados essencialmente no último ciclo olímpico é um "desafio grande". "Mais importante é potenciar ao máximo os valores individuais, no sentido de conseguir que eles atinjam o melhor nível possível", refere.

47 ANOS DE DEDICAÇÃO

Há 47 anos como professora de natação do Clube, Brígida Pedro é um exemplo de dedicação "à causa". "Adoro o que faço", assume, satisfeita com o incremento anual de utentes.

"Quanto mais espaço temos, mais alunos temos", afirma. Brígida também dá aulas a bebés, e a lista de espera para as inscrições dos mais pequenos é uma realidade, sinal da qualidade do serviço prestado.

CONDIÇÕES DE TOPO, REALÇAM DIOGO RIBEIRO E MIGUEL NASCIMENTO

Nadadores olímpicos, o multimedalhado Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento, capitão da equipa de natação das águias, enaltecem as condições das instalações. "Não é qualquer clube que tem estas condições. É importante continuar a insistir nas boas condições da piscina e do complexo, e está muito bem encaminhado. Sempre foi muito fácil treinar aqui e ter espaços livres, pistas para os atletas treinarem", diz Diogo Ribeiro, atual expoente máximo da natação do Clube.

"Na natação portuguesa, o Benfica é o clube que oferece mais condições aos atletas. É manter e lutar por melhores condições para um dia podermos estar acima de todos os clubes lá fora também", prossegue.

No mesmo espaço, encontra-se o ginásio, um complemento determinante ao trabalho feito na água. "Não é só a piscina que conta. Há muito trabalho fora da água", diz o campeão do mundo nos 50 e 100 metros mariposa.

Mais experiente, Miguel Nascimento concorda: "Aqui temos a facilidade de ter o ginásio ao lado da piscina, o que facilita a organização de treino. Temos um preparador físico, vários treinadores que estão constantemente em contacto com ele, e a partilha dessa comunicação faz com que as coisas resultem e que haja resultados a curto/médio prazo", sublinha Miguel Nascimento.

As sementes para o futuro estão lançadas: "Os resultados não mentem. Não é fácil atingir o que conseguimos. Fomos campeões nacionais em masculinos e femininos. Temos uma equipa jovem e o acompanhamento ideal para podermos continuar a demonstrar o nosso valor. Sem o investimento e as infraestruturas, as coisas tornar-se-iam mais difíceis. E, em vez de termos só um Miguel Nascimento ou um Diogo Ribeiro, podemos ter um leque maior, inclusive em diversas distâncias e estilos, isso é o que nós desejamos."

Coordenador da competição do Benfica, Edgar Silva realça a "excelência" das condições das águias e o "fenómeno" Diogo Ribeiro. "O Diogo Ribeiro é muito importante no Benfica e na natação portuguesa. Traz uma visibilidade que é muito boa", vinca, dando um exemplo elucidativo: "Entra na piscina, e toda a gente o reconhece, quer cumprimentá-lo e tirar uma selfie. Teve impacto nas novas inscrições. Praticamente todos os dias temos atletas de qualquer parte do mundo a querer ingressar no Benfica. Deve-se muito ao fenómeno Diogo Ribeiro."

PENTACAMPEÃS SÃO EXEMPLO

Está há 11 anos nas funções de treinador do Benfica e é o timoneiro da equipa feminina de polo aquático das águias, pentacampeã nacional. Conhecedor do palco onde nos fala, António Machado refere que o Complexo das Piscinas é "extraordinário" e tem "tudo o que é necessário para a prática aquática da natação, do polo aquático ou de outra vertente".

"Basicamente, é um orgulho vir para aqui todos os dias, estar no clube do meu coração e poder desempenhar as funções que me foram confiadas para conseguir levar o nome do Benfica aos pa­tamares mais altos", afirma.

E desde a criação da equipa masculina, há dois anos, o técnico garante que as escolinhas de polo aquático têm "um dinamismo completamente diferente". António Machado lamenta apenas que a equipa ainda não possa disputar jogos oficiais na Luz, pois a piscina não tem a profundidade de 1,80 metros, requisito obrigatório para tal.

Todavia, a equipa sub-23 já festejou um título em casa junto dos adeptos, sendo este um dos momentos que destaca destes 20 anos. O outro é referente às seleções portuguesa e sul-africanas, protagonistas do primeiro embate oficial no complexo.

SUCESSO E RENTABILIDADE

A forte coesão entre todos é destacada por Sérgio Proença, encarregado do complexo. "Construímos um projeto de natação uno, em que as escolas nunca estariam dissociadas da competição, que seria sempre o nosso indicador da qualidade, do que iríamos trabalhar nas escolas, na formação em si. Construímos um modelo que teve sucesso não só dentro da nossa própria casa como também para o exterior", diz, dando conta de o complexo ser um exemplo de rentabilidade financeira e desportiva.

Sérgio Proença ressalva ainda que o espaço se tornou um "pilar financeiro não só para dentro da própria modalidade, mas para as modalidades de pavilhão durante sete ou oito anos". "Além de alimentarmos os custos do com­plexo e os custos da competição, fomos um pilar para as modalidades", assevera.

"Tivemos pessoas que deram a vida pelo Clube e por este projeto, que se cimentou no mercado de uma forma muito simples", explica.

A base para o sucesso assenta na qualidade do serviço, da pedagogia e na qualidade técnica em prol das crianças e dos mais velhos. "Conseguimos povoar o nosso complexo, dos bebés até aos idosos, com atividades multifacetadas. Não nos focámos só na competição, mas em dar uma variedade de atividades que conseguisse trazer retorno financeiro com inscrições, classes abertas com atividades para bebés, hidroginástica e hidroterapia."

UM "PRODUTO DIFERENCIADO" EM VIAS DE REQUALIFICAÇÃO

Para Fernando Tavares, os títulos nacionais alcançados em masculinos e femininos na época passada estão relacionados com um processo com 20 anos, desde a existência do novo complexo. "Tivemos atletas nessas equipas, rapazes e raparigas, que iniciaram aqui a natação de bebés. Fizeram a sua iniciação aqui e puderam participar nessas conquistas. Há esta vertente desportiva, e temos de nos lembrar do apoio do ponto de vista do treino de alta competição", diz o vice-presidente do Benfica, enfatizando o êxito do polo aquático feminino e o crescimento do projeto masculino.

"Temos de nos sentir orgulhosos e satisfeitos com tudo aquilo que foi feito no complexo de piscinas", considera Fernando Tavares, deixando "um agradecimento muito especial a todos os profissionais, treinadores, auxiliares e a todas as equipas profissionais que ao longo dos anos passaram pelo complexo".

Com uma série de protocolos estabelecidos, o dirigente reforça que esta foi uma "aposta ganha". "Não podemos esquecer-nos de que, com cerca de 2000 utentes nas piscinas, isso acaba por enriquecer a nossa atividade comercial à volta do Clube. O complexo de piscinas acaba por ser um contribuinte para o crescimento do número de sócios", vinca, dando conta da intenção futura de requalificar o espaço: "Quando inaugurámos as piscinas, havia uma grande escassez de piscinas em Lisboa. Conseguimos criar um produto diferenciado, de qualidade, que tem de ser agora requalificado em função dos tempos e da antiguidade da piscina. Temos um projeto que gostaria de implementar no próximo defeso, de início da requalificação das piscinas para poder dar uma oferta mais moderna, mais eficaz e mais segura a todos os utentes."

Este artigo faz parte da edição de 1 de novembro do jornal O Benfica