Polo aquático feminino

15 novembro 2024, 16h25

Mariana Sousa

Mariana Sousa

Aos 22 anos, Mariana Sousa já viveu de tudo um pouco ao serviço do seu clube do coração. Chegou ao polo aquático do Benfica com 13 anos e no início do projeto que visava construir a atual hegemonia na modalidade.

E construir é algo que Mariana gosta de fazer, já que está a fazer o mestrado do seu curso académico em arquitetura. Nem sempre foi fácil conciliar os estudos com os treinos e a competição, mas, há oito anos no Clube, Mariana tornou-se uma das maiores referências para as jogadoras ainda mais jovens da equipa.

Ambiciosa, a lateral-ponta deseja manter a sequência de vitórias nas competições internas, mas pretende adicionar o sonho de conquistar a LEN Challenger Cup Women. Confissões no programa Protagonista, da BTV.

Mariana Sousa

"Jogar no Benfica obriga-nos a estar sempre focadas nos títulos e nas conquistas. É isso que é jogar no Benfica"

Mariana Sousa

SONHO EUROPEU

"Ganhar a Challenger Cup é um sonho que temos na equipa. Já ganhámos tudo o que tínhamos para ganhar em Portugal e queremos continuar a ganhar. Queremos o Campeonato, depois do penta, queremos a Taça, e já conquistámos a Supertaça. Jogar no Benfica obriga-nos a estar sempre focadas nos títulos e nas conquistas. É isso que é jogar no Benfica. Mas queremos acrescentar algo às nossas carreiras, e esse algo é a Challenger Cup. Os nossos adeptos estão muito habituados às nossas vitórias, no nosso campeonato, no nosso contexto, mas pode existir uma falsa sensação de que as nossas vitórias são fáceis. Mas elas dão muito trabalho, e nem sempre foi assim. No meu começo, o Benfica não era a equipa que ganhava tudo em Portugal, houve uma aposta do Clube num conjunto de jogadoras, que cresceram juntas no Clube. Foi assim que se deu a evolução no Benfica. Passámos por tudo, passámos de ficar em 3.º no Campeonato a dominá-lo. E agora temos este sonho de ganhar a Challenger Cup. E acredito que o vamos conseguir."

A UM GOLO DA FINAL

"Na época passada, ficámos a um golo da final. Foi injusto, porque no confronto direto até vencemos a equipa que depois foi à final, porque tinha mais um golo que nós, na diferença entre marcados e sofridos. Foi injusto, e por um golo não conseguimos ir à final da Challenger Cup. Depois, perdemos na disputa do 3.º lugar, também num jogo muito renhido, e falhámos as medalhas. Mas sentimos que poderia ter caído para o nosso lado. Foi frustrante, porque tivemos um comportamento que nos poderia ter dado a vitória na competição. E sentimos que a poderíamos ter vencido. E isso reforçou a nossa vontade de ganhar a Challenger Cup. Nós já lá estivemos, na final four, e estivemos a um pequeno passo de disputar a final. Foi realmente injusto que não pudéssemos disputá-la, ainda houve ali alguma incerteza sobre o critério de apuramento, se seria o confronto direto ou a diferença de golos, e, lá está, falhámos a final por um golo."

Mariana Sousa

"Queremos este troféu europeu no Museu Cosme Damião. E o Benfica merece que lutemos por ele, porque apostou em nós"

RONDA DE APURAMENTO

"Foi com esse espírito [de chegar à 2.ª ronda da Challenger Cup] que viajámos para a Roménia, no último fim de semana. Ficámos no grupo de cinco equipas, e isso obrigou-nos logo a disputar quatro jogos em poucos dias. Foi muito exigente, enfrentámos o Estrela Vermelha, da Sérvia, o Galatatasaray, da Turquia, e uma das melhores equipas da Alemanha. Tudo países onde o polo aquático está muito mais desenvolvido que em Portugal. E também enfrentámos a equipa local. Ganhamos ao Estrela Vermelha, num jogo que se tornou mais fácil do que esperávamos. Apresentaram-se com uma equipa muito jovem, muito diferente da equipa que tínhamos defrontado na época passada. Depois, veio o Galatasaray, o que é sempre um jogo duro, porque as turcas são sempre muito agressivas, com os seus truques subaquáticos, com puxões e outras jogadas menos corretas, mas que os árbitros não veem. Podemos dizer que, com elas, o fair play é mesmo uma treta. Mas ganhámos, impusemos o nosso jogo e seguimos em frente. Depois, à tarde, com o cansaço a acumular-se, defrontámos a equipa alemã, e aí sentimos dificuldades, num jogo sempre muito disputado, mas que acabámos por ganhar, muito devido ao espírito de nunca desistir que esta equipa tem. É o tal espírito à Benfica que nos obriga a reagir às dificuldades. E ganhámos 11-10 e ficámos numa posição mais confortável para o apuramento."

AMBIENTE HOSTIL

"No jogo final desta ronda de apuramento, defrontámos a equipa romena. Piscina com as bancadas cheias de adeptos locais, que incentivaram sempre a sua equipa, com o nosso cansaço a acumular-se, e um jogo que acabou por se decidir nas grandes penalidades. Mas, apesar do ambiente que nos era hostil, temos uma confiança ilimitada nas nossas guarda-redes, que são de uma qualidade incrível, e sempre mantivemos a convicção de que o jogo iria cair para o nosso lado. E caiu. Foi uma ronda de apuramento com quatro vitórias, e, como o nosso treinador disse, no fim, com a sensação de que, nesta competição, podemos ganhar a qualquer equipa. Também é verdade que podemos perder com qualquer uma, porque se trata de uma prova onde existe muito equilíbrio. Mas sentimos isso, que podemos ganhar qualquer jogo, e é daí que vem esse sonho que queremos tornar realidade. Queremos este troféu europeu no Museu Cosme Damião. E o Benfica merece que lutemos por ele, porque apostou em nós, continua a apostar e é um clube que nos dá condições incríveis para jogar a nossa modalidade."

Equipa do Benfica

"Serão jogos muito duros, mas sinto que vamos estar preparadas e em boa forma para manter esta sequência de vitórias na Europa"

A RONDA SEGUINTE

"Desta vez serão três jogos, mas todos muito difíceis. Como disse, há muito equilíbrio entre as equipas, e podemos ganhar ou perder com qualquer uma delas. Vai ser equilibrado, vamos defrontar mais uma equipa sérvia, mas agora será mais complicado. O Voyvodina é uma formação mais experiente e vai colocar-nos problemas diferentes. Será um desafio. Também a equipa alemã [SV Blau-Weiss Bochum], que é, atualmente, uma das mais bem classificadas na sua liga, será um adversário temível. Mas estamos prontas, temos pouco menos de um mês para nos prepararmos, e o objetivo é o apuramento para a final four da competição. Queremos lá estar novamente, e desta vez para estar na final e ganhar. Mas tem de ser um passo de cada vez, e agora temos mais esta ronda de qualificação. Serão jogos muito duros, mas sinto que vamos estar preparadas e em boa forma para disputarmos todos esses jogos para ganhar e manter esta sequência de vitórias na Europa. É muito importante para nós e para o Benfica, porque nos dá reconhecimento internacional."

LIDERAR A EQUIPA

"Eu não acho que seja uma verdadeira líder nem acho que a equipa a tenha. Trata-se de um desporto de equipa, onde todas temos um papel a cumprir. É evidente que tento passar às mais novas muitas das coisas que outras me ensinaram. Isso é importante num clube que aposta tanto na formação, como o Benfica. Temos, na nossa equipa, várias jogadoras que estão a começar, uma delas tem 15 anos, e, portanto, aquelas que andam cá há mais tempo têm uma função a cumprir, fora do campo. Mas não vejo isso como liderança, mas, sim, como forma de ajudarmos ao crescimento dessas atletas. Já todas passámos por isso, e a equipa torna-se mais forte se todas elas conseguirem apreender o que é necessário para se tornarem jogadoras importantes e úteis ao Benfica. No fundo, queremos ser uma equipa à Benfica, e para isso é importante passarmos essas mensagens às mais novas."

Artigo publicado na edição de 15 de novembro do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 15 de novembro de 2024

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