Hóquei em Patins Feminino

04 novembro 2024, 09h00

Beatriz Figueiredo

Beatriz Figueiredo

A forma como Beatriz Figueiredo patina, com a elegância de uma dançarina, talvez não seja a mesma como bate com o martelo da justiça, na sala de um tribunal. Mas, na vida da atleta do Benfica, são duas realidades paralelas que confluem quase naturalmente, entre a pele de juíza, para a qual estudou longamente, e o estatuto de uma das melhores jogadoras de hóquei em patins, em Portugal, para o qual nasceu.

Sóbria, estudiosa e benfiquista, nascida em Coimbra, Beatriz Figueiredo tornou-se uma portadora da mesma mística que alimentou o seu sonho de jogar no clube do coração. Numa entrevista ao programa Protagonista, da BTV, fizemos o raio-X às três dimensões acumuladas pela voluntariosa jogadora do Benfica. Atleta, juíza e mulher.

SEDE DE VITÓRIAS

"É o que define a nossa equipa. Saem umas jogadoras, entram outras, mas vai-se mantendo o núcleo, e isso é o mais importante para não deixar morrer esta chama que alimentamos todos os dias, nos treinos e nos jogos. Os títulos são o nosso combustível e algo que perseguimos naturalmente. Queremos ganhar, queremos acrescentar mais troféus para o Cosme Damião e queremos dar alegrias aos nossos adeptos, que vivem disso. E é isso que passamos às mais novas, às jogadoras que chegam ao Benfica e têm de perceber imediatamente como isto funciona. Aconteceu comigo, há cinco anos, quando cheguei de Coimbra. Eu já conhecia algumas jogadoras, da seleção, sempre alimentei o desejo de jogar no Benfica, porque sou benfiquista desde pequena, e a minha família também gosta do Benfica. Mas, chegando aqui, quando começamos a viver o Benfica por dentro, chegamos a uma equipa tão ambiciosa como a nossa, há coisas que nos surpreendem e que nos dão uma motivação incrível para continuar a ganhar. É mesmo um vício, e gostamos desse vício. Não o queremos perder."

Beatriz Figueiredo

"Queremos ganhar, queremos acrescentar mais troféus para o Cosme Damião e queremos dar alegrias aos nossos adeptos, que vivem disso"

Beatriz Figueiredo

O GRANDE PAULO ALMEIDA

"Era uma das coisas que, quando jogava, pela Académica, me suscitava mais curiosidade. Saber como era Paulo Almeida como treinador. Eu olhava para ele com grande respeito, admiração, mas também com um ponto de interrogação. Como seria ele no dia a dia? Trata-se de um dos maiores nomes da história da modalidade, no Benfica e no mundo. É o Paulo Almeida. E, quando cheguei, na primeira conversa que tive com ele, ia com algum temor. Como seria estar ali com um dos melhores jogadores de sempre? Claro que me senti pequena, mas o Paulo Almeida também tem esta qualidade: apesar de ser um dos grandes no hóquei em patins, é uma pessoa incrível, muito humilde e que nos trata com muito respeito e com muita amizade. Mas a forma como nos incute a motivação para ganhar, como nos exige nos treinos, é incrível. Temos treinos mais competitivos do que alguns jogos, e isso vem do nosso espírito, de não aceitarmos a derrota, e da forma como o Paulo Almeida nos lidera."

Beatriz Figueiredo

"Temos treinos mais competitivos do que alguns jogos, e isso vem do nosso espírito, de não aceitarmos a derrota, e da forma como o Paulo Almeida nos lidera"

UMA EVOLUÇÃO CONSTANTE

"Estamos sempre a evoluir. Talvez por sermos mulheres, falamos muito umas com as outras. Por vezes, falamos com o Paulo Almeida, fazemos uma pausa no treino e conversamos entre nós sobre o que estamos a fazer bem e o que podemos fazer melhor. Temos abertura para isso, e as coisas funcionam bem. Mesmo nos jogos, se alguém falha um passe, um golo, tem imediatamente o incentivo das colegas. E, depois, o Paulo Almeida. Ele vê coisas que nós não vemos, o que tem que ver com a sua experiência de ter sido um dos melhores do mundo. Coisas que não nos passam pela cabeça mas que ele vislumbra. Pode ser um passe, pode ser uma ação de jogo, mas é incrível a intuição que ele tem do jogo e a forma como nos passa essas informações. Fazem-nos crescer. E ajudamo-nos umas às outras. Umas jogadoras são boas numas coisas, outras jogadoras são boas noutras. Se vejo uma colega que faz uma ação que eu não tenho capacidade de fazer, peço que ela me ensine a fazer. Este é o tipo de grupo que temos, de jogadoras campeãs mas humildes e que são muito a imagem do treinador e do Clube. Isto é muito Benfica."

Beatriz Figueiredo

"Todos os anos, na primeira reunião do plantel, definimos os objetivos para a temporada, e a Liga dos Campeões está sempre incluída"

LIGA DOS CAMPEÕES

"Todos os anos, na primeira reunião do plantel, definimos os objetivos para a temporada, e a Liga dos Campeões está sempre incluída. Sabemos que é difícil, mas é um objetivo que perseguimos desde há vários anos. Essa competição tem-nos escapado, por detalhes, mas que acabam por ser importantes na definição dos vencedores. E os detalhes têm caído para o lado das equipas espanholas. Mas andamos sempre perto. Claro que não ignoramos que essas equipas competem num campeonato que lhes permite estar sempre com uma concentração altíssima, porque é uma competição muito exigente. E é isso que nos falta, na nossa liga, essa exigência, porque, em muitos jogos, podemos ter uma distração, uma quebra, que sabemos que a seguir vamos dar a volta ao resultado. Uma falha com estas equipas pode ser fatal, e tem sido fatal. Precisamos de ter mais jogos destes, durante a época, mais jogos da Liga dos Campeões, para elevarmos o nosso nível, até físico. Às vezes, quando competimos com as equipas espanholas, sentimos essa diferença de ritmo, e isso acaba por ser determinante. Neste ano, o objetivo continua a ser o mesmo, o sorteio foi mais simpático para nós, porque no ano passado calhámos no grupo das duas equipas espanholas que foram as finalistas da competição. Queremos estar na final four, e, estando lá, tudo pode acontecer. Acreditamos que pode cair para o nosso lado, e podemos conquistar a competição com que sonhamos."

Beatriz Figueiredo

"É o grande desafio de qualquer atleta que vista a camisola do Benfica. Estar à altura da nossa mística, do nosso sentimento pelo Clube"

PORTADORA DE MÍSTICA

"É impressionante carregar essa mística. E senti-la cada vez que vestimos a camisola do Benfica, senti-la aqui no estádio, onde temos a presença constante dos nossos adeptos, senti-la na exigência que colocam sobre nós e que nós colocamos a nós próprias. Quando cheguei, sabia que vinha para um grande clube, para o meu clube, mas cá dentro as sensações são diferentes, ainda melhores. Já me sinto portadora da mística, estou aqui há cinco anos, tento passar às mais novas esses valores da mística do Clube, e tento jogar e treinar sempre com esse objetivo de estar à altura. Esse é o grande desafio de qualquer atleta que vista a camisola do Benfica. Estar à altura da nossa mística, do nosso sentimento pelo Clube, de estar à altura do que ele nos dá e à altura dos nossos adeptos. Acho que é isso que é a mística. Estar à altura do Benfica, em todos os momentos."

Artigo publicado na edição de 1 de novembro do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 4 de novembro de 2024

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