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Voleibol Feminino
02 junho 2025, 10h05
Rui Moreira com os três troféus conquistados ao serviço do Benfica
Em entrevista à BTV, o treinador mostrou-se imensamente satisfeito com as históricas conquistas no clube do seu coração, as quais jamais esquecerá, e, no momento de encerrar este ciclo profissional, explicou as razões para a sua saída: "Tive uma oportunidade desportiva irrecusável, provavelmente para um Campeonato que é top 3 a nível mundial, para uma equipa, que, se calhar, ao dia de hoje, é top 10/15 a nível mundial, e é daquelas coisas que... se não agarrarmos uma oportunidade, pode ser que ela não nos apareça num futuro próximo."
Recordando a frenética final do Campeonato Nacional e os dois fatores-chave para a sua conquista, Rui Moreira enalteceu que as "bases estão lançadas" para que as águias mantenham o trajeto ascendente, continuem a sua afirmação na Europa e dominem o panorama nacional.
DEVER CUMPRIDO
"Sentimento de missão cumprida, de certeza absoluta. Um misto de saber que ainda tínhamos muitas coisas para fazer, porque o Benfica é um clube gigante, vencedor e há sempre mais coisas para ganhar, mas, pelo menos olhando àquilo que nos foi pedido quando cheguei há dois anos e àquilo que conseguimos conquistar, acho que a sensação é de missão cumprida. Não é uma missão perfeita, porque não ganhámos tudo, mas conquistámos aquilo a que nos propusemos."
TÍTULOS HISTÓRICOS
"Para mim, enquanto Benfiquista, é muito gratificante. Estou mesmo muito feliz com isso, porque os treinadores vivem de resultados, os jogadores também, os clubes dependem de resultados, e poder chegar ao final deste ciclo de dois anos e ter conquistado todos os troféus internos (Supertaça, Taça e Campeonato) – todos eles de forma histórica, porque a Supertaça, se não me engano, foi a primeira; a Taça de Portugal, no ano passado, conquistada 50 anos depois; e agora o Campeonato também 50 anos depois – é mesmo muito bom. Era uma coisa que o Benfica já perseguia há muito tempo, e, 50 anos depois da histórica equipa das Marias, conseguirmos conquistar novamente o Campeonato, colocar o Benfica na rota dos títulos e poder relançar aqui uma futura hegemonia do voleibol nacional a nível feminino é mesmo muito bom."
"Conquistar um Campeonato, que, no meu caso, não era o primeiro Campeonato português, mas era o meu primeiro Campeonato no Benfica, que sempre foi o meu clube, tem algo a mais que nunca mais vou encontrar em lado nenhum"
Rui Moreira
PROJETO EM CRESCIMENTO
"Vou comparar com há dois anos, ou seja, quando cheguei. Não tenho dúvidas nenhumas de que, se calhar, quem estava cá antes de mim também partiu muita pedra para que as coisas estivessem melhores do que quando entrou, neste caso, o Nuno Brites. Certamente fez aqui um trabalho que nos permitiu, quando chegámos, encontrarmos as coisas melhores do que estavam quando ele começou no voleibol feminino. Mas, hoje, as coisas estão bem melhores do que há dois anos. A nível organizacional, estrutural, de condições de trabalho, temos um staff muito mais profissional, um plantel totalmente profissional. Metade do nosso plantel são atletas jovens da nossa Formação, muitas delas a jogar. Conseguimos fazer isto tudo com uma cultura de vitória, com uma cultura de trabalho e, mais importante, com títulos. Por isso, acho que podemos olhar dois anos para trás e dizer que hoje estamos melhores do que estávamos, e vamos poder passar a pasta, se posso dizer desta forma, a quem vem a seguir e entregar uma coisa melhor do que a que encontrámos para poderem dar continuidade no trabalho e, acima de tudo, espero que nas vitórias."
SABOR DISTINTO DE GANHAR PELO BENFICA
"Completamente diferente, acima de tudo porque é o meu clube. Acho que, enquanto agentes desportivos da modalidade, vamos, ao longo da nossa carreira, trabalhar em diferentes contextos, e, em todos eles, os troféus que conquistarmos vão ser sempre especiais, porque é o primeiro num determinado Campeonato, é o primeiro de uma determinada competição num determinado país. Vão ser sempre diferentes. Agora, poder conquistar um Campeonato, que, no meu caso, não era o primeiro Campeonato português, mas era o meu primeiro Campeonato no Benfica, que sempre foi o meu clube, tem algo a mais que, tenho a certeza, nunca mais vou encontrar em lado nenhum, e é muito especial por isso."
FINAL DRAMÁTICA
"A época foi muito dura, e aquele play-off foi muito louco, porque, quando começámos [a final do play-off], se calhar, se olhássemos para aquilo que tinha sido a fase regular, toda a gente pensaria que o Benfica iria ganhar em 3 jogos, e a verdade é que arrancámos muito mal. Começámos a perder 2-0 em jogos, e os 2 jogos que perdemos começámos a perdê-los 2-0, conseguimos dar a volta no jogo, e, depois, na parte final, no 5.º set, acabámos sempre por perder nos detalhes. A verdade é que tivemos de ser muito resilientes, recuperar uma desvantagem de 2-0, sem margem de erro, com uma grande vitória em casa. Aí, os Benfiquistas foram muito importantes nessa primeira reviravolta, nesse jogo 3 em casa, de nos dar aqui um bocadinho de alento: é possível, podemos ganhar isto. Fomos muito mais confiantes e tranquilos a Braga, e vencemos de forma categórica. E, depois, o último jogo em casa, onde até entrámos bem, perdemos 2 sets por culpa própria, porque tivemos os sets claramente na mão para os fechar. E, depois, aquele 5.º set é de loucos, porque foi ponto cá, ponto lá, muito perto de fechar o Campeonato. Na troca de campo do 5.º set, virámos a ganhar por 3 pontos. De repente, o set vira e, a 2 pontos de fechar, estávamos 3 pontos atrás, e, com uma recuperação épica, muita resiliência, dedicação e crença, conseguimos reverter o set. Foi muito dramático e emocionante. O play-off, o jogo 5, e aquela parte final do jogo 5 foi, em termos emocionais, muito pesada, no bom sentido, mas foi realmente muito dramático."
UNIÃO E APOIO DECISIVOS
"Tivemos, desde o início [da final], e principalmente desde que estávamos numa situação de grande desvantagem na eliminatória, a perder 2-0, um grande sentido coletivo, um grande trabalho de equipa e a perfeita noção de que, apesar de não termos mais vidas para gastar, continuávamos a precisar do mesmo número de jogos para ser campeões, precisávamos de ganhar 3 jogos. Sabíamos que, dos 3 jogos que faltavam, 2 eram em casa e tínhamos de fazer da nossa casa a nossa fortaleza, e isso começava por ganhar o jogo 3. E, depois, naquele jogo 5... entendo que isto possa parecer um pouquinho de clichê, é normal que se reforce muito isto, mas foi, talvez, de todos os jogos que tive aqui no Benfica – se não me engano, 83 jogos –, aquele onde os adeptos tiveram um peso mais determinante, porque sentia-se mesmo uma energia muito grande, muito positiva. No 5.º set, quando estivemos a perder 12-10 e 13-11 num set que acaba aos 15, e sentir que quem está fora apoia, puxa por nós, continua a cantar, continua a incentivar, ainda acredita que é possível fazer uma reviravolta e ganhar o Campeonato – porque ali não estávamos só a discutir aquele jogo, naquele dia ia sair um campeão –, e sentir que, do lado de fora, estava uma casa lotada, com uma crença enorme de que podíamos reverter aquele set, isso dá-nos uma força enorme de, pelo menos, pensarmos que temos de correr atrás disto até a última bola cair. Isso foi muito importante. Tivemos vários jogos aqui em casa, estivemos em momentos de decisão, e foi o dia em que, deste lado, se sentiu mais energia vinda das bancadas. Isso foi mesmo muito importante para nós."
"Tenho a certeza de que estes títulos aqui, o Campeonato... Nunca me vou esquecer destas conquistas históricas"
PASSAGEM INESQUECÍVEL
"Não me vou esquecer, porque é o meu clube, não sabia se algum dia ia estar aqui. Acima de tudo, sou profissional, e, também na nossa vida, temos de olhar pelos nossos interesses, pela nossa família, etc. Estou muito grato ao convite que me foi feito, primeiro pelo professor [José] Jardim, que é a primeira pessoa que me aborda, depois pelo doutor Fernando Tavares, e depois pelo Presidente Rui Costa, para abraçar e liderar este projeto. Abdiquei de muita coisa, porque, realmente, queria muito estar aqui. Lutei muito, com estas pessoas todas – staff, atletas, a parte estrutural do Clube –, para que o projeto do vólei feminino tivesse sucesso. Desde o primeiro dia, dizer que temos de conseguir colocar o voleibol feminino no patamar do voleibol masculino. Isto não é uma questão de guerra dentro da modalidade, é porque o voleibol masculino tem tido um domínio da modalidade em Portugal há 20 anos, tem hegemonia. Não ganha sempre, mas, naquilo que é estar constantemente nos momentos de decisão, e, na maior parte das vezes, ganhar, é um exemplo, de certeza, para todas as equipas do Clube, e, para nós, no voleibol feminino em específico, é um exemplo muito grande de resiliência, competitividade, conquista e trabalho. E queríamos chegar lá, porque sabíamos que o Benfica, enquanto instituição, tem de estar nesse patamar. Portanto, desde o primeiro dia, esse foi o nosso alvo. Ou seja, os títulos, a cultura de vitória, a cultura de trabalho, foram coisas que foram acontecendo porque queremos chegar lá, queremos uma coisa maior, não era só uma coisa de: 'Queremos ganhar um Campeonato.' Não, queremos ganhar 10 Campeonatos, 20 Campeonatos. Eu dizia isto muitas vezes: 'Não sei se vou estar aqui 10 anos, mas, se estiver, quero ganhar 10 Campeonatos.' Então, esta sede de vitória e de conquista foi sempre muito importante diariamente, e acho que conseguimos transmitir isto para toda a gente que trabalhava connosco. Principalmente por isso, não me vou esquecer, porque sou um treinador jovem, não posso dizer que já ganhei muito. Já ganhei algumas vezes, espero ganhar muitas mais, mas ganhar no Benfica é ganhar no Benfica, ainda para mais ganhar no Benfica e este ser o nosso clube desde criança. Tem sempre um sentimento muito especial, nunca me vou esquecer. Posso vir a ganhar mais, posso vir a ganhar troféus muito importantes, espero que sim, é bom sinal, é sinal de que a minha carreira caminha no bom sentido, mas tenho a certeza de que estes títulos aqui, o Campeonato, as conquistas históricas... nunca me vou esquecer delas."
BASES PARA O FUTURO
"Espero, genuinamente, de coração, que seja daqui para melhor, porque acho que quem está no Benfica tem de estar com o espírito de missão, de conquista, com um sentimento de que está num clube grande, e que há coisas que acontecem com mais rapidez e facilidade, mas há outras que demoram mais e que são um pouquinho mais difíceis de se conquistar, mas tem de estar com um sentido de perceber que o nós, o Benfica, tem de estar à frente do eu, e que se for preciso abdicar e sacrificar algumas coisas em prol do sucesso do Benfica, tenho de conseguir e estar disposto a isso. Acho que nós fizemos isto durante dois anos – quando falo de nós, falo de muita gente; hoje estou eu aqui, mas tenho muita gente nas minhas costas. Essas bases estão lançadas. Cheguei cá, pediram-me três coisas: primeiro, criar uma cultura de trabalho e uma cultura de vitória; segundo, colocar o Benfica nos momentos de decisão, e, depois de lá estar, tentar conquistar os troféus, mas era muito importante estar nas finais. Hoje, estamos aqui com 3 troféus. Jogámos uma final da Taça Ibérica e não a vencemos, mas estivemos lá, e isto é muito importante. Jogámos uma competição europeia, chegámos aos quartos de final da Taça Challenge, fomos eliminados pela melhor equipa em prova, apesar de não ter sido a equipa que venceu, mas era, sem dúvida, a melhor equipa em prova, era muito difícil termos passado aquela eliminatória. Eliminámos equipas que, teoricamente, tinham poderio acima do nosso, e nós fomos passando a eliminatória, ali foi muito difícil. Fomos conquistando coisas e fomos consolidando uma base. E a terceira coisa: fazer tudo isto com o maior número possível de atletas da nossa Formação. Hoje, olhamos e dizemos assim: 'Cultura de trabalho 100% assimilada, toda a gente é profissional na estrutura de vólei feminino. A cultura da mentalidade vencedora... 3 títulos, final da Taça Ibérica, lutámos sempre em todas as competições onde estivemos, chegámos o mais longe possível nas competições europeias, e acho que aqui também podemos dar um check. Conquistámos 3 troféus, os 3 marcos históricos, e metade do nosso plantel, 6/7 meninas, são da Formação do Clube, algumas delas ainda com idade Sub- 21, ainda com idade de formação, e muitas delas a jogar.' Acho que lançámos as bases. É injusto dizer que o mais difícil está feito, porque agora vêm novos desafios. O Benfica não pode parar, tem mais desafios pela frente, mas acho que deixámos aqui uma base boa para quem vem a seguir poder dar seguimento ao trabalho que fizemos e às conquistas que tivemos."
"O Benfica não pode parar, tem mais desafios pela frente, mas acho que deixámos aqui uma base boa para quem vem a seguir poder dar seguimento ao trabalho e às conquistas"
DESAFIO EUROPEU
"As pessoas não têm, muitas vezes, noção do que é a realidade, mas batemo-nos – é verdade que não foi na competição mais alta a nível europeu, não jogámos na Champions League, até porque não conseguíamos o acesso via Campeonato, porque no ano anterior não tínhamos sido campeões, jogámos a Challenge Cup –, passámos Thetis e AEK, equipas com, pelo menos, o dobro do nosso orçamento, de Campeonatos bem melhores, e caímos aos pés de uma equipa italiana de top 5 do melhor Campeonato do mundo, onde, se calhar, a jogadora mais bem paga do plantel paga o nosso plantel todo. E nós batemo-nos, isso é uma prova do que o trabalho no Benfica, em Portugal, embora aqui seja especificamente de um clube, está a ser bem feito. Estamos a desenvolver jogadoras, o Clube tem excelentes condições, tem das melhores infraestruturas a nível mundial de voleibol, o nome, começando a estar no panorama de vólei europeu, é cada vez mais apelativo para staff e atletas, e isto vai fazer com que esta distância cada vez mais se encurte. Ainda estamos longe, mas já estamos um pouco mais perto, e acho que a missão tem de ser, de ano para ano, encurtar as distâncias. Se me perguntar se eu acho possível ganhar uma competição europeia, acho que a Challenge Cup, a curto/médio prazo, é possível. É naturalmente preciso um pouquinho mais de investimento, porque era redutor dizer que isto vive só do trabalho diário. É preciso, e felizmente há um investimento da estrutura do Clube na melhoria de muitas coisas dentro da modalidade e do vólei feminino. À medida que este investimento for crescendo de forma racional, coerente e gradual, certamente também vamos conseguir encurtar estas distâncias, e pode ser que um dia se conquiste uma competição europeia. Acho que vai ser muito difícil conquistar uma Liga dos Campeões, estamos mesmo muito longe ainda, mas uma Challenge Cup não é descabido sonhar de conquistar, a curto/médio prazo."
BOAS SURPRESAS E RASTEIRAS
"Explicar a minha saída é muito simples. Como é sabido, eu tinha mais de um ano de contrato, terminando no final da época 2026. Infelizmente, a vida, às vezes, traz-nos boas surpresas, ao mesmo tempo que nos prega algumas rasteiras. Penso desta forma porque, efetivamente, tive uma oportunidade desportiva irrecusável, provavelmente para um Campeonato que é top 3 a nível mundial, para uma equipa, que, se calhar, ao dia de hoje, é top 10/15 a nível mundial, e é daquelas coisas que... se não agarrarmos uma oportunidade, pode ser que ela não nos apareça num futuro próximo, e sabemos que o desporto também vive disto, de resultados, de desempenhos, e hoje estamos bem, amanhã as coisas podem não nos correr tão bem. Por outro lado, prega-nos aqui algumas rasteiras porque estou, sou, e fui mesmo muito feliz aqui no Benfica. Nem vou falar da identificação com o Clube, que é o meu clube, por isso, tenho de estar identificado com aquilo que são os valores do Benfica e o que é representar o Benfica. Estou mesmo muito identificado com aquilo que é o voleibol feminino do Benfica. Saio com um sentimento de missão cumprida, mas com a sensação de que ainda tinha muitas coisas para fazer, e, por isso, aparece aqui esta questão desta rasteira. Se me perguntasse há meio ano se pensava que hoje estava aqui a dar esta entrevista, de certa forma a despedir-me do Clube, eu ia dizer que não, ainda temos muita coisa para fazer, mas foi uma oportunidade a que não pude virar as costas. Felizmente, a estrutura do Clube compreendeu que era um passo que tinha de dar, e eu sou mesmo muito agradecido por isso. Acho que saio de uma forma feliz, com títulos, com o Campeonato conquistado de forma histórica, mas com a sensação de que ainda havia muita coisa para fazer. Agora, certamente que quem vem vai fazer igual, vai fazer melhor, as bases estão lançadas, o trabalho vai continuar, o Benfica vai continuar a ser vencedor, e não tenho dúvidas nenhumas de que, se nós conseguirmos ter a energia que tivemos nestes dois anos, principalmente aquela energia que os adeptos nos passaram naquele jogo 5, naquela parte final, a ajudar diariamente, o Benfica, a curto prazo, vai ter a hegemonia do voleibol nacional feminino e que vai dominar. Esta conjugação de títulos, de atletas jovens, de trabalho, uma estrutura supercompetente de pessoas superexperientes à frente da modalidade e dos melhores adeptos do mundo na bancada, só pode ser traduzida em vitórias."