"Jogar pela Família Benfiquista"

ANTEVISÃO

Potencialmente decisiva: é assim que é vista por Bruno Lage a receção do Benfica ao Sporting, neste sábado, 10 de maio, para a 33.ª jornada da Liga Betclic. Jogar para vencer, pelo Clube e pela Família Benfiquista, tendo o apoio inexcedível dos adeptos como suporte, é o desígnio do grupo de trabalho para o dérbi.

A perspetiva de o embate no Estádio da Luz poder definir o campeão nacional é, segundo Bruno Lage, a "melhor forma de promover o futebol português". Confiante para o duelo entre "duas grandes equipas", o técnico recorda que o Benfica, como sempre afirmou, "está na posição em que queria estar". O próprio treinador projetou que as duas últimas jornadas seriam determinantes para a definição do vencedor da competição.

Como é que estão a abordar este dérbi? Que peso pode ter o fator casa num jogo que pode ser decisivo?

Que melhor forma de promover o futebol português e o nosso Campeonato, fazendo o jogo de amanhã [sábado]... Quando olhamos para Campeonatos como o de Inglaterra, o de França, o da Alemanha, o campeão já está encontrado... E amanhã podemos ter a oportunidade de jogar o jogo do título. Não há melhor forma de promover o nosso futebol e o nosso Campeonato. O adversário que vamos defrontar: uma excelente equipa, com um excelente treinador. O Rui [Borges] tem feito um trabalho muito bom ao longo de toda a época. Eventualmente, será o treinador português com mais jogos nesta época, por aquilo que já fez no Vitória SC e pelo que está a fazer no Sporting. Vamos defrontar uma equipa muito boa, muito competente, com valores individuais e valores coletivos. Olhando para cada jogador, reconhecemos, perfeitamente, o valor de cada um. Quando olhamos para os jogadores que jogam na frente, como o Trincão – que conheço muito bem –, o próprio Viktor [Gyökeres], o próprio Pote, são jogadores de seleção, com enorme potencial. Por isso, tudo junto, perspetiva-se um grande jogo de futebol. Vamos jogar contra uma grande equipa, nós também somos uma grande equipa. Amanhã temos a oportunidade de discutir o título de campeão, e, sim, claramente convicto de que o apoio dos nossos adeptos é muito importante e decisivo para o desfecho.

Rui Borges, há pouco, apelidou este como "o jogo do século". Queria, primeiro, perguntar-lhe se concorda. O treinador do Sporting também disse que, para ele, até agora, este era o jogo mais importante da carreira. Bruno Lage já virou um Campeonato no Dragão [2018/19], já foi campeão, já esteve na Premier League e no Brasil. Essa experiência, essa tarimba, pode dar-lhe alguma superioridade em relação ao treinador do Sporting para este jogo?

Aquilo que eu considero é que o jogo mais importante é sempre o próximo. A título individual, a título coletivo e do Clube, é um jogo muito importante. Pode ser decisivo, e é dessa forma que o estamos a viver.

Permita-me só frisar um pouco a última questão, perguntar-lhe mesmo se em termos pessoais é o jogo mais importante da sua carreira, depois de tudo o que já viveu, inclusivamente nesta temporada, com tantas contrariedades. Em relação à equipa, Di María pode jogar amanhã [sábado]? Está à espera que Pedro Gonçalves seja titular no Sporting?

Na nossa profissão, o jogo mais importante será sempre o próximo, e amanhã, repito, é um jogo muito importante e pode ser decisivo para um título. Por isso, tem essa importância, e nós temos essa consciência. Do nosso lado, aquilo que eu lhes posso dizer é que Di Maria está convocado para o jogo. [Pedro Gonçalves titular?] Acredito que sim, porque foi aquilo que eu disse: acho que é um jogador com enorme talento, enorme qualidade individual, traz muito à equipa, e joga. Se joga de início ou depois entra, cabe também ao Rui [Borges] decidir. A nós cabe decidir é... para já, fazermos a convocatória, e depois escolher a melhor estratégia para o jogo.

Se o Benfica for campeão, Roger Schmidt também tem quota-parte neste título? A sua continuidade aqui no Benfica depende deste título, ou melhor, do jogo de amanhã [sábado, 10 de maio]?

Tenho andado a adiar algumas perguntas suas [sorrisos]. Peço-lhe para fazer essa pergunta a seguir ao jogo de amanhã. O que é importante para mim é que eu tenho uma ideia muito clara daquilo que eu quero para o meu futuro, e isso é que é o mais importante, mas vou-lhe lançar o desafio, que é de pensar juntamente comigo qual foi o grande primeiro objetivo de quando cá chegámos, e acho que conseguimos os dois grandes objetivos. O primeiro era voltar a puxar os adeptos para junto da equipa, para apoiar a equipa, e nós sentimos isso, porque aquilo que vamos viver amanhã seria impossível sem o apoio e sem esta proximidade que eu sinto que os adeptos têm da nossa equipa. Depois, quando cá chegámos também e olhámos para aquilo que é o Campeonato e o calendário, nós queríamos estar nesta posição. Vocês sabem que eu tenho dito isto várias vezes, que o Campeonato se iria decidir nas últimas duas jornadas. Por isso, é nesta posição que estamos, estes dois primeiros objetivos foram alcançados. Agora, nós sabemos... Taça da Liga já vencemos, neste momento já temos garantido eliminatórias da Champions, fizemos oitavos de final da Champions, somos finalistas da Taça de Portugal, acho que conseguimos enquadrar os nossos jogadores para jogarem de uma forma que as pessoas gostam e que vibram com o futebol ofensivo de que nós falámos, com golos. Acho que conseguimos também fazer o enquadramento de alguns jogadores e trazer o melhor deles ao serviço da equipa e também se destacar. Isto, num clube, ou na maioria dos clubes europeus, era uma época razoável. No Benfica, é insuficiente, e eu e a minha equipa técnica temos plena consciência disso. Se você for ao Museu do Benfica, o título 18/19, estão lá as duas fotografias, Rui Vitória e Bruno Lage. É aquilo que eu mais desejo, e nós vamos trabalhar muito para que, no futuro, possam também estar lá duas fotografias, a minha e a do míster Roger.

Numa publicação de uma página afeta ao Benfica nas redes sociais, em que se falava que o jogo de amanhã [sábado] poderia ser o último de Di María na Luz, Di María foi lá responder com uma cara triste. Eu pergunto-lhe se poderá mesmo ser o último jogo de Di María na Luz, ou se, por outro lado, ainda tem esperança de que ele renove. E já agora pergunto-lhe se na última jornada tirou algumas notas da forma como o Gil Vicente conseguiu travar Gyökeres em Alvalade.

Sobre o Di María não lhe sei responder, e [sobre] a segunda [pergunta]... tiramos notas é sobre a forma como o Sporting joga, e depois é o trabalho da nossa equipa técnica, meu e da equipa técnica, de analisar o adversário. Nós já jogámos com N adversários, o nosso trabalho parte disso: nós analisarmos, em função da nossa forma de jogar, como preparar a melhor estratégia para o jogo, e foi isso que fizemos. [Di María?] Não lhe sei responder a essa pergunta. Eu gosto muito de trabalhar com o Di María, isso é uma situação que depois terá de ser resolvida entre o Presidente e o Di María.

Voltando ao fator casa, o Benfica precisa de um pouco mais do que o Sporting para se sagrar campeão [no jogo de amanhã, 10 de maio], precisa de dois golos ou mais. Esse apoio poderá ser, de facto, determinante? Gostaria de deixar uma mensagem aos adeptos do Benfica?

O nosso grande objetivo, enquanto profissionais de futebol e estando neste clube, é jogar pelas nossas famílias, e jogar neste clube representa isso: jogar pela minha família e jogar pela Família Benfiquista. Acredito que amanhã, por aquilo que foi a aproximação dos adeptos à equipa, os adeptos vão estar do nosso lado. Independentemente das diferenças, amanhã só há um caminho, os adeptos sabem, a equipa sabe, e vamos estar juntos, unidos e a receber esse forte apoio das bancadas durante os 90 minutos, porque é aí que se vai encontrar um vencedor do jogo.

Miguel, antigo lateral-direito do Benfica e internacional português, e Álvaro Magalhães [antigo jogador e treinador adjunto do Clube] tiveram a oportunidade de falar nesta semana connosco [A Bola], e falaram, justamente, da forma de tentar travar Gyökeres. Miguel dizia que não se deve jogar em antecipação, e Álvaro Magalhães dizia que não se deve deixar Gyökeres virar-se para a baliza do Benfica com a bola. Partilha dessa ideia? Poderá, de alguma forma, elucidar-nos de como é que o Benfica vai tentar travar Gyökeres?

Nós temos uma ideia muito clara sobre a estratégia para o jogo de amanhã [10 de maio], e, como deve calcular, não a vou partilhar convosco.

Na preparação para este jogo, tirou mais notas dos últimos jogos do Sporting, ou do jogo da 1.ª volta entre o Benfica e o Sporting? E já agora: este Sporting, para si, é mais forte do que o que defrontou nesse dérbi?

Nós olhamos sempre para aquilo que as equipas vão fazendo nos últimos jogos. Por isso, há sempre 5 ou 6 jogos que temos algum cuidado de analisar, mas depois há sempre ideias que podemos tirar de outros jogos. O que é importante, e que fique bem claro, é que nós sabemos que vamos jogar contra uma grande equipa, que já jogou sob o comando do Rui [Borges] em diversos sistemas. Nós também temos tido a capacidade de ter essa forma de encarar os jogos e de estrategicamente poder encontrar sempre boas soluções para este tipo de jogos. É nisso que nos concentramos.

Há 6 anos, antes do jogo com o Santa Clara, em que se tornou campeão nacional, mandou estampar uma camisola com o nome de Jaime Graça, e aquilo que lhe pergunto é se, para amanhã [sábado, 10 de maio], já pediu para estampar alguma camisola, e a quem é que irá dedicar o título de campeão. Pedia-lhe também só um comentário, ou se lhe parece indicado, pelo menos, condenar tudo aquilo a que se tem assistido nos últimos dias, entre claques. Todos sabemos que é um jogo grande, sempre, e, tendo em conta a importância deste mesmo encontro, que pode decidir um título de campeão, percebe-se que a agressividade possa vir ao de cima. Merece-lhe um comentário de repúdio?

Eu acho que essa história já foi contada tantas vezes, mas eu vou... e não leve a mal eu estar a corrigir, porque eu não mandei estampar nada. E, como eu sou, aquilo que eu quero é estar tranquilo e só focado naquilo que é o jogo. Aquilo foi... vou recordar a história, porque essa história já foi escrita várias vezes. Aquilo foi um saco fechado que me deram, do Pedro, que era o roupeiro dos Juvenis, que me deu o saco e que disse para abrir após o jogo. E foi isso que eu fiz. Quando o jogo terminou, quando fui ao balneário, estava o 37 e o nome do Jaime Graça. Sobre o jogo e sobre o futuro do jogo, ou sobre o futuro, o que mais nos orienta é o jogo, a forma como nós nos preparamos, e depois sentirmos os sinais de que – e vocês também sentem esses sinais – a equipa está connosco, os jogadores estão connosco, os jogadores acreditam muito na nossa forma de trabalhar, sentem-se muito confortáveis com a estratégia que nós fomos trabalhando na semana, e isso deixa-nos confortáveis e otimistas para fazer um grande jogo. Há várias coisas a lamentar, é claro que é um facto que nós não queremos... Por isso é que eu comecei daquela forma: vejam a oportunidade que nós estamos a ter de promover o nosso futebol e o nosso Campeonato. Enquanto em campeonatos tão competitivos os campeões já estão encontrados, nós estamos a fazer o que estamos a fazer, e amanhã podemos jogar um jogo do título. São vocês próprios que estão a levantar essa questão: há quantos anos é que um jogo e um dérbi não eram tão decisivos para discutir o título, ou para encontrar um campeão? No entanto, eu ainda vou mais longe, e são coisas sobre as quais nós podemos refletir... Poderemos, nós, ajudar, e eu estou-me a incluir também nessa situação, a ter uma comunicação mais positiva no futebol? Acho que é sobre isso que nós também podemos pensar.