Futebol

09 outubro 2025, 14h00

Bah e Manu

Bah e Manu

BAH & MANU

Dia 8 de fevereiro de 2025, Benfica-Moreirense, minutos 34 e 37: numa inacreditável e infeliz sucessão de acontecimentos no Estádio da Luz, Bah e Manu contraem a mesma grave lesão. Agora, volvidos 8 meses, num conteúdo BPlay, os dois jogadores do plantel de futebol profissional conversam e expõem a recuperação conjunta que atravessam, bem como a amizade que daí floresceu.

"Vi-te entrar e fiquei totalmente em choque porque não sabia o que tinha acontecido", partilhou Bah, recordando os primeiros instantes após os infortúnios. Ambos os atletas confessaram ter experienciado um misto de sentimentos, uma vez que o médio cumpria um sonho ao estrear-se na Catedral e o lateral vivia um marcante período familiar, preparando-se para ser pai de gémeos.

"Se é que existe uma melhor coisa, é o sentimento de ter alguém que passa pelas mesmas dificuldades, que partilha as mesmas conquistas, alguém com quem partilhar a dor. Por vezes, quando estás a passar por este tipo de situações, sentes que as pessoas não compreendem... E, nesta situação, tenho a certeza de que tens as mesmas dificuldades, e sei que consigo ajudar-te nos dias menos bons. É como se fosse mais fácil passar pelos dias maus quando sabes que tens alguém que está a passar pelo mesmo. E o laço que criámos... Gostamos das mesmas coisas, por exemplo, gostamos de ouvir música, dar umas boas gargalhadas, aproveitar as pequenas coisas do dia a dia. E acho que tem sido bom", expressou Manu.

As águias fizeram ainda questão de agradecer a toda a estrutura do Clube pelo acompanhamento prestado, nomeadamente aos fisioterapeutas e aos seus colegas de equipa, mas também aos Benfiquistas, relevando o seu papel.

Relativamente aos objetivos para esta época, Bah e Manu almejam regressar à competição "de uma forma segura, mas o mais cedo possível", para "ajudar a equipa" a "ganhar todas as competições".

Bah e Manu

MANU SILVA: Quero saber, naquele momento, se percebeste que era assim tão grave?

ALEXANDER BAH: Sim, acho que sim... Soube, um segundo depois, porque ouvi um estalo no joelho. Mesmo que não tenha sido um movimento muito brusco. Lembro-me quando o médico entrou. Examinou o joelho e disse imediatamente ao treinador que precisava de ser substituído. Então, percebi que era... era grave. Depois levaram-me para dentro e três minutos depois...

MS: Estava lá...

AB: Vi-te entrar e fiquei totalmente em choque porque não sabia o que tinha acontecido... O que é que aconteceu?

MS: No meu caso simplesmente não ouvi nenhum estalo, sabes? Para mim foi como se tivesse sentido o joelho a torcer um pouco, e foi só isso. Estava tão quente, que não senti a dor, mas sabia que algo estava errado. É como ter a sensação de que algo não está bem, mas... Lembro-me de cair no chão e de ouvir os adeptos, sabes aquele som de 'uhhhhh'... Comecei a sentir o joelho um pouco dormente, quando fui para dentro, e o médico veio para fazer alguns testes. Sentiu o joelho, e perguntei algo do género: 'Doutor, o que está a querer dizer?' E, no momento em que fez esta expressão [facial], já sabia... Ainda tinha esperança de que não fosse o LCA [ligamento cruzado anterior], porque atualmente tem acontecido tantas vezes, no futebol, que não queres passar por isso.

AB: E, para ti, foi o primeiro jogo no nosso estádio...

MS: Sim, foi o primeiro. Como foi a minha estreia, senti-me...

AB: Não foi mesmo a estreia, pois não?

MS: No Estádio [da Luz]... Senti-me como se, sabes... Nos jogos fora não estava nervoso, de todo, mas no Estádio [da Luz]... Naquele jogo, estava nervoso. Mas pronto, é o que é. A vida é assim, a vida continua.

AB: Ainda fico arrepiado quando jogamos em casa, por isso, é normal.

MS: Tento sempre acalmar-me o máximo possível, mesmo antes dos jogos, estou tão calmo. Mas quando entras, vais para o aquecimento... Não consegues, não dá para contornar aquela ansiedade que vais sentir. E já tinha jogado no Estádio [da Luz], como visitante, mas é diferente. Para mim, foi uma mistura de emoções. Estava a concretizar um sonho de criança, obviamente, e a aperceber-me de que em 35/37 minutos... Foi um misto de emoções. Ainda assim, tinha um sentimento de realização, sentia-me orgulhoso de mim mesmo. Mas, ao mesmo tempo, pensava: "Isto tinha de estar escrito", sabes? No primeiro dia, o dia com que sonhava há tanto tempo, e, naquele momento, levo a pancada... Agora é mais fácil de olhar para trás e separar as emoções.

AB: Sim, e ainda vais ter muitos jogos. Infelizmente, agora tenho de ver-te todos os dias. Alguns dias são bons, outros nem tanto.

MS: Tem sido cada vez mais difícil lidar contigo, todos os dias, mas vamos lá chegar.

AB: Sim.

MS: Vamos conseguir.

AB: Sim, mano.

Manu

MS: A melhor coisa, se é que existe uma melhor coisa, é o sentimento de ter alguém que passa pelas mesmas dificuldades, que partilha as mesmas conquistas, alguém com quem partilhar a dor. Por vezes, quando estás a passar por este tipo de situações, sentes que as pessoas não compreendem... E, nesta situação, tenho a certeza de que tens as mesmas dificuldades, e sei que consigo ajudar-te nos dias menos bons. É como se fosse mais fácil passar pelos dias maus quando sabes que tens alguém que está a passar pelo mesmo. E o laço que criámos... Gostamos das mesmas coisas, por exemplo, gostamos de ouvir música, dar umas boas gargalhadas, aproveitar as pequenas coisas do dia a dia. E acho que tem sido bom, por isso, obrigado.

[aperto de mão]

AB: Agora tenho de dizer o mesmo [risos]?

MS: Podes dizer "Sim, o mesmo", e está feito.

AB: Não, concordo totalmente. É como se partilhássemos a dor, mas também o sucesso porque, neste momento, os outros jogadores estão ocupados com os jogos e focados em ganhar. E, para nós, vencer é a próxima meta na nossa recuperação, por isso, facilitou as coisas, se é que se pode dizer assim. E acho que também posso dizer que a nossa amizade ficou fortalecida.

MS: Sim.

AB: Embora seja uma lesão longa e seja difícil diariamente, gosto de vir para aqui e saber que existe alguém que está a passar pela mesma jornada.

MS: E é como se fosse, de certa forma...

AB: Isto está a ficar muito romântico [risos].

AB: Tem sido duro, mas, sim, pelo menos temo-nos um ao outro, temos os fisioterapeutas também...

MS: Sim, sim.

AB: Não podemos esquecer-nos deles, estão a fazer um excelente trabalho.

MS: E não é por... Reconheces a qualidade do trabalho, mas também percebes que acabam por ser um pouco os nossos psicólogos, não é?

AB: Isso deve ser, provavelmente, a parte mais difícil.

MS: Toda a gente teve um papel muito bom e importante na nossa recuperação, que ainda está a decorrer. Mesmo que voltemos, mais cedo ou mais tarde, vai perdurar porque isto é o que tiramos do futebol, as relações que construímos ao longo do caminho.

AB: Já treinamos juntos há sete meses e nunca te ouvi falar tão bem [risos]. Agora que a câmara está ligada, de repente...

MS: O que queres que diga, algo que digo todos os dias?

Bah

AB: Acho que o apoio fala por si. Todos estão a torcer por nós, e, quando aconteceu, os nossos colegas mandaram mensagem, os adeptos também. Não foi uma surpresa porque, para mim, é um clube familiar. Sentes a dor dos colegas de equipa, também dos adeptos, quando as coisas estão difíceis. Então, para mim, não foi uma surpresa, mas ajudou-me muito. Acho que é como tudo na vida. Ajuda-nos muito a alcançar os próximos passos e a seguir em frente.

MS: Sim, concordo. Sabia disso, sabia da magnitude do Clube. Sabia que o Benfica tem todas as condições, mas senti-lo é um pouco diferente, sabes? Sentir que os nossos colegas tentaram que fizesse parte da equipa, da forma como fizeram, fez-me sentir mesmo bem. Sabes a sensação, mas quando sentes realmente o carinho de todos, dos adeptos... Estava a dizer aos nossos colegas que, há duas semanas, vim treinar durante a tarde. A equipa tinha treinado de manhã, e uma família ficou umas três horas à espera, só para me dizer: "Vamos, vais melhorar. Vamos tirar uma foto." Ouves estas coisas, mas quando passas por elas é totalmente diferente.

MS: O meu pai, a minha família... apoiam-nos. Por exemplo, posso dizer que o meu pai, a minha mãe, naquele momento, disseram: "Os jogadores da segunda e terceira divisões também se lesionam, com lesões graves como esta, e não têm o que tu tens." Isso faz com que percebas e valorizes as coisas que tens, as pessoas que tens ao teu redor, e tem sido incrível. Tem-me dado... Quando era criança, é claro que já era um grande adepto, mas uma vez que estou a viver isto... percebe-se logo que escolhi o clube certo, sabes? É incrível sentir isto!

AB: Sim, e também para mim, não há grandes vantagens em estar lesionado, mas diria que, às vezes...

MS: Os miúdos?

AB: O quê?

MS: Não, pensei que ias falar sobre os miúdos, porque...

AB: Não, não. Tenho muito tempo com os miúdos, o que também é incrível, mas consegues sentir o Clube do lado de fora.

MS: Exato.

AB: Normalmente, quando estás a vivenciar tudo não te apercebes, mas quando estás nas bancadas sentes realmente a paixão e o carinho pelo Clube. Não apenas dos adeptos, mas também por parte da nossa família.

AB: Motiva bastante para voltar, e mesmo até quando voltas... Sabes o que as pessoas sentem quando estás presente.

MS: Uma das coisas mais difíceis de estarmos lesionados é ficar de fora.

AB: Exato.

MS: Ver os jogos de fora, e até... Não sei... a raiva, sabes? Quando as coisas não correm bem e estás mesmo desejoso de ajudar, porque crias laços com todos, e foi uma jornada incrível.

AB: Exato.

MS: Foi, não, tem sido, ainda continua.

AB: Sim, é isso mesmo.

AB: Quais são as expectativas para esta época?

MS: A nível individual? Estar de volta.

AB: Hum-hum...

MS: De uma forma segura, mas o mais cedo possível. Tentar chegar ao nível em que estava, ou até melhor. Penso, claro, em ser campeão, é um objetivo. Tenho de ganhar um título, um título nacional. Estrear-me também na Liga dos Campeões. Acho que o objetivo de todos é ganhar todas as competições em que estamos inseridos. Acho que essa é a mentalidade. Penso que o grupo é muito bom, sinto uma boa energia, sabes? Sinto a ambição... Aquele desejo de vencer, e isso vai ajudar imenso. Quanto aos novos jogadores, acho que somos um grupo, e senti-o, somos um grupo que recebe muito bem os novos jogadores. É fácil fazer parte desta equipa. Quanto a nós, temos de continuar a trabalhar. E tu, o que achas?

AB: Quero voltar o mais rápido possível, mas também quero estar preparado quando regressar. Quero estar pronto para ajudar a equipa. Quanto aos novos jogadores... Quando vens para cá, as expectativas são enormes. Diria que todos os jogadores cumpriram. Houve boas contratações, então estou muito feliz com a equipa. Agora é o momento de pensar jogo a jogo, e espero que consigamos o 39.

MS: O 39. Sim!

AB: Para mim, a paixão é muito óbvia! Isso vê-se não só nos jogos em casa, mas também nos jogos fora.

MS: Concordo.

AB: Não importa onde estamos, quando jogamos, vamos sempre sentir-nos em casa.

MS: Para mim, é um pouco estranho falar sobre isto porque parece forçado, mas... Ainda que não tenha feito muitos jogos, tens aquela sensação de que, ainda assim, vais ser recompensado com as coisas que vêm pelo facto de jogares no Benfica. Como ter tantas pessoas a torcer por ti, jogar no nosso estádio... É simplesmente diferente, sabes? Para mim, é diferente, porque também era um sonho de criança. Se para vocês, que são de fora, é tão bom, imagina para mim, que sempre sonhei com isto. Espero ainda fazer muitos jogos aqui, mas... sim. Mesmo tendo-me lesionado no mesmo jogo, a sensação de entrar no Estádio da Luz... Começar o jogo, ouvir o hino... Foi muito, mesmo muito bom.

AB: Sim, é especial. Para mim, e não sou português... Mas os meus filhos são, são portugueses. Não sinto que seja português, mas sinto que sou Benfiquista. Estou aqui há muito tempo, então...

Bah e Manu

MS: E estás aqui há muito tempo, e ainda vejo que os jogadores que não estão cá assim há tanto tempo já têm esse sentimento. Por exemplo, estive a falar com o Pavli [Pavlidis] no outro dia, somos vizinhos, e sente-se orgulhoso por fazer parte deste clube. E, para mim, sinto-me orgulhoso por vocês sentirem esse orgulho, sabes? É um grande clube! As pessoas falam sobre a Mística, mas a Mística, para mim, são as pessoas. Sentires que tens tantas pessoas a cuidarem de ti e a fazerem tudo o que podem para estares apenas focado em jogar bem e ter um bom desempenho. E, para mim, isso é a Mística. Os adeptos torcem por ti, querem que te saias bem, e depois, para mim, a Mística é reagir a isso. É perceber que todos estão a dar-me tanto, que tenho de dar o meu melhor para retribuir. E é isto. É o meu ponto de vista.

AB: Acho que é como disseste, todos sentem isso...

MS: Exato.

AB: Toda a gente sabe. Podes dizer o que quiseres, as vezes que quiseres, mas isso também é uma grande expectativa e uma grande responsabilidade. Por isso, sim, podemos continuar a falar sobre isto, mas neste momento precisamos de continuar a mostrá-lo, todos os dias, no ginásio.

MS: Temos o Nuno [Félix] agora, que está a passar pelo mesmo processo, e tentei dizer-lhe isso. Tentei fazê-lo ver que não é o fim do mundo, é normal no futebol que este tipo de coisas vá acontecer. Os jogadores de futebol têm de estar preparados para lidar com isto. Tenho um irmão mais novo que também joga futebol, e também tento fazê-lo perceber que pode vir a passar por momentos difíceis, mas que as coisas vão continuar, vão melhorar e que é só uma questão de tempo e de fazer as coisas bem. Se tiveres as pessoas certas ao teu lado, é só mais uma etapa.

AB: Exatamente.

MS: Também tenho uma curiosidade, sobre ti. O que quero mesmo saber... Tiveste, na mesma semana, como eu tive, o sentimento de alcançar um sonho de criança. Tenho a certeza de que também foi um sonho, o de ser pai. Qual foi a sensação? As diferentes emoções que sentiste naquela semana, como foi lidar com isso? Aposto que foi difícil, mas provavelmente também o foi para a tua namorada...

AB: Foi muito difícil porque a gravidez foi um pouco mais complicada do que o normal, porque são gémeos. Sentia que já estava um bocado stressado e nervoso, para que tudo corresse bem. E, quando nasceram, ficou tudo bem, nasceram saudáveis. E depois esta lesão aconteceu... Acho que foi mais difícil para a minha namorada do que para mim, porque teve de cuidar deles enquanto amamentava, e estava acordada durante a noite. A minha noiva... Preciso de corrigir, a minha noiva.

MS: É verdade, parabéns!

AB: Obrigado.

MS: Foi recente, não é?

AB: Para mim, foi um misto de emoções porque, por um lado, consegui passar mais tempo com a minha família, mas também a ambição e a carreira ficaram em pausa. É também por isto que tenho lutado, basicamente, toda a minha vida, para conseguir estar a este nível, e jogar aqui. Sim, foi muito difícil, mas neste momento posso passar tempo com a minha família e preciso de tirar as coisas positivas disto, caso contrário, ficaria muito triste.

MS: Os bebés já gatinham, por isso...

AB: Os bebés gatinham, já estão a gatinhar e a sorrir. Estou muito feliz por tê-los e pelo processo, ajudaram-me muito.

MS: Obrigado.

MS: Considerações finais?

AB: Olá, Benfiquistas, sou o Alexander Bah, e comigo, Manu, Manuel Silva. Ele é um grande jogador, um grande craque.

MS: Sou um craque?

AB: Todos os dias, ele trabalha muito. Muito.

MS: Vou chorar.

AB: Tenho muito tempo com Manuel [Manu Silva], e eu sou muito feliz para... O que posso dizer, então?

MS: Benfiquistas, esperemos que tenham gostado.

AB: Manu, Manu, fala lento.

MS: Esperemos que tenham gostado. "Espero que tenham gostado" de saber um bocadinho mais sobre a nossa recuperação, sobre a nossa relação enquanto colegas de equipa que tem sido fortalecida a cada dia que passa. E espero que continuem a apoiar. Temos sentido um carinho enorme da vossa parte. Espero que continuem a ajudar-nos neste processo.

Texto: Redação
Fotos: Victória Ribeiro / SL Benfica
Última atualização: 9 de outubro de 2025

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