Voleibol Feminino

01 abril 2024, 09h00

Angélica Malinverno

Angélica Malinverno

A experiente central brasileira da equipa feminina de voleibol está conquistada pelo Benfica. Ao programa Protagonista, da BTV, Angélica Malinverno descreveu as sensações em torno da histórica vitória na Taça de Portugal, 50 anos depois do último triunfo.

Assim que chegou a Portugal, uma das coisas que chamaram mais a atenção de Angélica Malinverno foi quando contornou a Rotunda Cosme Damião. Olhou em volta, para o mural onde figuram os rostos de alguns dos maiores representantes da mística benfiquista. E no mural, uma mensagem dirigida aos atuais atletas do Benfica, das mais diversas equipas e das mais variadas modalidades. "Honrai agora os ases que nos honraram o passado." Para uma jogadora brasileira, acabada de aterrar em Lisboa, para se juntar à equipa feminina de voleibol do Clube, esta mensagem foi uma espécie de password para entrar no portal da mística e da realidade maravilhosa de um dos maiores clubes do mundo.

"Quando passei na rotunda e vi aquela homenagem dos adeptos a tantos atletas que ajudaram a fazer a grandeza no Benfica, arrepiei-me e senti logo que estava a chegar a um clube especial, cheio de história. E senti, também, uma vontade muito grande de ajudar a fazer ainda mais história. Procurei informar-me ainda mais sobre o Benfica, que já conhecia, no Brasil, devido à sua grandeza, mas quis aprofundar ainda mais o meu conhecimento", declarou a internacional brasileira, que se juntou ao renovado projeto do voleibol feminino do Benfica.

Aos 34 anos, Angélica Malinverno trouxe muitas malas do Brasil, e na bagagem veio o título conquistado, na época passada, no campeonato do seu país. O estatuto da central impôs-se naturalmente no plantel.

"É um plantel muito jovem, com jogadoras que ainda estão a dar os primeiros passos, mas que têm muito talento. A Alice, a Mariana, a Beatriz Paiva... E, sobretudo, grande benfiquismo. Vi logo isso, no início da temporada, no grupo que temos no WhatsApp, quando o Benfica ganhou um título, já não me lembro em que modalidade, e a Beatriz escreveu 'Isto é o Benfica'. Ela é muito benfiquista, mesmo, e isso também foi uma lição para mim. Há uma ligação muito grande entre as nossas jogadoras mais novas e o Clube. Um sentimento que, depois, passa para nós, especialmente para quem chega de novo", confessou Angélica Malinverno, em entrevista ao programa Protagonista. 

Angélica Malinverno

"Quando passei na rotunda e vi aquela homenagem dos adeptos a tantos atletas que ajudaram a fazer a grandeza no Benfica, arrepiei-me e senti logo que estava a chegar a um clube especial"

Angélica Malinverno

SER BENFIQUISTA

Em oito meses, a experiente central brasileira apreendeu tudo o que pôde da mística do Clube. Após a conquista de uma histórica Taça de Portugal, Angélica Malinverno sente que o seu nome já está gravado a letras visíveis neste dourado capítulo do voleibol do Benfica.

"Sinto que estou a fazer aquilo a que me propus, entrar na história do Clube. Todas nós queremos estar na história do Benfica, e esta vitória é algo de inexplicável. Um sentimento grandioso, porque demos essa vitória aos nossos adeptos, ao Benfica, que era tudo o que queríamos. Sobretudo depois de ficarmos fora do play-off de campeão. Era muito importante, para nós e para o Benfica. Cinquenta anos depois, o Benfica voltou a ganhar a Taça de Portugal. E isso é fazer história. Tudo isso ajuda a que me sinta benfiquista. Este é um clube muito especial, muito acolhedor e que nos dá, às atletas, condições incríveis", revela Angélica Malinverno.

O sentimento ao emblema é decisivo num clube que se alimenta de troféus, de vitórias e de conquistas desportivas e muitas vezes sociais. Para a internacional brasileira, a presença de José Jardim e de André Lopes junto da equipa é fundamental para a distribuição da mística pelas jogadoras.

"Quando cheguei, não conhecia bem o percurso do André Lopes no Benfica. Mas fiquei curiosa e fui inteirar-me da sua história. E o André é uma lenda no Clube. E, agora, é alguém que está junto de nós, alguém que nos ajuda, que nos tranquiliza e que nos ensina. O mesmo se passa com o professor José Jardim, que é uma figura muito respeitada no Clube e no voleibol português. Para uma equipa tão jovem e ainda tão sedenta de títulos, é muito gratificante, para nós, escutarmos as suas palavras, os seus conselhos. E são pessoas muito vibrantes. Na final, tínhamos acabado de conquistar a Taça, e, no lado oposto àquele em que me encontrava, vi o André, em cima de uma mesa, de braços abertos, a festejar o nosso título. Ele, depois, disse-nos que aquele não era o team manager da equipa, era o adepto do Benfica. Foi algo muito especial, e é este o exemplo que ele nos passa. Que não há ninguém acima do Clube e que só com muita união e espírito de sacrifício é possível alcançar os títulos", desvendou a jogadora. 

Angélica Malinverno

"Todas nós queremos estar na história do Benfica, e esta vitória [Taça de Portugal] é algo de inexplicável. Um sentimento grandioso, porque demos essa vitória aos nossos adeptos, ao Benfica"

À BENFICA 

Em pouco tempo, Angélica Malinverno aprendeu a reconhecer uma vitória à Benfica. Foi o que aconteceu, em Viana do Castelo, na final da Taça de Portugal.

"Fomos para o jogo acreditando que íamos conseguir dar esta vitória aos adeptos. O nosso treinador várias vezes nos alertou antes do jogo. 'O Benfica já não ganha esta taça há 50 anos. Vão lá para dentro e façam história.' Na preparação do jogo, o Rui [Moreira] insistiu muito neste ponto, e ajuda muito o facto de ele ser benfiquista. Eu sei que, para ele, esta vitória não foi apenas uma conquista para o seu currículo de treinador. Foi uma vitória do seu clube do coração. E nós seguimos essa pauta. E entrámos com muita força, ganhámos os primeiros dois sets, mas no voleibol feminino o jogo acaba só no fim, e não antes. Nunca sentimos que já estava ganho, porque do outro lado estava uma equipa à qual ainda não tínhamos vencido nesta temporada", confessou Angélica Malinverno.

A central tinha razão, e nos dois sets seguintes chegou a esperada reação do Colégio Efanor. O empate a 2 sets, e a final a ter de se decidir na negra. Num set mais curto, mas com a tensão da final no seu máximo.

"A reação delas foi muito forte, a nossa equipa compreensivelmente caiu um pouco com a reação delas, e havia esse receio de que a equipa não se conseguisse restabelecer. Lembro-me de ter dito às minhas companheiras que íamos disputar os 15 pontos mais importantes da época, que aqueles 15 pontos tinham de ser nossos, e vi uma reação de todas elas. Mesmo quando estávamos a perder por 6-9, nunca senti que íamos perder. Reagimos, empatámos a 11 pontos, e passámos para a frente quando chegámos ao 14-11. Lembro-me de ter olhado para a minha colega e de lhe ter dito que ia ser ela a fazer o bloqueio que nos daria a vitória. E foi assim que aconteceu. Foi uma sensação incrível ver os nossos adeptos, que ajudaram a encher o pavilhão, a alegria de toda a gente, as lágrimas, os abraços. Foi lindo, uma das vitórias com mais sabor na minha carreira, e foi aí que pensei: 'Isto é que é ganhar à Benfica.' Este clube é mesmo incrível", reconheceu Angélica Malinverno. 

Angélica Malinverno

"Foi uma sensação incrível ver os nossos adeptos, a alegria de toda a gente, as lágrimas, os abraços. Foi lindo, uma das vitórias com mais sabor na minha carreira"

O MÍSTER 

No fim, depois de as lágrimas secarem, se deslaçarem os braços que misturavam adeptos, jogadoras e staff, resta a ilusão de que a vitória na Taça de Portugal é apenas o início de um percurso de vitórias e de conquistas. E que por detrás de uma grande equipa está um grande treinador.

"O Rui é muito exigente, é um excelente treinador. No Brasil, existe a sensação de que se trabalha menos na Europa, e eu já lhe disse que ele podia ir treinar para o Brasil. Ele adora o treino, sabe passar-nos aquilo que pretende e é o grande responsável pela progressão fantástica das nossas jogadoras mais novas. É um treinador excelente e muito responsável pelo que a equipa tem feito de bom. Tivemos uma época muito desgastante, e a lesão de jogadoras importantes fragilizou muito a nossa equipa e até a tornou mais estudada, mais previsível para as nossas adversárias, que sabiam que estávamos muito limitadas no ataque. Mas o nosso treinador arranjou sempre soluções, que, sem serem as ideais, nos permitiram vencer este título. E, se depender dele, não vamos ficar por aqui. É muito ambicioso e quer dar títulos ao seu clube", declarou uma das novas detentoras da Taça de Portugal. 

Artigo publicado na edição de 29 de março do jornal O Benfica

Texto: José Marinho
Fotos: Arquivo / SL Benfica
Última atualização: 1 de abril de 2024

Patrocinadores Voleibol


Relacionadas